O dia 14 de abril de 2024 marca os 115 anos da descoberta da doença de Chagas. Apesar de mais que centenária, a infecção permanece negligenciada, sem interesse da indústria farmacêutica para produção de novos tratamentos e vacina, com a maioria dos atingidos provenientes de áreas mais vulneráveis.
A data também celebra os cinco anos do Dia Mundial da Doença de Chagas, declarado durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, em 2019, após intensa mobilização liderada pela Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas), que teve apoio da comunidade científica e da saúde.
À frente da descoberta que marcou a história da medicina, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) participaram do movimento para incluir a data no calendário mundial da saúde e quebrar o silêncio sobre a doença. [Confira depoimentos de pesquisadores do IOC sobre a importância da data.]
Escolhido como Dia Mundial, o 14 de abril lembra a data de 1909 em que o célebre pesquisador Carlos Chagas identificou o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, em uma paciente: a menina Berenice, de 2 anos, moradora da cidade de Lassance, em Minas Gerais.
O achado levou Chagas mais além: ele se tornou o primeiro pesquisador a descrever o ciclo completo de uma doença, com a identificação do parasito, seu vetor e agravo causado por ele.
Ainda em abril, a nova ‘moléstia’ (em linguagem da época) foi anunciada em nota prévia no periódico Brazil-Médico. Em agosto, Carlos Chagas publicou artigo sobre o ciclo completo na revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, criada por Oswaldo Cruz no começo daquele ano.
Passados mais de 100 anos, estudo liderado por cientistas do IOC mostrou que o periódico mantém papel relevante na divulgação do conhecimento científico sobre a doença de Chagas.
Considerada uma das mais importantes em medicina tropical e parasitologia no cenário internacional, a revista publicou 571 artigos sobre o agravo de 1909 a 2020. Citada em 8% dos artigos publicados, a doença de Chagas permanece como o agravo mais frequente nas páginas do periódico.
O IOC atua de forma ininterrupta para enfrentar os desafios da doença de Chagas, que tem profundas raízes sociais.
A Unidade mantém a maior e mais diversa Coleção de Triatomíneos do mundo, que abriga espécimes de todos os gêneros e da maioria das 160 espécies do inseto vetor, popularmente conhecido como barbeiro.
Existem ainda triatomíneos depositados na Coleção Entomológica do IOC, incluindo, por exemplo, o exemplar tipo do Triatoma brasiliensis, a partir do qual o cientista Arthur Neiva fez a descrição da espécie em 1911. Atualmente, a espécie é o principal vetor da doença de Chagas no Nordeste.
Para facilitar a identificação dos vetores, especialistas atualizam anualmente uma coleção de cartões digitais ilustrados com as espécies de triatomíneos presentes nas diferentes regiões do país.
Neste campo, também são destaque o Guia de triatomíneos da Bahia, o Atlas Iconográfico dos Triatomíneos do Brasil e a cartilha sobre o Triatoma brasiliensis, principal vetor no Nordeste.
Recentemente, cientistas e estudantes desenvolveram novas ferramentas para apoiar o combate à doença, como a página ‘Achou um barbeiro’, o kit para diagnóstico NAT Chagas e a tecnologia social ‘Expresso Chagas 21’.
A doença de Chagas atinge entre seis e sete milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são cerca de um milhão de infectados, de acordo com o Ministério da Saúde.
O agravo está no foco do Comitê Interministerial para Eliminação de Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) do Governo Federal. A meta mundial e brasileira é eliminar a enfermidade como problema de saúde pública até 2030.
De acordo com a base de dados Pubmed, nos últimos cinco anos, as publicações em doença de Chagas lideradas ou com colaboração de cientistas do IOC somam mais de 200 artigos com resultados de pesquisas, vinte trabalhos de revisão e seis textos de opinião, como editoriais e comentários.
A busca de novos tratamentos eficazes contra o T. cruzi é um dos temas mais frequentes dos estudos, tendo em vista que os dois medicamentos atualmente disponíveis para combater o parasito apresentam muitos efeitos colaterais.
Outras pesquisas miram os problemas do coração que ocorrem na fase crônica da doença. Após décadas de infecção silenciosa não tratada, cerca de 30% dos infectados desenvolvem danos cardíacos, que podem levar à morte.
