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Contribuições da pós-graduação do IOC para a saúde pública em Moçambique

Ex-alunos, que atualmente são gestores de saúde local, estiveram em missão de cooperação na Fiocruz
Por Maíra Menezes26/04/2024 - Atualizado em 08/05/2024

De 17 a 19 de abril, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu a visita de autoridades de saúde de Moçambique com o objetivo de trocar experiências e discutir cooperações na área de diagnóstico laboratorial. 

Dentre os visitantes, dois egressos da pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz): o diretor de Laboratórios de Saúde Pública do Instituto Nacional de Saúde (INS), Nédio Mabunda, que liderou a comitiva, e o chefe de Departamento de Serviços Laboratoriais de Referência do órgão, Adolfo Vubil. 

Temas de interesse para colaboração entre IOC e INS foram discutidos. Na foto, à frente (a partir da esquerda): Anna Cristina, Tania, Adolfo e Nédio. Atrás: Augusto Paulo Silva, assessor do Cris/Fiocruz, e Flávio. Foto: Acervo

Os dois pesquisadores cursaram mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, criado através de um acordo de cooperação entre a Fiocruz e o INS. 

Voltado para profissionais de saúde do país africano, principalmente do INS, o curso é oferecido por um consórcio. Três programas de pós-graduação do IOC integram a iniciativa: Biologia Celular e MolecularBiologia Parasitária e Medicina Tropical. Também participa o Programa de Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). 

Nédio e Adolfo integraram a segunda turma do mestrado, iniciada em 2010. Posteriormente, cursaram o doutorado, obtendo os títulos de mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC. 

O impacto da formação para a saúde púbica de Moçambique foi destacado pelos pesquisadores durante a visita à Fiocruz. A comitiva contou ainda com a participação do especialista de Laboratórios do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC Moçambique), Flávio Faife. 

Em reunião com a presença da diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge, e da coordenadora de Cooperação Institucional do Instituto, Anna Cristina Carvalho, os especialistas apontaram o suporte aos laboratórios de referência, manutenção de equipamentos laboratoriais e qualificação de recursos humanos como temas de interesse do INS para a colaboração institucional. 

Confirmando o interesse do IOC na cooperação, Tania propôs iniciar discussões sobre a organização de um itinerário de formação específico para alunos de Moçambique envolvendo as diversas pós-graduações do Instituto, assim como a realização de cursos de curta duração para os profissionais dos laboratórios de referência do INS. 

A visita da comitiva de Moçambique à Fiocruz foi organizada pelo Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz) e incluiu duas reuniões com representantes da presidência e de diversas unidades da Fundação para discutir parcerias. A pesquisadora do Laboratório das Interações Vírus-Hospedeiros do IOC, Nildimar Honorio Rocha, participou dos encontros.

Confira, abaixo, entrevista com Nédio Mabunda e Adolfo Vubil sobre as contribuições da pós-graduação no IOC para a saúde pública de Moçambique, incluindo transferência de tecnologias, colaborações em pesquisas com foco em agravos de relevância no país e formação continuada de recursos humanos. 

Egressos da pós-graduação do IOC, Nédio (à direita) e Adolfo (ao centro) estabeleceram parcerias com laboratórios do Instituto em temas como hepatites e HIV. Foto: Pedro Linger/Cris/Fiocruz

O papel do INS em Moçambique é, em alguma medida, semelhante ao papel da Fiocruz no Brasil, incluindo pesquisa em saúde, diagnóstico laboratorial, desenvolvimento tecnológico, formação de recursos humanos e divulgação científica. De que forma a pós-graduação contribuiu para o desenvolvimento e gestão dessas atividades?  

Nédio: A pós-graduação na Fiocruz foi importante para estabelecimento da minha área de pesquisa no INS, contribuindo para a discussão, alerta e resolução de problemas específicos de saúde pública do meu país, ligados ao risco de transmissão de HIV e hepatites por transfusão de sangue. Atualmente, estou finalizando uma pesquisa com resultados que propõem solução para os problemas encontrados. Adicionalmente, tenho desenvolvido pesquisas que caracterizam a diversidade genética dos vírus de hepatite B e C no país. 

