Jornada de Iniciação Científica apresentou
hoje trabalhos realizados por alunos do Provoc

Apresentar resultados faz parte da rotina de todo cientista. Apesar de estarem ainda no Ensino Médio, os alunos do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) tiveram hoje a oportunidade de mostrar os resultados obtidos durante o Programa, que em 2006 completa 20 anos de uma história marcada pela contribuição do Instituto Oswaldo Cruz (IOC). Durante a Jornada de Iniciação Científica realizada hoje, 56 alunos do Provoc apresentaram seus trabalhos no pátio da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV). Dentre eles, 28 são orientados por pesquisadores do IOC.

“Participar do Provoc foi uma experiência muito significativa, pois pude entrar em contato com o ambiente de pesquisa de forma profissional, diferentemente do que acontece na escola. Foi uma experiência muito enriquecedora, aprendi bastante e agora pretendo aprender muito mais”, avalia Eliane Gomes da Silva, estudante do Ensino Médio que, orientada por Margareth Maria de Carvalho Queiroz, bióloga do Laboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores do IOC, apresentou o pôster Identificação de insetos causadores de miíases.

Gutemberg Brito
Eliane Gomes apresentou estudo desenvolvido no Laboratório de Biologia e Controle de Insetos Vetores sobre larvas de moscas causadoras de doenças humanas

Outra aluna que teve a oportunidade de exercer o papel de cientista ainda no Ensino Médio foi Nathali Brandão, que apresentou o pôster Isolamento e caracterização de distintas espécies do gênero Bacillus . Orientada por Clara Cavados, bióloga do Laboratório de Fisiologia Bacteriana do IOC, a estudante pôde conhecer o Laboratório e participar de sua rotina: aprendeu a preparar o meio de cultura, a esterilizar material limpo e sujo, a realizar o isolamento e a caracterizar bactérias. “O Provoc despertou minha vocação científica. Eu queria fazer medicina e não fazia idéia de que gostaria de trabalhar com pesquisa. Hoje tenho certeza disso”, Nathali reconhece.

Gutemberg Brito
Nathali Brandão, que queria ser médica, descobriu no Laboratório de Fisiologia Bacteriana a vocação para pesquisa científica 

Para Clara, orientadora do Provoc há mais de 12 anos, essa é uma experiência de grande valor. “Os alunos do Provoc têm uma oportunidade de ouro que eu, por exemplo, não tive na época do Ensino Médio”, reconhece. “Eu sempre soube que queria ser bióloga, que queria fazer estágio na Fundação Oswaldo Cruz, mas não tive a chance de experimentar isso cedo, ainda no colégio. Com essa experiência, os alunos podem decidir com mais segurança a área que vão seguir.”

A história do Provoc começou em 1986, quando o pesquisador Luis Fernando Ferreira, hoje na Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp), sugeriu a criação de um programa para alunos de Ensino Médio e delegou a tarefa à bióloga Delir Gomes e à pedagoga Ana Maria Amâncio. No primeiro ano do Programa, as então coordenadoras observaram que uma percentagem muito alta dos vestibulares do Rio de Janeiro identificava candidatos que já estavam na faculdade e que prestavam vestibular para outra carreira, bem diferente da escolhida anteriormente. Compreenderam, com isso, a necessidade de apresentar o ambiente de pesquisa aos estudantes antes que eles precisassem optar por uma profissão.

“Participar do Provoc não significa que o estudante ingressará obrigatoriamente na carreira científica. Pelo contrário, o objetivo é apresentar o ambiente de pesquisa ao aluno, para que ele tenha mais segurança para escolher a profissão”, esclarece Delir, hoje pesquisadora do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados do IOC. “E para quem realmente pretende seguir a carreira de científica, o Programa é fundamental, porque direciona o aluno à pesquisa científica já no início da formação e o apresenta desde cedo aos procedimentos laboratoriais.”

Para Ana Maria, o Provoc surgiu como uma iniciativa inovadora, uma proposta educacional diferenciada de tudo o que existia na Fiocruz até então. “A experiência exige muito compromisso e responsabilidade, o que favorece o amadurecimento do adolescente. O resultado mais expressivo do programa é justamente a produção de conhecimento por parte dos alunos do Ensino Médio, o que pode ser verificado pela qualidade dos trabalhos, algumas vezes publicados em importantes revistas ou apresentados em congressos”, a pedagoga considera.

Clara compartilha a opinião das criadoras do Programa e ressalta que muitos dos pesquisadores do Instituto, entre mestres e doutores, iniciaram a carreira científica no Provoc. “Um dos alunos que orientei está atualmente na Alemanha, em um projeto de doutorado financiado pelo governo de lá. Outra aluna, ainda no Ensino Médio, conseguiu inscrever seu trabalho no Congresso Brasileiro de Medicina Tropical, um dos mais relevantes do país, que conta com a participação de profissionais renomados”.

Além desses, destaca-se o exemplo de Mariana Rietmann, aluna do Provoc que no ano passado conquistou, pelo IOC, o segundo lugar da categoria Ensino Médio do Prêmio Jovem Cientista do Futuro, considerado pela comunidade científica um dos mais importantes do gênero na América Latina. O trabalho apresentado pela estudante observou o comportamento de células de medula óssea de camundongos expostos à irradiação, técnica amplamente usada em tratamentos, inclusive para o câncer, e seus resultados poderão aprofundar o conhecimento sobre os efeitos da radioterapia sobre a medula óssea e as células responsáveis pela produção de sangue.

 
Mariana Rietmann (primeira à direita) recebeu o prêmio Jovem Cientista em cerimônia no Palácio do Planalto, com o presidente Lula

Orientador de Mariana, o hematologista Marcelo Pelajo é o caso ideal para exemplificar a intenção do Provoc: ex-aluno do Programa, hoje é chefe do Departamento de Patologia do IOC. Sua trajetória serve de exemplo para que os hoje aspirantes a pesquisadores empenhem-se na carreira.

“O Provoc fez com que eu tivesse o aprofundamento de orientação vocacional que eu precisava na área de pesquisa antes de ingressar na faculdade; que eu adquirisse visão crítica sobre o conhecimento adquirido; possibilitou que desde cedo eu trabalhasse com profissionais de altíssimo gabarito, como a dra Jane Lenzi e o dr Henrique Lenzi; e funcionou como porta de entrada para a iniciação científica, que realizei posteriormente”, Pelajo reconhece.

Por Bel Levy
01/06/2006

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