Imagina poder voltar no tempo e ver com seus próprios olhos seres que existiram em algumas regiões durante um determinado período. Graças ao empenho de cientistas de diferentes épocas, podemos ter a experiência de entrar em contato com raros espécimes dos mais distintos tempos e espaços.
Completando 120 anos de atividade, a Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (CEIOC) é uma verdadeira exposição de biodiversidade. Com cerca de 5 milhões de insetos, é reconhecida como a coleção biológica mais antiga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos acervos mais valiosos da América Latina.
“É uma coleção biológica com material de regiões que hoje já são muito diferentes, em termos de aspecto natural. Se retornarmos aos locais onde muitos desses insetos foram coletados, não encontraremos mais essas espécies, pois, o que eram espaços de mata, hoje já são de concreto e asfalto, ou viraram campos de atividades agrícolas. A diversidade biológica é uma das riquezas desse conjunto”, destacou Márcio Felix, atual curador da Coleção Entomológica do IOC.
Acervo é mantido em gavetas como a famosa coleção lepidoptera, ordem de insetos que inclui borboletas e mariposas. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)O rico acervo de insetos possui representatividade muito ampla e singular da fauna brasileira, com espécimes de todos os biomas presentes no território nacional. Além disso, há também grande quantidade de exemplares oriundos de diversas regiões do mundo. Ao todo, a Coleção lista materiais de aproximadamente 120 países e de todos os continentes do planeta, que vai de mosquitos de regiões tropicais até piolhos que parasitam mamíferos no clima gélido da Antártica.
“Os insetos são o maior grupo de seres vivos no mundo em número de espécies. E na Coleção Entomológica do IOC temos quase todas as ordens conhecidas. É possível encontrar besouros, borboletas, mariposas, vespas, percevejos, formigas, abelhas e muito mais. A lista é grande”, pontuou Márcio.
Apesar de ser atualmente centrada na representação da biodiversidade, a CEIOC possui muitos insetos que foram fundamentais para estudos de saúde pública. Entre eles, os triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, que contribuíram amplamente nas descobertas sobre a transmissão da doença de Chagas, e diversos culicídeos (mosquitos), que trouxeram respostas sobre febre amarela, malária, dengue, entre outras infecções.
Também há uma grande quantidade de exemplares de alta relevância histórico-científica como os espécimes-tipo, ou seja, os primeiros seres encontrados daquelas espécies e que foram usados para definir as características das mesmas. Uns desses exemplares são os espécimes-tipo do Anopheles lutzii, utilizados por Oswaldo Cruz em 1901 para descrever a, então, recém-descoberta espécie de mosquito. Os itens são considerados como o ponto de partida da CEIOC.
“Esses materiais possuem uma imensurável relevância histórica pela antiguidade e por terem sido itens de trabalho de importantes cientistas. Além de preservar a memória desses insetos, eles contam também a história de vida e de trabalho de pesquisadores”, afirmou Felix.
Preservado na CEIOC há cerca de 80 anos, o espécime-tipo coletado na Bahia é referente à espécie de besouro 'Anchylorhynchus eriospathae', descrita em 1943. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)
Ainda que não tenha uma data exata de criação, a Coleção Entomológica do IOC possui um documento que pode ser comparado a uma certidão de nascimento. Em 15 de novembro de 1901, Oswaldo Cruz publicou a descrição do mosquito Anopheles lutzii, transmissor da malária, na Revista Brasil Médico. A publicação é um marco por ser o primeiro artigo científico da instituição (na época chamada de Instituto Soroterápico Federal) e por gerar o que seria o primeiro depósito de espécimes-tipo do acervo biológico mais antigo do IOC e da Fiocruz.
Descrição do mosquito 'Anopheles lutzii' por Oswaldo Cruz no periódico semanal Revista Brasil Médico em 15 de novembro de 1901. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)As pesquisas com insetos no Instituto (principalmente, com moscas e mosquitos) ganharam foco naquele período, o que possibilitou a rápida expansão do acervo. Participaram desses estudos nomes importantes da ciência como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva, Costa Lima, Fábio Werneck, entre outros. Atualmente, grande parte dos seus achados e espécimes estudados pertence às Coleções Históricas da CEIOC.
