Publicação do Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz - 11/05/2006

 

Substância encontrada em alga marinha apresenta bons resultados contra HIV-1

Uma substância encontrada em uma espécie de alga marinha mostrou-se promissora na inibição do vírus da Aids. A conclusão é resultado de dois estudos realizados pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), um deles com participação também da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O primeiro, publicado em março pela revista especializada Planta Médica, observou a capacidade de um composto químico – caracterizado como um dolabelano diterpeno – inibir a atividade de uma enzima essencial para a multiplicação do HIV-1. “A substância mostrou-se capaz de inibir a enzima transcriptase reversa do HIV-1, que transcreve o RNA do vírus para DNA e permite que ele se multiplique nas células do paciente”, explica o imunologista Dumith Chequer Bou-Habib, coordenador do estudo no Laboratório de Imunologia Clínica do IOC. Nessa fase da pesquisa, a substância foi aplicada somente à enzima, purificada, e não entrou em contato com o vírus.

Na etapa seguinte, a equipe do IOC submeteu em laboratório linfócitos e macrófagos (células envolvidas na resposta imunológica do organismo) infectados pelo vírus da Aids ao dolabelano diterpeno e constatou que a replicação do vírus realmente é inibida pela ação da substância – ao menos in vitro. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores compararam a evolução de dois grupos de células infectadas, um exposto ao dolabelano diterpeno e outro não. O resultado foi a inibição em até 95% da replicação do vírus em linfócitos e em até 90% em macrófagos.

Apesar das altas taxas de inibição, em ambos os casos o efeito da substância mostrou-se inferior ao produzido pelo AZT, droga convencionalmente utilizada no tratamento da Aids, que atua sobre o vírus de forma semelhante ao dolabelano diterpeno. “A transcriptase reversa é alvo de agentes terapêuticos em diversas pesquisas. O exemplo mais conhecido é o AZT, que justamente por inibir a enzima age de maneira bastante eficiente contra o HIV- 1. A substância estudada em nosso laboratório tem propriedade semelhante a essa droga, porém é menos potente”, o pesquisador compara.

Outra diferença é o ponto de atuação das substâncias: enquanto o AZT atua no sítio catalítico da transcriptase reversa e impede, assim, a síntese do DNA do HIV-1, o dolabelano diterpeno age sobre outro ponto da enzima e pode influenciar a disposição espacial da estrutura do vírus. A partir dessa informação, os pesquisadores começaram a estudar a associação das duas substâncias em células humanas infectadas em laboratório pelo HIV- 1. A comparação entre o grupo controle, que desenvolveu a infecção naturalmente, e a cultura de células que recebeu ambas as substâncias demonstrou que a associação em baixas concentrações do AZT e do dolabelano diterpeno também inibe a replicação do vírus. Usar as duas drogas em baixas concentrações, portanto, pode ser útil para amenizar os efeitos colaterais causados pelas drogas anti-retrovirais. Em parceria com a UFRJ, os pesquisadores observaram que, em relação à enzima transcriptase reversa, o dolabelano diterpeno também atua sobre um ponto da molécula distinto ao do AZT. Essa propriedade potencializaria o efeito da combinação das substâncias em baixas concentrações, de forma análoga à ação inibitória produzida sobre o vírus.

“O dolabelano diterpeno apresentou resultados bastante animadores na inibição da enzima transcriptase reversa do HIV-1 e também na inibição da multiplicação in vitro do vírus. Porém, é preciso cautela, pois futuros testes que avaliem a ação da substância in vivo podem não produzir os mesmos resultados”, o pesquisador pondera.

Por Bel Levy

IOC - Ciência para a Saúde da População Brasileira