O Brasil chegou ao fim de 2022 com um triste recorde: 1.016 brasileiros morreram por dengue, como informa o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. É o maior número de óbitos pela doença já registrado desde o início do relatório.
A alta de casos fatais, geralmente associados ao diagnóstico tardio da doença, pode ter relação com o desvio das atenções para mitigação da urgência em saúde provocada pela Covid-19.
“Se observarmos os dados que antecedem a pandemia, percebemos que, durante aumentos dos casos de dengue, a quantidade de óbitos ainda permanecia em menor proporção, visto que os pacientes eram diagnosticados mais rapidamente e, consequentemente, tratados de forma adequada”, destaca Denise Valle, do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
As manifestações clínicas iniciais da dengue são comuns e podem ser confundidas com outras doenças, incluindo a Covid-19: febre, dores de cabeça e no corpo, mal-estar e fraqueza. A semelhança de sintomas pode ter confundido tanto a população quanto os profissionais de saúde.
“A letalidade da dengue está associada à demora na identificação e no tratamento da doença. No último ano, ainda sob efeito da Covid-19, pacientes que estavam seguindo o isolamento social podem ter levado mais tempo para buscar assistência médica, e muitos podem ter recebido diagnóstico impreciso por conta da vigência de outra doença com sintomas parecidos”, comenta.
O mosquito Aedes aegypti. Foto: Josué DamacenaPor ser transmitida pelo Aedes aegypti (também vetor dos vírus chikungunya e Zika), a dengue tem seu número de casos gerais diretamente influenciado pela quantidade de mosquitos.
A pesquisadora Rafaela Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, lembra que nos últimos anos os cuidados de prevenção também ficaram em segundo plano.
“Diminuiu significativamente o número de campanhas de conscientização sobre o Aedes e, por isso, muitas pessoas esqueceram de vistoriar suas casas em busca de focos de água parada. Também, com o distanciamento social, agentes de endemias não estavam autorizados a visitar residências para ações de prevenção, fundamentais para relembrar moradores da importância de eliminar criadouros do mosquito”, ressalta.
Em 2022, foram registrados 1.450.270 de casos prováveis de dengue. Outros números que chamam atenção são os de casos prováveis de Chikungunya e Zika.
Houve acréscimo de 78,9% na contagem de casos de Chikungunya em 2022 quando comparada com a do mesmo período em 2021 – que já era maior em 32,7% que a do ano anterior. Nos casos de Zika, o aumento foi de 42%.
“Esses números podem diminuir a partir deste ano com as dinâmicas da sociedade se assemelhando ao período pré-pandêmico. Porém, isso apenas acontecerá se também recuperarmos nossas ações de conscientização acerca do Aedes aegypti”, afirma Rafaela.
Para impedir que o cenário de gravidade se repita em 2023, as pesquisadoras alertam para a importância de manter a regularidade nas campanhas de prevenção.
Conhecida da população brasileira, a campanha ‘10 Minutos Contra a Aedes’ – que há mais de uma década tem ajudado a direcionar os cuidados de prevenção – continua como a principal ferramenta para diminuir a incidência do mosquito.
“É uma campanha com mensagem simples e concreta, de fácil compreensão e execução. Desde 2009, quando foi lançada, ela tem sido nossa grande aliada para baixar drasticamente a infestação de mosquitos e, consequentemente, reduzir casos das doenças transmitidas por eles”, lembra Denise.
Guia de ação semanal presente na cartilha da campanha '10 Minutos Contra o Aedes'. Foo: ReproduçãoOs ‘10 Minutos Contra Aedes’ visa incentivar a população a dedicar pelo menos 10 minutos por semana para vistoriar suas residências em busca de possíveis criadouros do mosquito.
“Temos de recuperar a atenção que a prevenção contra o Aedes tinha e, para isso, precisamos da cooperação ativa dos multiplicadores de opinião, como líderes comunitários e jornalistas”, aponta Denise.
“Precisamos reverter a queda significativa na quantidade de campanhas públicas e inserções na mídia e voltar a ocupar espaços de comunicação para que a população seja relembrada das ações que devem ser tomadas contra o Aedes”, reforça Rafaela Bruno.
Conheça e compartilhe a cartilha dos ‘10 Minutos Contra o Aedes’.
