O conteúdo desse portal pode ser acessível em Libras usando o VLibras
Portuguese English Spanish
Interface
Adjust the interface to make it easier to use for different conditions.
This renders the document in high contrast mode.
This renders the document as white on black
This can help those with trouble processing rapid screen movements.
This loads a font easier to read for people with dyslexia.

vw_cabecalho_novo

Busca Avançada
Você está aqui: Notícias » Artigo analisa efeitos tóxicos da exposição de gestantes a poluentes

Artigo analisa efeitos tóxicos da exposição de gestantes a poluentes

Estudo aponta danos na formação do sistema nervoso central de bebês
Por Maíra Menezes24/03/2025 - Atualizado em 26/03/2025

Um artigo de revisão liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) analisa evidências científicas sobre o impacto da exposição de gestantes a dois tipos de substâncias químicas, que podem prejudicar a formação do sistema nervoso central de bebês. 

Publicado na revista científica ‘Journal of Hazardous Materials’, o estudo foi realizado com parceria de cientistas da Universidade Internacional da Flórida e da Universidade de Miami, nos Estados Unidos. 

Utilizados em diversos processos industriais e presentes em produtos do dia a dia – como panelas antiaderentes, espumas de combate a incêndio, tecidos impermeáveis e antimanchas, embalagens de alimentos e inseticidas – as substâncias perfluoralquiladas e polifluoralquiladas (PFAS, na sigla em inglês) são chamadas de ‘químicos eternos’ por serem muito resistentes à degradação. 

Nos últimos anos, esses elementos se tornaram motivo de preocupação: as moléculas mais produzidas e mais estudadas desse grupo foram associadas a riscos graves para a saúde, o que levou a restrições de produção e uso de três desses compostos.  

Moléculas PFAS são utilizadas em diversos ramos industriais, incluindo, por exemplo, indústrias químicas e de equipamentos eletrônicos. Foto: Fabrice Duprez/Pixabay

Além das PFAS, o artigo aborda as bifenilas policloradas (PCBs, na sigla em inglês). No Brasil, o produto comercial mais conhecido com esse tipo de composto foi o ascarel, usado como fluido isolante em indústrias, transformadores elétricos, capacitores e sistemas hidráulicos, entre outras aplicações. 

Consideradas altamente tóxicas, as PCBs foram banidas em diversos países, inclusive no Brasil, que estabeleceu a proibição em 1981. Apesar disso, as moléculas permanecem no ambiente e ainda podem ser encontradas em equipamentos antigos. 

No artigo, os pesquisadores chamam atenção para a ampla disseminação de PFAS e PCBs no ambiente, com detecção em amostras de água e solo em diversos países, assim como em peixes, animais silvestres, laticínios e no corpo humano. 

“PFAS e PCBs são poluentes orgânicos persistentes, que podem ser transportados a longas distâncias pela água e pelo ar, se acumulam na natureza e nos organismos vivos. Por exemplo, já foram encontradas PCBs em ursos polares e há registros de PFAS no Ártico e na Antártica”, aponta a pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, Rachel Ann Hauser-Davis. 

Segundo os cientistas, os seres humanos são expostos de forma crônica a baixas doses desses compostos, por exemplo, através da água ou de alimentos contaminados. 

“Alguns estudos sugerem que essa exposição crônica pode causar danos, mas esse tipo de investigação ainda está em andamento. Por outro lado, pesquisas sobre exposição a níveis relativamente altos dessas substâncias, como ocorre com trabalhadores de algumas indústrias, mostram claramente os seus efeitos negativos”, explica a pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, Maria Carolina Peixoto Rodrigues. 

Panelas antiaderentes estão entre os produtos do dia a dia que pondem conter PFAS. Foto: IOC/Fiocruz

Entre os fatores que levaram às restrições de PCBs e de três compostos do grupo PFAS estão: risco de câncer, problemas de imunidade, disfunção hormonal, alterações de fertilidade e impacto no desenvolvimento fetal, entre outros. 

A revisão da literatura científica apontou que a exposição às substâncias durante a gestação tem sido consistentemente associada a efeitos adversos para o desenvolvimento do sistema nervoso central dos bebês.  