“O crescimento do acervo, sobretudo na primeira metade do século XX, ocorreu graças à intensa atividade de pesquisa em entomologia que existia no IOC na época. Os pesquisadores realizavam importantes expedições por diversas regiões do Brasil, atendendo aos mais diferentes agravos de saúde pública. Nesse período, foram coletados muitos espécimes de importância médica e geral”, explicou o curador do acervo.
Na década de 1950, a Coleção incorporou os insetos do Laboratório de Helmintologia e seu conjunto passou a ter um formato mais parecido com o atual. Os insetos eram abrigados em uma estrutura metálica de três andares localizada no 2º andar do símbolo máximo da Fiocruz, o Castelo Mourisco, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
No entanto, a história da CEIOC nem sempre pode seguir uma linha de ascensão. Em 1970, durante a ditadura militar, o acervo enfrentou um grande cenário de descaso. No episódio conhecido como “Massacre de Manguinhos”, a coleção de insetos teve sua estrutura física desmantelada integralmente e parte da sua história esvaída.
“Vários pesquisadores foram cassados; entre eles, os entomólogos Hugo de Souza Lopes, que assumia a curadoria da Coleção, Herman Lent e Sebastião José de Oliveira. O acervo foi retirado do Castelo e parte dele transportado de maneira inadequada para um porão, onde ficou de seis a sete anos em condições impróprias, gerando danos irreversíveis não apenas no material, como também na documentação, que incluía livros de registro. Até os dias de hoje tentamos recuperar situações de dano que ocorreram naquela época”, contou Felix.
A Coleção retornou ao Castelo Mourisco por volta de 1976. Entretanto, as atividades científicas desenvolvidas a partir do material só foram plenamente restabelecidas após a redemocratização do Brasil, quando Sebastião José de Oliveira, um dos cientistas cassados no período militar, assumiu a curadoria do acervo. Apesar de ter voltado a receber, de forma mais apropriada, os cuidados de curadoria, o espaço não possuía ainda uma estrutura adequada para hospedar itens tão valiosos – cenário que permaneceu até 2008, quando foi concluída uma grande reforma e restauração nas salas 210 e 215, que atualmente abrigam a CEIOC.
Espaço inaugurado em 24 de setembro de 2008 traz panorama do grupo dos insetos. Foto: Gutemberg BritoGradativamente, com muita persistência e dedicação, a Coleção Entomológica do IOC foi retomando suas boas condições de preservação da biodiversidade de insetos e de auxiliadora da pesquisa científica. A facilitação do acesso a esse importante acervo tem sido um de seus principais focos nas últimas décadas. Entre as ações realizadas, estão as publicações de artigos científicos com listas de tipos, compartilhamento on-line de dados dos exemplares e desenvolvimento de catálogos dos espécimes.
“Uma das nossas principais metas atuais é a catalogação dos exemplares das Coleções Históricas para preservar essa memória, também, no formato digital. Usamos uma plataforma de fotografia para capturar imagens não só dos insetos, mas também de fichas e documentos escritos à mão por esses renomados pesquisadores. Atualmente, estamos trabalhando na Coleção Histórica Costa Lima”, destacou Márcio.
Futuramente, toda essa construção do conhecimento e caminho centenário percorrido pela Coleção Entomológica poderá também habitar páginas de um livro sobre o acervo. “Estamos nos esforçando em um resgate mais detalhado da história da Coleção no sentido de viabilizar a produção de uma obra que contará a trajetória da CEIOC”, concluiu o curador.
O número de cinco milhões de exemplares já é impressionante. No entanto, em plena atividade científica, a CEIOC aceita depósitos de espécimes preservados adequadamente e com informações associadas. O mais recente depósito foi realizado pelo Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC em outubro de 2021, com o acréscimo de 94 lotes de diversas espécies de percevejos aquáticos coletados em vários estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.
