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Projeto melhora a vida da população de comunidades de Campos dos Goytacazes

Trabalho reduz prevalência de verminoses em comunidade carente do município fluminense
Por Jornalismo IOC21/11/2007 - Atualizado em 10/12/2019
O Programa Parasitoses do Norte Fluminense, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em parceria com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), está melhorando a qualidade de vida da população de uma comunidade carente do Distrito de Travessão, no Município de Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro. Um dos trabalhos pertencentes ao programa, que foi premiado com menção honrosa na categoria pôster no XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, realizado em Recife entre 28 de outubro e 1 de novembro, avaliou a prevalência de parasitoses intestinais entre moradores da comunidade, buscando promover a educação da população para a prevenção destas doenças.
 
O projeto teve início em 2003, quando assistentes sociais e representantes da pastoral da criança no Distrito de Travessão, no município de Campos dos Goytacazes, procuraram o pesquisador Antonio Henrique Almeida de Moraes Neto, do Laboratório de Ecoepidemiologia e Controle da Esquistossomose e Geohelmintoses (LECEG), do IOC, e professores da UENF, para orientar a população da comunidade de Parque Santuário, frente às péssimas condições de saúde da região. “Trata-se de uma área muito pobre, sem saneamento ou abastecimento de água tratada, esgoto a céu aberto e muito lixo”, explica o pesquisador. Foi, então, criado o projeto que, em seu primeiro ano, estudou a qualidade da água consumida pelos moradores da região. Os resultados encontrados foram alarmantes: “Os moradores utilizavam água proveniente de poços rasos em suas casas”, conta o pesquisador . “Nós observamos, após as análises, que a água estava 100% imprópria para consumo em todas as residências da comunidade.”
 

 LECEG/IOC

 

Os moradores da comunidade de Parque Santuário, no município de Campos dos Goytacazes, região norte do Rio de Janeiro, não tinham  acesso à rede de esgoto e consumiam água extraída de poços rasos, 100% imprópria para o consumo, segundo o estudo realizado pelo laboratório do IOC.  


No ano seguinte, em 2004, foram realizados estudos com a população local, através da aplicação de questionários nas residências, para verificar o que essas pessoas conheciam e quais eram suas percepções sobre as parasitoses intestinais. “Constatamos que havia falta de conhecimento sobre o tema”, explica Antonio Henrique, que hoje é Coordenador do Programa Parasitoses do Norte Fluminense. “Muitos moradores associavam a presença das verminoses com o consumo de doces e acreditavam que em agosto não se podia tomar remédios para verminoses, por ser o mês da revolta dos vermes.”
 
Os indivíduos cadastrados foram encaminhados ao Hospital de Travessão a fim de serem examinados clinicamente e realizar exames parasitológicos de fezes, para verificar a prevalência de parasitoses.  “Constatamos que cerca de 50% da população estava infectada”, conta o pesquisador. “As crianças eram as mais afetadas, correspondendo a 67% do total.” Os parasitas mais freqüentes eram o helminto Ascaris lumbricoides e os protozoários Giardia lamblia e Entamoeba histolytica, que podem causar doenças como ascaridíase, giardíase e amebíase no homem, respectivamente. Com base no resultados dos exames e na análise das respostas dos questionários, foi realizado um trabalho de educação em saúde junto à população. Os moradores receberam esclarecimentos através de palestras, além de uma cartilha com medidas de prevenção das parasitoses. “Os moradores da comunidade trabalham, em sua maioria, na lavoura de cana-de-açúcar e são muito pobres, não têm como comprar filtros e nem mesmo gás para ferver a água antes de beber, por isso, recomendamos a cloração da água, para prevenir a contaminação”, conta Antonio Henrique.
 

 LECEG/IOC

 

Os pesquisadores constataram que a população da comunidade tinha pouca informação sobre parasitoses e acreditava em diversos mitos como, por exemplo, estarem ligadas diretamente ao consumo de doces ou café em demasia e à determinada fase da lua.



Uma nova análise, no início do ano de 2005, mostrou uma redução na prevalência de parasitoses intestinais na população. “Essa redução tem a ver, é claro, com o tratamento”, analisa Antonio Henrique, “mas acreditamos que seja resultado, também, de uma maior conscientização da população, pois percebemos que os moradores já estavam mais bem informados sobre o tema.”
 
O trabalho foi ampliado para outra comunidade da região, o Arraial. “Apesar de ter uma estrutura um pouco melhor que a outra comunidade, encontramos o mesmo nível de contaminação e desinformação da população”, o pesquisador descreve. Atualmente, o programa atende 300 famílias, no total. “Já em 2008 pretendemos aumentar a amostra”, prevê.  
 
