Campanhas de informação e conscientização, ações de promoção da saúde, atividades de divulgação científica, distribuição e oferta gratuita de preservativos e testes rápidos, disponibilização de profilaxias pós e pré exposição.
Apesar da constante e diversificada gama de atividades e estratégias de prevenção disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde brasileiro, o SUS, um dado chama atenção: o número de novos casos de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) está crescendo entre homens jovens que fazem sexo com homens (grupo conhecido como ‘jovens HSH’).
Um estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e com o Departamento de Saúde Pública de São Francisco (USA), mostra que, dos 400 voluntários testados para HIV, 40 apresentavam a infecção, o que equivalente a 10% do total.
De acordo com a imunologista Sylvia Teixeira, pesquisadora do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, que apresentou esse e outros resultados durante a Conferência em Retrovírus e Infecções Oportunistas, em março, nos Estados Unidos, a pesquisa evidenciou prevalência e incidência elevadas do HIV no grupo analisado.
Enquanto a incidência está relacionada à identificação de casos novos entre os voluntários, a prevalência se refere ao número de casos identificados no momento do estudo.
“Nosso laboratório ficou responsável por analisar a taxa de incidência do vírus e por determinar se as infecções eram recentes ou não. O índice de incidência foi de 2.81%, que é considerado alto, e o de casos considerados novos foi de 25%”, alertou a especialista.
Segundo o último boletim epidemiológico disponibilizado pela UNAIDS (programa das Nações Unidas em HIV/Aids), somente no estado do Rio de Janeiro, local onde o estudo foi realizado, foram identificados 4.363 casos em 2022, variação 8% superior ao ano anterior.
Confira, abaixo, em entrevista com a pesquisadora Sylvia Teixeira, mais detalhes sobre o estudo e as possíveis explicações sobre o aumento de casos de HIV entre homens jovens que fazem sexo com homens.
Quais os principais resultados do estudo?
No congresso, apresentamos que, dos 400 jovens testados, 40 [prevalência de 10%] tiveram resultado positivo para infecção por HIV, dos quais 20 já tinham conhecimento prévio da infecção por terem realizado testagem em algum momento da vida. Os outros 20 desconheciam o resultado, pois nunca haviam se testado. No conjunto desses casos inéditos, 5 homens [25%] apresentaram infecção recente, determinada a partir de testes específicos realizados em laboratório. Outro ponto que chamou atenção foi que 108 jovens [27%] nunca haviam realizado nenhuma testagem para detecção de infecções sexualmente transmissíveis, porém já haviam iniciado a vida sexual e/ou feito sexo antes ou depois do uso de drogas ou ingestão de álcool, que pode representar um risco para a saúde deles.
Como é possível determinar as infecções recentes?
Existem algumas maneiras para determinar estas infecções. Pode ser, por exemplo, a partir de estudos longitudinais, com o acompanhamento de determinado grupo por algum tempo. Com a realização de testes de diagnóstico rotineiros é possível identificar se algum participante adquiriu infecção pelo vírus. No entanto, esses estudos são longos e caros. Também é possível utilizar uma metodologia laboratorial, com testes específicos, chamados de ensaios de avidez de anticorpos. Foi esse o método que adotamos. Conseguimos determinar se as infecções eram inferiores ou superiores a 214 dias. Ou seja, dos 20 jovens que não sabiam que estavam infectados, 5 haviam sido infectados há menos de 214 dias. Todos os testes seguiram protocolos internacionais. Nosso laboratório é um dos poucos do país a realizar essa testagem. Somos certificados por um órgão vinculado ao National Institutes of Health [NIH] dos Estados Unidos.
Qual a importância de estimar o período de infecção?
A detecção de casos de infecção recente possibilita ter uma visão real da dinâmica da epidemia naquela população. Ou seja, nos permite dizer se a transmissão está acontecendo ou não naquele grupo. Com isso, é possível fornecer subsídios para que as autoridades de saúde busquem meios para aperfeiçoar as ações destinadas a frear novas infecções, a partir de atividades de prevenção, com testagens, campanhas, distribuição de preservativos, oferta ampliada de PrEP e PEP e outros. Se a transmissão não for descontinuada, em termos epidemiológicos isso pode se tornar uma bola de neve. Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de detecção de HIV nas faixas etárias de 20 a 24 e de 25 a 29 anos vem aumentando ao longo dos últimos anos. Os jovens não estão se testando como deveriam.