“Uma coleção entomológica de grande porte sempre vai agregar muita diversidade. Quando se trata de insetos, os números sempre são grandiosos. É o grupo com a maior quantidade de espécies conhecidas pela ciência, com pouco mais de um milhão de seres descritos. E, sem dúvidas, ainda há um número muito maior para ser descoberto”, relatou Márcio Felix.
Instalações da Coleção Entomológica do IOC no Castelo Mourisco. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)Com sua vasta diversidade, a CEIOC presta serviços principalmente de consulta, empréstimo e depósito de exemplares. As especialidades dos profissionais que integram a equipe da Coleção permitem também a realização de consultorias em entomologia e identificação de espécimes, bem como a formação e a capacitação de recursos humanos para o trabalho em coleções entomológicas.
O contato para esses serviços é através do endereço de e-mail: ceioc@fiocruz.br.
A Coleção Entomológica do IOC é um patrimônio que pode ser visitado não apenas por pesquisadores que buscam aprofundar seus estudos, mas também pode ser acessado por todos aqueles que desejam ter contato com esse material histórico. Na Sala de Exposição Costa Lima, no Castelo Mourisco, estão disponíveis diversos itens históricos, como publicações, mobiliário e insetos que chamam atenção pela sua estética.
Captura de tela do tour virtual pela Sala de Exposição Costa Lima. Foto: ReproduçãoNo momento, o espaço físico está fechado para visitações devido à pandemia da Covid-19 e às reformas de preservação que estão sendo desempenhadas no Castelo. No entanto, é possível realizar um tour virtual no qual o visitante tem uma completa imersão com uma experiência de visualização 360°. É possível subir as escadas do Castelo Mourisco e caminhar até a Sala de Exposição Costa Lima. No espaço, o visitante poderá ver os itens expostos e saber mais sobre eles através das legendas detalhadas que aparecem na tela ao longo da visitação.
Clique aqui para acessar o tour virtual.
A acessibilidade e a inclusão social têm sido características significativas da Coleção Entomológica do IOC nas últimas décadas. Pesquisadores e colaboradores que integram a curadoria da Coleção assumiram o desafio de fazer com que esse riquíssimo acervo continue alcançando um grande número de pessoas e, também, ultrapasse os limites do Castelo Mourisco.
Além do tour online, que possibilita a visita virtual a partir de qualquer região do mundo, a Coleção é atração garantida em diversos eventos de divulgação científica dentro e fora dos limites do campus de Manguinhos, destacando a beleza e a peculiaridade dos insetos para públicos de diferentes faixas etárias e localidades.
E falando em público, a Coleção tem focado em tornar mais igualitário o acesso a informação na Sala de Exposição Costa Lima. Uma iniciativa voltada à comunidade surda, criada em 2013, promove visitas presenciais acompanhadas por intérpretes de libras para uma maior integração.
A tradução em libras e painéis com audiodescrição também facilitam a interação do público em eventos da CEIOC. Um dos destaques no uso desses recursos, foi a mostra "Insetos Ilustrados", organizada pelo Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). A iniciativa, que ressaltou a importância e a beleza das ilustrações científicas, contou com exemplares da Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos e, claro, com insetos da Coleção Entomológica do IOC.
A diversidade do acervo e o conhecimento acumulado ao longo dos seus 120 anos de atividade servem também como inspiração para a produção de obras literárias, como o livro infanto-juvenil "As Borboletas, o Besouro e a Fada da Biodiversidade". A publicação de autoria de Jane Costa (que já atuou como curadora da CEIOC) e Lucas Torres, ambos do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC, conta com ilustrações de diferentes exemplares presentes na Coleção Entomológica. "O estímulo e o apoio a iniciativas de divulgação da Coleção, ressaltando a riqueza da diversidade nela contida e a sua história, compõem uma diretriz da atual curadoria", reforçou Márcio Felix.
Imagina poder voltar no tempo e ver com seus próprios olhos seres que existiram em algumas regiões durante um determinado período. Graças ao empenho de cientistas de diferentes épocas, podemos ter a experiência de entrar em contato com raros espécimes dos mais distintos tempos e espaços.
