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Ciência a favor do controle do Aedes aegypti

Informações sobre o comportamento, o ciclo de vida e os criadouros são fundamentais para eliminar o vetor da dengue
Por Raquel Aguiar18/04/2008 - Atualizado em 10/12/2019

O conhecimento sobre o Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus da dengue, foi tema do Centro de Estudos, tradicional encontro científico promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), na edição do dia 4 de abril. Os entomologistas Ricardo Lourenço e Rafael Freitas, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC, apresentaram os atuais conhecimentos da ciência sobre o assunto – muitos deles gerados no próprio Instituto – e discutiram as principais lacunas que ainda precisam ser preenchidas por novas pesquisas. Frente a todos os conhecimentos apresentados, os pesquisadores foram definitivos: eliminar os criadouros é a principal ferramenta para evitar ou minimizar a transmissão da dengue e, nesta tarefa, a população tem papel fundamental.

Ricardo Lourenço relata que o A. aegypti começou a ser estudado no Brasil ainda no início do século XX, quando o mosquito, também vetor de febre amarela, já representava um grande risco para a saúde pública. Após intenso esforço de controle, que levou a uma idéia de erradicação do vetor na década de 1950, o A. aegypti voltou a aparecer em terras brasileiras na década de 1970, associado a casos de dengue já no início dos anos 1980. “O A. aegypti só voltou a ocupar o centro das pesquisas na maior parte dos laboratórios há cerca de 15 ou 20 anos”, Ricardo destaca.

 Gutemberg Brito

 

 O entomologista Ricardo Lourenço, em primeiro plano, apresentou resultados de diversas pesquisas sobre o comportamento do vetor

O entomologista explica que, no estudo do A. aegypti, as investigações em campo são centrais. “As pesquisas desenvolvidas no Rio de Janeiro pelo Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC investigam dados como os criadouros preferenciais e tendências da dispersão espacial e densidade do vetor. As pesquisas são realizadas em campo, já que o comportamento do A. aegypti na natureza pode ser muito diferente daquele que observamos no ambiente controlado dos laboratórios. Nossos estudos procuram correlacionar o comportamento do vetor a condições sócio-econômicas, ambientais e demográficas de diferentes espaços urbanos”, o especialista resume. Para os estudos, foram escolhidas localidades com características bastante distintas: as comunidades do Amorim, em Manguinhos, e de Palmares, em Vargem Grande; os bairros de Olaria e Higienópolis, na Zona da Leopoldina; o bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador; e o bairro da Urca, na Zona Sul carioca.

Os principais criadouros, onde é encontrado o maior número de pupas, variam de acordo com a localidade estudada. “Em áreas mais pobres, especialmente onde não há distribuição regular de água, têm destaque os grandes depósitos de água, como tonéis e caixas d’água, que foram os criadouros mais produtivos localizados”, explica Rafael Freitas. Em contraste, em áreas de elevado padrão sócio-econômico, como na Urca, os ralos não vedados dentro das casas têm papel importante.

O pesquisador desmistificou a idéia de que o mosquito se reproduz em água suja. “Nós analisamos 30.238 formas imaturas do A. aegypti, entre larvas de diversos estágios e pupas. Apenas 3 larvas foram encontradas em bueiro. Isso representa 0,009% do total analisado. Estes dados indicam que, sem nenhuma dúvida, o A. aegypti tem preferência por criadouros com água limpa e que as ações de prevenção e controle devem ser direcionadas ao controle destes focos”, sintetiza.

 Gutemberg Brito

 

 O especialista Rafael Freitas discutiu as dificuldades e necessidades de avanço no trabalho de campo para pesquisa do A. aegypti

Outro mito desfeito pelas investigações científicas se refere ao papel das bromélias como criadouros do mosquito. “Nos bairros examinados, apenas 0,48% das formas imaturas foram encontras em bromélias. Isso indica que, no conjunto, as bromélias não são criadouros relevantes para o A. aegypti”, Rafael destaca. “É fundamental aplicar o conhecimento científico atualizado sobre o vetor nas ações de controle do A. aegypti”, completa.

As informações sobre a dispersão espacial do mosquito também são fundamentais para o controle do vetor. Para gerar dados sobre o assunto, durante período livre de transmissão, os pesquisadores trabalharam com mosquitos marcados e não infectados oriundos dos próprios bairros e depois foram a campo localizá-los, registrando o local onde foram capturados e a distância percorrida por cada um deles. Os mosquitos foram marcados com um tipo de substância (o cloreto de rubídio ou com pó fluorescente) que permitiu aos pesquisadores reconhecer exatamente aqueles experimentais dos demais.

Em todas as localidades estudadas, os dados mostram que o vôo do mosquito é orientado para espaços onde há concentração de grandes criadouros disponíveis para a colocação de ovos e acesso a alimento – no caso, a presença de pessoas, que a fêmea do A. aegypti pica para conseguir sangue, fundamental para a maturação dos ovos. Dentro do ambiente doméstico, os mosquitos adultos foram encontrados com freqüência em lugares como atrás de cortinas, em nichos de estantes e embaixo de mesas.

