Em defesa da tecnologia nacional

Reginaldo Marinho é inventor premiado com medalhas de ouro em Genebra e Londres e ex presidente da Abripi.

O século XIX foi o despertar da industrialização; o século XX consolidou a indústria e abriu os caminhos da tecnologia; o século XXI deverá ser a era que irá consolidar a contribuição tecnológica para o desenvolvimento do planeta.

Na década de 70, Alvin Tofler deu o alerta. Fora as nações ricas do hemisfério norte, os tigres asiáticos foram os únicos a navegar na onda de Tofler. Foram bem sucedidos.

O ministro Guido Mantega declarou que o governo federal pretende até o final do mandato do presidente Lula atingir US$ 100 bilhões em exportações globais.

Taiwan, uma ilha menor que o Estado da Paraíba, com 36 mil km2, exporta apenas em tecnologia US$ 150 bilhões/ano. A Coréia do Sul, com território de 222.154 km2, equivalente ao do Estado do Piauí, tinha há trinta anos um PIB igual a 20% do PIB brasileiro.

Após investimentos governamentais em tecnologia e educação, mudou a sua realidade e hoje, aquele país já ultrapassou o PIB brasileiro.

O presidente Lula em sua primeira aparição em Davos, disse que o mundo deveria universalizar o conhecimento. Ninguém nunca fará isso, nós atuamos assim e não dá certo. Conhecimento se vende através de tecnologia. Precisamos aprender essa fórmula.

O presidente do IBGE Eduardo Pereira Nunes declarou no Bom Dia Brasil, ao analisar a nova publicação do IBGE: 'O desafio que toda a economia, com a pujança que tem a economia brasileira, é exatamente fazer com que cada setor cresça. E aí então nós temos que crescer no setor agrícola, crescer também no setor industrial, mas sempre que esses dois segmentos crescerem, a atividade de serviços também haverá de acompanhar esse próprio ritmo de crescimento.'

O IBGE não registrou que precisamos crescer no setor tecnológico que é a atividade humana que gera mais riqueza em todo o mundo.

Inspirado na atitude oriental, lembramos o provérbio chinês. 'Uma longa caminhada começa com o primeiro passo.'

No mês passado, o presidente Lula recebeu os empresários que reivindicaram a isenção de IPI para máquinas e equipamentos. Foram atendidos.

A reforma tributária reflete uma visão míope dos políticos brasileiros. Arrecadação não gera desenvolvimento. Está claro que os países que mais cresceram foram os que investiram em tecnologia própria.

Ao atender aos empresários o governo agiu corretamente, mas quem vai defender a tecnologia nacional se a classe política desconhece a importância dessa atividade?

Seriam os pesquisadores alojados nos centros de pesquisas e nas Universidades? Não, esses brasileiros que colocam, com suas pesquisas, o Brasil na condição de país rico se adaptam ao modelo acadêmico brasileiro que oferece gratuitamente esse conhecimento aos países ricos em troca de publicações em revistas cientificas.

Quem se beneficia dessa prática são as empresas multinacionais que transformam esse conhecimento em patente.

Chegou a hora de virar o jogo. A conversão de conhecimento em patentes brasileiras é uma das mais baixas do mundo, portanto a arrecadação gerada por tecnologia nacional não é relevante.

Para estimular o desenvolvimento tecnológico do Brasil, o governo poderia isentar os produtos resultantes de patentes brasileiras durante a vigência do direito patentário.

Esse seria o primeiro passo para o compromisso da vontade política com os artigos 218 e 219 da Constituição Federal que responsabiliza o Estado pela promoção das atividades cientificas e tecnológicas.

 

 

 

 

 

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