Estudo indica que bromélias não constituem focos preferenciais do mosquito da dengue
Um estudo realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) aponta que, em locais de interface entre o ambiente urbano e silvestre – como parques e encostas de morros –, as bromélias não possuem um papel importante na proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor do vírus da dengue. Durante um ano, 156 bromélias situadas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram monitoradas, recobrindo dez espécies. O resultado do estudo aponta para o baixo índice de presença das formas imaturas do A. aegypti, gerando indícios que redirecionam o trabalho de prevenção.
Lab de Transmissores de Hematozoários/IOC |
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A equipe de pesquisadores coletou amostras da água armazenada em 156 bromélias durante o período de um ano |
A água acumulada nas folhas, que serve como reservatório de nutrientes para a planta, foi analisada com o objetivo de verificar a presença de formas imaturas de mosquitos (como larvas e pupas) e de identificar o porcentual de presença do vetor da dengue. “Antes mesmo da realização de estudos sistematizados sobre o tema, medidas como a eliminação das bromélias e o uso indiscriminado de inseticidas já vinham sendo adotadas pela população”, afirma o biólogo Marcio Mocelin, que desenvolveu o trabalho no Laboratório de Transmissores de Hematozários do IOC como estudante de iniciação científica.
“Apenas 0,07% e 0,18% de um total de 2.816 formas imaturas de mosquitos coletadas nas bromélias durante o período de um ano correspondiam ao Aedes aegypt e Aedes albopictus, sugerindo que as bromélias não constituem um problema epidemiológico como foco de propagação ou persistência desses vetores”, Marcio conclui, acrescentando que o estudo foi desenvolvido durante um ano inteiro para que fosse possível observar as características sazonais de cada estação. A presença do Aedes albopictus também foi investigada porque, apesar de não haver registros da transmissão da dengue por esta espécie no Brasil, em condições experimentais o mosquito se mostrou capaz de atuar como vetor potencial do vírus. O jovem pesquisador destaca que no mês de abril, em que houve a maior taxa de captura, foram encontradas 376 formas imaturas de mosquitos nas bromélias analisadas. Deste total, apenas dois exemplares correspondiam ao gênero Aedes.
A constatação de que as espécies encontradas em maior número nas bromélias monitoradas não oferecem perigo à saúde humana foi outro dado relevante. “Verificamos a prevalência de espécies de Culex com importância epidemiológica nula e que sugam animais de sangue frio. A sua presença em grande número nas bromélias indica que a invasão do vetor da dengue neste espaço não deve ser simples, já que ele teria que competir com insetos mais adaptados àquele ambiente”, avalia o entomólogo Ricardo Lourenço, orientador do estudo. “Esta pesquisa indica que as larvas de Aedes encontradas nas bromélias não devem ser supervalorizadas no trabalho de prevenção e reforça que os esforços devem ser voltados para os focos principais, como caixas d'águas destampadas ou mal tampadas, tonéis, piscinas e outros depósitos com água parada”, adverte.
Marcio Mocelin/IOC |
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Apenas 0,07% de um total de 2.816 formas imaturas
de mosquitos coletadas nas bromélias durante o período
de um ano correspondiam ao Aedes aegypti |
Segundo o pesquisador, a escolha do bromeliário do Jardim Botânico para realizar a pesquisa não foi um acaso. “O Jardim Botânico é uma interface entre o ambiente semi-natural – a Mata Atlântica – e o ambiente urbano – bairros da Gávea, Horto, Jardim Botânico – e ali são cultivadas espécies de todas as regiões do país. Além disso, o estudo mostrou que as bromélias localizadas em parques como este ou em encostas, como as da Urca, Leme e Pedra da Gávea, não constituem uma ameaça”, complementa, destacando que, apesar disso, a queima de encostas para destruição de bromélias vem sendo freqüente. “A destruição indiscriminada de bromélias vem sendo utilizada como uma suposta forma de prevenção à dengue, pois tem sido divulgada uma idéia de que as bromélias são importantes focos do mosquito. Estamos justamente provando o contrário e seria importante que as práticas de prevenção acompanhem as descobertas da ciência. A queima de encostas com bromélias para fins de prevenção, portanto, não é uma prática eficaz e desfoca a ação de controle que deveria se concentrar nos focos comprovadamente geradores de mosquitos”, conclui.
Para Maria Lúcia Teixeira, responsável pelo Laboratório de Fitossanidade do Jardim Botânico – que, entre outras atividades, realiza o controle de doenças e pragas no parque – e co-autora do trabalho, o resultado traz tranqüilidade aos visitantes e moradores da região. “Apesar de não havermos registrado casos de dengue entre os funcionários, precisávamos de um estudo aprofundado para comprovar se as bromélias são focos de Ae. aegypti na nossa situação, em que estamos junto à floresta mas com a presença constante de pessoas”, explica.
De acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, os índices de infestação predial por Aedes aegypti na Gávea e Jardim Botânico, bairros vizinhos ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro, eram de 3% e 4,45%, respectivamente nos meses de janeiro a abril de 2006. Ou seja, a cada 3 ou 4 domicílio inspecionado se encontrou um ou muitos focos com larvas e pupas de Ae. aegypti, que poderiam ter dezenas delas. “Estes números, considerados altos pela Organização Mundial de Saúde porque ultrapassam 1%, contrastam com a baixa freqüência de formas imaturas destes mosquitos invasores nas bromélias do Jardim Botânico, onde somente duas larvas foram coletadas e uma única planta após 480 inspeções", confirma Márcio Mocellin.
O próximo passo da pesquisa prevê a investigação da incidência de larvas do vetor da dengue em bromélias localizadas em ambientes exclusivamente urbanos. “Um dos principais alvos da nova etapa do projeto, que deve ser iniciada no segundo semestre, inclui a coleta em condomínios, por exemplo, lugares em que existe maior intervenção humana”, Marcio finaliza.
Renata Fontoura
26/02/07
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