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O desafio das revistas científicas brasileiras

Editor das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz fala da importância de políticas editoriais sustentáveis para consolidar os periódicos científicos do Brasil
Por Jornalismo IOC08/09/2009 - Atualizado em 06/07/2021

O Brasil ocupa hoje lugar de destaque no meio científico internacional em diversas áreas de conhecimento. No entanto, as revistas científicas brasileiras ainda estão longe de alcançar o mesmo prestígio internacional que já cerca muitos pesquisadores do país. Para que a excelência dos estudos produzidos nos laboratórios nacionais se traduza também na valorização das revistas científicas brasileiras, é necessário desenvolver políticas editoriais que permitam dar fim a esse aparente paradoxo. 

O que tem ficado claro nos últimos anos é que a chave para adquirir mais destaque e visibilidade internacional é evoluir no aumento dos índices de impacto. O indicador é calculado pela divisão do número de citações aos seus artigos pelo número de artigos publicados.

A experiência da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz tem muito a colaborar neste sentido. Criada em 1909 pelo sanitarista Oswaldo Cruz, a Memórias demonstra a capacidade de conjugar inovação e tradição – acompanhando o mesmo compromisso centenário da Fiocruz, onde é editada. Uma das mais antigas publicações científicas da América Latina ainda em circulação, a revista acaba de alcançar o status de periódico mais importante da região na área biomédica. A indicação do Institute for Scientific Informatiom (ISI) vem no ano do centenário da Memórias.

Entre as ações de modernização que explicam o sucesso da revista, estão o acesso livre e gratuito ao conteúdo via internet e a publicação em inglês. Ainda na década de 90, a Memórias já fazia parte da base Scielo, uma plataforma de publicações científicas da América Latina com conteúdo livre. Houve investimento em um sistema de submissão digital de artigos, o que agilizou e tornou mais transparente o processo de publicação. Em 2008, a revista disponibilizou todo o conteúdo publicado nos seus 100 anos de história gratuitamente para download. Também no ano passado, os artigos passaram a contar com o DOI, um sistema internacional de identificação de artigos científicos – uma espécie de CPF digital que garante a existência e a publicação do artigo em questão.

A publicação tem mais uma vantagem: publicar nela é de graça. Diferente de outras revistas internacionais, que chegam a cobrar centenas de dólares por página publicada, na Memórias o processo é todo gratuito. Para melhorar o fator de impacto de nossas revistas científicas, pesquisadores do mundo inteiro têm que ter acesso ao que é publicado nelas e também a possibilidade de publicar no Brasil. Todos querem ver seus trabalhos publicados na “Science”, na “Nature” e outras revistas semelhantes. Fazer com que autores nacionais e internacionais optem pela Memórias ou por qualquer revista brasileira é uma questão de convencimento. Cada vez mais nossas publicações precisam ser internacionais, impactantes, confiáveis e profissionais.

Especial atenção deve ser dada aos excelentes pesquisadores brasileiros. Como fazê-los publicar mais no Brasil, em revistas que ainda têm fator de impacto mais baixo que as estrangeiras? Esse convencimento, e isso tem sido mostrado também por nossas experiências com a Memórias, vem no momento em que nossos autores reconhecem outros pesquisadores de destaque, referências internacionais, publicando na revista.

É por isso que mesmo com todas as medidas de modernização nada substitui a qualidade dos artigos publicados. A estruturação de uma rede de revisores de renome, nacionais e internacionais, que fazem uma triagem severa daqueles conhecimentos científicos que são de fato inéditos e impactantes, foi uma forma de assegurar a qualidade e a relevância dos dados publicados e atrair novos autores e estudos de grande qualidade para a revista.

Uma das revistas científicas mais antigas da América Latina chega aos 100 anos de olho no futuro. A receita, que pode ser seguida por outras publicações nacionais, foi crescer, se modernizar e se internacionalizar. Mais uma vez, como há um século, a Memórias assume seu lugar entre as locomotivas do processo de editoração científica no país, pronta para ser novamente pioneira na integração de comunicação e ciência.

* Ricardo Lourenço é editor da revista memórias do Instituto Oswaldo Cruz
* Texto publicado originalmente no Jornal Folha de São Paulo, em 08 de setembro de 2009, na editoria de Opinião, página A3.