A formação também foi crucial para a minha inserção diferenciada no ensino em Moçambique, lecionando, orientando e participando em bancas de graduação e pós-graduação em diversas universidades. Estas atividades contribuem para a formação de novos profissionais de saúde em nível local. 

Na área de gestão, toda a experiência e aprendizado da pós-graduação no IOC foi e continua sendo útil para responder às diversas demandas na área de Laboratórios de Saúde Pública, que coordeno atualmente, e na Pesquisa em Saúde, que coordenei anteriormente. 

Adolfo: A interligação entre pesquisa e ensino na pós-graduação permitiu que eu me formasse resolvendo problemas reais do meu país. Minha pesquisa teve o objetivo de estudar a epidemiologia molecular do HIV em Moçambique e determinar o perfil de mutações de resistência do vírus ao tratamento antiretroviral. Para além da formação acadêmica, consegui transferir conhecimento e tecnologia para sequenciamento genético de HIV para o país. 

Como tem sido a colaboração com o IOC após a pós-graduação?  

Nédio: O contato com professores do mestrado e doutorado facilita a interação e colaboração sempre que necessário. Temos uma linha aberta de colaboração em hepatites, que é uma área de importância para Moçambique. Tivemos uma estudante moçambicana que trabalhou no Laboratório de Hepatites Virais do IOC, com supervisão da pesquisadora Lia Lewis, e publicamos um estudo sobre caraterização molecular e sorológica da hepatite oculta em doadores de sangue de Moçambique. Também gostaria de ressaltar a colaboração com meu orientador, Milton Moraes, que infelizmente faleceu em 2021. Desde que iniciei o mestrado, em 2010, colaboramos na pesquisa e capacitação institucional em diversas áreas. 

Adolfo: Através da colaboração estabelecida foi possível o deslocamento de uma equipe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC para apoiar o INS no estabelecimento da tecnologia de sequenciamento genético do HIV. Os pesquisadores da Fiocruz também ministraram cursos de curta duração, transferindo conhecimento para pesquisadores moçambicanos. 

Após a visita realizada, surgem novas perspectivas de parcerias? 

Nédio: Nossa visita foi um desdobramento da visita feita pelo ministro de Saúde de Moçambique, Armindo Daniel Tiago, à Fiocruz, em novembro de 2023. Foi interessante ver a instituição de outro ângulo, com toda a diversidade e magnitude. Percebemos disponibilidade imediata de todas as áreas de interesse em colaborar e vamos dar continuidade às discussões específicas com as diferentes unidades da Fundação com o objetivo de estabelecer um acordo de cooperação. 

Adolfo: Foi interessante ver que a Fiocruz continua na dianteira na busca de soluções para melhor responder a novos desafios de saúde pública. Por exemplo, a Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas do IOC atua em um tema que interessa bastante a Moçambique, pois é fundamental para melhorar a análise da dinâmica epidemiológica de diferentes agravos de saúde humana, tendo em conta a abordagem ‘uma só saúde’. 

Retrospectiva acadêmica 

Atual diretor de Laboratórios de Saúde Pública do INS, Nédio concluiu o mestrado em 2013, com a defesa da dissertação ‘Estudo de polimorfismos de TNF, IL-10, LTA4H, PKLR e associação com tuberculose na população moçambicana’. 

Em sua tese de doutorado, apresentada em 2021, ele abordou o ‘Risco de transmissão dos vírus da imunodeficiência humana, vírus da hepatite B e C por transfusão em doadores de sangue em Maputo e Beira, Moçambique’.  

Em seu percurso acadêmico, o pesquisador foi orientado pelo então chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, Milton Ozorio Moraes, e coorientado pelo então diretor do INS, Ilesh Vinodrai Jani. 

Também defendida em 2013, a dissertação de mestrado de Adolfo teve como tema o ‘Estudo da diversidade genética e mutações de resistência do HIV aos ARVS na região norte de Mocambique’. 

O atual chefe do Departamento de Serviços Laboratoriais de Referência do INS concluiu o doutorado em 2018, com a defesa da tese ‘Perfil de mutações de resistência do HIV aos ARVS nos indivíduos em falência da primeira linha de TARV em Moçambique’.  

Ambos os estudos foram orientados pelo pesquisador do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, José Carlos Couto Fernandez. 

