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Os primeiros códigos para a identificação das espécies

Palestra ressalta a importância do registro da descrição de espécies encontradas para identificação posterior
Por Jornalismo IOC29/03/2011 - Atualizado em 10/12/2019

Confira a cobertura especial do evento

O professor do Curso de Ciências Ambientais da UNIRIO Carlos Figueiredo foi um dos destaques do terceiro dia do I Seminário sobre Gestão e Curadoria de Coleções Zoológicas da Fiocruz, que o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou de 21 a 25 de março. A apresentação foi iniciada com um breve histórico sobre os primórdios das ciências naturais com as tentativas pioneiras de hierarquizar os conhecimentos e a realização dos primeiros registros de códigos para a identificação das espécies.

Figueiredo recordou Georges Louis Leclerc, o Conde de Buffon, que foi um dos maiores naturalistas franceses de todos os tempos. Nomeado, em 1739, intendente do Jardim Real, ali Buffon reuniu uma imensa coleção de espécimes zoológicos e botânicos, além de vasto material de pesquisa geológica, paleontológica e mineralógica, transformando o local no conhecido Jardim das Plantas, que se tornou, em 1794, o Museu Nacional de História Natural. Buffon, um dos precursores das teorias evolucionistas, lançou a semente das novas teorias sobre a origem dos seres vivos ao escrever a obra Histoire Naturelle. Ele acreditava que quanto mais afastado do centro de origem (Europa), os animais iam se degenerando e diminuindo de tamanho. Segundo o convidado, Buffon foi um dos primeiros a admitir a transformação das espécies, ainda que para pior.

Gutemberg Brito

Carlos Figueiredo, professor do Curso de Ciências Ambientais da UNIRIO, apresentou um breve histórico sobre os primórdios das ciências naturais com as tentativas pioneiras dos primeiros registros de códigos para a identificação das espécies.

Outro marco da ciência aconteceu em 1859, quando Charles Darwin publicou a obra A origem das espécies, na qual a Teoria da Evolução é descrita pela primeira vez. Uma das passagens mais importantes da vida de Darwin foi a sua viagem a bordo no navio Beagle, entre 1831 e 1836, na qual visitou diversas regiões do globo terrestre e teve condições de perceber uma interessante relação entre fósseis e espécies viventes e mecanismos de adaptação de espécies relacionados ao ambiente e a diferentes modos de vida. “Darwin acreditava, assim como Buffon, que todos os animais eram originários da Europa, que na época era considerada o centro da Terra”, explicou o professor.

As primeiras coleções zoobotânicas dos gabinetes eram motivo de grande curiosidade entre os frequentadores dos museus. Contudo, os fornecedores dos exemplares dos animais exibidos nunca revelavam qual a sua origem. Na segunda metade do século 19, o naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico Alfred Russel Wallace percebeu a necessidade de que cada espécie coletada fosse catalogada com informações precisas sobre a sua procedência. Wallace foi o primeiro a propor uma geografia das espécies animais e, como tal, é considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia e chamado de "Pai da Zoogeografia". Em 1876, ele desenvolveu um mapa das regiões da França que separa diversas floras botânicas. Bem antes, em 1805, Jean Baptiste Lamarck, renomado biogeógrafo francês, organizou o primeiro mapa de floras botânicas de que se tem registro no mundo. Lamarck foi um dos primeiros a admitir a possibilidade das espécies de plantas não serem fixas.

Ainda no século 19, uma divisão do planeta em seis regiões faunísticas diferentes foi realizada. Cada área apresentava uma fauna típica, endêmica. Tais regiões foram separadas entre si por barreiras climáticas e topográficas. Anos depois, o zoologista inglês Philip Lutley Sclater utilizou um sistema de regiões por determinadas famílias de aves. Logo após, Wallace modificou o modelo de Sclater e o aplicou aos vertebrados, dividindo os continentes em seis regiões, o que hoje é conhecido como as regiões Neártica, Neotropical (onde se localiza o Brasil), Paleártica, Etiópica, Oriental e Australiana. Estes domínios estão separados por barreiras oceânicas e por cinturões de temperatura.