Completando 120 anos de atividade, a Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (CEIOC) é uma verdadeira exposição de biodiversidade. Com cerca de 5 milhões de insetos, é reconhecida como a coleção biológica mais antiga da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos acervos mais valiosos da América Latina.
“É uma coleção biológica com material de regiões que hoje já são muito diferentes, em termos de aspecto natural. Se retornarmos aos locais onde muitos desses insetos foram coletados, não encontraremos mais essas espécies, pois, o que eram espaços de mata, hoje já são de concreto e asfalto, ou viraram campos de atividades agrícolas. A diversidade biológica é uma das riquezas desse conjunto”, destacou Márcio Felix, atual curador da Coleção Entomológica do IOC.
Acervo é mantido em gavetas como a famosa coleção lepidoptera, ordem de insetos que inclui borboletas e mariposas. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)O rico acervo de insetos possui representatividade muito ampla e singular da fauna brasileira, com espécimes de todos os biomas presentes no território nacional. Além disso, há também grande quantidade de exemplares oriundos de diversas regiões do mundo. Ao todo, a Coleção lista materiais de aproximadamente 120 países e de todos os continentes do planeta, que vai de mosquitos de regiões tropicais até piolhos que parasitam mamíferos no clima gélido da Antártica.
“Os insetos são o maior grupo de seres vivos no mundo em número de espécies. E na Coleção Entomológica do IOC temos quase todas as ordens conhecidas. É possível encontrar besouros, borboletas, mariposas, vespas, percevejos, formigas, abelhas e muito mais. A lista é grande”, pontuou Márcio.
Apesar de ser atualmente centrada na representação da biodiversidade, a CEIOC possui muitos insetos que foram fundamentais para estudos de saúde pública. Entre eles, os triatomíneos, popularmente conhecidos como barbeiros, que contribuíram amplamente nas descobertas sobre a transmissão da doença de Chagas, e diversos culicídeos (mosquitos), que trouxeram respostas sobre febre amarela, malária, dengue, entre outras infecções.
Também há uma grande quantidade de exemplares de alta relevância histórico-científica como os espécimes-tipo, ou seja, os primeiros seres encontrados daquelas espécies e que foram usados para definir as características das mesmas. Uns desses exemplares são os espécimes-tipo do Anopheles lutzii, utilizados por Oswaldo Cruz em 1901 para descrever a, então, recém-descoberta espécie de mosquito. Os itens são considerados como o ponto de partida da CEIOC.
“Esses materiais possuem uma imensurável relevância histórica pela antiguidade e por terem sido itens de trabalho de importantes cientistas. Além de preservar a memória desses insetos, eles contam também a história de vida e de trabalho de pesquisadores”, afirmou Felix.
Preservado na CEIOC há cerca de 80 anos, o espécime-tipo coletado na Bahia é referente à espécie de besouro 'Anchylorhynchus eriospathae', descrita em 1943. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)
Ainda que não tenha uma data exata de criação, a Coleção Entomológica do IOC possui um documento que pode ser comparado a uma certidão de nascimento. Em 15 de novembro de 1901, Oswaldo Cruz publicou a descrição do mosquito Anopheles lutzii, transmissor da malária, na Revista Brasil Médico. A publicação é um marco por ser o primeiro artigo científico da instituição (na época chamada de Instituto Soroterápico Federal) e por gerar o que seria o primeiro depósito de espécimes-tipo do acervo biológico mais antigo do IOC e da Fiocruz.
Descrição do mosquito 'Anopheles lutzii' por Oswaldo Cruz no periódico semanal Revista Brasil Médico em 15 de novembro de 1901. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)As pesquisas com insetos no Instituto (principalmente, com moscas e mosquitos) ganharam foco naquele período, o que possibilitou a rápida expansão do acervo. Participaram desses estudos nomes importantes da ciência como Carlos Chagas, Adolpho Lutz, Arthur Neiva, Costa Lima, Fábio Werneck, entre outros. Atualmente, grande parte dos seus achados e espécimes estudados pertence às Coleções Históricas da CEIOC.