No início de 2007, foi realizado um curso de capacitação que contou com estudantes da UENF, professores do ensino público e privado, agentes comunitários da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacases e pessoas das comunidades. “Esse é um trabalho que não deve parar e o objetivo é que ele se torne auto-sustentável", acredita Antonio Henrique. “Se nos limitarmos ao tratamento, em seis meses estarão todos contaminados novamente.”
 

Gutemberg Brito

 

Além do projeto premiado no XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, o programa Parasitoses do Norte Fluminense, coordenado pelo pesquisador Antonio Henrique Almeida de Moraes Neto, reúne outras iniciativas relacionadas a diversos problemas da região, como DSTs, Aids, piolhos, sarna e diversas zoonoses.  



O IOC também está iniciando um projeto sobre helmintoses nas escolas municipais da região, coordenado pela pesquisadora Tereza Favre, chefe do Laboratório de Ecoepidemiologia e Controle da Esquistossomose e Geohelmintoses do IOC. “A partir destes projetos incluímos o município de Campos dos Goytacazes no ‘mutirão contra as verminoses’”, acredita Antonio Henrique. “Também estamos em sintonia com as prioridades do Ministério da Saúde e da Assembléia Mundial da Saúde, cujas metas são trazer o SUS e o Programa Saúde da Família para as escolas e desverminar a maioria das crianças até 2010.”
 
O Programa Parasitoses do Norte Fluminense é composto por outros projetos, dedicados a diversos problemas de saúde da região, como doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) eAids, piolho, sarna, alergias, zoonoses e nutrição. “Todos esses projetos têm como objetivo orientar a população e promover a educação para a saúde”, afirma Antonio Henrique. A repercussão do Programa foi tão boa que agora ele recebe o apoio da Prefeitura municipal (Secretarias de Saúde e de Educação) e dos hospitais da região. Conta com profissionais de diversas formações provenientes do IOC, da UENF e da UERJ.  Além disso, serviu de base para monografias, para um projeto de mestrado e obteve apoio da Faperj, em edital recente. Mas, segundo Antonio Henrique, a maior vitória é o retorno que o trabalho está dando para a comunidade. “Um programa como esse, além de ser uma pesquisa acadêmica sobre epidemiologia, pode melhorar a vida dessas pessoas. “É a Academia ultrapassando seus muros”, acredita. “É com isso que fico realmente feliz, porque é através de projetos como este, que podemos nos sentir realmente úteis à sociedade.”

Marcelo Garcia
Trabalho reduz prevalência de verminoses em comunidade carente do município fluminense
Por: 
jornalismo

O Programa Parasitoses do Norte Fluminense, realizado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC) em parceria com a Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), está melhorando a qualidade de vida da população de uma comunidade carente do Distrito de Travessão, no Município de Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro. Um dos trabalhos pertencentes ao programa, que foi premiado com menção honrosa na categoria pôster no XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, realizado em Recife entre 28 de outubro e 1 de novembro, avaliou a prevalência de parasitoses intestinais entre moradores da comunidade, buscando promover a educação da população para a prevenção destas doenças.

 

O projeto teve início em 2003, quando assistentes sociais e representantes da pastoral da criança no Distrito de Travessão, no município de Campos dos Goytacazes, procuraram o pesquisador Antonio Henrique Almeida de Moraes Neto, do Laboratório de Ecoepidemiologia e Controle da Esquistossomose e Geohelmintoses (LECEG), do IOC, e professores da UENF, para orientar a população da comunidade de Parque Santuário, frente às péssimas condições de saúde da região. “Trata-se de uma área muito pobre, sem saneamento ou abastecimento de água tratada, esgoto a céu aberto e muito lixo”, explica o pesquisador. Foi, então, criado o projeto que, em seu primeiro ano, estudou a qualidade da água consumida pelos moradores da região. Os resultados encontrados foram alarmantes: “Os moradores utilizavam água proveniente de poços rasos em suas casas”, conta o pesquisador . “Nós observamos, após as análises, que a água estava 100% imprópria para consumo em todas as residências da comunidade.”

 

 LECEG/IOC

 

Os moradores da comunidade de Parque Santuário, no município de Campos dos Goytacazes, região norte do Rio de Janeiro, não tinham  acesso à rede de esgoto e consumiam água extraída de poços rasos, 100% imprópria para o consumo, segundo o estudo realizado pelo laboratório do IOC.  



No ano seguinte, em 2004, foram realizados estudos com a população local, através da aplicação de questionários nas residências, para verificar o que essas pessoas conheciam e quais eram suas percepções sobre as parasitoses intestinais. “Constatamos que havia falta de conhecimento sobre o tema”, explica Antonio Henrique, que hoje é Coordenador do Programa Parasitoses do Norte Fluminense. “Muitos moradores associavam a presença das verminoses com o consumo de doces e acreditavam que em agosto não se podia tomar remédios para verminoses, por ser o mês da revolta dos vermes.”