Ex-alunos, que atualmente são gestores de saúde local, estiveram em missão de cooperação na Fiocruz
Por: 
maira

De 17 a 19 de abril, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) recebeu a visita de autoridades de saúde de Moçambique com o objetivo de trocar experiências e discutir cooperações na área de diagnóstico laboratorial. 

Dentre os visitantes, dois egressos da pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz): o diretor de Laboratórios de Saúde Pública do Instituto Nacional de Saúde (INS), Nédio Mabunda, que liderou a comitiva, e o chefe de Departamento de Serviços Laboratoriais de Referência do órgão, Adolfo Vubil. 

Temas de interesse para colaboração entre IOC e INS foram discutidos. Na foto, à frente (a partir da esquerda): Anna Cristina, Tania, Adolfo e Nédio. Atrás: Augusto Paulo Silva, assessor do Cris/Fiocruz, e Flávio. Foto: Acervo

Os dois pesquisadores cursaram mestrado e doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, criado através de um acordo de cooperação entre a Fiocruz e o INS. 

Voltado para profissionais de saúde do país africano, principalmente do INS, o curso é oferecido por um consórcio. Três programas de pós-graduação do IOC integram a iniciativa: Biologia Celular e Molecular, Biologia Parasitária e Medicina Tropical. Também participa o Programa de Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). 

Nédio e Adolfo integraram a segunda turma do mestrado, iniciada em 2010. Posteriormente, cursaram o doutorado, obtendo os títulos de mestre e doutor pelo Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC. 

O impacto da formação para a saúde púbica de Moçambique foi destacado pelos pesquisadores durante a visita à Fiocruz. A comitiva contou ainda com a participação do especialista de Laboratórios do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC Moçambique), Flávio Faife. 

Em reunião com a presença da diretora do IOC, Tania Cremonini de Araujo-Jorge, e da coordenadora de Cooperação Institucional do Instituto, Anna Cristina Carvalho, os especialistas apontaram o suporte aos laboratórios de referência, manutenção de equipamentos laboratoriais e qualificação de recursos humanos como temas de interesse do INS para a colaboração institucional. 

Confirmando o interesse do IOC na cooperação, Tania propôs iniciar discussões sobre a organização de um itinerário de formação específico para alunos de Moçambique envolvendo as diversas pós-graduações do Instituto, assim como a realização de cursos de curta duração para os profissionais dos laboratórios de referência do INS. 

A visita da comitiva de Moçambique à Fiocruz foi organizada pelo Centro de Relações Internacionais (Cris/Fiocruz) e incluiu duas reuniões com representantes da presidência e de diversas unidades da Fundação para discutir parcerias. A pesquisadora do Laboratório das Interações Vírus-Hospedeiros do IOC, Nildimar Honorio Rocha, participou dos encontros.

Confira, abaixo, entrevista com Nédio Mabunda e Adolfo Vubil sobre as contribuições da pós-graduação no IOC para a saúde pública de Moçambique, incluindo transferência de tecnologias, colaborações em pesquisas com foco em agravos de relevância no país e formação continuada de recursos humanos. 

Egressos da pós-graduação do IOC, Nédio (à direita) e Adolfo (ao centro) estabeleceram parcerias com laboratórios do Instituto em temas como hepatites e HIV. Foto: Pedro Linger/Cris/Fiocruz

O papel do INS em Moçambique é, em alguma medida, semelhante ao papel da Fiocruz no Brasil, incluindo pesquisa em saúde, diagnóstico laboratorial, desenvolvimento tecnológico, formação de recursos humanos e divulgação científica. De que forma a pós-graduação contribuiu para o desenvolvimento e gestão dessas atividades?  

Nédio: A pós-graduação na Fiocruz foi importante para estabelecimento da minha área de pesquisa no INS, contribuindo para a discussão, alerta e resolução de problemas específicos de saúde pública do meu país, ligados ao risco de transmissão de HIV e hepatites por transfusão de sangue. Atualmente, estou finalizando uma pesquisa com resultados que propõem solução para os problemas encontrados. Adicionalmente, tenho desenvolvido pesquisas que caracterizam a diversidade genética dos vírus de hepatite B e C no país. 

A formação também foi crucial para a minha inserção diferenciada no ensino em Moçambique, lecionando, orientando e participando em bancas de graduação e pós-graduação em diversas universidades. Estas atividades contribuem para a formação de novos profissionais de saúde em nível local. 