Avançando na história, Figueiredo recordou a Teoria da Biogeografia Cladística, que começou a sistematizar o conhecimento de ocorrências de espécies. Este método combina a cladística Hennigniana, de Willi Hennig, com a Panbiogeografia de Leon Croizat, por produzir cladogramas - diagrama que mostra as relações ancestrais entre organismos para representar a árvore da vida evolutiva - de grupos taxonômicos individuais ocupando as mesmas áreas endêmicas e, a partir desses, produzir cladogramas gerais de área. Estes podem ser derivados por adição de cladogramas individuais e juntos darem o balanço acerca das biotas. “Croizat, assim como Darwin, na segunda metade do século 19, não admitia uma Terra mutável. Apesar de aceitar a mutabilidade das espécies, o planeta não necessariamente se modificaria”, destaca o estudioso. Nesta época, não tinha sido sedimentada ainda a Teoria das Tectônicas de Placas, atualmente aceita, que descreve os movimentos de grande escala que ocorrem na litosfera terrestre. Por esta razão, era necessário naquela época assumir uma premissa de que existiriam entre os continentes as chamadas “pontes continentais”, que seriam trechos de terra que teriam surgido em determinado ponto da história e misteriosamente desaparecido em outros pontos, como talvez fosse o caso da misteriosa Atlântida.

Figueiredo ressaltou a importância de um registro da descrição das características das espécies encontradas para que elas possam ser identificadas posteriormente. “É preciso ter o registro material de uma coleção para que no momento que o pesquisador tiver dúvida se aquela espécie, por exemplo, é um mosquito Aedes aegypti ou um Aedes albopictus, ele consiga identificar e confirmar que o Aedes albopictus também está transmitindo dengue. Essa certeza do registro de uma espécie é de extrema importância na área de saúde. Por isso, a má taxonomia pode matar, especialmente a biodiversidade”, alertou o palestrante.

Úrsula Neves

29/03/2011

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Palestra ressalta a importância do registro da descrição de espécies encontradas para identificação posterior
Por: 
jornalismo

Confira a cobertura especial do evento

O professor do Curso de Ciências Ambientais da UNIRIO Carlos Figueiredo foi um dos destaques do terceiro dia do I Seminário sobre Gestão e Curadoria de Coleções Zoológicas da Fiocruz, que o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) realizou de 21 a 25 de março. A apresentação foi iniciada com um breve histórico sobre os primórdios das ciências naturais com as tentativas pioneiras de hierarquizar os conhecimentos e a realização dos primeiros registros de códigos para a identificação das espécies.

Figueiredo recordou Georges Louis Leclerc, o Conde de Buffon, que foi um dos maiores naturalistas franceses de todos os tempos. Nomeado, em 1739, intendente do Jardim Real, ali Buffon reuniu uma imensa coleção de espécimes zoológicos e botânicos, além de vasto material de pesquisa geológica, paleontológica e mineralógica, transformando o local no conhecido Jardim das Plantas, que se tornou, em 1794, o Museu Nacional de História Natural. Buffon, um dos precursores das teorias evolucionistas, lançou a semente das novas teorias sobre a origem dos seres vivos ao escrever a obra Histoire Naturelle. Ele acreditava que quanto mais afastado do centro de origem (Europa), os animais iam se degenerando e diminuindo de tamanho. Segundo o convidado, Buffon foi um dos primeiros a admitir a transformação das espécies, ainda que para pior.

Gutemberg Brito

Carlos Figueiredo, professor do Curso de Ciências Ambientais da UNIRIO, apresentou um breve histórico sobre os primórdios das ciências naturais com as tentativas pioneiras dos primeiros registros de códigos para a identificação das espécies.