“O crescimento do acervo, sobretudo na primeira metade do século XX, ocorreu graças à intensa atividade de pesquisa em entomologia que existia no IOC na época. Os pesquisadores realizavam importantes expedições por diversas regiões do Brasil, atendendo aos mais diferentes agravos de saúde pública. Nesse período, foram coletados muitos espécimes de importância médica e geral”, explicou o curador do acervo.
Na década de 1950, a Coleção incorporou os insetos do Laboratório de Helmintologia e seu conjunto passou a ter um formato mais parecido com o atual. Os insetos eram abrigados em uma estrutura metálica de três andares localizada no 2º andar do símbolo máximo da Fiocruz, o Castelo Mourisco, em Manguinhos, no Rio de Janeiro.
No entanto, a história da CEIOC nem sempre pode seguir uma linha de ascensão. Em 1970, durante a ditadura militar, o acervo enfrentou um grande cenário de descaso. No episódio conhecido como “Massacre de Manguinhos”, a coleção de insetos teve sua estrutura física desmantelada integralmente e parte da sua história esvaída.
“Vários pesquisadores foram cassados; entre eles, os entomólogos Hugo de Souza Lopes, que assumia a curadoria da Coleção, Herman Lent e Sebastião José de Oliveira. O acervo foi retirado do Castelo e parte dele transportado de maneira inadequada para um porão, onde ficou de seis a sete anos em condições impróprias, gerando danos irreversíveis não apenas no material, como também na documentação, que incluía livros de registro. Até os dias de hoje tentamos recuperar situações de dano que ocorreram naquela época”, contou Felix.
A Coleção retornou ao Castelo Mourisco por volta de 1976. Entretanto, as atividades científicas desenvolvidas a partir do material só foram plenamente restabelecidas após a redemocratização do Brasil, quando Sebastião José de Oliveira, um dos cientistas cassados no período militar, assumiu a curadoria do acervo. Apesar de ter voltado a receber, de forma mais apropriada, os cuidados de curadoria, o espaço não possuía ainda uma estrutura adequada para hospedar itens tão valiosos – cenário que permaneceu até 2008, quando foi concluída uma grande reforma e restauração nas salas 210 e 215, que atualmente abrigam a CEIOC.
Espaço inaugurado em 24 de setembro de 2008 traz panorama do grupo dos insetos. Foto: Gutemberg BritoGradativamente, com muita persistência e dedicação, a Coleção Entomológica do IOC foi retomando suas boas condições de preservação da biodiversidade de insetos e de auxiliadora da pesquisa científica. A facilitação do acesso a esse importante acervo tem sido um de seus principais focos nas últimas décadas. Entre as ações realizadas, estão as publicações de artigos científicos com listas de tipos, compartilhamento on-line de dados dos exemplares e desenvolvimento de catálogos dos espécimes.
“Uma das nossas principais metas atuais é a catalogação dos exemplares das Coleções Históricas para preservar essa memória, também, no formato digital. Usamos uma plataforma de fotografia para capturar imagens não só dos insetos, mas também de fichas e documentos escritos à mão por esses renomados pesquisadores. Atualmente, estamos trabalhando na Coleção Histórica Costa Lima”, destacou Márcio.
Futuramente, toda essa construção do conhecimento e caminho centenário percorrido pela Coleção Entomológica poderá também habitar páginas de um livro sobre o acervo. “Estamos nos esforçando em um resgate mais detalhado da história da Coleção no sentido de viabilizar a produção de uma obra que contará a trajetória da CEIOC”, concluiu o curador.
O número de cinco milhões de exemplares já é impressionante. No entanto, em plena atividade científica, a CEIOC aceita depósitos de espécimes preservados adequadamente e com informações associadas. O mais recente depósito foi realizado pelo Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC em outubro de 2021, com o acréscimo de 94 lotes de diversas espécies de percevejos aquáticos coletados em vários estados das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.