Em 2021, os pesquisadores do IOC, em parceria com o INI/Fiocruz, concluíram o primeiro ensaio clínico de avaliação da terapia de suplementação nutricional com selênio. O estudo indicou potencial benefício em um subgrupo de pacientes com problemas cardíacos causados pela doença de Chagas crônica.
Cientistas do Instituto contribuíram na elaboração da diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre diagnóstico e tratamento de pacientes com cardiomiopatia da doença de Chagas de 2023.
O desenvolvimento de vacinas e tratamentos que podem ser usados como quimioprofilaxia para prevenir a infecção também está no alvo dos estudos.
Pesquisas abordam ainda métodos para diagnosticar a doença e detectar a contaminação em alimentos.
Mais de 60 espécies de triatomíneos são conhecidas no Brasil e todas podem transmitir o T. cruzi.
A forma tradicional de contágio envolve a picada de um barbeiro infectado. Durante ou após a picada, o inseto costuma defecar sobre a pele. Ao coçar o local, parasitos que foram eliminados nas fezes do vetor podem entrar em contato com a região ferida e penetrar no organismo.
Nos últimos anos, a infecção por via oral, causada pela ingestão de alimentos contaminados com o T. cruzi, se tornou a forma mais comum de contágio no Brasil. Isso ocorre quando barbeiros infectados ou suas fezes são triturados acidentalmente na preparação de alimentos, como açaí, bacaba e caldo de cana.
Estudos publicados pelo Instituto contribuem para mapear a distribuição de espécies de triatomíneos no Brasil e na América do Sul e para compreender dinâmicas de transmissão da doença de Chagas, orientando ações de prevenção.
Descobertas de novas espécies na Argentina, Bolívia e Panamá, assim como a identificação de espécies em novos locais do Brasil são temas de publicações.
Muitos trabalhos discutem a taxonomia dos vetores, abordando características que permitem diferenciar espécies, incluindo desde aspectos morfológicos até genéticos. Também analisam características de insetos híbridos, nascidos do cruzamento de espécies diversas.
Colonização de residências em áreas urbanas, adaptação do inseto a diferentes habitats e interação entre o vetor e o T. cruzi também são analisadas, incluindo mecanismos envolvidos no processo de infecção, características da resposta imune do inseto e influência dos subtipos genéticos do parasito no processo.
Animais silvestres e domésticos que atuam como reservatórios do parasito e podem servir de fonte de infecção para os barbeiros estão no alvo de pesquisas do IOC.
Aspectos da biologia do T. cruzi que podem contribuir para compreender a doença de Chagas e buscar novas formas de tratamento e prevenção são revelados em artigos.
Um dos alvos das pesquisas é a variabilidade genética do parasito, incluindo o sequenciamento de microrganismos isolados a partir de diferentes hospedeiros e análises sobre a relação entre subtipos genéticos do T. cruzi, manifestações clínicas da doença e resposta ao tratamento.
As pesquisas também investigam a reação do parasito a condições de estresse, apontam mecanismos de sobrevivência e caracterizam vias bioquímicas e proteínas importantes na biologia do T. cruzi, que podem servir de alvo terapêutico.
Após 115 anos, ainda existem aspectos pouco compreendidos na evolução da doença de Chagas.
Logo após a infecção, os pacientes podem apresentar sintomas como febre, mal-estar, inchaço no rosto ou nas pernas, entre outros. Este período, chamado de fase aguda da doença, também pode ser assintomático.
Depois disso, as pessoas costumam passar anos sem manifestações da doença e muitos vivem a vida inteira sem complicações apesar da infecção pelo T. cruzi.
Porém, cerca de um terço dos pacientes desenvolve problemas cardíacos devido à doença de Chagas crônica. Aproximadamente um em cada dez apresenta complicações digestivas, neurológicas ou mistas.
Estudos publicados contribuem para compreender como a doença de Chagas provoca danos no organismo. Os trabalhos abordam questões como a resposta celular à infecção, o papel do sistema imune e alterações vasculares e neurológicas nos casos agudos e crônicos, apontando caminhos para busca de tratamentos.
