Embora os sintomas respiratórios sejam a face mais conhecida da Covid-19, estresse pós-traumático, depressão e ansiedade já foram descritos em pacientes com a doença.
Em artigo publicado na revista ‘Frontiers in Immunology’, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) discutem como o novo coronavírus pode afetar a saúde mental, apontando alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção e ao distanciamento social, o que pode contribuir para distúrbios psicológicos.
Além de traçar hipóteses, os cientistas sugerem linhas de pesquisa para esclarecer os mecanismos da doença e medidas que podem ajudar a mitigar seu impacto na saúde mental.
Lembrando estudos relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), os pesquisadores chamam atenção para o potencial impacto psiquiátrico das infecções por coronavírus.
Muitas pesquisas identificaram acometimento mental de pacientes infectados e algumas apontaram ainda danos de longo prazo, com sobreviventes apresentando perda de memória, alterações do sono e maiores níveis de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, meses ou anos após a recuperação do quadro viral.
Considerando ainda o risco para a saúde mental associado ao distanciamento social, os pesquisadores enfatizam a relevância de estudos sobre o tema na Covid-19.
“É urgente realizar esforços para compreender a fisiopatologia da Covid-19, incluindo a infecção do sistema nervoso central e o risco de comprometimento da saúde mental, assim como os efeitos da pandemia em indivíduos saudáveis impactados pela situação de distanciamento social. Se nada for feito, provavelmente enfrentaremos uma nova ‘pandemia’ no futuro, relacionada à saúde mental”, afirma o imunologista Wilson Savino, pesquisador do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM) e da Rede Faperj de Pesquisa em Neuroinflamação, sediados no IOC.
A partir de dados observados em pacientes e pesquisas em animais considerados como modelos experimentais, os cientistas argumentam que diferentes mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais na pandemia de Covid-19.
Em primeiro lugar, há evidências de que o novo coronavírus seja capaz de infectar as células do sistema nervoso central.
Em segundo, a reação imunológica à infecção pelo vírus, marcada pela produção de grande quantidade de substâncias inflamatórias, pode ser um elo entre o patógeno e as manifestações psiquiátricas.
Diversas evidências indicam que essas substâncias alteram a plasticidade neuronal (capacidade de formar novas conexões entre neurônios) e reduzem a produção de neurotransmissores (moléculas que enviam sinais químicos entre as células neuronais, funcionando como mensageiros). Além disso, o processo inflamatório intenso pode afetar a produção do hormônio cortisol, cujo desequilíbrio está associado a transtornos psiquiátricos.
O estresse motivado pelo distanciamento social também pode levar a alterações imunológicas, com maior produção de substâncias inflamatórias mesmo em pessoas que não foram infectadas. Neste sentido, os pesquisadores chamam atenção para a maior vulnerabilidade de alguns grupos, como trabalhadores da saúde, idosos e obesos, que apresentam maior suscetibilidade tanto para quadros graves de Covid-19 quanto para distúrbios psiquiátricos.
Também apontam medidas que podem amenizar os prejuízos para a saúde mental. Por exemplo, levantamentos realizados durantes os surtos de SARS e MERS, assim como no começo da epidemia de Covid-19 na China, indicam o potencial da informação adequada para reduzir o dano psicológico durante quarentenas.
Estreitamento de laços por redes sociais, hábitos de sono e alimentação saudáveis também são citados pelos cientistas, que apontam ainda o potencial da música para modular os níveis de citocinas inflamatórias e a resposta neuro-imune-endócrina ao estresse.
“É importante notar que as evidências destacadas aqui não contradizem a necessidade de medidas de distanciamento necessárias para controlar a pandemia. No entanto, elas chamam atenção sobre a utilidade de estratégias que visem reduzir os efeitos nocivos do distanciamento social na saúde mental das pessoas em geral, incluindo a melhoria da intervenção psicológica e a redução das desigualdades socioeconômicas”, salienta Savino.
