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Modernização e internacionalização marcam centenário da revista Memórias do IOC

Publicação, destaque no cenário latino-americano, completa 100 anos apostando em política editorial ousada para continuar crescendo
Por Jornalismo IOC16/04/2009 - Atualizado em 06/07/2021

Há um século, o Brasil enfrentava diversas epidemias. Nossos pesquisadores produziam estudos pioneiros no mundo, descobrindo doenças, identificando vetores, descrevendo agentes patológicos. No entanto, faltavam veículos brasileiros e latino-americanos de alto padrão de impressão e regularidade onde pudessem publicar o conhecimento gerado. Foi neste contexto que nasceu a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, editada desde 1909 pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Ao completar 100 anos, o periódico científico mais antigo da América Latina possui um dos maiores fatores de impacto do país na área biomédica e persiste em seu pioneirismo, apostando na modernização e internacionalização para continuar entre as publicações mais importantes do mundo na área, sem abrir mão da gratuidade do acesso a seu conteúdo.

Ao completar 100 anos, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz são um registro importante da história da ciência no Brasil e ainda ocupam lugar de destaque entre os principais periódicos de divulgação científica da América Latina e do mundo. Foto: Gutemberg Brito

As Memórias completam o centenário saboreando aquele que talvez seja o melhor momento de sua história. A publicação experimenta um crescimento sólido e constante do número de artigos submetidos - foram 607 só em 2008 - e de sua influência. Foi reconhecida pelo Institute for Scientific Information (ISI) como o periódico científico de maior fator de impacto na América Latina em 2006 e o segundo maior em 2007. O índice é uma proporção entre o número de citações aos artigos de uma publicação em determinado ano, tendo como base os periódicos indexados pelo ISI, e o número de trabalhos publicados pela revista nos dois anos anteriores. 

Segundo o editor da publicação, Ricardo Lourenço de Oliveira, o segredo para o sucesso atual das Memórias foi a combinação de uma política editorial agressiva com um processo de atualização continuada. “Procuramos manter a revista alinhada com as tendências mais modernas das publicações da área, elevando o nível de exigência para os artigos publicados e estimulando a maior participação de pesquisadores de ponta do Brasil e do exterior”, explica Lourenço. “Tudo isso sem perder, é claro, as características originais do periódico e seu compromisso com a divulgação da pesquisa biomédica, em especial na área de medicina tropical.”

Modernização após o massacre

A revista sofreu os desdobramentos do período da repressão política e chegou a ter a circulação suspensa durante seis anos. De certa forma, a revista foi mais uma vítima do episódio que ficou conhecido como Massacre de Manguinhos, na década de 70, quando pesquisadores mais destacados em seus campos de atuação no Instituto Oswaldo Cruz foram cassados pelo governo militar e impedidos de exercer atividades de ensino e pesquisa. Sofrendo também com a falta de recursos, a publicação só foi retomada em 1980, quando voltou a apresentar periodicidade e a incorporar as modernizações que a levariam de volta ao seu lugar como uma das mais importantes revistas científicas da América Latina.

O primeiro e histórico número das Memórias do IOC, de 1909, e seu centésimo volume, publicado em 2005. Vários dos maiores nomes da ciência brasileira e mundial fazem parte da história da revista. Foto: Setor de Produção e Tratamento de Imagem/IOC

O processo de modernização logo foi alavancado. “Depois da interrupção de circulação, a revista foi retomada e, ainda na década de 1980, passou a ser indexada internacionalmente”, conta o editor. “Na década seguinte, a publicação foi digitalizada, passando a disponibilizar gratuitamente seu conteúdo na internet, e passou a publicar artigos essencialmente em inglês, passos decisivos para torná-la mais acessível a pesquisadores de todo o mundo e para o aumento da sua relevância no meio científico.”

Os anos 2000 trouxeram uma série de novidades, que possibilitaram um salto no fator de impacto da revista. Uma das mais importantes foi a adoção de um processo de submissão online dos artigos, decisão fundamental para a internacionalização da revista. “A partir do início de 2007, todos os trabalhos passaram a ser submetidos para publicação via internet, o que aumentou a agilidade e o grau de transparência do processo, especialmente para autores de fora do Brasil”, comemora Lourenço.

No ano passado, a revista passou a disponibilizar seu acervo centenário online, para download gratuito. “Isso facilitou o acesso a todos os artigos já publicados nas Memórias, alguns deles verdadeiros marcos para a ciência”, afirma o editor. “Nossos artigos passaram, ainda, a contar com o DOI, um sistema internacional de identificação de artigos científicos, que garante a existência e a publicação do artigo em questão, o que dá ainda mais seriedade e confiabilidade ao periódico.”

