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Artigo aborda malária causada por Plasmodium vivax no Brasil

Trabalho publicado em homenagem ao malacologista Lobato Paraense foi apresentado durante comemoração do centenário da Societé de Pathologie Exotique, na França
Por Jornalismo IOC23/06/2008 - Atualizado em 10/12/2019

A transmissão, a clínica e a terapêutica da malária provocada por Plasmodium vivax no Brasil são tema de artigo () produzido por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Laboratório de Referência para a Malária na Região Extra-Amazônica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O trabalho – que é dedicado ao pesquisador mais antigo do IOC, o malacologista Wladimir Lobato Paraense, responsável pela descoberta do ciclo do parasito causador da malária fora das células sangüíneas – foi apresentado durante a comemoração do centernário da Societé de Patologie Exotique, na França, nos dias 20 e 21 de junho.

“É uma honra representar o IOC, o Brasil e o hemisfério Sul, que conta além de mim com um pesquisador da África, num evento desta magnitude, reunindo especialistas de todo o mundo. A ocasião é, sem dúvida, oportunidade ímpar para homenagear o malacologista Wladimir Lobato Paraense, pesquisador mais antigo do IOC e autor da descoberta do ciclo exoeritrocítico da malária, fundamental para a compreensão da patologia”, reconhece Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC e principal autor do trabalho, assinado também por Joseli de Oliveira-Ferreira, do mesmo laboratório, e Marcus Vinicius Guimarães Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.

Joseli de Oliveira Ferreira - Laboratório de Pesquisa em Malária/IOC 

 

 Imagens de estágios eritrócitos (em células sanguíneas) do parasito Plasmodium vivax.

A malária já enfrentou diferentes padrões epidemiológicos no Brasil e no mundo. O Programa Brasileiro de Controle de Endemias apresentou resultados eficientes na década de 1960, quando aplicou estratégias propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a erradicação da malária e atingiu os níveis mais baixos já registrados – 36.900 casos em todo o país. A partir de então, a prevalência voltou a crescer, chegando a 637.470 casos nacionais em 1999. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2006, 550.576 casos de malária foram confirmados em todo o país. “Essa flutuação se deve a uma série de fatores e entender esta dinâmica é fundamental para o enfrentamento da doença”, Ribeiro considera.

O artigo aponta importante mudança no perfil da doença, que no Brasil é provocada sobretudo por dois parasitos do mesmo gênero: Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax. Até os anos 1990, os dois agentes etiológicos registravam prevalência semelhante, sendo cada um responsável por cerca de 50% das infecções notificadas em território nacional. Durante a última década do século 20, porém, P. vivax assumiu a condição de principal agente etiológico da malária no país, sendo responsável, em 1999, por 82,4% dos casos, percentual que tem permanecido estável.

A redução da proporção de casos de malária por P. falciparum pode ser explicada pelo ciclo de vida do parasito, transmitido ao homem por mosquitos anofelinos que se tornam vetores ao picar uma pessoa que apresente, no sangue, a forma infectante e sexuada do parasito, conhecida como gametócito. A partir desta premissa, as medidas de controle que visam à interrupção da transmissão da doença operam a partir da prerrogativa de iniciar o tratamento antes que os gametócitos sejam encontrados no sangue do paciente e este se torne um transmissor em potencial da doença.

Gutemberg Brito 

 

 O pesquisador mais antigo do IOC, Lobato Paraense, autor da descoberta do ciclo do parasito causador da malária fora das células sangüíneas é homenageado durante as comemorações do centernário da Societé de Patologie Exotique, na França.