O desenvolvimento do Aedes aegypti é acelerado em locais onde há calor e oferta de água parada. E a estação mais propícia para esse cenário é o verão – com altas temperaturas e frequentes pancadas de chuvas.
No início deste ano, algumas regiões do Brasil tiveram clima mais ameno que o esperado para a temporada, fato que pode retardar um pouco o ciclo do mosquito, que passa do ovo à fase adulta entre 7 e 10 dias. No entanto, o grande volume e frequência das chuvas contribuem para surgimento de novos criadouros.
“A fêmea do Aedes pode colocar até 1.500 ovos, espelhados por diversos locais. O clima mais fresco não nos dá motivo para relaxar”, alerta Denise.
A forma mais fácil de evitar casos de transmissão de doenças é interrompendo o ciclo de vida do mosquito em sua forma aquática (ovo, larva e pupa). Esta ação deve ser realizada semanalmente.
“Interromper esse processo ajuda a diminuir significativamente a incidência das doenças. É importante que todos nós separemos um dia na semana e por, pelo menos 10 minutinhos, procurar locais que podem ser criadouros dentro e ao redor de casa”, diz Rafaela.
Ovos do mosquito Aedes aegypti: uma única fêmea é capaz de gerar milhares de novos mosquitos. Foto: Josué DamacenaA principal recomendação é evitar que locais acumulem água. Como exemplos podem ser destacados vasos de plantas, bandejas de ar-condicionado, piscinas pouco utilizadas, toneis, baldes, garrafas recicláveis e lonas não esticadas.
“Podemos dizer que o Aedes é um mosquito doméstico, pois de cada dez criadouros, oito estão nas residências. Sendo assim, temos que olhar a casa com ‘olhos de mosquito’, porque nem sempre os criadouros estão nos lugares mais óbvios”, sinaliza Denise.
Os locais menos convencionais parar vistoriar e que são ótimos para o Aedes depositar seus ovos são calhas de chuva, ralos externos, vasilhas de animais e bandejas de geladeiras.
“É muito mais fácil eliminar ovos, pupas e larvas, que estão restritas a um ambiente físico, do que ir atrás do mosquito que voa”, destaca Denise.
No entanto, nem sempre é possível acabar com os recipientes que acumulam água parada.
“São vários cenários diferentes dentro do Brasil. Há populações que vivem em regiões com dificuldade no abastecimento de água, onde é necessário fazer estoque. Acúmulo de água e temperatura alta é tudo que a fêmea do Aedes deseja para depositar seus ovos”, pontua Rafaela.
A orientação, nesses casos mais específicos, é que os recipientes sejam devidamente vedados.
“Quando não se pode eliminar a água parada, é importante ficar ainda mais atento e vistoriar constantemente os recipientes. É importante que eles estejam tampados, ou protegidos com tela, impedindo que a fêmea do mosquito entre e deposite seus ovos ali”, afirma Rafaela.
A pesquisadora destaca também que, na hora de prevenir, a criatividade é uma aliada.
“Uma das nossas recomendações é que ralos sejam tampados com telas ou mosquiteiros. Porém, nem todas as pessoas têm acesso a esses materiais. Já vi residência que utilizou meia-calça como solução. Na hora de prevenir, qualquer ajuda é bem-vinda. Nessa situação, é importante verificar também com frequência se o tecido não está rasgado ou perfurado, e se a vedação está correta”, conta Rafaela.
Conheça formas de prevenir contra o Aedes aegypti.
O uso de repelentes é importante como forma de prevenção individual principalmente para gestantes, idosos e crianças – grupos considerados de risco para as doenças transmitidas pelo Aedes. Vale lembrar que a eficácia desses produtos depende de vários fatores, por isso é fundamental a leitura do rótulo da embalagem.
É importante destacar ainda que repelentes funcionam apenas quando aplicados no corpo e não têm eficácia se usados em objetos, roupas ou móveis.
“O uso de repelente não colabora para melhorar a situação geral e diminuir a quantidade de mosquitos, por isso deve ser considerado somente como ação complementar, não em substituição à eliminação dos criadouros”, frisa Denise.
Em destaque, mosquito Aedes aegypti, vetor de dengue, Zika e chikungunya. Ao fundo, pupas de Aedes, estágio anterior à fase alada do mosquito. Foto: Josué DamacenaO controle químico, com o uso de inseticidas e larvicidas, também não é o foco principal da prevenção. O método é igualmente recomendado como medida complementar e, nesse caso, deve ser ministrado exclusivamente pelo poder público.
“O Ministério da Saúde faz uso de inseticidas a partir de um planejamento rigoroso. Se toda a população decidir usá-los aleatoriamente, teremos perda de eficácia desses produtos, o que proporcionará o aumento de mosquitos resistentes”, alerta Denise.
“No começo eles podem até matar uma grande quantidade de insetos, porque a maior parte ainda será suscetível ao controle químico. No entanto, restarão os resistentes que darão origem a novos mosquitos, que também serão resistentes. Se isso acontecer, em pouco tempo, os inseticidas não funcionarão mais”, completa.
Desta forma, a medida mais eficiente continua sendo a eliminação de larvas e ovos.
“No método mecânico, estamos impedindo a evolução de todos os mosquitos, independentemente se ele é resistente ou não”, reitera a pesquisadora.
Apesar de afetar a população de modo geral, a incidência na transmissão de arboviroses muitas vezes está relacionada à urbanização descontrolada e à falta de acesso à direitos básicos como água e saneamento básico.
“O foco das ações de prevenção está no Aedes aegypti. Contudo, a culpa não é apenas do mosquito. Quando olhamos as nossas cidades, vemos diversas regiões sem abastecimento de água, saneamento básico e coleta regular de lixo. É preciso que o poder público resolva essas questões também, além de combater o mosquito”, salienta Denise.
A pesquisadora afirma que urbanização e melhores condições habitacionais têm contribuição significativa na redução de casos das doenças transmitidas pelo Aedes.
“Podemos surgir com várias técnicas inovadoras e soluções criativas para combater o Aedes, porém enquanto esses problemas sociais permanecerem, continuaremos encontrando dificuldade no enfrentamento ao mosquito. Além disso, condições precárias de moradia deixam as pessoas vulneráveis não só às arboviroses, como também a inúmeras outras doenças. A solução para a dengue, chikungunya e Zika envolve cidadania”, conclui Denise.
O Brasil chegou ao fim de 2022 com um triste recorde: 1.016 brasileiros morreram por dengue, como informa o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde. É o maior número de óbitos pela doença já registrado desde o início do relatório.
A alta de casos fatais, geralmente associados ao diagnóstico tardio da doença, pode ter relação com o desvio das atenções para mitigação da urgência em saúde provocada pela Covid-19.
“Se observarmos os dados que antecedem a pandemia, percebemos que, durante aumentos dos casos de dengue, a quantidade de óbitos ainda permanecia em menor proporção, visto que os pacientes eram diagnosticados mais rapidamente e, consequentemente, tratados de forma adequada”, destaca Denise Valle, do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).
As manifestações clínicas iniciais da dengue são comuns e podem ser confundidas com outras doenças, incluindo a Covid-19: febre, dores de cabeça e no corpo, mal-estar e fraqueza. A semelhança de sintomas pode ter confundido tanto a população quanto os profissionais de saúde.
“A letalidade da dengue está associada à demora na identificação e no tratamento da doença. No último ano, ainda sob efeito da Covid-19, pacientes que estavam seguindo o isolamento social podem ter levado mais tempo para buscar assistência médica, e muitos podem ter recebido diagnóstico impreciso por conta da vigência de outra doença com sintomas parecidos”, comenta.
O mosquito Aedes aegypti. Foto: Josué DamacenaPor ser transmitida pelo Aedes aegypti (também vetor dos vírus chikungunya e Zika), a dengue tem seu número de casos gerais diretamente influenciado pela quantidade de mosquitos.
A pesquisadora Rafaela Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC, lembra que nos últimos anos os cuidados de prevenção também ficaram em segundo plano.
“Diminuiu significativamente o número de campanhas de conscientização sobre o Aedes e, por isso, muitas pessoas esqueceram de vistoriar suas casas em busca de focos de água parada. Também, com o distanciamento social, agentes de endemias não estavam autorizados a visitar residências para ações de prevenção, fundamentais para relembrar moradores da importância de eliminar criadouros do mosquito”, ressalta.