Embora os sintomas respiratórios sejam a face mais conhecida da Covid-19, estresse pós-traumático, depressão e ansiedade já foram descritos em pacientes com a doença.
Em artigo publicado na revista ‘Frontiers in Immunology’, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF) discutem como o novo coronavírus pode afetar a saúde mental, apontando alterações neurais, imunes e endócrinas relacionadas à infecção e ao distanciamento social, o que pode contribuir para distúrbios psicológicos.
Além de traçar hipóteses, os cientistas sugerem linhas de pesquisa para esclarecer os mecanismos da doença e medidas que podem ajudar a mitigar seu impacto na saúde mental.
Lembrando estudos relacionados à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), os pesquisadores chamam atenção para o potencial impacto psiquiátrico das infecções por coronavírus.
Muitas pesquisas identificaram acometimento mental de pacientes infectados e algumas apontaram ainda danos de longo prazo, com sobreviventes apresentando perda de memória, alterações do sono e maiores níveis de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade, meses ou anos após a recuperação do quadro viral.
Considerando ainda o risco para a saúde mental associado ao distanciamento social, os pesquisadores enfatizam a relevância de estudos sobre o tema na Covid-19.
“É urgente realizar esforços para compreender a fisiopatologia da Covid-19, incluindo a infecção do sistema nervoso central e o risco de comprometimento da saúde mental, assim como os efeitos da pandemia em indivíduos saudáveis impactados pela situação de distanciamento social. Se nada for feito, provavelmente enfrentaremos uma nova ‘pandemia’ no futuro, relacionada à saúde mental”, afirma o imunologista Wilson Savino, pesquisador do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM) e da Rede Faperj de Pesquisa em Neuroinflamação, sediados no IOC.
A partir de dados observados em pacientes e pesquisas em animais considerados como modelos experimentais, os cientistas argumentam que diferentes mecanismos podem contribuir para o desenvolvimento de transtornos mentais na pandemia de Covid-19.
Em primeiro lugar, há evidências de que o novo coronavírus seja capaz de infectar as células do sistema nervoso central.
Em segundo, a reação imunológica à infecção pelo vírus, marcada pela produção de grande quantidade de substâncias inflamatórias, pode ser um elo entre o patógeno e as manifestações psiquiátricas.
Diversas evidências indicam que essas substâncias alteram a plasticidade neuronal (capacidade de formar novas conexões entre neurônios) e reduzem a produção de neurotransmissores (moléculas que enviam sinais químicos entre as células neuronais, funcionando como mensageiros). Além disso, o processo inflamatório intenso pode afetar a produção do hormônio cortisol, cujo desequilíbrio está associado a transtornos psiquiátricos.
O estresse motivado pelo distanciamento social também pode levar a alterações imunológicas, com maior produção de substâncias inflamatórias mesmo em pessoas que não foram infectadas. Neste sentido, os pesquisadores chamam atenção para a maior vulnerabilidade de alguns grupos, como trabalhadores da saúde, idosos e obesos, que apresentam maior suscetibilidade tanto para quadros graves de Covid-19 quanto para distúrbios psiquiátricos.
Também apontam medidas que podem amenizar os prejuízos para a saúde mental. Por exemplo, levantamentos realizados durantes os surtos de SARS e MERS, assim como no começo da epidemia de Covid-19 na China, indicam o potencial da informação adequada para reduzir o dano psicológico durante quarentenas.
Estreitamento de laços por redes sociais, hábitos de sono e alimentação saudáveis também são citados pelos cientistas, que apontam ainda o potencial da música para modular os níveis de citocinas inflamatórias e a resposta neuro-imune-endócrina ao estresse.
“É importante notar que as evidências destacadas aqui não contradizem a necessidade de medidas de distanciamento necessárias para controlar a pandemia. No entanto, elas chamam atenção sobre a utilidade de estratégias que visem reduzir os efeitos nocivos do distanciamento social na saúde mental das pessoas em geral, incluindo a melhoria da intervenção psicológica e a redução das desigualdades socioeconômicas”, salienta Savino.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)