“Quando um paciente é infectado pelo P. falciparum, a estratégia é eficiente porque o ciclo sexuado do parasito, ou seja, o processo de amadurecimento dos gametócitos, acontece de oito a dez dias após a infecção – tempo suficiente para  realização do diagnóstico e do tratamento precoces da doença. O ciclo sexuado do P vivax, porém, é concluído mais rapidamente e as formas infectantes aparecem no sangue do paciente apenas dois ou três dias após a infecção”, Ribeiro explica. “O curto período de amadurecimento de gametócitos, neste caso, torna improvável a realização do diagnóstico e do tratamento antes que gametócitos apareçam na circulação, o que favorece a manutenção do paciente como uma fonte transmissora da doença. Daí a importância de diagnóstico precoce e tratamento imediato”, alerta. Em áreas não endêmicas, é importante que os médicos estejam atentos à possibilidade deste diagnóstico em pessoas que estiveram em regiões afetadas pela malária.

O artigo aponta que, por razão ainda desconhecida, quadros clínicos graves de malária têm sido provocados pela infecção por P vivax, tradicionalmente associada a casos de baixa morbidade. São manifestações clínicas incomuns, como edema pulmonar, insuficiência renal aguda, icterícia similar à provocada pela hepatite e trombocitopenia (baixo número de plaquetas), que pode induzir a ocorrência de hemorragias. “Começamos a perceber também uma possível resistência do P vivax às drogas utilizadas no tratamento específico para este tipo de malária – hipótese ainda cientificamente controversa, mas com evidências cada vez mais nítidas”, Ribeiro adianta. A resistência do P falciparum aos medicamentos disponíveis já é conhecida e seu monitoramento, rotina do Ministério da Saúde, é realizado a partir do acompanhamento continuado do paciente.

“O principal desafio é diagnosticar e tratar a malária o mais rapidamente possível, antes do amadurecimento das formas infectantes do parasito, para que possamos evitar ou reduzir sua transmissão, a ocorrência da doença e a evolução para quadros clínicos graves de malária provocada por P vivax, considerado hoje o principal agente etiológico da doença”, Ribeiro conclui. O artigo foi apresentado dia 20 de junho durante as comemorações do centenário da Societé de Pathologie Exotique, na França, e publicado pelo boletim da instituição.

Bel Levy

23/06/08

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Trabalho publicado em homenagem ao malacologista Lobato Paraense foi apresentado durante comemoração do centenário da Societé de Pathologie Exotique, na França
Por: 
jornalismo

A transmissão, a clínica e a terapêutica da malária provocada por Plasmodium vivax no Brasil são tema de artigo () produzido por pesquisadores do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e do Laboratório de Referência para a Malária na Região Extra-Amazônica da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O trabalho – que é dedicado ao pesquisador mais antigo do IOC, o malacologista Wladimir Lobato Paraense, responsável pela descoberta do ciclo do parasito causador da malária fora das células sangüíneas – foi apresentado durante a comemoração do centernário da Societé de Patologie Exotique, na França, nos dias 20 e 21 de junho.

“É uma honra representar o IOC, o Brasil e o hemisfério Sul, que conta além de mim com um pesquisador da África, num evento desta magnitude, reunindo especialistas de todo o mundo. A ocasião é, sem dúvida, oportunidade ímpar para homenagear o malacologista Wladimir Lobato Paraense, pesquisador mais antigo do IOC e autor da descoberta do ciclo exoeritrocítico da malária, fundamental para a compreensão da patologia”, reconhece Cláudio Tadeu Daniel-Ribeiro, chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do IOC e principal autor do trabalho, assinado também por Joseli de Oliveira-Ferreira, do mesmo laboratório, e Marcus Vinicius Guimarães Lacerda, da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.

Joseli de Oliveira Ferreira - Laboratório de Pesquisa em Malária/IOC 

 

 Imagens de estágios eritrócitos (em células sanguíneas) do parasito Plasmodium vivax.

A malária já enfrentou diferentes padrões epidemiológicos no Brasil e no mundo. O Programa Brasileiro de Controle de Endemias apresentou resultados eficientes na década de 1960, quando aplicou estratégias propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a erradicação da malária e atingiu os níveis mais baixos já registrados – 36.900 casos em todo o país. A partir de então, a prevalência voltou a crescer, chegando a 637.470 casos nacionais em 1999. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2006, 550.576 casos de malária foram confirmados em todo o país. “Essa flutuação se deve a uma série de fatores e entender esta dinâmica é fundamental para o enfrentamento da doença”, Ribeiro considera.

