Nas últimas décadas, estudos in vitro demonstraram que os corpúsculos lipídicos estão presentes em grande número em leucócitos associados a respostas inflamatórias. Além disso, verificaram que os corpúsculos lipídicos correspondem aos compartimentos intracelulares de síntese de alguns mediadores lipídicos inflamatórios, como os leucotrienos – substância produzida pelos corpúsculos lipídicos responsável pela produção de muco nas respostas inflamatórias alérgicas – e as prostaglandinas – que são fabricadas em grande quantidade pelas células inflamatórias e podem desempenhar papel importante como mediadores da reação inflamatória. Tanto a formação quanto as funções destas organelas ainda não haviam sido caracterizadas em modelos in vivo de reações inflamatórias de caráter alérgico. Foi justamente esta lacuna que a pesquisa do IOC conseguiu preencher. Estabelecido o modelo inflamatório de alergia in vivo, caracterizado pelo aporte de eosinófilos (um tipo de leucócitos) e pela produção de leucotrienos, a equipe do Laboratório de Imunofarmacologia observou um significativo aumento da biogênese destas organelas. “Também foram observados”, a pesquisadora acrescenta, “a compartimentalização da enzima 5-lipoxigenase (5-LO) e a síntese de leucotrieno C 4 (LTC 4 ) nos corpúsculos lipídicos citoplasmáticos dos eosinófilos infiltrantes do sítio inflamatório alérgico.” “A identificação da biogênese in vivo de corpúsculos lipídicos no local da reação inflamatória alérgica e a caracterização de sua função no controle da síntese de mediadores críticos para o desenvolvimento da fisiopatologia alérgica, como o LTC 4, apontam os corpúsculos lipídicos como atraentes alvos terapêuticos em doenças inflamatórias de origem alérgica”, a pesquisadora explica. Para esclarecer essa questão, na etapa final do estudo foram testados dois extratos de produtos naturais da flora brasileira no modelo de alergia. Ambos extratos se apresentaram capazes de bloquear a gênese/função dos corpúsculos lipídicos e promoveram efeito anti-inflamatório e anti-alérgico. "As observações obtidas neste trabalho nos permitem pensar que no futuro, a utilização de compostos naturais possa ser benéfica em doenças inflamatórias de origem alérgica", a pesquisadora destaca.
Por Bel Levy
|