O dia 14 de abril de 2024 marca os 115 anos da descoberta da doença de Chagas. Apesar de mais que centenária, a infecção permanece negligenciada, sem interesse da indústria farmacêutica para produção de novos tratamentos e vacina, com a maioria dos atingidos provenientes de áreas mais vulneráveis.
A data também celebra os cinco anos do Dia Mundial da Doença de Chagas, declarado durante a 72ª Assembleia Mundial da Saúde, em 2019, após intensa mobilização liderada pela Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas), que teve apoio da comunidade científica e da saúde.
À frente da descoberta que marcou a história da medicina, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) participaram do movimento para incluir a data no calendário mundial da saúde e quebrar o silêncio sobre a doença. [Confira depoimentos de pesquisadores do IOC sobre a importância da data.]
Escolhido como Dia Mundial, o 14 de abril lembra a data de 1909 em que o célebre pesquisador Carlos Chagas identificou o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, em uma paciente: a menina Berenice, de 2 anos, moradora da cidade de Lassance, em Minas Gerais.
O achado levou Chagas mais além: ele se tornou o primeiro pesquisador a descrever o ciclo completo de uma doença, com a identificação do parasito, seu vetor e agravo causado por ele.
Ainda em abril, a nova ‘moléstia’ (em linguagem da época) foi anunciada em nota prévia no periódico Brazil-Médico. Em agosto, Carlos Chagas publicou artigo sobre o ciclo completo na revista científica ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’, criada por Oswaldo Cruz no começo daquele ano.
Passados mais de 100 anos, estudo liderado por cientistas do IOC mostrou que o periódico mantém papel relevante na divulgação do conhecimento científico sobre a doença de Chagas.
Considerada uma das mais importantes em medicina tropical e parasitologia no cenário internacional, a revista publicou 571 artigos sobre o agravo de 1909 a 2020. Citada em 8% dos artigos publicados, a doença de Chagas permanece como o agravo mais frequente nas páginas do periódico.
O IOC atua de forma ininterrupta para enfrentar os desafios da doença de Chagas, que tem profundas raízes sociais.
A Unidade mantém a maior e mais diversa Coleção de Triatomíneos do mundo, que abriga espécimes de todos os gêneros e da maioria das 160 espécies do inseto vetor, popularmente conhecido como barbeiro.
Existem ainda triatomíneos depositados na Coleção Entomológica do IOC, incluindo, por exemplo, o exemplar tipo do Triatoma brasiliensis, a partir do qual o cientista Arthur Neiva fez a descrição da espécie em 1911. Atualmente, a espécie é o principal vetor da doença de Chagas no Nordeste.
Para facilitar a identificação dos vetores, especialistas atualizam anualmente uma coleção de cartões digitais ilustrados com as espécies de triatomíneos presentes nas diferentes regiões do país.
Neste campo, também são destaque o Guia de triatomíneos da Bahia, o Atlas Iconográfico dos Triatomíneos do Brasil e a cartilha sobre o Triatoma brasiliensis, principal vetor no Nordeste.
Recentemente, cientistas e estudantes desenvolveram novas ferramentas para apoiar o combate à doença, como a página ‘Achou um barbeiro’, o kit para diagnóstico NAT Chagas e a tecnologia social ‘Expresso Chagas 21’.
A doença de Chagas atinge entre seis e sete milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, são cerca de um milhão de infectados, de acordo com o Ministério da Saúde.
O agravo está no foco do Comitê Interministerial para Eliminação de Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) do Governo Federal. A meta mundial e brasileira é eliminar a enfermidade como problema de saúde pública até 2030.
De acordo com a base de dados Pubmed, nos últimos cinco anos, as publicações em doença de Chagas lideradas ou com colaboração de cientistas do IOC somam mais de 200 artigos com resultados de pesquisas, vinte trabalhos de revisão e seis textos de opinião, como editoriais e comentários.
A busca de novos tratamentos eficazes contra o T. cruzi é um dos temas mais frequentes dos estudos, tendo em vista que os dois medicamentos atualmente disponíveis para combater o parasito apresentam muitos efeitos colaterais.
Outras pesquisas miram os problemas do coração que ocorrem na fase crônica da doença. Após décadas de infecção silenciosa não tratada, cerca de 30% dos infectados desenvolvem danos cardíacos, que podem levar à morte.
