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Por uma ciência mais feminina, artigo do pesquisador Eloi S. Garcia

DSC_0232b | ciência mais feminina | Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências
Por Jornalismo IOC13/11/2007 - Atualizado em 10/12/2019

Ultimamente tenho pensado muito na razão de a mulher ser ainda minoria em várias especialidades científicas. É verdade que historicamente a mulher tem recebido pouco reconhecimento e referência na ciência.

A razão desse esquecimento está relacionada a fatos ainda não bem desenvolvidos pela sociedade, pois a própria antropologia sempre descreveu as habilidades e as ferramentas desenvolvidas pelo homem primitivo e desconheceu os conhecimentos gerados pelas mulheres.

Somente para lembrar, elas desenvolveram tecnologias e maneiras de coletar, preparar e conservar alimentos e inventaram o moinho primitivo para triturar sementes e grãos, bem como descobriram as propriedades medicinais das plantas. Assim, a história da mulher na ciência é muito mais antiga do que se imagina.

Por que os historiadores ocultaram a presença das mulheres nas atividades de pesquisa? Por desconhecimento ou pelo machismo impregnado na cultura humana há séculos?

É bem verdade que somente 10% dos prêmios Nobel foram dados a mulheres, a nossa Academia Brasileira de Ciência tem também cerca de 10% de acadêmicas (sei que isto é uma preocupação de nossa Academia) e reparem o pequeno número de mulheres que dirigiram universidades brasileiras.

A realidade é que homens e mulheres contribuem na ciência por igual e isto torna a ciência mais forte, menos preconceituosa, mais humana e mais livre. Isto somente valoriza a atividade cientifica no mundo atual.

Não podemos esquecer o recente fato do ex-reitor da Universidade de Harvard, Larry Summers, ter dito que a mulher possuía uma menor capacidade inata para fazer ciência. Curiosamente, a Universidade de Harvard hoje possui uma mulher como reitor, seu nome é Drew Gilpin Faust.

Este posicionamento infeliz do reitor Summers foi tão desgastante à sociedade americana que, recentemente, foi divulgada pela revista Science uma pesquisa envolvendo 7 milhões de pessoas, confirmando que as diferenças nos conceitos escolares entre rapazes e moças na ciência e na matemática são mínimas.

Tudo indica que as diferenças de gênero se devem mais a razões sociais, ao imaginário da população e a estereótipos culturais de longa data, do que às qualidades inatas entre homens e mulheres cientistas.

É bem verdade que as mulheres apresentam dificuldades especiais pelo esforço que representa atender à vida do laboratório e à vida familiar. Geralmente, o auge da carreira científica coincide com a idade biológica e social da maternidade.

Sabemos que quando uma comissão seleciona os candidatos para ocupar uma vaga de professor ou de pesquisador, deve levar em conta uma série de indicadores para quantificar a atividade docente e de pesquisador.

Os membros das bancas examinadoras, mediante a um algoritmo explicito ou não, transformam os dados curriculares em valores numéricos. O candidato que tiver maior nota ganha o concurso.

O método parece cientificamente correto, mas pode ocultar muitos equívocos, apesar do algoritmo usado. Pois como se contam os anos das mulheres dedicados aos seus filhos? Ou a suas famílias? A todos os problemas domésticos?

O problema da mulher cientista é muito complexo e estamos muito longe de chegar a conclusões e a um consenso entre os especialistas.

Devemos começar a ter uma compreensão científica do problema e a adotar uma política criativa, pois o assunto, por ser estrutural, requer atitude que possa corrigir o problema.

Um dos mais óbvios é que mulheres que têm filhos podem também ser cientificamente muito criativas e produtivas e que uma interrupção em suas carreiras como a promoção a um nível superior ou não poder assumir um cargo conseguido por concurso público porque necessita de dedicação exclusiva não deve estar relacionado a problemas familiares.

* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.

DSC_0232b | ciência mais feminina | Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências
Por: 
jornalismo

Ultimamente tenho pensado muito na razão de a mulher ser ainda minoria em várias especialidades científicas. É verdade que historicamente a mulher tem recebido pouco reconhecimento e referência na ciência.

A razão desse esquecimento está relacionada a fatos ainda não bem desenvolvidos pela sociedade, pois a própria antropologia sempre descreveu as habilidades e as ferramentas desenvolvidas pelo homem primitivo e desconheceu os conhecimentos gerados pelas mulheres.

Somente para lembrar, elas desenvolveram tecnologias e maneiras de coletar, preparar e conservar alimentos e inventaram o moinho primitivo para triturar sementes e grãos, bem como descobriram as propriedades medicinais das plantas. Assim, a história da mulher na ciência é muito mais antiga do que se imagina.

Por que os historiadores ocultaram a presença das mulheres nas atividades de pesquisa? Por desconhecimento ou pelo machismo impregnado na cultura humana há séculos?

É bem verdade que somente 10% dos prêmios Nobel foram dados a mulheres, a nossa Academia Brasileira de Ciência tem também cerca de 10% de acadêmicas (sei que isto é uma preocupação de nossa Academia) e reparem o pequeno número de mulheres que dirigiram universidades brasileiras.

A realidade é que homens e mulheres contribuem na ciência por igual e isto torna a ciência mais forte, menos preconceituosa, mais humana e mais livre. Isto somente valoriza a atividade cientifica no mundo atual.

Não podemos esquecer o recente fato do ex-reitor da Universidade de Harvard, Larry Summers, ter dito que a mulher possuía uma menor capacidade inata para fazer ciência. Curiosamente, a Universidade de Harvard hoje possui uma mulher como reitor, seu nome é Drew Gilpin Faust.

Este posicionamento infeliz do reitor Summers foi tão desgastante à sociedade americana que, recentemente, foi divulgada pela revista Science uma pesquisa envolvendo 7 milhões de pessoas, confirmando que as diferenças nos conceitos escolares entre rapazes e moças na ciência e na matemática são mínimas.

Tudo indica que as diferenças de gênero se devem mais a razões sociais, ao imaginário da população e a estereótipos culturais de longa data, do que às qualidades inatas entre homens e mulheres cientistas.

É bem verdade que as mulheres apresentam dificuldades especiais pelo esforço que representa atender à vida do laboratório e à vida familiar. Geralmente, o auge da carreira científica coincide com a idade biológica e social da maternidade.

Sabemos que quando uma comissão seleciona os candidatos para ocupar uma vaga de professor ou de pesquisador, deve levar em conta uma série de indicadores para quantificar a atividade docente e de pesquisador.

Os membros das bancas examinadoras, mediante a um algoritmo explicito ou não, transformam os dados curriculares em valores numéricos. O candidato que tiver maior nota ganha o concurso.

O método parece cientificamente correto, mas pode ocultar muitos equívocos, apesar do algoritmo usado. Pois como se contam os anos das mulheres dedicados aos seus filhos? Ou a suas famílias? A todos os problemas domésticos?

O problema da mulher cientista é muito complexo e estamos muito longe de chegar a conclusões e a um consenso entre os especialistas.

Devemos começar a ter uma compreensão científica do problema e a adotar uma política criativa, pois o assunto, por ser estrutural, requer atitude que possa corrigir o problema.

Um dos mais óbvios é que mulheres que têm filhos podem também ser cientificamente muito criativas e produtivas e que uma interrupção em suas carreiras como a promoção a um nível superior ou não poder assumir um cargo conseguido por concurso público porque necessita de dedicação exclusiva não deve estar relacionado a problemas familiares.

* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fiocruz e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)