“Uma coleção entomológica de grande porte sempre vai agregar muita diversidade. Quando se trata de insetos, os números sempre são grandiosos. É o grupo com a maior quantidade de espécies conhecidas pela ciência, com pouco mais de um milhão de seres descritos. E, sem dúvidas, ainda há um número muito maior para ser descoberto”, relatou Márcio Felix.
Instalações da Coleção Entomológica do IOC no Castelo Mourisco. Foto: Acervo (CEIOC/Fiocruz)Com sua vasta diversidade, a CEIOC presta serviços principalmente de consulta, empréstimo e depósito de exemplares. As especialidades dos profissionais que integram a equipe da Coleção permitem também a realização de consultorias em entomologia e identificação de espécimes, bem como a formação e a capacitação de recursos humanos para o trabalho em coleções entomológicas.
O contato para esses serviços é através do endereço de e-mail: ceioc@fiocruz.br.
A Coleção Entomológica do IOC é um patrimônio que pode ser visitado não apenas por pesquisadores que buscam aprofundar seus estudos, mas também pode ser acessado por todos aqueles que desejam ter contato com esse material histórico. Na Sala de Exposição Costa Lima, no Castelo Mourisco, estão disponíveis diversos itens históricos, como publicações, mobiliário e insetos que chamam atenção pela sua estética.
Captura de tela do tour virtual pela Sala de Exposição Costa Lima. Foto: ReproduçãoNo momento, o espaço físico está fechado para visitações devido à pandemia da Covid-19 e às reformas de preservação que estão sendo desempenhadas no Castelo. No entanto, é possível realizar um tour virtual no qual o visitante tem uma completa imersão com uma experiência de visualização 360°. É possível subir as escadas do Castelo Mourisco e caminhar até a Sala de Exposição Costa Lima. No espaço, o visitante poderá ver os itens expostos e saber mais sobre eles através das legendas detalhadas que aparecem na tela ao longo da visitação.
Clique aqui para acessar o tour virtual.
A acessibilidade e a inclusão social têm sido características significativas da Coleção Entomológica do IOC nas últimas décadas. Pesquisadores e colaboradores que integram a curadoria da Coleção assumiram o desafio de fazer com que esse riquíssimo acervo continue alcançando um grande número de pessoas e, também, ultrapasse os limites do Castelo Mourisco.
Além do tour online, que possibilita a visita virtual a partir de qualquer região do mundo, a Coleção é atração garantida em diversos eventos de divulgação científica dentro e fora dos limites do campus de Manguinhos, destacando a beleza e a peculiaridade dos insetos para públicos de diferentes faixas etárias e localidades.
E falando em público, a Coleção tem focado em tornar mais igualitário o acesso a informação na Sala de Exposição Costa Lima. Uma iniciativa voltada à comunidade surda, criada em 2013, promove visitas presenciais acompanhadas por intérpretes de libras para uma maior integração.
A tradução em libras e painéis com audiodescrição também facilitam a interação do público em eventos da CEIOC. Um dos destaques no uso desses recursos, foi a mostra "Insetos Ilustrados", organizada pelo Museu da Vida da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). A iniciativa, que ressaltou a importância e a beleza das ilustrações científicas, contou com exemplares da Seção de Obras Raras da Biblioteca de Manguinhos e, claro, com insetos da Coleção Entomológica do IOC.
A diversidade do acervo e o conhecimento acumulado ao longo dos seus 120 anos de atividade servem também como inspiração para a produção de obras literárias, como o livro infanto-juvenil "As Borboletas, o Besouro e a Fada da Biodiversidade". A publicação de autoria de Jane Costa (que já atuou como curadora da CEIOC) e Lucas Torres, ambos do Laboratório de Biodiversidade Entomológica do IOC, conta com ilustrações de diferentes exemplares presentes na Coleção Entomológica. "O estímulo e o apoio a iniciativas de divulgação da Coleção, ressaltando a riqueza da diversidade nela contida e a sua história, compõem uma diretriz da atual curadoria", reforçou Márcio Felix.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)