“Resultados recentes obtidos em campo mostram que existem diferenças na trajetória do vôo do mosquito segundo o local estudado, apontando mais uma vez que o comportamento do vetor está associado a fatores sócio-econômicos, ambientais e demográficos. Em geral, o inseto se dispersa mais onde há menor densidade populacional, porque nestas situações o mosquito precisa voar maiores distâncias até encontrar fontes de sangue para sua alimentação. Na comunidade do Amorim, que tem muitas casas próximas, os mosquitos voaram de 40 a 50m. Em Tubiacanga, um bairro que já não possui aglomeração humana tão intensa, a média de vôo foi de aproximadamente 100m, sendo a maior distancia verificada de 240m. Olaria, por sua vez, que não apresenta barreiras à dispersão do mosquito, como montanhas ou grandes avenidas, teve o maior afastamento do mosquito: foram encontrados mosquitos a até cerca de 700m do ponto inicial.” Ao mesmo tempo, os pesquisadores ressaltam, o A. aegypti não se distancia de ambientes urbanos para dentro das matas.

 Gutemberg Brito

 

 A platéia, lotada, contou com a presença de mais de 200 pessoas

A sobrevivência do A. aegypti também é importante para os estudos sobre o vetor, já que quanto maior o tempo de vida do mosquito, maior a possibilidade de transmitir o vírus da dengue. “A sobrevivência também foi influenciada pelas características sócio-econômicas, demográficas e ambientais do espaço urbano. Na Urca, tivemos as menores taxas de sobrevivência e, a maior, na comunidade do Amorim. Os dados indicam que o A. aegypti sobrevive maior tempo em locais com maior densidade demográfica”, resume.

Ricardo destaca um aspecto relevante: os A. aegypti existentes no Brasil são normalmente muito permissivos à infecção pelo vírus da dengue. “O vírus é encontrado em quase todos os tecidos do mosquito. Outro dado importante é que, mesmo nos períodos nos quais não ocorrem casos de dengue em humanos, as populações de A. aegypti matêm o vírus circulando na natureza de forma silenciosa, entre si e por várias gerações, já que as fêmeas infectadas podem transmitir o vírus para seus descendentes”, afirma. Os especialistas destacam, neste contexto, a necessidade de aprofundar as pesquisas sobre a interação do vetor com o vírus, investigando possíveis diferenças do comportamento do A. aegypti quando está infectado pelo vírus da dengue.

Marcelo Garcia e Raquel Aguiar
18/04/08

Informações sobre o comportamento, o ciclo de vida e os criadouros são fundamentais para eliminar o vetor da dengue
Por: 
raquel

O conhecimento sobre o Aedes aegypti, mosquito transmissor do vírus da dengue, foi tema do Centro de Estudos, tradicional encontro científico promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC), na edição do dia 4 de abril. Os entomologistas Ricardo Lourenço e Rafael Freitas, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC, apresentaram os atuais conhecimentos da ciência sobre o assunto – muitos deles gerados no próprio Instituto – e discutiram as principais lacunas que ainda precisam ser preenchidas por novas pesquisas. Frente a todos os conhecimentos apresentados, os pesquisadores foram definitivos: eliminar os criadouros é a principal ferramenta para evitar ou minimizar a transmissão da dengue e, nesta tarefa, a população tem papel fundamental.

Ricardo Lourenço relata que o A. aegypti começou a ser estudado no Brasil ainda no início do século XX, quando o mosquito, também vetor de febre amarela, já representava um grande risco para a saúde pública. Após intenso esforço de controle, que levou a uma idéia de erradicação do vetor na década de 1950, o A. aegypti voltou a aparecer em terras brasileiras na década de 1970, associado a casos de dengue já no início dos anos 1980. “O A. aegypti só voltou a ocupar o centro das pesquisas na maior parte dos laboratórios há cerca de 15 ou 20 anos”, Ricardo destaca.


 Gutemberg Brito

 

 O entomologista Ricardo Lourenço, em primeiro plano, apresentou resultados de diversas pesquisas sobre o comportamento do vetor

O entomologista explica que, no estudo do A. aegypti, as investigações em campo são centrais. “As pesquisas desenvolvidas no Rio de Janeiro pelo Laboratório de Transmissores de Hematozoários do IOC investigam dados como os criadouros preferenciais e tendências da dispersão espacial e densidade do vetor. As pesquisas são realizadas em campo, já que o comportamento do A. aegypti na natureza pode ser muito diferente daquele que observamos no ambiente controlado dos laboratórios. Nossos estudos procuram correlacionar o comportamento do vetor a condições sócio-econômicas, ambientais e demográficas de diferentes espaços urbanos”, o especialista resume. Para os estudos, foram escolhidas localidades com características bastante distintas: as comunidades do Amorim, em Manguinhos, e de Palmares, em Vargem Grande; os bairros de Olaria e Higienópolis, na Zona da Leopoldina; o bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador; e o bairro da Urca, na Zona Sul carioca.

