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11 / 07/ 2005

Um novo caminho no tratamento da doença de Chagas

 

Após 96 anos desde o seu descobrimento por Carlos Chagas, a doença que leva o nome do pesquisador, uma doença com patogênese complexa, ainda precisa ser muito estudada. É justamente o que vem fazendo o Departamento de Imunologia do IOC que recém abriu um caminho novo no estudo da doença, com base nos mecanismos de regulação criados pelo próprio organismo.

Os tratamentos tradicionalmente são focados em drogas para combater o T rypanosoma cruzi, agente causador da doença. Segundo a pesquisadora Joseli Lannes, chefe do Laboratório de Auto-Imunidade e Imuno-Regulação, a novidade consiste em estudar os mecanismos moleculares envolvidos na migração das células de defesa do organismo, os leucócitos, para o tecido cardíaco inflamado, procurando identificar possíveis alvos terapêuticos para o controle miocardite chagásica crônica.

A migração celular. Segundo a pesquisadora, é sabido que os leucócitos participam da inflamação, ora ajudando a controlá-la, ora intensificando-a devido à resposta descontrolada do próprio organismo. O Laboratório estuda quando esta participação é benéfica para o controle da infecção e quando é não benéfica, resultando em inflamação crônica. Joseli falou sobre a Migração celular na infecção pelo Trypanosoma cruzi - um potencial alvo terapêutico? no Centro de Estudos do IOC.

A migração dos leucócitos para o local da inflamação ocorre por um processo continuado de adesão e de-adesão destas células ao tecido que reveste os vasos sanguíneos, o endotélio, e transmigração por entre as células endoteliais. O processo é controlado por citocinas pró-inflamatórias, como TNF-alfa (fator de necrose tumoral), que facilitam a abertura do "zipper" entre as células endoteliais, e moléculas que atraem os leucócitos e os ativam, as quimiocinas, permitindo sua passagem para o tecido alvo, no caso, o tecido cardíaco.

O estudo se concentrou em duas moléculas de adesão celular, a ICAM-1 e a VLA-4, explicou a pesquisadora. No entanto, a única que se mostrou participar da inflamação benéfica que resulta no controle do parasito foi a ICAM-1, sugerindo que a indução de resposta imune com participação desta molécula pode vir a ser usada, no futuro, em novos tratamentos.

Alvos potenciais da doença. O estudo abordou também proteínas que ativam o endotélio fazendo com que ele se torne permissivo à passagem dos leucócitos. Joseli mostrou que a citocina TNF-alfa, atuando via o receptor 1 (p55), e a CC-quimiocinas (como RANTES/CCL5), tendo CCR5 como receptor, podem agravar o processo inflamatório, prolongando a inflamação, sendo estas o centro de suas pesquisas em busca de alvos terapêuticos potencias

As pesquisas foram realizadas em mais de um laboratório da Fiocruz e em laboratórios de Universidades e Institutos de Pesquisas brasileiros, que trabalham também com base em modelos experimentais em camundongos e macacos Rhesus.

Dados da Organização mundial de saúde (OMS) indicam que existem de 16 a 18 milhões de pessoas infectadas pelo T. cruzi na América Latina. Assim, além do desenvolvimento de novas drogas eficazes no controle do parasito, torna-se necessária a busca de alvos terapêuticos que permitam devolver aos pacientes a sua capacidade de regulação da resposta imune não benéfica, de modo a melhorar seu prognóstico.


 

 

 

IOC - CIÊNCIA PARA SAÚDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA