O debate em torno do papel da ciência na sociedade atual abriu a programação da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) – edição 2020. Organizada pelos alunos de pós-graduação com o apoio da Vice-diretoria de Ensino, Informação e Comunicação (VDEIC/IOC), a iniciativa tem o objetivo de estimular a discussão em torno de assuntos que tangenciam a situação política dos pós-graduandos no IOC e no país. Entre os destaques da programação – que segue até sexta-feira (18/09) – estão o 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC, a Jornada Jovens Talentos e o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto. Devido ao distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde, as ações da Semana estão sendo realizadas remotamente e podem ser acompanhadas pelo Canal do IOC no YouTube. Confira a programação.
A cerimônia de abertura contou com a presença de José Paulo Gagliardi Leite, Marcelo Alves Pinto, João Paulo Sales, Maria Cristina Guilam e membros da Coordenação-Geral de Educação da Fiocruz. Foto: DivulgaçãoA cerimônia de abertura de um dos eventos mais tradicionais do Instituto aconteceu nesta segunda-feira, 14 de setembro. Na ocasião, o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, agradeceu a todos os estudantes e profissionais envolvidos na organização da Semana, que, segundo ele, acontece em um momento difícil para a humanidade. “A pandemia de Covid-19, cujas consequências ainda não são mensuráveis, traz um grande desafio para esta geração de futuros cientistas. E os interesses políticos e econômicos envolvidos interferem bastante neste processo. Portanto, precisamos continuar lutando para que as universidades brasileiras permaneçam prestando serviço de qualidade para a sociedade. Não podemos aceitar a contínua aniquilação das instituições científicas públicas”, declarou.
Para o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, o planejamento de um evento deste porte é complexo, pois envolvem fatores que vão desde a disponibilidade de um determinado palestrante até a estabilidade da rede de internet. “Incentivamos a todos os alunos que valorizem esse espaço e que participem ativamente das atividades, contribuindo para as discussões e ajudando a Diretoria a encontrar caminhos de sustentabilidade para a pesquisa e o ensino", salientou.
“Pensamos em como poderíamos realizar um evento tão tradicional no IOC tendo as pessoas distantes. A decisão de organizar esta edição online partiu da necessidade de celebrarmos as disciplinas que estão sendo ofertadas remotamente, e de apresentarmos nossos projetos e conquistas de uma forma diferente”, completou o representante discente dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC, João Paulo Sales.
Também presente à cerimônia, a coordenadora geral de Educação da Fiocruz, Maria Cristina Rodrigues Guilam, falou sobre o papel da Coordenação na busca por manter a conexão entre os estudantes e a Fundação mesmo durante a pandemia. “Após muita discussão interna – pois nossa preocupação era com quem não poderia participar das atividades de forma remota – decidimos manter as ações de educação. Essa decisão partiu de uma intensa interação com as coordenações de pós-graduação e os discentes, que culminou em medidas concretas como, por exemplo, a realização de uma pesquisa entre os estudantes, cujo resultado nos trouxe elementos para a criação do Programa de Inclusão Digital Fiocruz”, comentou Guilam, explicando que o Programa possibilita o empréstimo de tabletes e dados para acesso à internet a estudantes dos cursos da Fundação, para que os mesmos possam participar das atividades de ensino remotas.
O destaque do primeiro dia de atividades da Semana da Pós-graduação ficou por conta da palestra ‘O papel da ciência em nossa sociedade’, ministrada por Vinicius Carvalho da Silva, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Em sua fala de abertura, o também especialista em Filosofia da Ciência e Teoria do Conhecimento chamou atenção para o fato de que, na atual sociedade tecnocientífica – ou seja, aquela que depende da aplicação de conhecimentos informatizados para funcionar – cerca de 90% da população desconhece o fazer científico, mas vive a ciência em seu cotidiano. “Por mais básico que isso pareça, em um bate-papo sobre a importância da ciência para a sociedade, gosto de dizer que todo mundo usufrui das benesses tecnocientíficas. Nos dias de hoje, a importância da ciência na nossa sociedade é de nos manter vivos”, enfatizou.