Em 2022, foram registrados 1.450.270 de casos prováveis de dengue. Outros números que chamam atenção são os de casos prováveis de Chikungunya e Zika.
Houve acréscimo de 78,9% na contagem de casos de Chikungunya em 2022 quando comparada com a do mesmo período em 2021 – que já era maior em 32,7% que a do ano anterior. Nos casos de Zika, o aumento foi de 42%.
“Esses números podem diminuir a partir deste ano com as dinâmicas da sociedade se assemelhando ao período pré-pandêmico. Porém, isso apenas acontecerá se também recuperarmos nossas ações de conscientização acerca do Aedes aegypti”, afirma Rafaela.
Para impedir que o cenário de gravidade se repita em 2023, as pesquisadoras alertam para a importância de manter a regularidade nas campanhas de prevenção.
Conhecida da população brasileira, a campanha ‘10 Minutos Contra a Aedes’ – que há mais de uma década tem ajudado a direcionar os cuidados de prevenção – continua como a principal ferramenta para diminuir a incidência do mosquito.
“É uma campanha com mensagem simples e concreta, de fácil compreensão e execução. Desde 2009, quando foi lançada, ela tem sido nossa grande aliada para baixar drasticamente a infestação de mosquitos e, consequentemente, reduzir casos das doenças transmitidas por eles”, lembra Denise.
Guia de ação semanal presente na cartilha da campanha '10 Minutos Contra o Aedes'. Foo: ReproduçãoOs ‘10 Minutos Contra Aedes’ visa incentivar a população a dedicar pelo menos 10 minutos por semana para vistoriar suas residências em busca de possíveis criadouros do mosquito.
“Temos de recuperar a atenção que a prevenção contra o Aedes tinha e, para isso, precisamos da cooperação ativa dos multiplicadores de opinião, como líderes comunitários e jornalistas”, aponta Denise.
“Precisamos reverter a queda significativa na quantidade de campanhas públicas e inserções na mídia e voltar a ocupar espaços de comunicação para que a população seja relembrada das ações que devem ser tomadas contra o Aedes”, reforça Rafaela Bruno.
Conheça e compartilhe a cartilha dos ‘10 Minutos Contra o Aedes’.
O desenvolvimento do Aedes aegypti é acelerado em locais onde há calor e oferta de água parada. E a estação mais propícia para esse cenário é o verão – com altas temperaturas e frequentes pancadas de chuvas.
No início deste ano, algumas regiões do Brasil tiveram clima mais ameno que o esperado para a temporada, fato que pode retardar um pouco o ciclo do mosquito, que passa do ovo à fase adulta entre 7 e 10 dias. No entanto, o grande volume e frequência das chuvas contribuem para surgimento de novos criadouros.
“A fêmea do Aedes pode colocar até 1.500 ovos, espelhados por diversos locais. O clima mais fresco não nos dá motivo para relaxar”, alerta Denise.
A forma mais fácil de evitar casos de transmissão de doenças é interrompendo o ciclo de vida do mosquito em sua forma aquática (ovo, larva e pupa). Esta ação deve ser realizada semanalmente.
“Interromper esse processo ajuda a diminuir significativamente a incidência das doenças. É importante que todos nós separemos um dia na semana e por, pelo menos 10 minutinhos, procurar locais que podem ser criadouros dentro e ao redor de casa”, diz Rafaela.
Ovos do mosquito Aedes aegypti: uma única fêmea é capaz de gerar milhares de novos mosquitos. Foto: Josué DamacenaA principal recomendação é evitar que locais acumulem água. Como exemplos podem ser destacados vasos de plantas, bandejas de ar-condicionado, piscinas pouco utilizadas, toneis, baldes, garrafas recicláveis e lonas não esticadas.
“Podemos dizer que o Aedes é um mosquito doméstico, pois de cada dez criadouros, oito estão nas residências. Sendo assim, temos que olhar a casa com ‘olhos de mosquito’, porque nem sempre os criadouros estão nos lugares mais óbvios”, sinaliza Denise.
Os locais menos convencionais parar vistoriar e que são ótimos para o Aedes depositar seus ovos são calhas de chuva, ralos externos, vasilhas de animais e bandejas de geladeiras.
“É muito mais fácil eliminar ovos, pupas e larvas, que estão restritas a um ambiente físico, do que ir atrás do mosquito que voa”, destaca Denise.
