Britânicos anunciam vacina contra o consumo de cocaína

Proteína identifica a droga como vírus, fazendo com que os anticorpos a neutralizem

David Firn escreve para o ‘Finantial Times’:

Com uma nova terapia que ainda se encontra numa fase experimental, os viciados em cocaína poderão dispor, dentro de dois anos, de uma chance suplementar de acabar com o seu vício.

A vacina que acaba de ser desenvolvida engana o sistema imunológico, levando-o a julgar a droga como um vírus que está invadindo o organismo.

Ao testarem, em seres humanos, esta que é a primeira vacina anticocaína do mundo, os pesquisadores constataram que 58% dos usuários se mostraram capazes de parar de utilizar a poderosa droga estimulante no decorrer da experiência, que teve uma duração de três meses.

Numa outra pesquisa desenvolvida em paralelo, os três quartos dos pacientes de um grupo de pessoas que haviam parado recentemente de consumir cocaína continuaram a não utilizá-la após terem sido vacinados.

Thomas Kosten, o médico da Yale University que conduziu as pesquisas, afirmou que os resultados eram os melhores que ele já tinha visto em experiências similares.

‘Considerando-se que certas armas podem ter efeitos mágicos, este tratamento nos permitiu chegar o mais próximo possível do resultado ideal.

Em geral, 50% das pessoas voltam a consumir cocaína dentro de 12 semanas após terem parado’, explicou.

A vacina está sendo desenvolvida pela Xenova, uma companhia de biotecnologia com sede no Reino Unido, e que é financiada pelo Instituto Nacional (americano) de luta contra o abuso de drogas (US National Institute of Drug Abuse).

‘Não há nenhuma razão que impeça que este tratamento, que funciona contra a cocaína, seja empregado para neutralizar outras drogas causadoras de dependência’, estima David Oxlade, o diretor executivo da Xenova.

De maneira geral, produzir vacinas contra drogas que causam dependência representa um desafio científico, uma vez que o sistema imunológico costuma ignorar moléculas tão pequenas.

Para que o organismo desenvolva os anticorpos necessários para combater a droga, a Xenova, que também está desenvolvendo uma vacina contra a nicotina para fumantes, misturou com uma proteína que tem por efeito de estimular uma reação imunológica contra a cocaína.

A molécula misturada instrui o organismo a reconhecer as drogas. Se um paciente que foi vacinado fumar cocaína, as moléculas da droga são detectadas e destruídas pelos anticorpos, os quais foram estimulados pela proteína da vacina, dentro da circulação sanguínea.

Os anticorpos formam então um complexo, que é de fato uma barreira grande e cerrada demais para que a droga consiga penetrar até o cérebro por meio do sangue, o que faz com que o estímulo prazeroso que acompanha habitualmente a absorção de cocaína seja eliminado.

O professor Kosten acrescenta que injeções adicionais da vacina deverão ser administradas após o primeiro tratamento, de modo a manter as pessoas imunes à cocaína.

Por sua vez, David Oxlade admite que o primeiro estudo, que envolveu 20 pacientes apenas constitui uma amostragem muito pequena, mas ele também insiste sobre o fato de que os resultados obtidos foram, apesar disso, altamente significativos.

Outro estudo que vem sendo desenvolvido no longo prazo, e que envolve 170 viciados, deverá ser concluído em 2006. (Tradução: Jean-Yves de Neufville)
(Finantial Times, Uol.com/Mídia Global, 15/6)