Elio Gaspari: O Pronex era um programa que funcionava. Pau nele O Pronex foi criado em 96 para financiar projetos de primeira linha dos cientistas brasileiros. Gastou R$ 188 milhões em 206 trabalhos de 43 instituições, juntando 3.500 pesquisadores. Estimulou um em cada dez doutores brasileiros. Seus participantes obtiveram três vezes mais citações em publicações academicamente reconhecidas que a média dos registros nacionais. Graças ao Pronex, o prof. Moacir Palmeira dirigiu um projeto de antropologia da política que envolveu três instituições e publicou em torno de 20 livros, tratando de coisas como campanhas políticas ou minúcias da organização de uma marcha do MST. A UFRGS hospedou 20 projetos que envolveram 33 instituições de nove estados e sete países. Foi o Pronex que permitiu a instalação dos laboratórios de ótica quântica do professor Luiz Davidovitch na UFRJ. Deles saiu uma das mais citadas pesquisas sobre a resistência dos pacientes de Aids às drogas anti-retrovirais, coordenada pelo professor Adauto Castello Filho. Onde o Pronex pôs o dedo aconteceram coisas boas que dificilmente aconteceriam se ele não existisse. O segredo de seu sucesso foi o rigor e a complexidade do seu processo de seleção e avaliação dos projetos. Uma proposta levada ao Pronex passava pela análise de pelo menos seis especialistas e duas comissões, em três etapas diferentes. Habitualmente, uma proposta desse tipo é examinada em duas etapas, por dois ou três especialistas, no máximo. Num discurso em que revelou não saber sequer o nome do programa, o ministro Roberto Amaral anunciou que ele será mudado. Vão untá-lo com duas pomadas da farmacopéia burocrática: Descentralização e Parceria. As verbas do Pronex vão para as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados, que se tornarão parceiras na escolha dos projetos e pagarão uma parte dos financiamentos. Algo como dizer que dona Maria I determinou a descentralização do alferes Joaquim José da Silva Xavier. A providência mata e esquarteja o Pronex. Se o novo sistema dará bons frutos, não se sabe. O que se sabe é que a árvore existente foi abatida, sem discussão nem justificativas dignas da qualidade da comunidade científica brasileira. Os projetos continuarão levando o nome do programa, o que sugere a idéia de o MCT propor o lançamento de um MacPronex para os bares das Universidades. O que o Pronex tem
de essencial e eficiente é o processo de seleção.
Esse vai à breca.
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