“As pesquisas indicam que PCBS e PFAS são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro, e podem provocar danos neurológicos ao feto por diferentes mecanismos”, aponta o pesquisador do Laboratório de Biologia Estrutural do IOC, Daniel Adesse.

Mecanismos biológicos 

A revisão da literatura científica foi realizada para compreender o estado atual do conhecimento, tendo em vista uma pesquisa recém-iniciada no IOC para investigar efeitos da exposição a poluentes orgânicos persistentes, através de experimentos em culturas de células e modelos experimentais. 

Os pesquisadores observam que, até o momento, os estudos sobre PFAS se concentraram principalmente nos três compostos que já estão sendo restritos, que são conhecidos pelas siglas PFOS, PFOA e PFHxS. 

“Há uma lacuna significativa na compreensão dos efeitos de outras substâncias desse grupo, que continuam sendo amplamente utilizadas”, salienta Rachel. 

Entre as pesquisas já publicadas estão estudos com seres humanos que apontaram correlação entre os níveis de exposição gestacional a esses poluentes e o risco de transtornos de neurodesenvolvimento, incluindo disfunção cognitiva, comportamento impulsivo, desatenção, ansiedade e depressão. 

“Esses trabalhos não podem confirmar relação de causalidade, mas mostram uma associação. Além disso, em laboratório, ensaios com animais e em culturas de células apresentam evidências sobre alterações provocadas por PFAS e PCBs que podem prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso”, diz Rachel. 

A alteração da barreira hematoencefálica é um dos processos destacados. Para proteger o cérebro, a parede dos vasos sanguíneos cerebrais forma uma barreira semipermeável altamente seletiva, que permite a passagem de células e moléculas necessárias para o órgão, mas bloqueia diversas substâncias presentes na corrente sanguínea.  

Os estudos indicam que PFAS e PCBs prejudicam a integridade dessa barreira, permitindo que as moléculas tóxicas cheguem aos neurônios e outras células cerebrais. 

“Alterações da barreira hematoencefálica estão associadas com diversos distúrbios neurológicos. É importante avançar em pesquisas sobre as consequências funcionais da perturbação causada por PFAS e PCBs e sobre os danos registrados em diferentes momentos da gestação”, pontua Maria Carolina. 

As pesquisas também indicam que os compostos podem prejudicar a proliferação, migração e diferenciação de neurônios, causar estresse oxidativo e inflamação do tecido cerebral. Alterações hormonais e da microbiota intestinal materna podem contribuir ainda para falhas na regulação do processo de desenvolvimento do sistema nervoso central dos bebês. 

Regulamentação 

Os pesquisadores destacam que a maior parte dos levantamentos sobre a contaminação ambiental e exposição humana a PFAS e PCBs foi realizada em países do hemisfério norte, com poucas informações disponíveis sobre o sul global. 

No Brasil, a proibição de comércio, produção e uso de PCBs está em vigor desde 1981 e a eliminação de equipamentos antigos contaminados foi determinada em lei de 2021, com prazos que podem chegar até 2028.  

Além disso, normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estabelecem limites para a contaminação por PCBs no solo, em diferentes fontes de água e em alimentos para consumo humano e animal. 

Em relação às PFAS, as restrições de produção e uso indicadas pela Convenção de Estocolmo para PFOS, PFOA e PFHxS foram ratificadas em leis brasileiras. No entanto, falta regulamentação para reduzir a exposição da população a compostos desse grupo. 

“No ano passado, os Estados Unidos estabeleceram limites para seis tipos de PFAS na água potável. A União Europeia tem uma diretiva que limita a quantidade total de PFAS na água para consumo humano. No Brasil, existe um projeto de lei em tramitação para regulamentação de PFAS, mas, até o momento, não temos monitoramento sistemático ou legislação em vigor sobre este tema”, afirma Daniel.  

Em alguns locais, restrições mais amplas às PFAS estão em discussão. Em 2021, o estado do Maine, nos Estados Unidos, aprovou uma legislação estabelecendo prazo até 2030 para banir os compostos. 

Desde 2023, a União Europeia avalia uma proposta apresentada por Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega para proibir PFAS em produtos de consumo. 

