Terapia de célula-tronco é destaque na Europa
Ligia Formenti

O médico carioca Hans Fernando Rocha Dohmann enfrenta esta semana uma maratona de apresentações no Congresso da Sociedade Européia de Cardiologia, em Viena.

São três trabalhos mostrando que o transplante de células-tronco é seguro e eficaz. 'As doenças cardiovasculares lideram as causas de mortalidade em todo o mundo. Mas as células-tronco podem inaugurar uma nova era no tratamento cardiovascular', define o pesquisador.

O estudo de maior impacto analisou a situação de um número reduzido de pacientes, cinco pessoas que apresentavam insuficiência cardíaca grave e estavam na fila para transplante de coração.

Enquanto esperavam, concordaram em fazer o tratamento que usa células-tronco adultas extraídas do próprio paciente. Seis meses depois, quatro deles estavam em condições tão boas que foram dispensados do transplante.

Dohmann admite que ainda não há pesquisas que expliquem os mecanismos dessa recuperação. Ele atribui, porém, a mudança à formação de artérias minúsculas em áreas onde antes não havia irrigação sanguínea.

O Hospital Pró-Cardíaco, no Rio, é o primeiro centro no mundo a empregar a técnica de transplante autólogo (que usa células do próprio paciente) de células-tronco em seres humanos. A primeira experiência foi feita em 2001 e hoje o centro já tratou de 25 casos.

Rapidez - O tratamento, feito em poucas horas, começa com a retirada de células-tronco da medula óssea. Essas células também são chamadas de pluripotentes e têm a capacidade de adquirir características de células de várias - mas não todas - partes do corpo. Isso se dá mediante o estímulo do ambiente em que elas estão inseridas.

Depois de retiradas, as células-tronco são injetadas no músculo cardíaco do paciente, em áreas escolhidas pelos cardiologistas. 'Escolhemos pontos livres de fibrose - que em tese poderia prejudicar a formação de novas artérias - e onde não há circulação sanguínea.'

Outro trabalho apresentado por Dohmann ampliou a observação para 21 pacientes: 14 fizeram o transplante e 7 foram apenas acompanhados, para efeito de comparação (grupo-controle).

Durante um ano, houve uma morte no grupo-controle e duas no que se submeteu à terapia. O médico, porém, sustenta que essas duas mortes não podem ser atribuídas à terapia. 'Isso porque a mortalidade esperada para esse grupo de pacientes é de 53% em um período de seis meses.'

Depois de um ano, pacientes tratados tiveram a área de obstrução sanguínea reduzida em 71%. No grupo-controle, registrou-se o contrário: o aumento da área sem irrigação.

Qualidade de vida - As alterações trouxeram uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Esse fato também foi registrado em um estudo que será apresentado pelo médico durante o congresso.

'Pessoas que precisavam de ajuda até para tomar banho voltaram ao trabalho, retomaram a vida. E com qualidade semelhante à da população em geral', disse.

Dohmann avalia que pacientes terão, no futuro, de fazer um novo transplante de células-tronco. 'A insuficiência cardíaca é resultado de um problema metabólico, que continua. Por isso, certamente chegará um ponto em que a obstrução novamente voltará. É o que às vezes acontece, por exemplo, com cateterismo', comparou.

Além de pacientes com insuficiência cardíaca, o Pró-Cardíaco vai começar a aplicar a técnica de transplante autólogo de células-tronco em pessoas que acabaram de sofrer enfarte.

Os trabalhos já têm data para começar: 6 de outubro. O paciente voluntário se submete ao tratamento padrão para enfarte (angioplastia) e, dois dias depois, faz o transplante de células-tronco. (3/9)


 


 

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