Vinícius destacou que o primeiro passo para uma divulgação científica sem ser cientificista é começar a fazer uma autocrítica sobre as instituições de ensino superior. Foto: DivulgaçãoVinícius trouxe para o debate também a problematização em torno da divulgação científica esbarrando no cientificismo, concepção filosófica que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade. “O primeiro passo para fazer uma divulgação científica sem ser cientificista é começarmos a fazer uma autocrítica sobre as instituições de ensino superior, da nossa forma de produzir ciência. Precisamos comunicar que a ciência é um estilo de vida, uma atividade de produção de cosmos de visões, um modo de refletirmos sobre qual é o nosso lugar no mundo”, esclareceu.
Perguntado por um participante sobre como ele acredita que a pandemia de Covid-19 irá afetar a ciência mundial daqui para frente, o especialista afirmou que, de certo modo, a questão ainda é um pouco imprevisível, mas que algumas tendências podem ser apontadas. “Na minha visão, não penso que seja possível compreender as ciências ignorando o cenário geopolítico. Entender a ciência é prestar atenção no contexto político e social em que ela está inserida. Afinal, ciência é, sobretudo, pluralidade”.
Em relação à polarização política na questão do uso de drogas reposicionadas no tratamento da Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina, Vinícius ressaltou que existem controvérsias na comunidade científica o tempo todo. No entanto, o que não pode ser feito é pensar que porque existem controvérsias, nada é certo, tudo se resume a um eterno debate sem solução. “Existem objeções legítimas, que devem ser datadas. A controvérsia em torno da participação antropogênica no aquecimento global, por exemplo, foi real. Houve o debate e a comunidade chegou a um consenso. Hoje, questionar isso não cabe mais. Quanto a esses medicamentos, ainda não ocorreu um profundo debate em torno deles, portanto, não existe um consenso”, explicou.
O debate em torno do papel da ciência na sociedade atual abriu a programação da Semana da Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) – edição 2020. Organizada pelos alunos de pós-graduação com o apoio da Vice-diretoria de Ensino, Informação e Comunicação (VDEIC/IOC), a iniciativa tem o objetivo de estimular a discussão em torno de assuntos que tangenciam a situação política dos pós-graduandos no IOC e no país. Entre os destaques da programação – que segue até sexta-feira (18/09) – estão o 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC, a Jornada Jovens Talentos e o Prêmio Anual IOC de Teses Alexandre Peixoto. Devido ao distanciamento social recomendado pelas autoridades de saúde, as ações da Semana estão sendo realizadas remotamente e podem ser acompanhadas pelo Canal do IOC no YouTube. Confira a programação.
A cerimônia de abertura contou com a presença de José Paulo Gagliardi Leite, Marcelo Alves Pinto, João Paulo Sales, Maria Cristina Guilam e membros da Coordenação-Geral de Educação da Fiocruz. Foto: DivulgaçãoA cerimônia de abertura de um dos eventos mais tradicionais do Instituto aconteceu nesta segunda-feira, 14 de setembro. Na ocasião, o diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, agradeceu a todos os estudantes e profissionais envolvidos na organização da Semana, que, segundo ele, acontece em um momento difícil para a humanidade. “A pandemia de Covid-19, cujas consequências ainda não são mensuráveis, traz um grande desafio para esta geração de futuros cientistas. E os interesses políticos e econômicos envolvidos interferem bastante neste processo. Portanto, precisamos continuar lutando para que as universidades brasileiras permaneçam prestando serviço de qualidade para a sociedade. Não podemos aceitar a contínua aniquilação das instituições científicas públicas”, declarou.
Para o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, o planejamento de um evento deste porte é complexo, pois envolvem fatores que vão desde a disponibilidade de um determinado palestrante até a estabilidade da rede de internet. “Incentivamos a todos os alunos que valorizem esse espaço e que participem ativamente das atividades, contribuindo para as discussões e ajudando a Diretoria a encontrar caminhos de sustentabilidade para a pesquisa e o ensino", salientou.
