O aquecimento global não é uma arma de destruição em massa?
Gilberto Alves da Silva, ex-subsecretário do Estado do RJ de Pesquisa e C&T (gasilva@imagelink.com.br e gsilva@finep.gov.br)

Os EUA, invadiram o Iraque à procura de armas de destruição em massa.

Esta afirmação não é nossa e sim do Secretário de Estado Colin Powell em entrevista à rede Middle East Broadcasting em 19 de fevereiro de 2003, quando disse: 'O nosso objetivo não é destruir o Iraque. Nosso objetivo é derrubar um regime que acreditamos ter gastado o tesouro do povo em armas de destruição em massa...'

A guerra eclodiu, os EUA derrubaram o regime de Saddam Hussein e, até hoje, nenhuma arma de destruição em massa foi encontrada.

Todos nós sabemos que o objetivo não foi este, mas que as forças de coalizão, lideradas pelos EUA têm um objetivo que é o petróleo e também a água daquele país.

A arma de destruição em massa que os países invasores do Iraque deveriam ter preocupação é àquela causada por eles mesmos - países avançados - o 'Aquecimento Global'.

Segundo citação do ex-presidente do Instituto Britânico de Meteorologia, John Houghton no The Guardian:

'O aquecimento do planeta é uma arma de destruição em massa tão perigosa como as armas químicas, nucleares ou biológicas. Só em maio deste ano 562 tornados atingiram os EUA matando 41 pessoas. Mas são os países em desenvolvimento os mais atingidos.'

Ele cita também, a onda de calor que atingiu a Índia antes das monções, com temperaturas muito superiores as normalmente registradas e diz 'quando esta onda de calor assassino começou a baixar, já havia matado 1500 pessoas, ou seja metade das vítimas dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 em Nova York'.

Tal como o terrorismo, o aquecimento climático produzido pelo homem não tem fronteira, pode atacar em qualquer lugar, de qualquer forma, uma onda de calor num local, uma seca, uma cheia ou uma tempestade em outro.

Segundo pesquisas, os oceanos, que subiram 30 centímetros no século passado, deverão se elevar 1 metro até 2100 se nada for feito para se evitar a emissão de gases poluente ou melhor, gases do efeito estufa como o CO2.

Esse fenômeno é ocasionado pelo derretimento das grandes geleiras da terra, que está cada vez mais quente, resultado da queima desenfreada de combustíveis fósseis, como gasolina, óleo combustível, carvão mineral e outros, com a conseqüente liberação de gás carbônico.

O aumento do nível do mar criará a primeira legião de refugiados ambientais. países como Tuvalu, um arquipélago formado por nove ilhotas, no Oceano Pacífico entre o Havai e a Austrália, com 11 mil habitantes corre o risco de desaparecer, pois seu ponto culminante tem 5 metros de altura.

Preocupado com a situação de Tuvalu, o primeiro-ministro deste país solicitou abrigo para a população ao governo da Nova Zelândia o que gerou uma questão inédita para a diplomacia mundial: o que fazer com os refugiados ambientais?

O ambientalista Lester Brown recentemente alertou que o arquipélago das Maldivas, com 310 mil habitantes já vive um drama na maioria das suas 1200 ilhotas. Estes dois casos trazem preocupações, pois essas populações terão necessidades de abrigos em locais seguros.

Segundo Brown, o aumento de 1 metro no nível do mar acabaria com metade da plantação de arroz de Bangladesh, colocaria mais de um terço de Xangai debaixo d'água e afetaria populações de baixadas ribeirinhas, da China, da Índia, Indonésia, Tailândia e Vietnã, seriamente.

Nem os EUA estariam a salvos com essa elevação do nível do mar, apesar de serem os maiores opositores do protocolo de Kyoto, que tem como meta reduzir as emissões de gases poluentes. Esse país, segundo Brown, perderia alguns quilômetros quadrados de seu território.

A maior quantidade de gás carbônico é emitida pelos EUA.

Segundo dados da internet, os maiores poluidores do planeta são: EUA 5.229 milhões ton/ano ou 22,7% da emissão global; China 3.007 milhões ton/ano ou 13,07%; Rússia 1.548 milhões ton/ano ou 6,73%; Japão 1.151 milhões ton/ano ou 5%; Alemanha 884 milhões ton/ano ou 3,84%; o Brasil 287 milhões ton/ano ou 1,25%, apesar das queimadas da Amazônia e todas emissões que são atribuídas ao nosso país.

Os dados acima mostram que os EUA lideram a lista com uma grande diferença do segundo colocado. Apesar dessa quantidade de emissão, este país não adota políticas que venham diminuir o grau de poluição por ele causada.

O governo americano planeja conduzir mais estudos sobre o aquecimento global antes de tomar atitudes para conter a poluição no país.

O plano, com duração de dez anos, foi divulgado pelo secretário americano de energia, Spencer Abraham, e pelo secretário do Comércio, Don Evans.

De acordo com o documento, Washington, acredita que as pesquisas 'melhorarão o conhecimento sobre a variedade climática e a resposta potencial do sistema climático às mudanças induzidas pelos homens na atmosfera.'

Achamos que a intenção não é obter mais conhecimento, mas atrasar ações que afetariam as indústrias americana. Segundo Philip Clapp, presidente do National Environmental Trust 'mais pesquisa é sempre bem-vinda, mas o objetivo aqui é impedir ações contra o problema'.

Estamos bem lembrados que o governo George W. Bush causou um problema com os ambientalistas quando abandonou o protocolo de Kyoto, alegando que ele seria prejudicial à indústria do país.

Depois de tudo que foi relatado, podemos concluir que das armas de destruição em massa, tão procurada no Iraque, uma delas (aquecimento global) está bem perto de todos nós, e é engraçado que o mais preocupado com elas é, justamente, quem mais contribui para a sua existência.

Há necessidade que esse grande país se conscientize de que o mundo está próximo de uma catástrofe e que medidas sérias devam ser tomadas, para evitá-la.

 

 

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