Editor das Memórias do Instituto Oswaldo Cruz fala da importância de políticas editoriais sustentáveis para consolidar os periódicos científicos do Brasil
Por: 
jornalismo

O Brasil ocupa hoje lugar de destaque no meio científico internacional em diversas áreas de conhecimento. No entanto, as revistas científicas brasileiras ainda estão longe de alcançar o mesmo prestígio internacional que já cerca muitos pesquisadores do país. Para que a excelência dos estudos produzidos nos laboratórios nacionais se traduza também na valorização das revistas científicas brasileiras, é necessário desenvolver políticas editoriais que permitam dar fim a esse aparente paradoxo. 

O que tem ficado claro nos últimos anos é que a chave para adquirir mais destaque e visibilidade internacional é evoluir no aumento dos índices de impacto. O indicador é calculado pela divisão do número de citações aos seus artigos pelo número de artigos publicados.

A experiência da revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz tem muito a colaborar neste sentido. Criada em 1909 pelo sanitarista Oswaldo Cruz, a Memórias demonstra a capacidade de conjugar inovação e tradição – acompanhando o mesmo compromisso centenário da Fiocruz, onde é editada. Uma das mais antigas publicações científicas da América Latina ainda em circulação, a revista acaba de alcançar o status de periódico mais importante da região na área biomédica. A indicação do Institute for Scientific Informatiom (ISI) vem no ano do centenário da Memórias.

Entre as ações de modernização que explicam o sucesso da revista, estão o acesso livre e gratuito ao conteúdo via internet e a publicação em inglês. Ainda na década de 90, a Memórias já fazia parte da base Scielo, uma plataforma de publicações científicas da América Latina com conteúdo livre. Houve investimento em um sistema de submissão digital de artigos, o que agilizou e tornou mais transparente o processo de publicação. Em 2008, a revista disponibilizou todo o conteúdo publicado nos seus 100 anos de história gratuitamente para download. Também no ano passado, os artigos passaram a contar com o DOI, um sistema internacional de identificação de artigos científicos – uma espécie de CPF digital que garante a existência e a publicação do artigo em questão.

A publicação tem mais uma vantagem: publicar nela é de graça. Diferente de outras revistas internacionais, que chegam a cobrar centenas de dólares por página publicada, na Memórias o processo é todo gratuito. Para melhorar o fator de impacto de nossas revistas científicas, pesquisadores do mundo inteiro têm que ter acesso ao que é publicado nelas e também a possibilidade de publicar no Brasil. Todos querem ver seus trabalhos publicados na “Science”, na “Nature” e outras revistas semelhantes. Fazer com que autores nacionais e internacionais optem pela Memórias ou por qualquer revista brasileira é uma questão de convencimento. Cada vez mais nossas publicações precisam ser internacionais, impactantes, confiáveis e profissionais.

Especial atenção deve ser dada aos excelentes pesquisadores brasileiros. Como fazê-los publicar mais no Brasil, em revistas que ainda têm fator de impacto mais baixo que as estrangeiras? Esse convencimento, e isso tem sido mostrado também por nossas experiências com a Memórias, vem no momento em que nossos autores reconhecem outros pesquisadores de destaque, referências internacionais, publicando na revista.

É por isso que mesmo com todas as medidas de modernização nada substitui a qualidade dos artigos publicados. A estruturação de uma rede de revisores de renome, nacionais e internacionais, que fazem uma triagem severa daqueles conhecimentos científicos que são de fato inéditos e impactantes, foi uma forma de assegurar a qualidade e a relevância dos dados publicados e atrair novos autores e estudos de grande qualidade para a revista.

Uma das revistas científicas mais antigas da América Latina chega aos 100 anos de olho no futuro. A receita, que pode ser seguida por outras publicações nacionais, foi crescer, se modernizar e se internacionalizar. Mais uma vez, como há um século, a Memórias assume seu lugar entre as locomotivas do processo de editoração científica no país, pronta para ser novamente pioneira na integração de comunicação e ciência.

* Ricardo Lourenço é editor da revista memórias do Instituto Oswaldo Cruz
* Texto publicado originalmente no Jornal Folha de São Paulo, em 08 de setembro de 2009, na editoria de Opinião, página A3.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)