“Pensamos em como poderíamos realizar um evento tão tradicional no IOC tendo as pessoas distantes. A decisão de organizar esta edição online partiu da necessidade de celebrarmos as disciplinas que estão sendo ofertadas remotamente, e de apresentarmos nossos projetos e conquistas de uma forma diferente”, completou o representante discente dos Programas de Pós-graduação Stricto sensu do IOC, João Paulo Sales.
Também presente à cerimônia, a coordenadora geral de Educação da Fiocruz, Maria Cristina Rodrigues Guilam, falou sobre o papel da Coordenação na busca por manter a conexão entre os estudantes e a Fundação mesmo durante a pandemia. “Após muita discussão interna – pois nossa preocupação era com quem não poderia participar das atividades de forma remota – decidimos manter as ações de educação. Essa decisão partiu de uma intensa interação com as coordenações de pós-graduação e os discentes, que culminou em medidas concretas como, por exemplo, a realização de uma pesquisa entre os estudantes, cujo resultado nos trouxe elementos para a criação do Programa de Inclusão Digital Fiocruz”, comentou Guilam, explicando que o Programa possibilita o empréstimo de tabletes e dados para acesso à internet a estudantes dos cursos da Fundação, para que os mesmos possam participar das atividades de ensino remotas.
O destaque do primeiro dia de atividades da Semana da Pós-graduação ficou por conta da palestra ‘O papel da ciência em nossa sociedade’, ministrada por Vinicius Carvalho da Silva, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Em sua fala de abertura, o também especialista em Filosofia da Ciência e Teoria do Conhecimento chamou atenção para o fato de que, na atual sociedade tecnocientífica – ou seja, aquela que depende da aplicação de conhecimentos informatizados para funcionar – cerca de 90% da população desconhece o fazer científico, mas vive a ciência em seu cotidiano. “Por mais básico que isso pareça, em um bate-papo sobre a importância da ciência para a sociedade, gosto de dizer que todo mundo usufrui das benesses tecnocientíficas. Nos dias de hoje, a importância da ciência na nossa sociedade é de nos manter vivos”, enfatizou.
Vinícius destacou que o primeiro passo para uma divulgação científica sem ser cientificista é começar a fazer uma autocrítica sobre as instituições de ensino superior. Foto: DivulgaçãoVinícius trouxe para o debate também a problematização em torno da divulgação científica esbarrando no cientificismo, concepção filosófica que afirma a superioridade da ciência sobre todas as outras formas de compreensão humana da realidade. “O primeiro passo para fazer uma divulgação científica sem ser cientificista é começarmos a fazer uma autocrítica sobre as instituições de ensino superior, da nossa forma de produzir ciência. Precisamos comunicar que a ciência é um estilo de vida, uma atividade de produção de cosmos de visões, um modo de refletirmos sobre qual é o nosso lugar no mundo”, esclareceu.
Perguntado por um participante sobre como ele acredita que a pandemia de Covid-19 irá afetar a ciência mundial daqui para frente, o especialista afirmou que, de certo modo, a questão ainda é um pouco imprevisível, mas que algumas tendências podem ser apontadas. “Na minha visão, não penso que seja possível compreender as ciências ignorando o cenário geopolítico. Entender a ciência é prestar atenção no contexto político e social em que ela está inserida. Afinal, ciência é, sobretudo, pluralidade”.
Em relação à polarização política na questão do uso de drogas reposicionadas no tratamento da Covid-19, como a cloroquina e a ivermectina, Vinícius ressaltou que existem controvérsias na comunidade científica o tempo todo. No entanto, o que não pode ser feito é pensar que porque existem controvérsias, nada é certo, tudo se resume a um eterno debate sem solução. “Existem objeções legítimas, que devem ser datadas. A controvérsia em torno da participação antropogênica no aquecimento global, por exemplo, foi real. Houve o debate e a comunidade chegou a um consenso. Hoje, questionar isso não cabe mais. Quanto a esses medicamentos, ainda não ocorreu um profundo debate em torno deles, portanto, não existe um consenso”, explicou.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)