Plantio de soja avança sobre Amazônia

O plantio desenfreado de soja estaria contribuindo de forma determinante para a devastação da Floresta Amazônica, segundo reportagem publicada quarta-feira (18/09) no 'New York Times', um dos mais influentes jornais do mundo.

O periódico informa que o avanço das plantações de soja foi um dos principais responsáveis pelo aumento de 40% no desmatamento da floresta registrado no ano passado - o maior crescimento desde 1995. O Ministério do Meio Ambiente informou nesta quinta-feira que não comentaria a reportagem.

Assinada pelo correspondente do jornal no Brasil, Larry Rohter, a reportagem sustenta que o avanço do cultivo do grão está relacionado ao aumento da demanda internacional pelo produto e às políticas estaduais locais.

O governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), o maior produtor de soja do mundo, é conhecido na região como o rei da soja, segundo o jornal.

Reportagens publicadas pelo GLOBO em julho e agosto já mostravam o avanço do plantio de soja na floresta e a briga declarada pelo governador à Fundação Nacional do Índio (Funai) contra novas demarcações de áreas indígenas.

Maggi chegou a pedir ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em agosto, que suspendesse por dois anos a homologação de processos de demarcação de terras no estado.

O governador justificou sua posição alegando que a ampliação das áreas demarcadas inviabilizaria o aumento da produção de alimentos.

Lula apoiaria expansão agrícola, diz 'NYT'

Na ocasião, o administrador da Funai em Cuiabá, Ariovaldo José dos Santos, acusava os fazendeiros do estado de invadirem terras indígenas para aumentar suas áreas de produção.

'Para plantar a soja não é preciso acabar com a cultura dos indígenas. Mas os índios estão sendo assediados por fazendeiros que querem usar as terras demarcadas e já pensam em arrendá-las no futuro', denunciou Santos na época.

A reportagem do 'New York Times' informa que o cultivo de soja já ocupa até mesmo áreas há até pouco tempo destinadas à criação de gado.

- O novo fator no desmatamento da Amazônia é claramente a soja e o apelo que ela representa para o agronegócio - afirmou, em entrevista ao jornal americano, Stephan Schwartzmann, diretor da ONG Environmental Defense, sediada em Washington, depois de uma visita à região.

O repórter americano ouviu especialistas que foram unânimes em afirmar que o cultivo da soja continua se espalhando não só no estado do Mato Grosso, mas também no Pará, e que esse avanço representa uma séria ameaça ao equilíbrio ecológico da região.

As acusações sobram para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a reportagem, os grupos ambientalistas tinham esperanças de que ele ajudasse no combate ao desmatamento, mas o presidente teria deixado claro que a ênfase seria no aumento da produção agrícola.

'A Amazônia não é intocável', teria dito Lula em visita à região, de acordo com o jornal americano.

A visão, continua o repórter, é compartilhada pelo governador do Mato Grosso. Entrevistado pelo 'New York Times', Maggi teria dito: 'Para mim, um aumento de 40% no desmatamento não significa nada; não sinto a menor culpa pelo que estamos fazendo aqui. Estamos falando de uma área maior que a Europa toda e que foi muito pouco explorada. Não há nenhuma razão para se preocupar.'

Segundo o jornal, até bem pouco tempo o plantio de soja na região estava restrito a uma área que pertence à Amazônia Legal, mas não é ocupada por floresta propriamente dita.

Porém, com o aumento da demanda internacional os produtores estariam expandindo os cultivos para o coração da floresta, especialmente ao longo da estrada BR-163, que corta a região.

Ainda de acordo com a reportagem, Lula estaria apoiando a finalização da pavimentação da estrada o que, segundo especialistas, contribuiria ainda mais para o avanço da soja. (18/9)

 

 

 

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