Diretora do Programa Nacional de Bacteriologia e Doenças Entéricas do Canadá esclarece questões sobre resistência antimicrobiana
Na próxima semana, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC)/Fiocruz recebe especialistas nacionais e estrangeiros para discutir a resistência de microorganismos causadores de doenças às drogas produzidas para combatê-los durante o III Simpósio de Resistência aos Antimicrobianos – I Simpósio de Resistência a Drogas Quimioterápicas, que será realizado nos dias 24 a 27 de outubro, no Hotel Glória (Rio de Janeiro). A pesquisadora Lai King Ng, diretora do Programa Nacional de Bacteriologia e Doenças Entéricas da Agência de Saúde Pública do Canadá, é uma das convidadas. Em entrevista, a pesquisadora comenta sobre a resistência a antimicrobianos no caso das doenças sexualmente transmissíveis de origem bacteriana. Lai King também destaca a resistência da bactéria Salmonella a antimicrobicidas e suas conexões em relação à cadeia alimentar.
A Salmonella é um importante agente causador de doenças entéricas. Quais os métodos utilizados pelo Canadá para realizar a vigilância da resistência microbiana nesse caso específico?
O Canadá desenvolve uma vigilância integrada sobre a resistência antimicrobiana da Salmonella junto à cadeia de produção alimentar. Isto é: dos produtores de alimentos aos consumidores. O Programa Integrado para Vigilância Antimicrobiana do Canadá (CIPARS, na sigla em inglês) também coleta informações sobre o uso humano de antimicrobianos, além de sua aplicação na produção de alimentos. O objetivo é coletar informações-chave para estruturar políticas para o uso destas drogas. Este conceito está descrito no Relatório Anual da CIPARS ( www.phac-aspc/cipars-picra ).
Esses métodos são aplicáveis a outras regiões?
A vigilância sobre a cadeia produtor-consumidor é aplicável a outros casos, mas o ideal é ajustar a medida às situações específicas de cada local, de acordo com suas capacidades e prioridades. Alguns países, como Estados Unidos e Dinamarca, têm programas integrados para a vigilância sobre a resistência antimicrobiana da Salmonella. Os países que ainda não possuem devem ser encorajados a desenvolver e implementar a vigilância integrada de forma a contribuir para o controle global da resistência.
A forma mais conhecida de transmissão da Salmonella é a alimentar e poucas pessoas sabem que a bactéria pode ser transmitida sexualmente. Outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como gonorréia, sífilis e clamídia, também são causadas por bactérias e, portanto, são tratadas com antimicrobianos. No caso específico das DSTs, quais os problemas colocados pela resistência antimicrobiana?
Doenças sexualmente transmissíveis causadas por bactérias, como sífilis, gonorréia e clamídia, exigem tratamento urgente porque podem causar seqüelas graves. A sífilis, por exemplo, aumenta o risco de contração de HIV. Para garantir a eficácia do tratamento, a vigilância da resistência microbiana é fundamental.
Podemos mensurar o impacto da resistência antimicrobiana sobre a população no caso das DSTs?
Umas das estratégias para o controle da expansão de DSTs provocadas por bactérias é fornecer tratamento antibiótico. Se o esquema terapêutico não surtir o efeito esperado a transmissão dos patógenos é potencializada e uma maior parcela da população pode ser contaminada. O impacto da resistência antimicrobiana pode ser mensurado por programas de vigilância e estudos epidemiológicos.
Neste contexto, o desenvolvimento de novas drogas é a única saída?
Além do tratamento antibiótico, existem outras medidas de saúde pública para a prevenção e o controle de doenças, como a investigação de contatos, identificação de pacientes de alto risco, programas de educação e desenvolvimento de vacinas.
20/10/2006 |