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Países da América Latina recebem treinamento em diagnóstico laboratorial para o vírus monkeypox

Capacitação integrada da OPAS, Ministério da Saúde e Fiocruz visa otimizar a vigilância na região das Américas
Por Max Gomes e Maíra Menezes09/06/2022 - Atualizado em 30/06/2022

Nos dias 9 e 10 de junho, profissionais de sete países da América Latina participaram, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, de treinamento em detecção e diagnóstico laboratorial do vírus monkeypox (MPXV).

A capacitação foi resultado da parceria entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o Ministério da Saúde e a Fiocruz. A atividade foi ministrada pelo Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).


Endêmica na África, a doença registra seu maior surto já visto fora do continente. De 13 de maio a 8 de junho, foram confirmados 1.186 casos, a maioria na Europa, mas já com registros na Argentina e México.

A rápida propagação do vírus em países não endêmicos acendeu sinal de alerta e, juntas, as organizações organizaram em menos de uma semana o workshop de treinamento para a realização de diagnóstico molecular baseado na identificação do material genético do vírus, por meio da metodologia de PCR em tempo real (protocolo padrão adotado pela OMS).

Os participantes também receberam os insumos necessários para a implementação da metodologia em seus países, produzidos pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP, uma associação da Fiocruz com o governo do estado) e entregues à Opas.

 

Especialistas dos sete países participantes juntamente com autoridades do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Foto: Gutemberg Brito

Estiveram presentes profissionais de institutos nacionais de saúde da Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A ação teve como objetivo preparar os países para oferecerem respostas rápidas e efetivas a uma possível epidemia provocada pelo MPXV na região das Américas.

“A prioridade, no momento, é que os laboratórios de diversas regiões sejam capazes de identificar o vírus. Ainda não se sabe tudo o que está ocorrendo e precisamos encontrar respostas para questões sobre transmissão, dinâmica do vírus em áreas não endêmicas e susceptibilidade de populações”, afirmou Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC/Fiocruz, que coordenará a capacitação.

Para Pierina D'Angelo, chefe da divisão de virologia do Instituto Nacional de Higiene da Venezuela, é fundamental que os países latino-americanos estejam em constante alerta para a detecção de agentes virais de importância em saúde pública.

“Precisamos estar muito atentos para fortalecer a capacidade laboratorial. O nosso Instituto, como Centro de Referência Nacional na Venezuela, está sempre empenhado em participar de atualizações e capacitações que nos auxiliem a contribuir com respostas oportunas”, avaliou.

A importância da cooperação científica entre países foi reforçada por Analia Burgueño, do Departamento de Laboratórios de Saúde Pública do Uruguai.

“Essa capacitação com outros países da América Latina é muito importante porque os laboratórios que são referência para os ministérios da saúde de seus países precisam estar preparados para todos os eventos. Precisamos levar em consideração a alta circulação de pessoas entre os nossos países que, no caso do monkeypox, já há casos confirmados em territórios vizinhos”, afirmou.

“Os sistemas de saúde estão em alerta pelo cenário incomum de circulação em regiões não endêmicas, sendo necessária a capacitação de laboratórios ao redor do mundo para reconhecer infecção e realizar o diagnóstico da MPXV. Não há motivos para pânico e pensar que o vírus será disseminado de forma descontrolada, como o SARS-CoV-2, visto que essa não é uma de suas características”, frisou Edson Elias.

Detecção oportuna

Dois dias após o treinamento, com a aplicação das metodologias revisadas no workshop e utilização de insumos cedidos pelo IBMP, a Venezuela detectou oportunamente um caso de monkeypox no país. O anuncio foi feito pelas autoridades venezuelanas no último domingo, 12 de junho. No comunicado, o Ministério da Saúde do país confirmou que o paciente retornava à Caracas após viagem à Barcelona, na Espanha.

Até segunda-feira (13/06), a OPAS confirmou a implementação exitosa dos protocolos em laboratórios de três países que participaram da capacitação.

União de esforços que ultrapassam fronteiras

A cerimônia de abertura realizada no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, no período da manhã, contou com a participação do secretário de vigilância em saúde e atual ministro interino da Saúde, Arnaldo Correia; da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; da representante da OPAS no Brasil, Socorro Gross Galiano; do assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez; e da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge.

