“Iniciei aqui em 1963, como motorista. Havia servido ao Exército e lá aprendi a dirigir. Quando dei baixa, tirei a carteira de motorista e fui trabalhar em uma outra firma. Ganhei uma indenização, comprei um carrinho e me tornei taxista. Na época, um tio me avisou que havia uma vaga para motorista na ENSP. Me candidatei e passei a trabalhar com Dr. Edmar TerraBlois. Depois de um certo tempo, fui transferido para a garagem do IOC.
Neste período eu voltei a estudar. Eu só tinha o primário. Fiz ginásio e segundo grau técnico em Patologia Clínica e precisava de estágio. Foi nesta época que conheci a Dra Helene Barbosa, que me indicou para os alemães que montariam o Centro de Microscopia Eletrônica no IOC e precisavam, além dos pesquisadores, de quatro técnicos para levar adiante a implantação. Ela me explicou que se tratava de algo novo e pediu para trazer os documentos para estagiar nesta área. Então, já uma semana depois, fui transferido do setor de transportes para a microscopia eletrônica.
Ajudei a retirar os caixotes com os equipamentos e a montar as máquinas de microscopia eletrônica de transmissão e varredura. Dedicamos os três primeiros meses a este trabalho. Em seguida, iniciamos o treinamento para aprender a técnica de microscopia eletrônica. Depois de um ano, ao final do treinamento, prestamos uma prova prática. A partir daí, já sabia de todos os procedimentos e passei a dar aulas práticas aos estagiários. Inclusive, meu primeiro estagiário, Maurilio José Soares, se tornou pesquisador e atualmente trabalha no Instituto Carlos Chagas, no Paraná.
Como era algo novo aqui, ensinei a técnica para muitos outros pesquisadores do IOC. E uma das situações engraçadas é que quando os chefes de laboratório chegavam para conhecer a microscopia eletrônica, estranhavam minha presença, já que me conheciam do transporte. E ainda brincavam dizendo que de motorista eu passei a ser professor. Com o passar do tempo, fui aprendendo ainda mais. A manutenção de uma das máquinas, por exemplo, que era feita periodicamente por um técnico de São Paulo, passou a ser feita por mim, já que era raro apresentar defeito e o técnico me ensinou como fazer a manutenção.
Retomei meus estudos, porque passei a enxergar a possibilidade de trabalhar dentro dos laboratórios. Depois de cinco anos no IOC, voltei a estudar. Fiz o ginásio e depois fiz o segundo grau técnico. Quando comecei a estagiar, já estava com cerca de dez anos de casa e foi o tempo que fiquei estudando. Me aposentei, aos 51 anos, na microscopia eletrônica, e já tenho mais de 30 anos na área. Hoje, trabalho como terceirizado.
Para mim, o IOC foi e ainda é meu ganha pão. Meu e da minha família. É um trabalho que eu gosto de fazer e me adaptei bem. Faço porque gosto de fazer. Já estou com 66 anos, tenho um bom conhecimento na área e, hoje em dia, tenho muito prazer em ensinar. "
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