O artigo aponta importante mudança no perfil da doença, que no Brasil é provocada sobretudo por dois parasitos do mesmo gênero: Plasmodium falciparum e Plasmodium vivax. Até os anos 1990, os dois agentes etiológicos registravam prevalência semelhante, sendo cada um responsável por cerca de 50% das infecções notificadas em território nacional. Durante a última década do século 20, porém, P. vivax assumiu a condição de principal agente etiológico da malária no país, sendo responsável, em 1999, por 82,4% dos casos, percentual que tem permanecido estável.

A redução da proporção de casos de malária por P. falciparum pode ser explicada pelo ciclo de vida do parasito, transmitido ao homem por mosquitos anofelinos que se tornam vetores ao picar uma pessoa que apresente, no sangue, a forma infectante e sexuada do parasito, conhecida como gametócito. A partir desta premissa, as medidas de controle que visam à interrupção da transmissão da doença operam a partir da prerrogativa de iniciar o tratamento antes que os gametócitos sejam encontrados no sangue do paciente e este se torne um transmissor em potencial da doença.

Gutemberg Brito 

 

 O pesquisador mais antigo do IOC, Lobato Paraense, autor da descoberta do ciclo do parasito causador da malária fora das células sangüíneas é homenageado durante as comemorações do centernário da Societé de Patologie Exotique, na França.

“Quando um paciente é infectado pelo P. falciparum, a estratégia é eficiente porque o ciclo sexuado do parasito, ou seja, o processo de amadurecimento dos gametócitos, acontece de oito a dez dias após a infecção – tempo suficiente para  realização do diagnóstico e do tratamento precoces da doença. O ciclo sexuado do P vivax, porém, é concluído mais rapidamente e as formas infectantes aparecem no sangue do paciente apenas dois ou três dias após a infecção”, Ribeiro explica. “O curto período de amadurecimento de gametócitos, neste caso, torna improvável a realização do diagnóstico e do tratamento antes que gametócitos apareçam na circulação, o que favorece a manutenção do paciente como uma fonte transmissora da doença. Daí a importância de diagnóstico precoce e tratamento imediato”, alerta. Em áreas não endêmicas, é importante que os médicos estejam atentos à possibilidade deste diagnóstico em pessoas que estiveram em regiões afetadas pela malária.

O artigo aponta que, por razão ainda desconhecida, quadros clínicos graves de malária têm sido provocados pela infecção por P vivax, tradicionalmente associada a casos de baixa morbidade. São manifestações clínicas incomuns, como edema pulmonar, insuficiência renal aguda, icterícia similar à provocada pela hepatite e trombocitopenia (baixo número de plaquetas), que pode induzir a ocorrência de hemorragias. “Começamos a perceber também uma possível resistência do P vivax às drogas utilizadas no tratamento específico para este tipo de malária – hipótese ainda cientificamente controversa, mas com evidências cada vez mais nítidas”, Ribeiro adianta. A resistência do P falciparum aos medicamentos disponíveis já é conhecida e seu monitoramento, rotina do Ministério da Saúde, é realizado a partir do acompanhamento continuado do paciente.

“O principal desafio é diagnosticar e tratar a malária o mais rapidamente possível, antes do amadurecimento das formas infectantes do parasito, para que possamos evitar ou reduzir sua transmissão, a ocorrência da doença e a evolução para quadros clínicos graves de malária provocada por P vivax, considerado hoje o principal agente etiológico da doença”, Ribeiro conclui. O artigo foi apresentado dia 20 de junho durante as comemorações do centenário da Societé de Pathologie Exotique, na França, e publicado pelo boletim da instituição.

Bel Levy

23/06/08

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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)