Também estavam presentes no auditório o chefe do Laboratório de Enteroviroses, Edson Elias, o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, e a vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do IOC, Maria de Lourdes Oliveira.

Autoridades da Opas, do Ministério da Saúde e da Fiocruz durante cerimônia de abertura. Foto: Gutemberg Brito


“A Fiocruz e o mundo vêm sendo desafiados a um trabalho cada vez mais integrado. A partir do conhecimento temos condição de lidar com essas emergências, tanto de antigos patógenos que circulam agora de forma diferente quanto de novos”, disse a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima durante a solenidade. “Precisamos avançar num trabalho mais integrado nas Américas. Só poderemos dar uma resposta na velocidade necessária se mantivermos essa ação permanente de preparação”, acrescentou.

Representante da OPAS/OMS no Brasil, Socorro Gross recordou o treinamento semelhante sobre a Covid-19 realizado pela organização com a Fiocruz em 2020 para países da região. Ela destacou que a capacitação vai além da monkeypox, por representar uma oportunidade de as nações compartilharem seus conhecimentos e ampliarem a rede de vigilância genômica.

“Nossa região tem uma característica muito especial: de organizarmos rapidamente nossas forças. Temos a capacidade de dizer que os insumos que vamos utilizar são de nossa região, o treinamento é em nossa região e com as nossas pessoas. Juntos somos mais fortes”, declarou.

A diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge, contou que mobilizou todo o instituto para preparar o treinamento e os laboratórios a tempo. “Soubemos na sexta-feira da semana passada e hoje é quinta. Não levamos nem uma semana e ficou tudo pronto para fazermos o nosso trabalho, que é referência”, frisou.

Ministro interino da Saúde, Arnaldo Correia lembrou a frase do secretário geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, que costuma dizer que “ninguém está seguro até que todos estejamos seguros”.

“Estamos vivendo mais um momento histórico ao longo dessa pandemia. Cada vez mais acredito na importância da vigilância e que ela é fundamental para dar qualidade de saúde à população. Nessa perspectiva, é fundamental olharmos para nossa região”, afirmou.

As primeiras trocas de experiência

Participante do treinamento em coronavírus de 2020, o assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez, voltou à Fundação para a nova oficina. Coube a ele apresentar os objetivos do treinamento, a situação atual da doença e os processos de biossegurança. Méndez destacou a pronta articulação que permitiu que, embora num momento de emergência, fosse possível realizar o trabalho com qualidade e com a rapidez necessárias. “São só dois dias, mas o impacto que isso tem em seus países é enorme.”

Ele destacou que se fosse necessário enviar as amostras para o laboratório americano de referência em Atlanta, por exemplo, o processo de diagnóstico poderia levar duas semanas. “Por isso, insisto na importância de podermos testar em nossos próprios países. Desta forma, organizamos esta oficina”, acrescentou.

 

Jairo Méndez apresentou informações atualizadas e detalhes técnicos sobre o patógeno. Foto: Gutemberg Brito


Méndez contou que há duas variantes de monkeypox na África: uma mais agressiva e outra mais branda, sendo que a segunda é a que tem sido observada no atual surto fora do continente. “Casos já foram identificados em outros países em anos anteriores, em geral, envolvendo pessoas que haviam viajado à África, mas sem a intensidade do atual surto. É causa de inquietude, mas não de pânico”, esclareceu.

O líder técnico destacou ainda que a transmissão se dá por contato próximo, sem qualquer evidência de transmissão sexual, até o momento. Jairo Méndez ressaltou a necessidade de profissionais de saúde estarem atentos aos sintomas para diferenciá-los de outras enfermidades – do sarampo a doenças alérgicas. “É necessário rastrear os contatos mesmo antes do diagnóstico e orientar as pessoas com as medidas de prevenção”, disse. “Não sabemos ainda se vamos ter casos importados, o nível de transmissão ou se a doença vai se expandir ainda mais. Por isso estamos nos preparando”, salientou.

Na parte da tarde do dia 9 e durante toda o dia 10, os técnicos latino-americanos participaram de intensa imersão em todo os detalhes do protocolo que precisa ser adotado nos laboratórios de referência designados para o diagnóstico do vírus monkeypox.


