Pesquisadores
buscam tratamento para epilepsia com células-tronco maduras
Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) da
Bahia encontraram evidências de que o transplante de células-tronco
da medula óssea pode ser uma alternativa eficaz no tratamento
da epilepsia. Eles conseguiram demonstrar que as células,
injetadas na corrente sangüínea de camundongos epilépticos,
são capazes de migrar e alojar-se no cérebro dos roedores
em quantidades bem maiores que em animais saudáveis. A verificação
da migração das células é uma etapa
fundamental já que, para chegarem ao órgão,
as células precisam ultrapassar a barreira hemato-encefálica,
que tem como função impedir a passagem de algumas
substâncias. Muitas terapias neurológicas falham porque
os medicamentos não conseguem transpor esse obstáculo.
Resta agora saber se as células transplantadas irão
recompor neurônios lesados, para então testar a técnica
em seres humanos.
Para investigar trajeto das células transplantadas, os pesquisadores
usaram camundongos geneticamente modificados, que produzem uma proteína
fluorescente facilmente visualizada na corrente sangüínea.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, a neurocientista Beatriz
Monteiro Longo, as perspectivas são positivas, já
que outros estudos da Fiocruz da Bahia indicam que as células-tronco
da medula óssea são capazes de reparar tecidos lesados.
Longo conta que tomou como exemplo o tratamento da doença
de Chagas desenvolvido no laboratório de engenharia tecidual
e imunofarmacologia, que teve resultados positivos. "Pacientes
chagásicos recebem um transplante autólogo (do próprio
indivíduo) de células-tronco da medula óssea.
Uma vez circulando na corrente sangüínea, elas se alojam
no coração e fazem o reparo do tecido. É mais
ou menos assim que o paciente epiléptico seria tratado",
explica a pesquisadora.
Existem vários tipos de epilepsia. Os modelos experimentais
usados pelos investigadores simulam a que afeta uma região
do cérebro chamada lobo-temporal. Geralmente, os portadores
dessa forma de epilepsia apresentam um evento anterior, como convulsão
febril, traumatismo craniano ou tumor cerebral, que desencadeia
a primeira crise convulsiva. Segundo Longo, estudos indicam que
há comprometimento de neurônios em determinadas áreas
do cérebro de animais com essa condição.
Nesta
primeira etapa do trabalho, Longo e sua equipe investigam a dinâmica
das células-tronco na crise epiléptica aguda - verificam
se elas se multiplicam, se migram para o cérebro no momento
crítico, em que tipos celulares se diferenciam e em que área
cerebral isto ocorre. Na segunda etapa, os pesquisadores irão
verificar a possibilidade de tratar os animais epilépticos
crônicos, que apresentam crises espontâneas e recorrentes,
com as células transplantadas. Nessa fase, eles poderão
determinar se o método diminui a freqüência ou
modifica o padrão das crises, além de avaliar o grau
de lesão no cérebro.
Perspectivas
Caso o método se mostre eficaz, a pesquisadora acredita que
será possível suprimir a condição epiléptica
ou reduzir a incidência das convulsões. Existe uma
possibilidade de que o tratamento na fase aguda da doença
seja mais efetivo e talvez possa reverter o quadro, suprimindo crises
posteriores. Na fase crônica, quando a doença já
está instalada, acredita-se que a técnica possa ajudar
na diminuição da freqüência das crises.
"Não sabemos ainda se as células-tronco irão
substituir os neurônios perdidos ou lesados durante a crise
ou se podem, simplesmente, suprir a área lesada com substratos
metabólicos e fatores tróficos (nutrientes), entre
outros", afirma Longo. A pesquisadora explica que a maioria
dos trabalhos que propõem o uso de células-tronco
maduras para tratamento de epilepsia optaram por células-tronco
neurais, o que exige técnicas mais sofisticadas. "A
proposta de utilizar células-tronco de medula óssea
é inédita, ou pelo menos era até o começo
de 2004, e não depende de manipulações muito
complicadas. Isso indica que estamos no caminho certo", conclui.
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