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15 / 06/ 2005

Parasita da malária seqüestra bomba de cálcio para
sobreviver no corpo humano

 

Quem imaginaria que um reles parasita fosse capaz de praticar um abominável seqüestro dentro do corpo humano para sobreviver? O plasmódio, causador da malária, faz exatamente isso. Ele se apropria da bomba que elimina o excesso de cálcio das células sangüíneas vermelhas e reverte o fluxo para sobreviver.

Até recentemente os cientistas não tinham uma explicação sobre o que acontecia para a sobrevida do plamódio. Bem antes de revelar a resposta no Centro de Estudos do IOC, a pesquisadora Célia Garcia, do Instituto de Biociências da USP, foi a primeira responder a pergunta.

Bomba de cálcio. Formada em Química pela UFRJ, onde concluiu também mestrado e doutorado, Célia contou que o plasmódio precisa manter a concentração de cálcio intracelular muito baixa para sobreviver. E, explicou, do mesmo modo como a maioria das células eucarióticas (cujo material genético é separado por uma membrana).

Segundo a pesquisadora, os glóbulos vermelhos, também chamados eritrócitos, têm na sua membrana uma espécie de bomba que expulsa o excesso de cálcio para fora da célula. É aí que ocorre o seqüestro. Quando o plasmódio a invade, ele arrasta a membrana de forma invertida, virando a bomba no sentido contrário.

A bomba passa a mandar, então, o cálcio para dentro de uma bolsa que envolve o plasmódio enquanto ele ocupa o interior das células sanguíneas - o vacúolo parasitóforo (VP). Acredita-se que este vacúolo é formado pelo menos em parte pela membrana do eritrócito no momento em que é invadido pelo plasmódio.

Sinalizador. Envolto pelo VP, Célia Garcia acrescentou que o protozoário fica constantemente exposto à alta concentração de cálcio - "10 mil vezes maior" - e pode utilizar a substância como um sinalizador.

O parasita, então, se beneficia dessa concentração, permitindo que pequenas quantidades de cálcio entrem na célula por períodos muito curtos. Esse passa a ser um sinalizador controlando u ma série de reações químicas fundamentais para o metabolismo e para a multiplicação das células .

Sincronização para o ataque. Aspecto interessante do comportamento do parasita, assinalou, é que eles atacam em grupos numerosos de forma ritmada, provocando os sintomas que vão tipificar a malária: febres altas, conhecidas como febres terçãs e quartãs que ocorrem a cada 48 ou 72 horas, respectivamente.

A sincronização, acredita Célia, é explicada pela modulação da divisão celular por um hormônio humano chamado melatonina. É ele que permite às células irem para a corrente sangüínea em um número muito maior, dificultando assim a resposta de defesa do organismo.

Dados da Organização Mundial da Saúde estimam cerca de 300 a 500 milhões de casos clínicos anuais de malária (90% concentrados na África), dos quais 2,7 milhões resultam em mortes. No Brasil, em 1999, foram registrados mais de 600 mil casos.

 

IOC - CIÊNCIA PARA SAÚDE DA POPULAÇÃO BRASILEIRA