Capacitação é conduzida por profissionais do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz. Foto: Max Gomes

O patógeno

Pertencente ao gênero Orthopoxvirus, que também compreende os patógenos responsáveis pelas varíolas humana e bovina, o MPXV foi descoberto em 1958, quando pesquisadores investigavam um surto infeccioso em macacos oriundos da África que estavam sendo estudados na Dinamarca. O patógeno até então desconhecido recebeu o nome de Monkeypoxvirus por ter sido encontrado em amostras desses primatas.

Posteriormente, cientistas verificaram que os macacos não participavam da dinâmica da infecção como animais reservatórios do vírus e que também eram afetados pelo patógeno assim como outros mamíferos. Ainda hoje não se sabe com exatidão as espécies reservatórias do MPXV, nem como sua circulação é mantida na natureza.

O primeiro caso humano de Monkeypox data de 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a infecção em humanos vem sendo relatada principalmente em países das regiões Central e Ocidental da África, onde é endêmica.

Os sintomas da doença podem incluir inchaço dos gânglios linfáticos, aparecimento de lesões na pele, febre, fraqueza, além de dores intensas de cabeça e no corpo. A letalidade é estimada entre 1% e 10%, com quadros mais graves em crianças e pessoas com imunidade reduzida.

A transmissão do vírus de animais para pessoas pode ocorrer através da mordida ou arranhadura de um animal infectado, pelo manuseio de caça selvagem ou pelo uso de produtos feitos de animais infectados. A transmissão do vírus entre pessoas ocorre principalmente através do contato direto, seja por meio do beijo ou abraço, ou por feridas infecciosas, crostas ou fluidos corporais. Também pode haver transmissão por secreções respiratórias durante o contato pessoal prolongado.

Clique aqui e saiba mais sobre o vírus Monkeypox.

Capacitação integrada da OPAS, Ministério da Saúde e Fiocruz visa otimizar a vigilância na região das Américas
Por: 
max.gomes
maira

Nos dias 9 e 10 de junho, profissionais de sete países da América Latina participaram, no campus da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro, de treinamento em detecção e diagnóstico laboratorial do vírus monkeypox (MPXV).

A capacitação foi resultado da parceria entre a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS), o Ministério da Saúde e a Fiocruz. A atividade foi ministrada pelo Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Endêmica na África, a doença registra seu maior surto já visto fora do continente. De 13 de maio a 8 de junho, foram confirmados 1.186 casos, a maioria na Europa, mas já com registros na Argentina e México.

A rápida propagação do vírus em países não endêmicos acendeu sinal de alerta e, juntas, as organizações organizaram em menos de uma semana o workshop de treinamento para a realização de diagnóstico molecular baseado na identificação do material genético do vírus, por meio da metodologia de PCR em tempo real (protocolo padrão adotado pela OMS).

Os participantes também receberam os insumos necessários para a implementação da metodologia em seus países, produzidos pelo Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP, uma associação da Fiocruz com o governo do estado) e entregues à Opas.

 

Especialistas dos sete países participantes juntamente com autoridades do Ministério da Saúde e da Fiocruz. Foto: Gutemberg Brito

Estiveram presentes profissionais de institutos nacionais de saúde da Bolívia, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. A ação teve como objetivo preparar os países para oferecerem respostas rápidas e efetivas a uma possível epidemia provocada pelo MPXV na região das Américas.

“A prioridade, no momento, é que os laboratórios de diversas regiões sejam capazes de identificar o vírus. Ainda não se sabe tudo o que está ocorrendo e precisamos encontrar respostas para questões sobre transmissão, dinâmica do vírus em áreas não endêmicas e susceptibilidade de populações”, afirmou Edson Elias, chefe do Laboratório de Enterovírus do IOC/Fiocruz, que coordenará a capacitação.

Para Pierina D'Angelo, chefe da divisão de virologia do Instituto Nacional de Higiene da Venezuela, é fundamental que os países latino-americanos estejam em constante alerta para a detecção de agentes virais de importância em saúde pública.