Por que esta baixa procura por testagem entre os jovens?
As pesquisas mostram que muitos homens que fazem sexo com homens constantemente se expõem a situações de risco, com alta frequência de relações sexuais sem uso de preservativo, tornando importante a realização dos testes regularmente. No entanto, como os jovens de hoje não presenciaram a epidemia da doença na década de 1980, com muitas pessoas com quadro clínico crítico e morrendo pela doença, parece haver uma certa banalização do agravo e uma subestimação dos riscos. Muitos acreditam que não vão se infectar e, caso isso aconteça, não julgam ser um grande problema, já que parecem considerar a Aids uma doença crônica sem gravidade, que pode ser tratada com um simples comprimido.
Você considera que falta informação sobre infecção por HIV?
As informações sobre o vírus e a doença existem e estão amplamente disseminadas. O acesso a essa informação está cada vez mais disponível. Hoje, muitas vezes o acesso está na palma da mão. Muitos jovens possuem celular com internet. Mas, buscar o conhecimento por conta própria não é tão fácil, é preciso de algo que os leve a isso. Ao longo das diversas atividades de divulgação científica que o nosso laboratório desenvolve, percebemos que os jovens estão desinformados, mas gostam de receber essa informação. Eles ficam atentos, fazem muitas perguntas.
As políticas públicas brasileiras no tema estão no caminho certo?
O Brasil possui excelentes políticas de saúde. Existem diversos locais que oferecem testagem para infecções sexualmente transmissíveis, distribuição de preservativos, propagandas durante todo o ano, centros de acolhimento, serviços de referência em diagnóstico e outros métodos laboratoriais, acesso à terapia antirretroviral e muito mais. Toda a população tem tudo isso ao seu alcance, e de forma gratuita, tanto quem vive com HIV, como quem não vive. Um exemplo prático sobre a excelente política de saúde brasileira no tema, é que os participantes que descobriram a infecção pelo HIV durante o estudo estão em atendimento gratuito no serviço de saúde do INI, que é parte integrante do SUS. Eles estão bem e vivendo com qualidade e saúde. Vale destacar, ainda, a oferta da PEP [Profilaxia pós-exposição] e da PrEP [Profilaxia pré-exposição] no SUS, duas importantes estratégias que contribuem para a prevenção ao HIV. Também é importante ressaltar as várias campanhas nacionais de vacinação que definem as pessoas que vivem com HIV como grupo prioritário para receber os imunizantes, como forma de prevenção combinada a diversas doenças.
Quando realizar a testagem?
A testagem deve ser feita com regularidade e sempre que a pessoa tiver passado por uma situação de risco, por exemplo, ter feito sexo sem preservativo. Um terço dos jovens que participaram do estudo nunca havia se testado e muitos tinham mais de cinco parceiros em um mês. Nenhum método de prevenção é 100% eficaz. Se atrelada à relação sexual houver consumo de drogas ou álcool, esses componentes podem contribuir com a alteração da percepção de risco. Além do mais, é sempre bom lembrar que existem várias IST’s e elas podem ser transmitidas de formas diferentes. Então, a recomendação número um é sempre combinar prevenção à testagem regular. Identificar uma infecção precocemente, contribui para o início rápido do tratamento e possibilita qualidade de vida.
O tratamento contra o HIV é eficaz?
Com certeza. O tratamento contra o HIV impede que o vírus se replique e cause colapso no sistema imunológico. Quando o organismo apresenta queda significativa das células de defesa chamadas de linfócitos T CD4+, que são alvo de ataques pelo HIV, a pessoa fica suscetível à invasão por outros microrganismos causadores de doenças, o que pode ser fatal. Era o que acontecia com as pessoas na década de 80 e 90, quando ainda não existia tratamento. Com o desenvolvimento da terapia antirretroviral esse cenário mudou. O medicamento aumenta a qualidade de vida da pessoa que vive com HIV porque atua diretamente na recuperação do sistema imunológico. Então, ao mesmo tempo em que a terapia mantém a contagem de linfócitos T CD4+ em níveis próximos aos normais, que é de cerca de 1000 células por mililitro de sangue, ela também controla a carga viral, muitas vezes abaixo do limite detectável nos testes.