 Documento registra história da ciência brasileira

O mais antigo livro-tombo das Memórias do IOC registra todos os trabalhos submetidos e publicados na revista entre as décadas de 1920 e 1980 . Foto: Gutemberg Brito

Todas essas inovações tecnológicas fazem parte da política editorial adotada gradativamente nas últimas décadas. Com o objetivo de aumentar a qualidade e a originalidade dos artigos publicados, hoje a revista possui cinco editores associados, todos pesquisadores do IOC, e um Conselho Editorial formado por 20 membros do IOC e de outras instituições brasileiras e estrangeiras. Os editores associados realizam uma pré-avaliação dos trabalhos, antes que os mesmos sejam enviados para consultores ad-hoc, responsáveis por sugerir alterações no material. “Temos procurado qualificar cada vez mais os membros do Conselho e nossos consultores, convidando membros destacados da comunidade científica internacional, com uma produção recente de alta qualidade nos temas em questão”, revela o editor. Hoje, 60% dos conselheiros e grande parte dos colaboradores são pesquisadores estrangeiros, expoentes em suas áreas de estudo.
 
A longevidade da revista é um marco importante para a própria ciência brasileira, segundo o editor. “No Brasil ainda existem poucas instituições centenárias e essa marca representa a consolidação, no país, de uma comunicação científica comprometida com o desenvolvimento da ciência e a democratização do conhecimento”, acredita.

As muitas conquistas do centenário, no entanto, não escondem os novos desafios que se apresentam para o futuro das Memórias e de outras publicações nacionais similares. “O Brasil realiza pesquisa de alta qualidade na área biomédica, mas nossas revistas ainda não têm um fator de impacto compatível. O desafio dos periódicos científicos brasileiros é elevar esse índice”, argumenta Lourenço. “Para isso, é preciso convencer autores nacionais e estrangeiros a publicar em revistas brasileiras, o que passa, sem dúvida, pela internacionalização, modernização e adoção de todos os possíveis indexadores internacionais em nossos periódicos.”

Testemunha da história da ciência brasileira

Fundada por Oswaldo Cruz, que também foi o primeiro a assumir funções de editor da revista, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz completa 100 anos com uma trajetória de grande relevância para a pesquisa brasileira e mundial. “Ao longo do último século são incontáveis as contribuições dos estudos publicados no periódico para as áreas como parasitologia, microbiologia e medicina tropical”, destaca o editor da revista. “Muito do que se sabe hoje sobre doenças como dengue, febre amarela, doença de Chagas, leishmaniose, malária, tuberculose e Aids está de alguma forma registrado nas Memórias.”

Antes que a revista fosse criada, pesquisadores como o próprio Oswaldo Cruz já produziam estudos importantes sobre diversas doenças. Esses artigos eram publicados, na época, nos jornais de circulação diária ou em periódicos que até tinham alguma vocação científica, mas eram publicados como jornais, em papel de baixa qualidade, formato tablóide e com poucas possibilidades de divulgação de figuras coloridas. A principal motivação de Oswaldo Cruz ao conceber as Memórias foi de criar um periódico de alto nível para abrigar e divulgar a enorme quantidade de conhecimento científico que estava sendo gerada no Brasil, em especial dentro do próprio Instituto Oswaldo Cruz. Os primeiros volumes eram publicações bilíngues, em português e, geralmente, alemão, apesar de alguns terem sido traduzidos para o inglês ou para o francês. Hoje, em um esforço para sua internacionalização, as Memórias publica todo seu conteúdo em inglês, com gramática e vocabulário revisados por especialistas, seguindo o mesmo procedimento adotado por outras revistas internacionais.

Além de suas importantes contribuições científicas, a revista faz parte da memória da ciência brasileira. “Em suas páginas foram publicados artigos históricos e pioneiros de diversos pesquisadores como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Gaspar Vianna e Emmanuel Dias, por exemplo, que até hoje são referência para pesquisas do mundo todo”, lembra o editor. “Muitas das mais importantes ilustrações científicas da história da ciência brasileira também fazem parte de nosso acervo, pois Oswaldo Cruz contratou grandes ilustradores do início do século XX para trabalhar em parceria com os pesquisadores do Instituto, sempre com o objetivo de produzir uma publicação de grande qualidade.”