“Precisamos estar muito atentos para fortalecer a capacidade laboratorial. O nosso Instituto, como Centro de Referência Nacional na Venezuela, está sempre empenhado em participar de atualizações e capacitações que nos auxiliem a contribuir com respostas oportunas”, avaliou.

A importância da cooperação científica entre países foi reforçada por Analia Burgueño, do Departamento de Laboratórios de Saúde Pública do Uruguai.

“Essa capacitação com outros países da América Latina é muito importante porque os laboratórios que são referência para os ministérios da saúde de seus países precisam estar preparados para todos os eventos. Precisamos levar em consideração a alta circulação de pessoas entre os nossos países que, no caso do monkeypox, já há casos confirmados em territórios vizinhos”, afirmou.

“Os sistemas de saúde estão em alerta pelo cenário incomum de circulação em regiões não endêmicas, sendo necessária a capacitação de laboratórios ao redor do mundo para reconhecer infecção e realizar o diagnóstico da MPXV. Não há motivos para pânico e pensar que o vírus será disseminado de forma descontrolada, como o SARS-CoV-2, visto que essa não é uma de suas características”, frisou Edson Elias.

Detecção oportuna

Dois dias após o treinamento, com a aplicação das metodologias revisadas no workshop e utilização de insumos cedidos pelo IBMP, a Venezuela detectou oportunamente um caso de monkeypox no país. O anuncio foi feito pelas autoridades venezuelanas no último domingo, 12 de junho. No comunicado, o Ministério da Saúde do país confirmou que o paciente retornava à Caracas após viagem à Barcelona, na Espanha.

Até segunda-feira (13/06), a OPAS confirmou a implementação exitosa dos protocolos em laboratórios de três países que participaram da capacitação.

União de esforços que ultrapassam fronteiras

A cerimônia de abertura realizada no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, no período da manhã, contou com a participação do secretário de vigilância em saúde e atual ministro interino da Saúde, Arnaldo Correia; da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade; da representante da OPAS no Brasil, Socorro Gross Galiano; do assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez; e da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge.

Também estavam presentes no auditório o chefe do Laboratório de Enteroviroses, Edson Elias, o coordenador de Vigilância em Saúde e Laboratórios de Referência da Fiocruz, Rivaldo Venâncio, e a vice-diretora de Serviços de Referência, Coleções Biológicas e Ambulatórios do IOC, Maria de Lourdes Oliveira.

Autoridades da Opas, do Ministério da Saúde e da Fiocruz durante cerimônia de abertura. Foto: Gutemberg Brito

“A Fiocruz e o mundo vêm sendo desafiados a um trabalho cada vez mais integrado. A partir do conhecimento temos condição de lidar com essas emergências, tanto de antigos patógenos que circulam agora de forma diferente quanto de novos”, disse a presidente da Fundação, Nísia Trindade Lima durante a solenidade. “Precisamos avançar num trabalho mais integrado nas Américas. Só poderemos dar uma resposta na velocidade necessária se mantivermos essa ação permanente de preparação”, acrescentou.

Representante da OPAS/OMS no Brasil, Socorro Gross recordou o treinamento semelhante sobre a Covid-19 realizado pela organização com a Fiocruz em 2020 para países da região. Ela destacou que a capacitação vai além da monkeypox, por representar uma oportunidade de as nações compartilharem seus conhecimentos e ampliarem a rede de vigilância genômica.

“Nossa região tem uma característica muito especial: de organizarmos rapidamente nossas forças. Temos a capacidade de dizer que os insumos que vamos utilizar são de nossa região, o treinamento é em nossa região e com as nossas pessoas. Juntos somos mais fortes”, declarou.

A diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge, contou que mobilizou todo o instituto para preparar o treinamento e os laboratórios a tempo. “Soubemos na sexta-feira da semana passada e hoje é quinta. Não levamos nem uma semana e ficou tudo pronto para fazermos o nosso trabalho, que é referência”, frisou.

Ministro interino da Saúde, Arnaldo Correia lembrou a frase do secretário geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, que costuma dizer que “ninguém está seguro até que todos estejamos seguros”.

“Estamos vivendo mais um momento histórico ao longo dessa pandemia. Cada vez mais acredito na importância da vigilância e que ela é fundamental para dar qualidade de saúde à população. Nessa perspectiva, é fundamental olharmos para nossa região”, afirmou.