 

Os indivíduos cadastrados foram encaminhados ao Hospital de Travessão a fim de serem examinados clinicamente e realizar exames parasitológicos de fezes, para verificar a prevalência de parasitoses.  “Constatamos que cerca de 50% da população estava infectada”, conta o pesquisador. “As crianças eram as mais afetadas, correspondendo a 67% do total.” Os parasitas mais freqüentes eram o helminto Ascaris lumbricoides e os protozoários Giardia lamblia e Entamoeba histolytica, que podem causar doenças como ascaridíase, giardíase e amebíase no homem, respectivamente. Com base no resultados dos exames e na análise das respostas dos questionários, foi realizado um trabalho de educação em saúde junto à população. Os moradores receberam esclarecimentos através de palestras, além de uma cartilha com medidas de prevenção das parasitoses. “Os moradores da comunidade trabalham, em sua maioria, na lavoura de cana-de-açúcar e são muito pobres, não têm como comprar filtros e nem mesmo gás para ferver a água antes de beber, por isso, recomendamos a cloração da água, para prevenir a contaminação”, conta Antonio Henrique.

 

 LECEG/IOC

 

Os pesquisadores constataram que a população da comunidade tinha pouca informação sobre parasitoses e acreditava em diversos mitos como, por exemplo, estarem ligadas diretamente ao consumo de doces ou café em demasia e à determinada fase da lua.





Uma nova análise, no início do ano de 2005, mostrou uma redução na prevalência de parasitoses intestinais na população. “Essa redução tem a ver, é claro, com o tratamento”, analisa Antonio Henrique, “mas acreditamos que seja resultado, também, de uma maior conscientização da população, pois percebemos que os moradores já estavam mais bem informados sobre o tema.”

 

O trabalho foi ampliado para outra comunidade da região, o Arraial. “Apesar de ter uma estrutura um pouco melhor que a outra comunidade, encontramos o mesmo nível de contaminação e desinformação da população”, o pesquisador descreve. Atualmente, o programa atende 300 famílias, no total. “Já em 2008 pretendemos aumentar a amostra”, prevê.  

 

No início de 2007, foi realizado um curso de capacitação que contou com estudantes da UENF, professores do ensino público e privado, agentes comunitários da Secretaria Municipal de Saúde de Campos dos Goytacases e pessoas das comunidades. “Esse é um trabalho que não deve parar e o objetivo é que ele se torne auto-sustentável", acredita Antonio Henrique. “Se nos limitarmos ao tratamento, em seis meses estarão todos contaminados novamente.”

 

Gutemberg Brito

 

Além do projeto premiado no XX Congresso Brasileiro de Parasitologia, o programa Parasitoses do Norte Fluminense, coordenado pelo pesquisador Antonio Henrique Almeida de Moraes Neto, reúne outras iniciativas relacionadas a diversos problemas da região, como DSTs, Aids, piolhos, sarna e diversas zoonoses.  





O IOC também está iniciando um projeto sobre helmintoses nas escolas municipais da região, coordenado pela pesquisadora Tereza Favre, chefe do Laboratório de Ecoepidemiologia e Controle da Esquistossomose e Geohelmintoses do IOC. “A partir destes projetos incluímos o município de Campos dos Goytacazes no ‘mutirão contra as verminoses’”, acredita Antonio Henrique. “Também estamos em sintonia com as prioridades do Ministério da Saúde e da Assembléia Mundial da Saúde, cujas metas são trazer o SUS e o Programa Saúde da Família para as escolas e desverminar a maioria das crianças até 2010.”

 

O Programa Parasitoses do Norte Fluminense é composto por outros projetos, dedicados a diversos problemas de saúde da região, como doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) eAids, piolho, sarna, alergias, zoonoses e nutrição. “Todos esses projetos têm como objetivo orientar a população e promover a educação para a saúde”, afirma Antonio Henrique. A repercussão do Programa foi tão boa que agora ele recebe o apoio da Prefeitura municipal (Secretarias de Saúde e de Educação) e dos hospitais da região. Conta com profissionais de diversas formações provenientes do IOC, da UENF e da UERJ.  Além disso, serviu de base para monografias, para um projeto de mestrado e obteve apoio da Faperj, em edital recente. Mas, segundo Antonio Henrique, a maior vitória é o retorno que o trabalho está dando para a comunidade. “Um programa como esse, além de ser uma pesquisa acadêmica sobre epidemiologia, pode melhorar a vida dessas pessoas. “É a Academia ultrapassando seus muros”, acredita. “É com isso que fico realmente feliz, porque é através de projetos como este, que podemos nos sentir realmente úteis à sociedade.”



Marcelo Garcia

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)