Eco-epidemiologia das leishmanioses é tema de estudo
Pioneiro na América Latina em utilização de PCR, procedimento molecular para a análise de DNA, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC) utiliza a metodologia para identificar a infecção natural de insetos flebotomíneos pelo agente etiológico das leishmanioses em suas áreas de ocorrência no Brasil, associando os resultados obtidos aos índices locais de endemicidade. O objetivo é gerar dados que permitam ampliar os conhecimentos da eco-epidemiologia das leishmanioses e contribuir para a melhoria de medidas de controle da doença.
O primeiro passo está sendo a coleta e identificação de insetos em áreas endêmicas do Brasil – Aracaju, SE; Corumbá, MS; Além Paraíba, MG; Rio de Janeiro, RJ; e Porto Alegre, RS –, realizadas pelos pesquisadores Reginaldo Peçanha Brazil, do Laboratório de Bioquímica, Fisiologia e Imunologia de Insetos, Elizabeth Rangel, do Departamento de Entomologia, ambos do IOC, e Marcos Barbosa Souza, do Departamento de Ciências Biológicas da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP). A etapa seguinte, em curso no Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC, consiste na identificação das fêmeas infectadas. “Essas áreas têm diferentes níveis de endemicidade e nós pretendemos determinar o índice de infecção natural por espécies de leishmania nos vetores flebotomíneos em cada uma dessas regiões”, descreve a veterinária Daniela de Pita Pereira, que desenvolve o trabalho durante o doutorado no IOC. “Primeiro vamos identificar a porcentagem de insetos infectados, para depois quantificar, através da PCR em tempo real, a carga parasitária dos mesmos.”
Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas do IOC |
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A coleta de amostras de flebótomos em campo permitirá aos pesquisadores determinar o índice de infecção natural por leishmaniose nas áreas estudadas. O dispositivo penturado na porta do domicílio é utilizado para a captura dos insetos. |
A PCR convencional é uma técnica molecular capaz de detectar quantidades mínimas de seqüências específicas de DNA, enquanto a metodologia de PCR em tempo real permite também a determinação da medida quantitativa de seqüências gênicas conhecidas. Neste caso, através da utilização de compostos fluorescentes, o equipamento é capaz de fazer a leitura da emissão de fluorescência durante os ciclos de amplificação. A fluorescência gerada é proporcional à quantidade de seqüências-alvo presente na amostra a ser analisada. O primeiro equipamento de PCR em tempo real da América Latina foi adquirido pelo IOC em 1999 e desde então a bióloga Constança Britto, chefe do Laboratório de Biologia Molecular e Doenças Endêmicas, e a tecnologista Maria Angélica Cardoso, desenvolvem um trabalho pioneiro no Brasil de implementação e validação da técnica. Durante o doutorado de Daniela, as pesquisadoras utilizarão a PCR em tempo real, técnica ainda mais sensível que a tradicional e nunca utilizada para quantificar a infecção por leishmania.
Gutemberg Brito |
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A análise por PCR é capaz de revelar informações genéticas contidas no DNA e além de quantificar a carga parasitária dos flebótomos poderá revelar por qual espécie de leishmania os insetos estão infectados – L. chagasi ou L. braziliensis |
“Estamos em fase de padronização dos ensaios quantitativos para a detecção de leishmania em flebotomíneos, que são os insetos transmissores da leishmaniose. Nessa fase experimental do projeto estão sendo utilizadas amostras reconstituídas, pool de insetos onde foram adicionadas diferentes concentrações do parasito, para que posteriormente a técnica validada seja aplicada aos insetos coletados em campo”, Constança define. As amostras reconstituídas foram infectadas experimentalmente por duas espécies diferentes de leishmania – L. chagasi e L. braziliensis – e as pesquisadoras se surpreenderam ao verificar que, além de quantificar a carga parasitária, a metodologia é capaz de identificar por qual das espécies de parasito o flebótomo está infectado.
Gutemberg Brito |
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Daniela observa os resultados da análise. A validação da técnica PCR em tempo real ajudará a compreender a eco-epidemiologia das leishmanioses em diferentes áreas endêmicas . |
“A idéia é utilizar a tecnologia não só para avaliar a infecção natural, mas também para correlacionar a carga parasitária dos insetos aos níveis locais de endemicidade. Agora estamos em fase de otimização e validação da PCR em tempo real e nos próximos anos poderemos ter uma noção de como a infecção de flebotomíneos por leishmania se comporta especificamente nas diferentes áreas endêmicas”, Constança avalia. “Esse é um trabalho que avalia os diferentes aspectos que caracterizam a doença: o parasito, o vetor, o homem e o ambiente de transmissão”, Daniela completa. “Ampliar a compreensão da eco-epidemiologia das leishmanioses poderá ajudar a predizer surtos e a adequar medidas de controle da doença”, conclui.
Bel Levy
27/07/06
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