Estudo alerta para a interiorização da epidemia de Aids no Rio de Janeiro

A interiorização é uma das principais tendências da epidemia de Aids no país. Para compreender este fato, um estudo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) investiga as características da infecção por HIV em pequenos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Desde o início da epidemia em 1980 até o segundo semestre do ano passado, cerca de 371 mil casos de Aids foram notificados no Brasil segundo o Ministério da Saúde.

Desenvolvido pelo Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, o estudo analisou 65 pacientes adultos em Miracema, município localizado no noroeste do Estado, entre 2000 e 2004. Destes, 34 eram mulheres que receberam atendimento pelo Programa Municipal de HIV/Aids. Os resultados do levantamento mostram que 70,8% destes pacientes eram solteiros e atribuíam a aquisição da infecção ao contato heterossexual desprotegido. 56,9% iniciaram o acompanhamento em estágios avançados da infecção. Desordens do sistema nervoso central e insuficiência respiratória aguda foram as principais causas de morbidade verificadas.

Em quatro anos acompanhando informações clínicas e epidemiológicas e colhendo as amostras, o estudo identificou a presença de alguns vírus raros neste município. “Identificamos alguns subtipos pouco comuns no Brasil como o D e as variantes AG. Este dado tem levado a outros estudos que o Laboratório desenvolve”, esclarece Mariza Morgado, chefe do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular.

Segundo a pesquisadora, o estudo tem desdobramentos essenciais para a saúde pública. “É importante mostrar que é possível fazer um atendimento adequado no interior. Se houver um médico qualificado e um sistema de saúde bem estabelecido, pode-se levar a mesma qualidade de tratamento que existe nos grandes centros”, comemora.

Além disso, em cidades pequenas a pesquisa pôde identificar com mais facilidade as redes de transmissão, o que seria inviável em capitais como o Rio de Janeiro. “No interior ainda é possível determinar que grupos teriam se infectado a partir de uma fonte única. A partir das seqüências dos vírus, podemos traçar o caminho por onde estas variantes estão se disseminando”, a pesquisadora dispara.

Descobrir se os pacientes do interior apresentam ou não resistência aos medicamentos existentes é outro aspecto importante explorado pelo estudo. “Este é um dos pontos de comparação que pretendemos desenvolver em um estudo mais abrangente, que incluirá todo o interior do Estado e as pesquisas realizadas na capital”, finaliza.

O pesquisador Walter Eyer-Silva está ampliando o estudo da epidemia em outros dois municípios do Rio de Janeiro: Santo Antônio de Pádua e Saquarema. O pesquisador, que realiza o estudo como tese de doutoramento, alerta para a necessidade de aprofundar as pesquisas fora dos grandes núcleos urbanos. “Os números do Ministério da Saúde mostram o avanço da epidemia, que teve início nos grandes centros do Sudeste e hoje atinge cidades com menos de 50 mil habitantes”, avalia. “O objetivo é entender o perfil epidemiológico e virológico da epidemia em cidades como estas, que serviriam como modelo para extrair informações que pudessem ser úteis para todo o Brasil”, explica.

Por Renata Fontoura
06/04/2006

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