*Reportagem: Marcelo Garcia

Publicação, destaque no cenário latino-americano, completa 100 anos apostando em política editorial ousada para continuar crescendo
Por: 
jornalismo

Há um século, o Brasil enfrentava diversas epidemias. Nossos pesquisadores produziam estudos pioneiros no mundo, descobrindo doenças, identificando vetores, descrevendo agentes patológicos. No entanto, faltavam veículos brasileiros e latino-americanos de alto padrão de impressão e regularidade onde pudessem publicar o conhecimento gerado. Foi neste contexto que nasceu a revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, editada desde 1909 pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz). Ao completar 100 anos, o periódico científico mais antigo da América Latina possui um dos maiores fatores de impacto do país na área biomédica e persiste em seu pioneirismo, apostando na modernização e internacionalização para continuar entre as publicações mais importantes do mundo na área, sem abrir mão da gratuidade do acesso a seu conteúdo.

Ao completar 100 anos, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz são um registro importante da história da ciência no Brasil e ainda ocupam lugar de destaque entre os principais periódicos de divulgação científica da América Latina e do mundo. Foto: Gutemberg Brito

As Memórias completam o centenário saboreando aquele que talvez seja o melhor momento de sua história. A publicação experimenta um crescimento sólido e constante do número de artigos submetidos - foram 607 só em 2008 - e de sua influência. Foi reconhecida pelo Institute for Scientific Information (ISI) como o periódico científico de maior fator de impacto na América Latina em 2006 e o segundo maior em 2007. O índice é uma proporção entre o número de citações aos artigos de uma publicação em determinado ano, tendo como base os periódicos indexados pelo ISI, e o número de trabalhos publicados pela revista nos dois anos anteriores. 

Segundo o editor da publicação, Ricardo Lourenço de Oliveira, o segredo para o sucesso atual das Memórias foi a combinação de uma política editorial agressiva com um processo de atualização continuada. “Procuramos manter a revista alinhada com as tendências mais modernas das publicações da área, elevando o nível de exigência para os artigos publicados e estimulando a maior participação de pesquisadores de ponta do Brasil e do exterior”, explica Lourenço. “Tudo isso sem perder, é claro, as características originais do periódico e seu compromisso com a divulgação da pesquisa biomédica, em especial na área de medicina tropical.”

Modernização após o massacre

A revista sofreu os desdobramentos do período da repressão política e chegou a ter a circulação suspensa durante seis anos. De certa forma, a revista foi mais uma vítima do episódio que ficou conhecido como Massacre de Manguinhos, na década de 70, quando pesquisadores mais destacados em seus campos de atuação no Instituto Oswaldo Cruz foram cassados pelo governo militar e impedidos de exercer atividades de ensino e pesquisa. Sofrendo também com a falta de recursos, a publicação só foi retomada em 1980, quando voltou a apresentar periodicidade e a incorporar as modernizações que a levariam de volta ao seu lugar como uma das mais importantes revistas científicas da América Latina.

O primeiro e histórico número das Memórias do IOC, de 1909, e seu centésimo volume, publicado em 2005. Vários dos maiores nomes da ciência brasileira e mundial fazem parte da história da revista. Foto: Setor de Produção e Tratamento de Imagem/IOC

O processo de modernização logo foi alavancado. “Depois da interrupção de circulação, a revista foi retomada e, ainda na década de 1980, passou a ser indexada internacionalmente”, conta o editor. “Na década seguinte, a publicação foi digitalizada, passando a disponibilizar gratuitamente seu conteúdo na internet, e passou a publicar artigos essencialmente em inglês, passos decisivos para torná-la mais acessível a pesquisadores de todo o mundo e para o aumento da sua relevância no meio científico.”

Os anos 2000 trouxeram uma série de novidades, que possibilitaram um salto no fator de impacto da revista. Uma das mais importantes foi a adoção de um processo de submissão online dos artigos, decisão fundamental para a internacionalização da revista. “A partir do início de 2007, todos os trabalhos passaram a ser submetidos para publicação via internet, o que aumentou a agilidade e o grau de transparência do processo, especialmente para autores de fora do Brasil”, comemora Lourenço.

No ano passado, a revista passou a disponibilizar seu acervo centenário online, para download gratuito. “Isso facilitou o acesso a todos os artigos já publicados nas Memórias, alguns deles verdadeiros marcos para a ciência”, afirma o editor. “Nossos artigos passaram, ainda, a contar com o DOI, um sistema internacional de identificação de artigos científicos, que garante a existência e a publicação do artigo em questão, o que dá ainda mais seriedade e confiabilidade ao periódico.”