No entanto, nem sempre é possível acabar com os recipientes que acumulam água parada.
“São vários cenários diferentes dentro do Brasil. Há populações que vivem em regiões com dificuldade no abastecimento de água, onde é necessário fazer estoque. Acúmulo de água e temperatura alta é tudo que a fêmea do Aedes deseja para depositar seus ovos”, pontua Rafaela.
A orientação, nesses casos mais específicos, é que os recipientes sejam devidamente vedados.
“Quando não se pode eliminar a água parada, é importante ficar ainda mais atento e vistoriar constantemente os recipientes. É importante que eles estejam tampados, ou protegidos com tela, impedindo que a fêmea do mosquito entre e deposite seus ovos ali”, afirma Rafaela.
A pesquisadora destaca também que, na hora de prevenir, a criatividade é uma aliada.
“Uma das nossas recomendações é que ralos sejam tampados com telas ou mosquiteiros. Porém, nem todas as pessoas têm acesso a esses materiais. Já vi residência que utilizou meia-calça como solução. Na hora de prevenir, qualquer ajuda é bem-vinda. Nessa situação, é importante verificar também com frequência se o tecido não está rasgado ou perfurado, e se a vedação está correta”, conta Rafaela.
Conheça formas de prevenir contra o Aedes aegypti.
O uso de repelentes é importante como forma de prevenção individual principalmente para gestantes, idosos e crianças – grupos considerados de risco para as doenças transmitidas pelo Aedes. Vale lembrar que a eficácia desses produtos depende de vários fatores, por isso é fundamental a leitura do rótulo da embalagem.
É importante destacar ainda que repelentes funcionam apenas quando aplicados no corpo e não têm eficácia se usados em objetos, roupas ou móveis.
“O uso de repelente não colabora para melhorar a situação geral e diminuir a quantidade de mosquitos, por isso deve ser considerado somente como ação complementar, não em substituição à eliminação dos criadouros”, frisa Denise.
Em destaque, mosquito Aedes aegypti, vetor de dengue, Zika e chikungunya. Ao fundo, pupas de Aedes, estágio anterior à fase alada do mosquito. Foto: Josué DamacenaO controle químico, com o uso de inseticidas e larvicidas, também não é o foco principal da prevenção. O método é igualmente recomendado como medida complementar e, nesse caso, deve ser ministrado exclusivamente pelo poder público.
“O Ministério da Saúde faz uso de inseticidas a partir de um planejamento rigoroso. Se toda a população decidir usá-los aleatoriamente, teremos perda de eficácia desses produtos, o que proporcionará o aumento de mosquitos resistentes”, alerta Denise.
“No começo eles podem até matar uma grande quantidade de insetos, porque a maior parte ainda será suscetível ao controle químico. No entanto, restarão os resistentes que darão origem a novos mosquitos, que também serão resistentes. Se isso acontecer, em pouco tempo, os inseticidas não funcionarão mais”, completa.
Desta forma, a medida mais eficiente continua sendo a eliminação de larvas e ovos.
“No método mecânico, estamos impedindo a evolução de todos os mosquitos, independentemente se ele é resistente ou não”, reitera a pesquisadora.
Apesar de afetar a população de modo geral, a incidência na transmissão de arboviroses muitas vezes está relacionada à urbanização descontrolada e à falta de acesso à direitos básicos como água e saneamento básico.
“O foco das ações de prevenção está no Aedes aegypti. Contudo, a culpa não é apenas do mosquito. Quando olhamos as nossas cidades, vemos diversas regiões sem abastecimento de água, saneamento básico e coleta regular de lixo. É preciso que o poder público resolva essas questões também, além de combater o mosquito”, salienta Denise.
A pesquisadora afirma que urbanização e melhores condições habitacionais têm contribuição significativa na redução de casos das doenças transmitidas pelo Aedes.
“Podemos surgir com várias técnicas inovadoras e soluções criativas para combater o Aedes, porém enquanto esses problemas sociais permanecerem, continuaremos encontrando dificuldade no enfrentamento ao mosquito. Além disso, condições precárias de moradia deixam as pessoas vulneráveis não só às arboviroses, como também a inúmeras outras doenças. A solução para a dengue, chikungunya e Zika envolve cidadania”, conclui Denise.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)