Na área de gestão, toda a experiência e aprendizado da pós-graduação no IOC foi e continua sendo útil para responder às diversas demandas na área de Laboratórios de Saúde Pública, que coordeno atualmente, e na Pesquisa em Saúde, que coordenei anteriormente. 

Adolfo: A interligação entre pesquisa e ensino na pós-graduação permitiu que eu me formasse resolvendo problemas reais do meu país. Minha pesquisa teve o objetivo de estudar a epidemiologia molecular do HIV em Moçambique e determinar o perfil de mutações de resistência do vírus ao tratamento antiretroviral. Para além da formação acadêmica, consegui transferir conhecimento e tecnologia para sequenciamento genético de HIV para o país. 

Como tem sido a colaboração com o IOC após a pós-graduação?  

Nédio: O contato com professores do mestrado e doutorado facilita a interação e colaboração sempre que necessário. Temos uma linha aberta de colaboração em hepatites, que é uma área de importância para Moçambique. Tivemos uma estudante moçambicana que trabalhou no Laboratório de Hepatites Virais do IOC, com supervisão da pesquisadora Lia Lewis, e publicamos um estudo sobre caraterização molecular e sorológica da hepatite oculta em doadores de sangue de Moçambique. Também gostaria de ressaltar a colaboração com meu orientador, Milton Moraes, que infelizmente faleceu em 2021. Desde que iniciei o mestrado, em 2010, colaboramos na pesquisa e capacitação institucional em diversas áreas. 

Adolfo: Através da colaboração estabelecida foi possível o deslocamento de uma equipe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC para apoiar o INS no estabelecimento da tecnologia de sequenciamento genético do HIV. Os pesquisadores da Fiocruz também ministraram cursos de curta duração, transferindo conhecimento para pesquisadores moçambicanos. 

Após a visita realizada, surgem novas perspectivas de parcerias? 

Nédio: Nossa visita foi um desdobramento da visita feita pelo ministro de Saúde de Moçambique, Armindo Daniel Tiago, à Fiocruz, em novembro de 2023. Foi interessante ver a instituição de outro ângulo, com toda a diversidade e magnitude. Percebemos disponibilidade imediata de todas as áreas de interesse em colaborar e vamos dar continuidade às discussões específicas com as diferentes unidades da Fundação com o objetivo de estabelecer um acordo de cooperação. 

Adolfo: Foi interessante ver que a Fiocruz continua na dianteira na busca de soluções para melhor responder a novos desafios de saúde pública. Por exemplo, a Pós-graduação em Biologia Computacional e Sistemas do IOC atua em um tema que interessa bastante a Moçambique, pois é fundamental para melhorar a análise da dinâmica epidemiológica de diferentes agravos de saúde humana, tendo em conta a abordagem ‘uma só saúde’. 

Retrospectiva acadêmica 

Atual diretor de Laboratórios de Saúde Pública do INS, Nédio concluiu o mestrado em 2013, com a defesa da dissertação ‘Estudo de polimorfismos de TNF, IL-10, LTA4H, PKLR e associação com tuberculose na população moçambicana’. 

Em sua tese de doutorado, apresentada em 2021, ele abordou o ‘Risco de transmissão dos vírus da imunodeficiência humana, vírus da hepatite B e C por transfusão em doadores de sangue em Maputo e Beira, Moçambique’.  

Em seu percurso acadêmico, o pesquisador foi orientado pelo então chefe do Laboratório de Hanseníase do IOC, Milton Ozorio Moraes, e coorientado pelo então diretor do INS, Ilesh Vinodrai Jani. 

Também defendida em 2013, a dissertação de mestrado de Adolfo teve como tema o ‘Estudo da diversidade genética e mutações de resistência do HIV aos ARVS na região norte de Mocambique’. 

O atual chefe do Departamento de Serviços Laboratoriais de Referência do INS concluiu o doutorado em 2018, com a defesa da tese ‘Perfil de mutações de resistência do HIV aos ARVS nos indivíduos em falência da primeira linha de TARV em Moçambique’.  

Ambos os estudos foram orientados pelo pesquisador do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, José Carlos Couto Fernandez. 

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)