“É importante discutir a regulamentação mais adequada com base nas evidências disponíveis e avançar nas pesquisas, inclusive para tentar remediar a contaminação ambiental que já ocorreu, porque essas substâncias podem permanecer no ambiente por centenas de anos”, completa Rachel. 

Estudo aponta danos na formação do sistema nervoso central de bebês
Por: 
maira

Um artigo de revisão liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) analisa evidências científicas sobre o impacto da exposição de gestantes a dois tipos de substâncias químicas, que podem prejudicar a formação do sistema nervoso central de bebês. 

Publicado na revista científica ‘Journal of Hazardous Materials’, o estudo foi realizado com parceria de cientistas da Universidade Internacional da Flórida e da Universidade de Miami, nos Estados Unidos. 

Utilizados em diversos processos industriais e presentes em produtos do dia a dia – como panelas antiaderentes, espumas de combate a incêndio, tecidos impermeáveis e antimanchas, embalagens de alimentos e inseticidas – as substâncias perfluoralquiladas e polifluoralquiladas (PFAS, na sigla em inglês) são chamadas de ‘químicos eternos’ por serem muito resistentes à degradação. 

Nos últimos anos, esses elementos se tornaram motivo de preocupação: as moléculas mais produzidas e mais estudadas desse grupo foram associadas a riscos graves para a saúde, o que levou a restrições de produção e uso de três desses compostos.  

Moléculas PFAS são utilizadas em diversos ramos industriais, incluindo, por exemplo, indústrias químicas e de equipamentos eletrônicos. Foto: Fabrice Duprez/Pixabay

Além das PFAS, o artigo aborda as bifenilas policloradas (PCBs, na sigla em inglês). No Brasil, o produto comercial mais conhecido com esse tipo de composto foi o ascarel, usado como fluido isolante em indústrias, transformadores elétricos, capacitores e sistemas hidráulicos, entre outras aplicações. 

Consideradas altamente tóxicas, as PCBs foram banidas em diversos países, inclusive no Brasil, que estabeleceu a proibição em 1981. Apesar disso, as moléculas permanecem no ambiente e ainda podem ser encontradas em equipamentos antigos. 

No artigo, os pesquisadores chamam atenção para a ampla disseminação de PFAS e PCBs no ambiente, com detecção em amostras de água e solo em diversos países, assim como em peixes, animais silvestres, laticínios e no corpo humano. 

“PFAS e PCBs são poluentes orgânicos persistentes, que podem ser transportados a longas distâncias pela água e pelo ar, se acumulam na natureza e nos organismos vivos. Por exemplo, já foram encontradas PCBs em ursos polares e há registros de PFAS no Ártico e na Antártica”, aponta a pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC, Rachel Ann Hauser-Davis. 

Segundo os cientistas, os seres humanos são expostos de forma crônica a baixas doses desses compostos, por exemplo, através da água ou de alimentos contaminados. 

“Alguns estudos sugerem que essa exposição crônica pode causar danos, mas esse tipo de investigação ainda está em andamento. Por outro lado, pesquisas sobre exposição a níveis relativamente altos dessas substâncias, como ocorre com trabalhadores de algumas indústrias, mostram claramente os seus efeitos negativos”, explica a pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade e Saúde do IOC, Maria Carolina Peixoto Rodrigues. 

Panelas antiaderentes estão entre os produtos do dia a dia que pondem conter PFAS. Foto: IOC/Fiocruz

Entre os fatores que levaram às restrições de PCBs e de três compostos do grupo PFAS estão: risco de câncer, problemas de imunidade, disfunção hormonal, alterações de fertilidade e impacto no desenvolvimento fetal, entre outros. 

A revisão da literatura científica apontou que a exposição às substâncias durante a gestação tem sido consistentemente associada a efeitos adversos para o desenvolvimento do sistema nervoso central dos bebês.  

“As pesquisas indicam que PCBS e PFAS são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica, que protege o cérebro, e podem provocar danos neurológicos ao feto por diferentes mecanismos”, aponta o pesquisador do Laboratório de Biologia Estrutural do IOC, Daniel Adesse.

Mecanismos biológicos 

A revisão da literatura científica foi realizada para compreender o estado atual do conhecimento, tendo em vista uma pesquisa recém-iniciada no IOC para investigar efeitos da exposição a poluentes orgânicos persistentes, através de experimentos em culturas de células e modelos experimentais. 

