Lula no encontro com reitores de 51 Universidades federais: 'Pobre brasileiro tem até muita paciência
Lisandra Paraguassú, Cristiane Jungblut e Lydia Medeiros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta terça-feira, que está sendo feito um 'alarde excessivo' no país em torno das manifestações dos movimentos sociais.

Segundo o presidente, 'não há nada fora da normalidade'. A avaliação foi feita durante encontro de cerca de duas horas com reitores de 51 Universidades federais e o ministro da Educação, Cristovam Buarque.

No seu discurso, de cerca de uma hora, o presidente fez uma avaliação da situação em que recebeu o país - gravíssima, segundo sua análise - e falou das tensões sociais que têm surgido nos últimos dias.

Lula disse aos reitores que em 1999 o número de invasões do MST foi muito maior (581 durante todo o ano) do que as 130 já registradas este ano e reclamou que agora 'estão fazendo esse alarde todo'.

O presidente disse ainda que 'o pobre brasileiro tem até muita paciência, porque não recebe nada e não tem quem faça lobby por ele', não conhece prefeitos, governadores ou o presidente para fazer pedidos.

Presidente critica política educacional de FH

Logo depois, ao participar de um encontro com prefeitos e os quatro governadores do PT, o presidente Lula criticou a política educacional do governo FHC.

Disse que chegou a duvidar dos números que indicam que 52% das crianças que estudam na quarta série do ensino fundamental não sabem interpretar um texto de português.

'Durante tantos anos se fez tanta propaganda, e a gente constata que mais uma vez as nossas crianças não tiveram o cuidado necessário que precisariam ter', disse Lula, sem citar o nome do ex-presidente FHC, mas claramente fazendo uma referência às propagandas do PSDB nos últimos dias sobre os êxitos na área da educação no governo anterior.

Lula citou ainda o dado de que 59% dos estudantes têm dificuldades para fazer as quatro operações matemáticas (somar, subtrair, dividir e multiplicar).

Um estudo com esse tipo de dificuldade dos estudantes foi divulgado no início do governo Lula. Para o presidente, 'isso é tão grave quanto a situação econômica'.

O presidente contou que, no último domingo, iria fazer um discurso durante a inauguração do Centro Educacional Unificado, em SP, e que desistiu quando se deparou com esses números sobre a educação.

'Vi um número tão forte que não tive coragem de ler o discurso. Não acreditei no número. Aí, viajei com o Cristovam Buarque (ministro da Educação) e ele falou: 'não só são verdadeiros como, se a gente for pesquisar mais a fundo, talvez sejam mais graves'. Ou seja, isso é tão grave, meus companheiros, quanto a situação econômica do país', disse Lula.

Lula contou aos reitores que, na conversa que teve com líderes do MST, criticou o modelo de assentamento existente hoje e defendido pelo movimento. O presidente quer que, em vez de casas separadas uma das outras, sejam montadas agrovilas, para que seja possível dar melhor infra-estrutura com mais facilidade aos assentados.

Lula pede a reitores carinho na análise da reforma. A reforma da Previdência foi tratada na conversa, mas sem aprofundamento, segundo reitores que participaram do encontro.

A presidente da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), Wrana Panizzi, chegou a defender mudanças na proposta no seu discurso.

Os reitores defendem regras de transição claras e fundos de pensão públicos, assim como a paridade para os inativos.

Lula pediu a eles para analisarem com carinho a proposta de reforma e defendeu que os professores fiquem mais tempo trabalhando.

Lembrou que professores com o talento encontrado nas Universidades federais devem continuar servindo à sociedade, e citou como o exemplo os próprios reitores.

O presidente comemorou o fato de ter se reunido com 51 reitores de Universidades federais e de escolas técnicas.

'É por isso que o Brasil não podia dar muito certo, se uma simples reunião com reitores não era feita com medo de cobranças. Não só fizemos a reunião como convidamos os reitores a serem parceiros na construção do tipo de educação que precisamos fazer para o Brasil', disse Lula.
(O Globo, 6/8)


 

 

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