Os principais criadouros, onde é encontrado o maior número de pupas, variam de acordo com a localidade estudada. “Em áreas mais pobres, especialmente onde não há distribuição regular de água, têm destaque os grandes depósitos de água, como tonéis e caixas d’água, que foram os criadouros mais produtivos localizados”, explica Rafael Freitas. Em contraste, em áreas de elevado padrão sócio-econômico, como na Urca, os ralos não vedados dentro das casas têm papel importante.

O pesquisador desmistificou a idéia de que o mosquito se reproduz em água suja. “Nós analisamos 30.238 formas imaturas do A. aegypti, entre larvas de diversos estágios e pupas. Apenas 3 larvas foram encontradas em bueiro. Isso representa 0,009% do total analisado. Estes dados indicam que, sem nenhuma dúvida, o A. aegypti tem preferência por criadouros com água limpa e que as ações de prevenção e controle devem ser direcionadas ao controle destes focos”, sintetiza.


 Gutemberg Brito

 

 O especialista Rafael Freitas discutiu as dificuldades e necessidades de avanço no trabalho de campo para pesquisa do A. aegypti

Outro mito desfeito pelas investigações científicas se refere ao papel das bromélias como criadouros do mosquito. “Nos bairros examinados, apenas 0,48% das formas imaturas foram encontras em bromélias. Isso indica que, no conjunto, as bromélias não são criadouros relevantes para o A. aegypti”, Rafael destaca. “É fundamental aplicar o conhecimento científico atualizado sobre o vetor nas ações de controle do A. aegypti”, completa.

As informações sobre a dispersão espacial do mosquito também são fundamentais para o controle do vetor. Para gerar dados sobre o assunto, durante período livre de transmissão, os pesquisadores trabalharam com mosquitos marcados e não infectados oriundos dos próprios bairros e depois foram a campo localizá-los, registrando o local onde foram capturados e a distância percorrida por cada um deles. Os mosquitos foram marcados com um tipo de substância (o cloreto de rubídio ou com pó fluorescente) que permitiu aos pesquisadores reconhecer exatamente aqueles experimentais dos demais.

Em todas as localidades estudadas, os dados mostram que o vôo do mosquito é orientado para espaços onde há concentração de grandes criadouros disponíveis para a colocação de ovos e acesso a alimento – no caso, a presença de pessoas, que a fêmea do A. aegypti pica para conseguir sangue, fundamental para a maturação dos ovos. Dentro do ambiente doméstico, os mosquitos adultos foram encontrados com freqüência em lugares como atrás de cortinas, em nichos de estantes e embaixo de mesas.



“Resultados recentes obtidos em campo mostram que existem diferenças na trajetória do vôo do mosquito segundo o local estudado, apontando mais uma vez que o comportamento do vetor está associado a fatores sócio-econômicos, ambientais e demográficos. Em geral, o inseto se dispersa mais onde há menor densidade populacional, porque nestas situações o mosquito precisa voar maiores distâncias até encontrar fontes de sangue para sua alimentação. Na comunidade do Amorim, que tem muitas casas próximas, os mosquitos voaram de 40 a 50m. Em Tubiacanga, um bairro que já não possui aglomeração humana tão intensa, a média de vôo foi de aproximadamente 100m, sendo a maior distancia verificada de 240m. Olaria, por sua vez, que não apresenta barreiras à dispersão do mosquito, como montanhas ou grandes avenidas, teve o maior afastamento do mosquito: foram encontrados mosquitos a até cerca de 700m do ponto inicial.” Ao mesmo tempo, os pesquisadores ressaltam, o A. aegypti não se distancia de ambientes urbanos para dentro das matas.


 Gutemberg Brito

 

 A platéia, lotada, contou com a presença de mais de 200 pessoas

A sobrevivência do A. aegypti também é importante para os estudos sobre o vetor, já que quanto maior o tempo de vida do mosquito, maior a possibilidade de transmitir o vírus da dengue. “A sobrevivência também foi influenciada pelas características sócio-econômicas, demográficas e ambientais do espaço urbano. Na Urca, tivemos as menores taxas de sobrevivência e, a maior, na comunidade do Amorim. Os dados indicam que o A. aegypti sobrevive maior tempo em locais com maior densidade demográfica”, resume.

Ricardo destaca um aspecto relevante: os A. aegypti existentes no Brasil são normalmente muito permissivos à infecção pelo vírus da dengue. “O vírus é encontrado em quase todos os tecidos do mosquito. Outro dado importante é que, mesmo nos períodos nos quais não ocorrem casos de dengue em humanos, as populações de A. aegypti matêm o vírus circulando na natureza de forma silenciosa, entre si e por várias gerações, já que as fêmeas infectadas podem transmitir o vírus para seus descendentes”, afirma. Os especialistas destacam, neste contexto, a necessidade de aprofundar as pesquisas sobre a interação do vetor com o vírus, investigando possíveis diferenças do comportamento do A. aegypti quando está infectado pelo vírus da dengue.

Marcelo Garcia e Raquel Aguiar

18/04/08



Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)