Outro marco da ciência aconteceu em 1859, quando Charles Darwin publicou a obra A origem das espécies, na qual a Teoria da Evolução é descrita pela primeira vez. Uma das passagens mais importantes da vida de Darwin foi a sua viagem a bordo no navio Beagle, entre 1831 e 1836, na qual visitou diversas regiões do globo terrestre e teve condições de perceber uma interessante relação entre fósseis e espécies viventes e mecanismos de adaptação de espécies relacionados ao ambiente e a diferentes modos de vida. “Darwin acreditava, assim como Buffon, que todos os animais eram originários da Europa, que na época era considerada o centro da Terra”, explicou o professor.

As primeiras coleções zoobotânicas dos gabinetes eram motivo de grande curiosidade entre os frequentadores dos museus. Contudo, os fornecedores dos exemplares dos animais exibidos nunca revelavam qual a sua origem. Na segunda metade do século 19, o naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico Alfred Russel Wallace percebeu a necessidade de que cada espécie coletada fosse catalogada com informações precisas sobre a sua procedência. Wallace foi o primeiro a propor uma geografia das espécies animais e, como tal, é considerado um dos precursores da ecologia e da biogeografia e chamado de "Pai da Zoogeografia". Em 1876, ele desenvolveu um mapa das regiões da França que separa diversas floras botânicas. Bem antes, em 1805, Jean Baptiste Lamarck, renomado biogeógrafo francês, organizou o primeiro mapa de floras botânicas de que se tem registro no mundo. Lamarck foi um dos primeiros a admitir a possibilidade das espécies de plantas não serem fixas.

Ainda no século 19, uma divisão do planeta em seis regiões faunísticas diferentes foi realizada. Cada área apresentava uma fauna típica, endêmica. Tais regiões foram separadas entre si por barreiras climáticas e topográficas. Anos depois, o zoologista inglês Philip Lutley Sclater utilizou um sistema de regiões por determinadas famílias de aves. Logo após, Wallace modificou o modelo de Sclater e o aplicou aos vertebrados, dividindo os continentes em seis regiões, o que hoje é conhecido como as regiões Neártica, Neotropical (onde se localiza o Brasil), Paleártica, Etiópica, Oriental e Australiana. Estes domínios estão separados por barreiras oceânicas e por cinturões de temperatura.

Avançando na história, Figueiredo recordou a Teoria da Biogeografia Cladística, que começou a sistematizar o conhecimento de ocorrências de espécies. Este método combina a cladística Hennigniana, de Willi Hennig, com a Panbiogeografia de Leon Croizat, por produzir cladogramas - diagrama que mostra as relações ancestrais entre organismos para representar a árvore da vida evolutiva - de grupos taxonômicos individuais ocupando as mesmas áreas endêmicas e, a partir desses, produzir cladogramas gerais de área. Estes podem ser derivados por adição de cladogramas individuais e juntos darem o balanço acerca das biotas. “Croizat, assim como Darwin, na segunda metade do século 19, não admitia uma Terra mutável. Apesar de aceitar a mutabilidade das espécies, o planeta não necessariamente se modificaria”, destaca o estudioso. Nesta época, não tinha sido sedimentada ainda a Teoria das Tectônicas de Placas, atualmente aceita, que descreve os movimentos de grande escala que ocorrem na litosfera terrestre. Por esta razão, era necessário naquela época assumir uma premissa de que existiriam entre os continentes as chamadas “pontes continentais”, que seriam trechos de terra que teriam surgido em determinado ponto da história e misteriosamente desaparecido em outros pontos, como talvez fosse o caso da misteriosa Atlântida.

Figueiredo ressaltou a importância de um registro da descrição das características das espécies encontradas para que elas possam ser identificadas posteriormente. “É preciso ter o registro material de uma coleção para que no momento que o pesquisador tiver dúvida se aquela espécie, por exemplo, é um mosquito Aedes aegypti ou um Aedes albopictus, ele consiga identificar e confirmar que o Aedes albopictus também está transmitindo dengue. Essa certeza do registro de uma espécie é de extrema importância na área de saúde. Por isso, a má taxonomia pode matar, especialmente a biodiversidade”, alertou o palestrante.

Úrsula Neves

29/03/2011

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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)