Vida no mundo piora na década de 90
Roberto Dias

Os anos 90 significaram retrocesso sem precedentes no desenvolvimento humano do planeta, aponta o relatório anual da ONU sobre o assunto, divulgado hoje.

'O que mais chama a atenção é a extensão da estagnação e dos reveses, que não haviam sido vistos nas décadas anteriores', diz o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

O órgão aproveitou o relatório deste ano, que utiliza dados de 2000/2001, para avaliar o caminho transcorrido na primeira década desde 1990, ano-base para as Metas de Desenvolvimento do Milênio - conjunto de objetivos em indicadores humanos que o mundo deveria atingir em 2015 (ou 2020, a depender do caso).

Embora aponte melhoras importantes em algumas regiões, o relatório deixa claro que os retrocessos nos países em desenvolvimento foram mais significativos.

O problema aparece no próprio balanço da década do IDH -índice de desenvolvimento humano, número calculado pela ONU a partir de indicadores de educação, saúde e renda.

Nos anos 80, apenas 4 países haviam tido diminuição em seu índice. Na década seguinte, foram 21. 'Isso era raro até os anos 80, porque as realidades medidas pelo IDH não são facilmente perdidas', afirma o texto.

Completa o cenário o fato de que em 54 países a renda per capita está mais baixa que em 1990, 20 deles na África subsaariana.

Além disso, em 34 nações a expectativa de vida diminuiu, em 21 há mais gente passando fome, e em 14 mais crianças morrem antes dos cinco anos. 'Para muitos países, os anos 90 foram uma década de desespero', diz o Pnud.

Assim, após rápida melhora nos anos 70, a evolução global do IDH se desacelerou nos anos 90. Como consequência, a ONU vê sérias dificuldades em alcançar as Metas do Milênio.

'A despeito dos compromissos de reduzir a pobreza e avançar em outras áreas do desenvolvimento humano, o mundo, na prática, já está atrasado', escreve Mark Malloch Brown, administrador do Pnud.

O relatório sinaliza que a 'crise de desenvolvimento', como define, foi causada pelo baixo crescimento econômico e pela epidemia de Aids, sobretudo na África. Além disso, aponta que diminuiu a ajuda enviada pelos países ricos.

'Nunca ou raramente a pobreza é reduzida numa economia estagnada, e as regiões que mais crescem são aquelas que mais reduzem a pobreza. Isso significa uma mensagem clara: crescimento econômico é essencial para reduzir a pobreza', diz o texto.

O relatório faz estimativas sobre qual seria o crescimento necessário. Usa a seguinte conta: para diminuir o número de pessoas pobres pela metade é preciso crescimento da renda per capita de 41%.

Isso significa que, para atingir tal meta até 2015 (no caso de um país que tenha ficado estagnado nos anos 90 em relação à meta), é necessário aumento anual do PIB de 2,9%.

Mas, se é condição necessária, o crescimento em si não é suficiente, alerta a ONU, apontando três exemplos de países que viram a pobreza aumentar nos anos 90 ao lado do avanço do PIB: Indonésia, Polônia e Sri Lanka.

O texto ressalta ainda que os países ricos precisam aumentar sua ajuda às nações subdesenvolvidas. 'A ajuda diminuiu nos anos 90 e está muito aquém da que é necessária.'

A média de auxílio de países desenvolvidos está em 0,22% do seu PIB, distante da meta de 0,7%. A carência imediata, diz a ONU, é de US$ 50 bilhões.

Além disso, o Pnud prega que os países subdesenvolvidos tenham mais acesso aos mercados do norte.

'As políticas comerciais dos países ricos continuam a ser altamente discriminatórias em relação às exportações dos países em desenvolvimento', diz o texto.

Se é pessimista em sua conclusão, o texto traz avaliação mista para América Latina. Aponta que os índices de desenvolvimento humano da região se aproximam dos de países ricos. Mas o crescimento econômico e a redução da pobreza ocorrem em ritmo lento.

 

 

 

 

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