Espalhadas por todo o país, os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA’s) oferecem profilaxia pré e pós-exposição ao HIV, consultas agendadas, distribuição de autotestes e preservativos e realização de testes rápidos para HIV, Sífilis e Hepatites B e C. Foto: Oswaldo Forte/COMUSQual o benefício de controlar a carga viral?
Quando a carga viral está controlada em níveis muito baixos, ela é denominada ‘indetectável’. Está comprovado que a pessoa que está há pelo menos seis meses nesse estágio não transmite o vírus pela via sexual – o que chamamos de “I = I”, ou seja, indetectável = intransmissível. Mas isto não significa que ela está curada e nem que pode deixar os cuidados de lado, como descontinuar a terapia ou fazer sexo sem preservativo. Não se sabe, por exemplo, se em algum momento a pessoa terá algum pico pontual de replicação do vírus, fazendo com que a carga viral suba e o HIV possa ser transmitido, mesmo que por um curtíssimo período. Então, o principal benefício da terapia é controlar a infecção num nível em que a pessoa pode viver bem e de modo saudável, o que é maravilhoso.
O que pode acontecer se a pessoa abandonar o tratamento?
O medicamento funciona como uma espécie de guardião, que confina o vírus numa célula, como em uma prisão, e impede a sua multiplicação. Sem o tratamento, o vírus pode escapar, voltar a se multiplicar e a atacar as células de defesa. Sem guardiões, o corpo fica suscetível a outros invasores. A pessoa pode chegar ao estágio de Aids, que é o desenvolvimento da doença, e pode ir a óbito.
A Aids ainda mata?
Infelizmente, sim. Apesar de existir tratamento eficaz e gratuito, ainda há óbitos pela doença em grande parte devido à falta de adesão ou de continuidade ao tratamento. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 10 mil pessoas morreram no Brasil em decorrência da doença em 2022.
* O estudo Conectad@s é coordenado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, do INI/Fiocruz, e foi realizado entre novembro de 2021 e outubro de 2022. A pesquisa contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do National Institutes of Health, USA (NIH).
Campanhas de informação e conscientização, ações de promoção da saúde, atividades de divulgação científica, distribuição e oferta gratuita de preservativos e testes rápidos, disponibilização de profilaxias pós e pré exposição.
Apesar da constante e diversificada gama de atividades e estratégias de prevenção disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde brasileiro, o SUS, um dado chama atenção: o número de novos casos de infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) está crescendo entre homens jovens que fazem sexo com homens (grupo conhecido como ‘jovens HSH’).
Um estudo conduzido pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), em parceria com o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e com o Departamento de Saúde Pública de São Francisco (USA), mostra que, dos 400 voluntários testados para HIV, 40 apresentavam a infecção, o que equivalente a 10% do total.
De acordo com a imunologista Sylvia Teixeira, pesquisadora do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, que apresentou esse e outros resultados durante a Conferência em Retrovírus e Infecções Oportunistas, em março, nos Estados Unidos, a pesquisa evidenciou prevalência e incidência elevadas do HIV no grupo analisado.
Enquanto a incidência está relacionada à identificação de casos novos entre os voluntários, a prevalência se refere ao número de casos identificados no momento do estudo.
“Nosso laboratório ficou responsável por analisar a taxa de incidência do vírus e por determinar se as infecções eram recentes ou não. O índice de incidência foi de 2.81%, que é considerado alto, e o de casos considerados novos foi de 25%”, alertou a especialista.
Segundo o último boletim epidemiológico disponibilizado pela UNAIDS (programa das Nações Unidas em HIV/Aids), somente no estado do Rio de Janeiro, local onde o estudo foi realizado, foram identificados 4.363 casos em 2022, variação 8% superior ao ano anterior.
Confira, abaixo, em entrevista com a pesquisadora Sylvia Teixeira, mais detalhes sobre o estudo e as possíveis explicações sobre o aumento de casos de HIV entre homens jovens que fazem sexo com homens.
Quais os principais resultados do estudo?
