Ministros
discutem abertura dos arquivos sobre a guerrilha do Araguaia
Brasília - O ministro da
Casa Civil, José Dirceu, deve se reunir nas próximas 24
horas com o ministro da Defesa, José Viegas, o advogado geral da
União, Álvaro Augusto Ribeiro da Costa, e o presidente da
Comissão de Constituição e Justiça da Câmara,
Luiz Eduardo Grenhalgh (PT-SP), para tratar da abertura dos arquivos do
Exército sobre a guerrilha do Araguaia, movimento armado que o
PC do B organizou para combater o regime militar de 1966 a 1974.
Segundo Grenhalgh, que sugeriu o encontro ao ministro Dirceu para "uniformizar
as informações do governo sobre a questão do Araguaia",
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva também deve participar
da conversa.
Esta questão entrou na pauta das preocupações do
governo por conta de uma decisão judicial da juíza federal
Solange Salgado, determinando a quebra do sigilo dos documentos do Exército
sobre a guerrilha e dando um prazo de 120 dias para a União informar
onde estão enterrados os restos mortais dos familiares dos 22 autores
do processo.
Como o Exército já mandou avisar nos bastidores que não
existem documentos secretos da guerrilha e deputados da ala esquerda do
PT insistem na abertura dos arquivos, tal como determinou a Justiça,
o governo teme que a polêmica acabe colocando o Palácio do
Planalto em confronto com os militares. Grenhalgh está convencido
de que existem documentos secretos sobre a guerrilha e de que é
hora de tomar conhecimento deles.
Diante do clima de apreensão, o presidente nacional do PT, José
Genoíno, prega "serenidade, profissionalismo e cautela"
por parte do governo no trato do assunto. Ele diz que é preciso
separar o direito dos familiares de localizar os corpos do processo político,
mas é contestado pelo deputado Grenhalgh.
Na posição de advogado dos familiares dos desaparecidos
do Araguaia, ele afirma justamente o contrário: "Não
dá para descolar a questão jurídica de seu aspecto
político, mas este assunto tem que ser resolvido até porque
decisão judicial não é para ser discutida, e sim
cumprida."
"Todas as entidades de direitos humanos são solidárias
ao direito das famílias de localizar seus mortos. Não vejo
porque isto criaria atrito", concorda o deputado João Alfredo
(CE), da ala esquerda petista. Segundo ele, o mínimo que se pode
fazer é recuperar toda a verdade histórica. "Quem esteve
no comando desse episódio não está mas na ativa e
hoje os setores democráticos da Forças Armadas não
vai entender uma decisão judicial como uma afronta".
Grenhalgh insiste que não nutre nenhum sentimento revanchista,
nem tampouco tem interesse de criar qualquer "atrapalho ou constrangimento"
ao governo que ajudou a eleger. "Não quero abrir feridas e
sim fechar as feridas dos familiares dos desaparecidos da guerrilha do
Araguaia", diz o deputado.
Na condição de advogado que lutou 21 anos para obter uma
resposta favorável da Justiça ao processo, ele não
abre mão de resolver este assunto já. "É inadmissível
não esclarecer isto agora, em um governo Lula que é ex-preso
pela Lei de Segurança Nacional, quando o presidente do PT é
um dos sobreviventes da guerrilha e o líder do governo na Câmara,
Aldo Rebelo, é do PC do B que organizou o movimento", destaca.
Christiane Samarco (O ESP 28/07)
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