Em 2021, os pesquisadores do IOC, em parceria com o INI/Fiocruz, concluíram o primeiro ensaio clínico de avaliação da terapia de suplementação nutricional com selênio. O estudo indicou potencial benefício em um subgrupo de pacientes com problemas cardíacos causados pela doença de Chagas crônica.
Cientistas do Instituto contribuíram na elaboração da diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) sobre diagnóstico e tratamento de pacientes com cardiomiopatia da doença de Chagas de 2023.
O desenvolvimento de vacinas e tratamentos que podem ser usados como quimioprofilaxia para prevenir a infecção também está no alvo dos estudos.
Pesquisas abordam ainda métodos para diagnosticar a doença e detectar a contaminação em alimentos.
Mais de 60 espécies de triatomíneos são conhecidas no Brasil e todas podem transmitir o T. cruzi.
A forma tradicional de contágio envolve a picada de um barbeiro infectado. Durante ou após a picada, o inseto costuma defecar sobre a pele. Ao coçar o local, parasitos que foram eliminados nas fezes do vetor podem entrar em contato com a região ferida e penetrar no organismo.
Nos últimos anos, a infecção por via oral, causada pela ingestão de alimentos contaminados com o T. cruzi, se tornou a forma mais comum de contágio no Brasil. Isso ocorre quando barbeiros infectados ou suas fezes são triturados acidentalmente na preparação de alimentos, como açaí, bacaba e caldo de cana.
Estudos publicados pelo Instituto contribuem para mapear a distribuição de espécies de triatomíneos no Brasil e na América do Sul e para compreender dinâmicas de transmissão da doença de Chagas, orientando ações de prevenção.
Descobertas de novas espécies na Argentina, Bolívia e Panamá, assim como a identificação de espécies em novos locais do Brasil são temas de publicações.
Muitos trabalhos discutem a taxonomia dos vetores, abordando características que permitem diferenciar espécies, incluindo desde aspectos morfológicos até genéticos. Também analisam características de insetos híbridos, nascidos do cruzamento de espécies diversas.
Colonização de residências em áreas urbanas, adaptação do inseto a diferentes habitats e interação entre o vetor e o T. cruzi também são analisadas, incluindo mecanismos envolvidos no processo de infecção, características da resposta imune do inseto e influência dos subtipos genéticos do parasito no processo.
Animais silvestres e domésticos que atuam como reservatórios do parasito e podem servir de fonte de infecção para os barbeiros estão no alvo de pesquisas do IOC.
Aspectos da biologia do T. cruzi que podem contribuir para compreender a doença de Chagas e buscar novas formas de tratamento e prevenção são revelados em artigos.
Um dos alvos das pesquisas é a variabilidade genética do parasito, incluindo o sequenciamento de microrganismos isolados a partir de diferentes hospedeiros e análises sobre a relação entre subtipos genéticos do T. cruzi, manifestações clínicas da doença e resposta ao tratamento.
As pesquisas também investigam a reação do parasito a condições de estresse, apontam mecanismos de sobrevivência e caracterizam vias bioquímicas e proteínas importantes na biologia do T. cruzi, que podem servir de alvo terapêutico.
Após 115 anos, ainda existem aspectos pouco compreendidos na evolução da doença de Chagas.
Logo após a infecção, os pacientes podem apresentar sintomas como febre, mal-estar, inchaço no rosto ou nas pernas, entre outros. Este período, chamado de fase aguda da doença, também pode ser assintomático.
Depois disso, as pessoas costumam passar anos sem manifestações da doença e muitos vivem a vida inteira sem complicações apesar da infecção pelo T. cruzi.
Porém, cerca de um terço dos pacientes desenvolve problemas cardíacos devido à doença de Chagas crônica. Aproximadamente um em cada dez apresenta complicações digestivas, neurológicas ou mistas.
Estudos publicados contribuem para compreender como a doença de Chagas provoca danos no organismo. Os trabalhos abordam questões como a resposta celular à infecção, o papel do sistema imune e alterações vasculares e neurológicas nos casos agudos e crônicos, apontando caminhos para busca de tratamentos.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)