No congresso, apresentamos que, dos 400 jovens testados, 40 [prevalência de 10%] tiveram resultado positivo para infecção por HIV, dos quais 20 já tinham conhecimento prévio da infecção por terem realizado testagem em algum momento da vida. Os outros 20 desconheciam o resultado, pois nunca haviam se testado. No conjunto desses casos inéditos, 5 homens [25%] apresentaram infecção recente, determinada a partir de testes específicos realizados em laboratório. Outro ponto que chamou atenção foi que 108 jovens [27%] nunca haviam realizado nenhuma testagem para detecção de infecções sexualmente transmissíveis, porém já haviam iniciado a vida sexual e/ou feito sexo antes ou depois do uso de drogas ou ingestão de álcool, que pode representar um risco para a saúde deles.
Como é possível determinar as infecções recentes?
Existem algumas maneiras para determinar estas infecções. Pode ser, por exemplo, a partir de estudos longitudinais, com o acompanhamento de determinado grupo por algum tempo. Com a realização de testes de diagnóstico rotineiros é possível identificar se algum participante adquiriu infecção pelo vírus. No entanto, esses estudos são longos e caros. Também é possível utilizar uma metodologia laboratorial, com testes específicos, chamados de ensaios de avidez de anticorpos. Foi esse o método que adotamos. Conseguimos determinar se as infecções eram inferiores ou superiores a 214 dias. Ou seja, dos 20 jovens que não sabiam que estavam infectados, 5 haviam sido infectados há menos de 214 dias. Todos os testes seguiram protocolos internacionais. Nosso laboratório é um dos poucos do país a realizar essa testagem. Somos certificados por um órgão vinculado ao National Institutes of Health [NIH] dos Estados Unidos.
Qual a importância de estimar o período de infecção?
A detecção de casos de infecção recente possibilita ter uma visão real da dinâmica da epidemia naquela população. Ou seja, nos permite dizer se a transmissão está acontecendo ou não naquele grupo. Com isso, é possível fornecer subsídios para que as autoridades de saúde busquem meios para aperfeiçoar as ações destinadas a frear novas infecções, a partir de atividades de prevenção, com testagens, campanhas, distribuição de preservativos, oferta ampliada de PrEP e PEP e outros. Se a transmissão não for descontinuada, em termos epidemiológicos isso pode se tornar uma bola de neve. Dados do Ministério da Saúde mostram que a taxa de detecção de HIV nas faixas etárias de 20 a 24 e de 25 a 29 anos vem aumentando ao longo dos últimos anos. Os jovens não estão se testando como deveriam.
Por que esta baixa procura por testagem entre os jovens?
As pesquisas mostram que muitos homens que fazem sexo com homens constantemente se expõem a situações de risco, com alta frequência de relações sexuais sem uso de preservativo, tornando importante a realização dos testes regularmente. No entanto, como os jovens de hoje não presenciaram a epidemia da doença na década de 1980, com muitas pessoas com quadro clínico crítico e morrendo pela doença, parece haver uma certa banalização do agravo e uma subestimação dos riscos. Muitos acreditam que não vão se infectar e, caso isso aconteça, não julgam ser um grande problema, já que parecem considerar a Aids uma doença crônica sem gravidade, que pode ser tratada com um simples comprimido.
Você considera que falta informação sobre infecção por HIV?
As informações sobre o vírus e a doença existem e estão amplamente disseminadas. O acesso a essa informação está cada vez mais disponível. Hoje, muitas vezes o acesso está na palma da mão. Muitos jovens possuem celular com internet. Mas, buscar o conhecimento por conta própria não é tão fácil, é preciso de algo que os leve a isso. Ao longo das diversas atividades de divulgação científica que o nosso laboratório desenvolve, percebemos que os jovens estão desinformados, mas gostam de receber essa informação. Eles ficam atentos, fazem muitas perguntas.
As políticas públicas brasileiras no tema estão no caminho certo?
O Brasil possui excelentes políticas de saúde. Existem diversos locais que oferecem testagem para infecções sexualmente transmissíveis, distribuição de preservativos, propagandas durante todo o ano, centros de acolhimento, serviços de referência em diagnóstico e outros métodos laboratoriais, acesso à terapia antirretroviral e muito mais. Toda a população tem tudo isso ao seu alcance, e de forma gratuita, tanto quem vive com HIV, como quem não vive. Um exemplo prático sobre a excelente política de saúde brasileira no tema, é que os participantes que descobriram a infecção pelo HIV durante o estudo estão em atendimento gratuito no serviço de saúde do INI, que é parte integrante do SUS. Eles estão bem e vivendo com qualidade e saúde. Vale destacar, ainda, a oferta da PEP [Profilaxia pós-exposição] e da PrEP [Profilaxia pré-exposição] no SUS, duas importantes estratégias que contribuem para a prevenção ao HIV. Também é importante ressaltar as várias campanhas nacionais de vacinação que definem as pessoas que vivem com HIV como grupo prioritário para receber os imunizantes, como forma de prevenção combinada a diversas doenças.