Os pesquisadores observam que, até o momento, os estudos sobre PFAS se concentraram principalmente nos três compostos que já estão sendo restritos, que são conhecidos pelas siglas PFOS, PFOA e PFHxS. 

“Há uma lacuna significativa na compreensão dos efeitos de outras substâncias desse grupo, que continuam sendo amplamente utilizadas”, salienta Rachel. 

Entre as pesquisas já publicadas estão estudos com seres humanos que apontaram correlação entre os níveis de exposição gestacional a esses poluentes e o risco de transtornos de neurodesenvolvimento, incluindo disfunção cognitiva, comportamento impulsivo, desatenção, ansiedade e depressão. 

“Esses trabalhos não podem confirmar relação de causalidade, mas mostram uma associação. Além disso, em laboratório, ensaios com animais e em culturas de células apresentam evidências sobre alterações provocadas por PFAS e PCBs que podem prejudicar o desenvolvimento do sistema nervoso”, diz Rachel. 

A alteração da barreira hematoencefálica é um dos processos destacados. Para proteger o cérebro, a parede dos vasos sanguíneos cerebrais forma uma barreira semipermeável altamente seletiva, que permite a passagem de células e moléculas necessárias para o órgão, mas bloqueia diversas substâncias presentes na corrente sanguínea.  

Os estudos indicam que PFAS e PCBs prejudicam a integridade dessa barreira, permitindo que as moléculas tóxicas cheguem aos neurônios e outras células cerebrais. 

“Alterações da barreira hematoencefálica estão associadas com diversos distúrbios neurológicos. É importante avançar em pesquisas sobre as consequências funcionais da perturbação causada por PFAS e PCBs e sobre os danos registrados em diferentes momentos da gestação”, pontua Maria Carolina. 

As pesquisas também indicam que os compostos podem prejudicar a proliferação, migração e diferenciação de neurônios, causar estresse oxidativo e inflamação do tecido cerebral. Alterações hormonais e da microbiota intestinal materna podem contribuir ainda para falhas na regulação do processo de desenvolvimento do sistema nervoso central dos bebês. 

Regulamentação 

Os pesquisadores destacam que a maior parte dos levantamentos sobre a contaminação ambiental e exposição humana a PFAS e PCBs foi realizada em países do hemisfério norte, com poucas informações disponíveis sobre o sul global. 

No Brasil, a proibição de comércio, produção e uso de PCBs está em vigor desde 1981 e a eliminação de equipamentos antigos contaminados foi determinada em lei de 2021, com prazos que podem chegar até 2028.  

Além disso, normas do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) estabelecem limites para a contaminação por PCBs no solo, em diferentes fontes de água e em alimentos para consumo humano e animal. 

Em relação às PFAS, as restrições de produção e uso indicadas pela Convenção de Estocolmo para PFOS, PFOA e PFHxS foram ratificadas em leis brasileiras. No entanto, falta regulamentação para reduzir a exposição da população a compostos desse grupo. 

“No ano passado, os Estados Unidos estabeleceram limites para seis tipos de PFAS na água potável. A União Europeia tem uma diretiva que limita a quantidade total de PFAS na água para consumo humano. No Brasil, existe um projeto de lei em tramitação para regulamentação de PFAS, mas, até o momento, não temos monitoramento sistemático ou legislação em vigor sobre este tema”, afirma Daniel.  

Em alguns locais, restrições mais amplas às PFAS estão em discussão. Em 2021, o estado do Maine, nos Estados Unidos, aprovou uma legislação estabelecendo prazo até 2030 para banir os compostos. 

Desde 2023, a União Europeia avalia uma proposta apresentada por Alemanha, Holanda, Dinamarca, Suécia e Noruega para proibir PFAS em produtos de consumo. 

“É importante discutir a regulamentação mais adequada com base nas evidências disponíveis e avançar nas pesquisas, inclusive para tentar remediar a contaminação ambiental que já ocorreu, porque essas substâncias podem permanecer no ambiente por centenas de anos”, completa Rachel. 

Edição: 
Vinicius Ferreira

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)

Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.