As primeiras trocas de experiência

Participante do treinamento em coronavírus de 2020, o assessor regional para doenças virais da OPAS/OMS, Jairo Méndez, voltou à Fundação para a nova oficina. Coube a ele apresentar os objetivos do treinamento, a situação atual da doença e os processos de biossegurança. Méndez destacou a pronta articulação que permitiu que, embora num momento de emergência, fosse possível realizar o trabalho com qualidade e com a rapidez necessárias. “São só dois dias, mas o impacto que isso tem em seus países é enorme.”

Ele destacou que se fosse necessário enviar as amostras para o laboratório americano de referência em Atlanta, por exemplo, o processo de diagnóstico poderia levar duas semanas. “Por isso, insisto na importância de podermos testar em nossos próprios países. Desta forma, organizamos esta oficina”, acrescentou.

 

Jairo Méndez apresentou informações atualizadas e detalhes técnicos sobre o patógeno. Foto: Gutemberg Brito

Méndez contou que há duas variantes de monkeypox na África: uma mais agressiva e outra mais branda, sendo que a segunda é a que tem sido observada no atual surto fora do continente. “Casos já foram identificados em outros países em anos anteriores, em geral, envolvendo pessoas que haviam viajado à África, mas sem a intensidade do atual surto. É causa de inquietude, mas não de pânico”, esclareceu.

O líder técnico destacou ainda que a transmissão se dá por contato próximo, sem qualquer evidência de transmissão sexual, até o momento. Jairo Méndez ressaltou a necessidade de profissionais de saúde estarem atentos aos sintomas para diferenciá-los de outras enfermidades – do sarampo a doenças alérgicas. “É necessário rastrear os contatos mesmo antes do diagnóstico e orientar as pessoas com as medidas de prevenção”, disse. “Não sabemos ainda se vamos ter casos importados, o nível de transmissão ou se a doença vai se expandir ainda mais. Por isso estamos nos preparando”, salientou.

Na parte da tarde do dia 9 e durante toda o dia 10, os técnicos latino-americanos participaram de intensa imersão em todo os detalhes do protocolo que precisa ser adotado nos laboratórios de referência designados para o diagnóstico do vírus monkeypox.

Capacitação é conduzida por profissionais do Laboratório de Enterovírus do Instituto Oswaldo Cruz. Foto: Max Gomes

O patógeno

Pertencente ao gênero Orthopoxvirus, que também compreende os patógenos responsáveis pelas varíolas humana e bovina, o MPXV foi descoberto em 1958, quando pesquisadores investigavam um surto infeccioso em macacos oriundos da África que estavam sendo estudados na Dinamarca. O patógeno até então desconhecido recebeu o nome de Monkeypoxvirus por ter sido encontrado em amostras desses primatas.

Posteriormente, cientistas verificaram que os macacos não participavam da dinâmica da infecção como animais reservatórios do vírus e que também eram afetados pelo patógeno assim como outros mamíferos. Ainda hoje não se sabe com exatidão as espécies reservatórias do MPXV, nem como sua circulação é mantida na natureza.

O primeiro caso humano de Monkeypox data de 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, a infecção em humanos vem sendo relatada principalmente em países das regiões Central e Ocidental da África, onde é endêmica.

Os sintomas da doença podem incluir inchaço dos gânglios linfáticos, aparecimento de lesões na pele, febre, fraqueza, além de dores intensas de cabeça e no corpo. A letalidade é estimada entre 1% e 10%, com quadros mais graves em crianças e pessoas com imunidade reduzida.

A transmissão do vírus de animais para pessoas pode ocorrer através da mordida ou arranhadura de um animal infectado, pelo manuseio de caça selvagem ou pelo uso de produtos feitos de animais infectados. A transmissão do vírus entre pessoas ocorre principalmente através do contato direto, seja por meio do beijo ou abraço, ou por feridas infecciosas, crostas ou fluidos corporais. Também pode haver transmissão por secreções respiratórias durante o contato pessoal prolongado.

Clique aqui e saiba mais sobre o vírus Monkeypox.

Edição: 
Vinicius Ferreira

Colaborou nesta pauta Cristina Azevedo (CCS/Fiocruz)
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)