 Documento registra história da ciência brasileira

O mais antigo livro-tombo das Memórias do IOC registra todos os trabalhos submetidos e publicados na revista entre as décadas de 1920 e 1980 . Foto: Gutemberg Brito

Todas essas inovações tecnológicas fazem parte da política editorial adotada gradativamente nas últimas décadas. Com o objetivo de aumentar a qualidade e a originalidade dos artigos publicados, hoje a revista possui cinco editores associados, todos pesquisadores do IOC, e um Conselho Editorial formado por 20 membros do IOC e de outras instituições brasileiras e estrangeiras. Os editores associados realizam uma pré-avaliação dos trabalhos, antes que os mesmos sejam enviados para consultores ad-hoc, responsáveis por sugerir alterações no material. “Temos procurado qualificar cada vez mais os membros do Conselho e nossos consultores, convidando membros destacados da comunidade científica internacional, com uma produção recente de alta qualidade nos temas em questão”, revela o editor. Hoje, 60% dos conselheiros e grande parte dos colaboradores são pesquisadores estrangeiros, expoentes em suas áreas de estudo.
 
A longevidade da revista é um marco importante para a própria ciência brasileira, segundo o editor. “No Brasil ainda existem poucas instituições centenárias e essa marca representa a consolidação, no país, de uma comunicação científica comprometida com o desenvolvimento da ciência e a democratização do conhecimento”, acredita.

As muitas conquistas do centenário, no entanto, não escondem os novos desafios que se apresentam para o futuro das Memórias e de outras publicações nacionais similares. “O Brasil realiza pesquisa de alta qualidade na área biomédica, mas nossas revistas ainda não têm um fator de impacto compatível. O desafio dos periódicos científicos brasileiros é elevar esse índice”, argumenta Lourenço. “Para isso, é preciso convencer autores nacionais e estrangeiros a publicar em revistas brasileiras, o que passa, sem dúvida, pela internacionalização, modernização e adoção de todos os possíveis indexadores internacionais em nossos periódicos.”

Testemunha da história da ciência brasileira

Fundada por Oswaldo Cruz, que também foi o primeiro a assumir funções de editor da revista, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz completa 100 anos com uma trajetória de grande relevância para a pesquisa brasileira e mundial. “Ao longo do último século são incontáveis as contribuições dos estudos publicados no periódico para as áreas como parasitologia, microbiologia e medicina tropical”, destaca o editor da revista. “Muito do que se sabe hoje sobre doenças como dengue, febre amarela, doença de Chagas, leishmaniose, malária, tuberculose e Aids está de alguma forma registrado nas Memórias.”

Antes que a revista fosse criada, pesquisadores como o próprio Oswaldo Cruz já produziam estudos importantes sobre diversas doenças. Esses artigos eram publicados, na época, nos jornais de circulação diária ou em periódicos que até tinham alguma vocação científica, mas eram publicados como jornais, em papel de baixa qualidade, formato tablóide e com poucas possibilidades de divulgação de figuras coloridas. A principal motivação de Oswaldo Cruz ao conceber as Memórias foi de criar um periódico de alto nível para abrigar e divulgar a enorme quantidade de conhecimento científico que estava sendo gerada no Brasil, em especial dentro do próprio Instituto Oswaldo Cruz. Os primeiros volumes eram publicações bilíngues, em português e, geralmente, alemão, apesar de alguns terem sido traduzidos para o inglês ou para o francês. Hoje, em um esforço para sua internacionalização, as Memórias publica todo seu conteúdo em inglês, com gramática e vocabulário revisados por especialistas, seguindo o mesmo procedimento adotado por outras revistas internacionais.

Além de suas importantes contribuições científicas, a revista faz parte da memória da ciência brasileira. “Em suas páginas foram publicados artigos históricos e pioneiros de diversos pesquisadores como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Gaspar Vianna e Emmanuel Dias, por exemplo, que até hoje são referência para pesquisas do mundo todo”, lembra o editor. “Muitas das mais importantes ilustrações científicas da história da ciência brasileira também fazem parte de nosso acervo, pois Oswaldo Cruz contratou grandes ilustradores do início do século XX para trabalhar em parceria com os pesquisadores do Instituto, sempre com o objetivo de produzir uma publicação de grande qualidade.”

*Reportagem: Marcelo Garcia

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)