Quando realizar a testagem?
A testagem deve ser feita com regularidade e sempre que a pessoa tiver passado por uma situação de risco, por exemplo, ter feito sexo sem preservativo. Um terço dos jovens que participaram do estudo nunca havia se testado e muitos tinham mais de cinco parceiros em um mês. Nenhum método de prevenção é 100% eficaz. Se atrelada à relação sexual houver consumo de drogas ou álcool, esses componentes podem contribuir com a alteração da percepção de risco. Além do mais, é sempre bom lembrar que existem várias IST’s e elas podem ser transmitidas de formas diferentes. Então, a recomendação número um é sempre combinar prevenção à testagem regular. Identificar uma infecção precocemente, contribui para o início rápido do tratamento e possibilita qualidade de vida.
O tratamento contra o HIV é eficaz?
Com certeza. O tratamento contra o HIV impede que o vírus se replique e cause colapso no sistema imunológico. Quando o organismo apresenta queda significativa das células de defesa chamadas de linfócitos T CD4+, que são alvo de ataques pelo HIV, a pessoa fica suscetível à invasão por outros microrganismos causadores de doenças, o que pode ser fatal. Era o que acontecia com as pessoas na década de 80 e 90, quando ainda não existia tratamento. Com o desenvolvimento da terapia antirretroviral esse cenário mudou. O medicamento aumenta a qualidade de vida da pessoa que vive com HIV porque atua diretamente na recuperação do sistema imunológico. Então, ao mesmo tempo em que a terapia mantém a contagem de linfócitos T CD4+ em níveis próximos aos normais, que é de cerca de 1000 células por mililitro de sangue, ela também controla a carga viral, muitas vezes abaixo do limite detectável nos testes.
Espalhadas por todo o país, os Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA’s) oferecem profilaxia pré e pós-exposição ao HIV, consultas agendadas, distribuição de autotestes e preservativos e realização de testes rápidos para HIV, Sífilis e Hepatites B e C. Foto: Oswaldo Forte/COMUSQual o benefício de controlar a carga viral?
Quando a carga viral está controlada em níveis muito baixos, ela é denominada ‘indetectável’. Está comprovado que a pessoa que está há pelo menos seis meses nesse estágio não transmite o vírus pela via sexual – o que chamamos de “I = I”, ou seja, indetectável = intransmissível. Mas isto não significa que ela está curada e nem que pode deixar os cuidados de lado, como descontinuar a terapia ou fazer sexo sem preservativo. Não se sabe, por exemplo, se em algum momento a pessoa terá algum pico pontual de replicação do vírus, fazendo com que a carga viral suba e o HIV possa ser transmitido, mesmo que por um curtíssimo período. Então, o principal benefício da terapia é controlar a infecção num nível em que a pessoa pode viver bem e de modo saudável, o que é maravilhoso.
O que pode acontecer se a pessoa abandonar o tratamento?
O medicamento funciona como uma espécie de guardião, que confina o vírus numa célula, como em uma prisão, e impede a sua multiplicação. Sem o tratamento, o vírus pode escapar, voltar a se multiplicar e a atacar as células de defesa. Sem guardiões, o corpo fica suscetível a outros invasores. A pessoa pode chegar ao estágio de Aids, que é o desenvolvimento da doença, e pode ir a óbito.
A Aids ainda mata?
Infelizmente, sim. Apesar de existir tratamento eficaz e gratuito, ainda há óbitos pela doença em grande parte devido à falta de adesão ou de continuidade ao tratamento. Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 10 mil pessoas morreram no Brasil em decorrência da doença em 2022.
* O estudo Conectad@s é coordenado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, do INI/Fiocruz, e foi realizado entre novembro de 2021 e outubro de 2022. A pesquisa contou com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e do National Institutes of Health, USA (NIH).
Foto de capa: Julia Prado/MS
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)