Rede Proteômica do Rio de Janeiro ganha novo coordenador
As técnicas proteômicas constituem uma série de tecnologias de última geração utilizadas na separação, identificação e quantificação de proteínas em grande escala, permitindo a realização de estudos com as mais diversas aplicações na área biológica. A contribuição do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) neste campo foi reconhecida no último dia 20 de outubro, durante o II Fórum da Rede Proteômica do Rio de Janeiro, quando o pesquisador Jonas Perales, do Laboratório de Toxinologia do Departamento de Fisiologia e Farmacodinâmica do IOC foi empossado coordenador da Rede Proteômica do Rio de Janeiro.
Lançada em 2002 com o apoio inicial da Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj) e, posteriormente, da Fiocruz, do Ministério de Ciência e Tecnologia e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Rede Proteômica do Rio de Janeiro tem contado também com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e integra importantes instituições de pesquisa do Rio de Janeiro – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Instituto Nacional do Câncer (Inca), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e Fundação Oswaldo Cruz – para o desenvolvimento de estudos em proteômica.
São desenvolvidos projetos que variam desde a determinação do proteoma de alguns organismos até a procura de biomarcadores e alvos terapêuticos que possam auxiliar o diagnóstico e o tratamento de doenças e a busca por novas drogas, mais específicas e com menos efeitos colaterais. Nesta entrevista, Jonas Perales fala sobre o progresso da Rede desde 2002, os projetos em curso e perspectivas futuras.
Como a Rede Proteômica do Rio de Janeiro contribui para o desenvolvimento desta tecnologia no Estado?
A proteômica envolve uma série de tecnologias de ponta, muito custosas e, portanto, é difícil conseguir financiamento para a compra dos equipamentos necessários para sua implementação e desenvolvimento por um pesquisador individualmente. A integração de importantes instituições de pesquisa facilitou esse processo porque centralizou o investimento, além de reunir especialistas com conhecimento e experiência em química de proteínas que, poderíamos dizer, é o fundamento da proteômica. Neste sentido, a primeira ação da Rede foi agrupar especialistas com conhecimento e competência na área da bioquímica de proteínas para apresentar-se como um grupo de pesquisa à Faperj e conseguir financiamento para a compra dos primeiros equipamentos necessários ao desenvolvimento da tecnologia e, o que é mais importante, para o intercâmbio de idéias e experiências.
Quais as vantagens da proteômica em relação ao estudo tradicional da bioquímica de proteínas?
Na bioquímica de proteínas tradicional estas moléculas eram estudadas quase que individualmente, ou seja, tinha-se que isolar e caracterizar cada proteína e este era um processo geralmente longo, muito trabalhoso e que consumia grande quantidade de material. As técnicas proteômicas permitem a análise de centenas a milhares de proteínas ao mesmo tempo, com grande sensibilidade, acuro, rapidez e reprodutibilidade, facilitando enormemente o trabalho de análise protéica e permitindo sua aplicação em sistemas bem mais complexos.
Quais os principais avanços da Rede desde sua criação?
Através da centralização de investimentos e de recursos humanos conseguimos implementar a técnica nos laboratórios que integram a Rede e organizar diversos cursos e seminários com especialistas nacionais e estrangeiros. Assim, difundiu-se o conhecimento sobre proteômica no Estado e incrementou-se a qualidade dos estudos em química de proteínas, permitindo estudar problemas complexos até então inatingíveis pelos métodos tradicionais.
Qual o estágio de desenvolvimento da tecnologia nos laboratórios que compõem Rede?
Atualmente a técnica está em fase bastante avançada nos laboratórios da Rede, que dispõem de sistemas modernos de eletroforese bidimensional e cromatografia líquida de alta performance e espectrômetros de massas tanto do tipo MALDI como eletrospray. A Rede originalmente se concentrou no estudo de quatro projetos: Análise de proteoma da bactéria diazotrófica Gluconacetobacter diazotrophicus e sua interação endofítica com plantas de cana-de-açúcar, Regulação da expressão gênica em Vibrio cholarae, Estudo proteômico da infeccção viral e Estudo de toxinas animais e seus inibidores naturais por técnicas proteômicas: aplicações em biotecnologia. Atualmente, os horizontes se ampliaram de maneira extraordinária e os projetos envolvem a pesquisa sobre diversos tipos de câncer, passando por doenças parasitárias e infectocontagiosas de alta relevância para o Estado e o país, como dengue, hanseníase e doença de Chagas.
Quais características distinguem a Rede Proteômica do Rio de Janeiro?
A Rede Proteômica do Rio é a única que está efetivamente operando no Brasil e, apesar dos obstáculos que enfrentamos, está atualmente funcionando muito bem, disponibilizando infra-estrutura e conhecimento para inúmeros laboratórios tanto da Rede quanto fora dela e colocando o Estado em uma posição de destaque e liderança nesta área da ciência.
Quais as principais dificuldades para o desenvolvimento da tecnologia proteômica?
A maior dificuldade que temos é o financiamento, porque a tecnologia é muito refinada e os equipamentos são muito caros, tanto para aquisição como para manutenção. É uma tecnologia de ponta que sofre alterações freqüentes e é preciso estar em constante evolução para acompanhar o seu desenvolvimento. Também temos limitações na área de Bioinformática, fundamental para a análise e validação da grande quantidade de dados gerados pelas técnicas proteômicas.
O que o senhor pretende realizar como coordenador?
Pretendo dar continuidade aos projetos desenvolvidos pela Rede, solidificar a interação entre os laboratórios que a compõem e aumentar a discussão científica entre as unidades de pesquisa. O intercâmbio de informações precisa ser mais ágil, para que uma unidade de pesquisa não comece a estudar uma técnica que já foi padronizada por outra. Essa repetição gera perda de tempo e dinheiro. Para isso, é preciso desenvolver uma página da Rede na internet que seja mais dinâmica e interativa, permitindo que todos os interessados possam ter acesso rápido às técnicas já padronizadas. É preciso também difundir mais o conhecimento para os laboratórios que estão fora da Rede, estimulando novas interações e disponibilizando as tecnologias proteômicas à comunidade científica do Estado do Rio de Janeiro.
08/11/2006
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