A 13ª edição do Ciclo Carlos Chagas de Palestras (CCCP) chegou ao fim, na última sexta-feira (11), após dois dias de programação. Promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o evento reuniu pesquisadores, profissionais da saúde e associações de pessoas portadoras para refletir sobre os principais achados e desafios contemporâneos da doença de Chagas.
A programação contou com palestras, mesas-redondas, apresentações de trabalhos e exposições interativas em torno da marca de dois anos de notificação da doença de Chagas crônica no Brasil.
Nesta edição, o evento teve como mote o tema ‘100 + 16 anos da descoberta da doença de Chagas: o tempo não para’.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Ciclo teve formato híbrido: no primeiro dia, as atividades foram transmitidas ao vivo pelo YouTube. Já no segundo, as sessões foram realizadas no auditório do Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz, em Manguinhos (RJ), com transmissão simultânea na web.
Organizado pelos pesquisadores do IOC, André Luiz Roque e Rubem Menna-Barreto, o evento é integrado ao Jubileu Secular de Prata dos 125 anos do Instituto, celebrado em 25 de maio, em data compartilhada com a Fiocruz.
A mesa de abertura contou com a participação da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge, e dos pesquisadores do Instituto, Wim Degrave, André Luiz Roque e Rubem Menna-Barreto. O coordenador do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN), João Victor Pacheco de Carvalho, também marcou presença.
Na sequência, a mesa-redonda “Modelos matemáticos no estudo da doença de Chagas” discutiu a aplicação de modelagens computacionais para entender a dinâmica de transmissão do vetor da doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi. A sessão reuniu especialistas de Brasil, Estados Unidos e Colômbia.
À tarde, a pesquisadora da University of Texas Medical Branch (EUA), Nisha Garg, apresentou a palestra ‘Congenital Chagas disease & new vaccines approaches’. A sessão fez um panorama sobre as vacinas contra a doença de Chagas em desenvolvimento na atualidade. Ao fim, houve debate mediado pela pesquisadora do IOC, Claudia Calvet Alvarez.
Para fechar a programação do primeiro dia do 13º CCCP, a mesa ‘Cardiomiopatia chagásica crônica’ destacou a complexidade da doença de Chagas crônica e seus sintomas.
A pesquisadora Milena Botelho, da Fiocruz Bahia, discorreu sobre o tema ‘O efeito da inflamação na expressão de conexina 43 na cardiomiopatia crônica’. Em seguida, a professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJ), Claudia Paiva, discutiu o ‘Estresse oxidativo na cardiomiopatia crônica’.
A mesa-redonda ‘Diálogos Pesquisa-Serviços-Pessoas em doença de Chagas: O que fazer em 2025?’ abriu a programação do segundo dia (11/04) do CCCP 2025. O debate contou com a participação de pesquisadores, gestores públicos e associações de pessoas portadoras da doença. A mediação ficou por conta do pós-doutorando do IOC, Roberto Ferreira.
Pessoas portadoras da doença de Chagas compartilharam vivências e dificuldades de acesso ao diagnóstico. Elas ainda destacaram a ação de projetos de ciência cidadã, como o Expresso Chagas, e de associações de apoio.
A representante da Associação de Afetados Rio Chagas, Luzia Lopes dos Santos, contou que procurou muitos médicos e recebeu inúmeros diagnósticos antes de descobrir, aos 60 anos, que a causa de suas dores no intestino era a doença de Chagas. Tia Lu, como é conhecida, foi a primeira vice-presidente da associação.
“Em uma das expedições, no norte de Minas Gerais, descobrimos que as crianças brincavam com o barbeiro no quintal ainda — uma realidade que pensávamos que já não existia”, ponderou.
Confira a mesa completa:
Tania Araujo-Jorge – Diretora do Instituto Oswaldo Cruz;
Emanuelle Crisóstomo – Secretária de Saúde de Limoeiro do Norte (Ceará);
Thalita Rimes – Vigilância em Saúde de Limoeiro do Norte (Ceará);
Elisabete Manieri Carazzai – Vigilância em Saúde de Posse (Goiás);
Eduardo Sérgio da Silva – Universidade Federal de São João del Rey;
Roberto Sena - Diretor do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas);
Nilva Belo – Associação Goiana de Portadores de Doença de Chagas;
Aristildo Araujo - Associação de Afetados pela Doença de Chagas de Limoeiro do Norte;
Luzia Lopes dos Santos - Associação de Afetados Rio Chagas.
Mediação: Roberto Ferreira
Na sequência, trabalhos submetidos ao CCCP 2025 foram apresentados em formato de pôster científico. Quatro dos resumos inscritos foram selecionados para apresentação oral. Foram eles:
Evaluation of the impact of the COVID-19 pandemic on adverse drug events in patients with chronic Chagas disease, apresentado por Alexandro Marcel Hasslocher-Moreno;
Trypanosoma cruzi mitochondrion and its role in resistance to benznidazole: an in vitro study, apresentado por Ana Luiza Barbosa;
The impact of Expresso Chagas XXI in the Jaguaribe Valley – CE, apresentado por Thalita Soares;
Quality of YouTube videos on Chagas disease: compliance with clinical guidelines, apresentado por Whesley Tanor Silva.
O destaque do encerramento foi a palestra ‘Dois anos de notificação da doença de Chagas crônica no Brasil’, realizada pela consultora técnica do Ministério da Saúde, Swamy Lima Palmeira — que faz parte do Grupo Técnico de Doença de Chagas (GT-Chagas).
A sessão apresentou um panorama da implementação da notificação compulsória da fase crônica da doença no Brasil, iniciada em 2023.
“A notificação do caso crônico exige um modelo de acompanhamento. É diferente do caso agudo, em que a dinâmica é ‘suspeitou, notificou, encerrou’”, comentou.
Swamy explicou as diferenças de diagnóstico e tratamento entre o caso agudo e o caso crônico da doença de Chagas. O primeiro se refere ao momento logo após a infecção pelo Trypanosoma cruzi e apresenta sintomas mais evidentes — como febre, mal-estar, inchaço no rosto ou nas pernas, entre outros —; o segundo, por outro lado, tende a permanecer silencioso por décadas, até mesmo sem sintomas aparentes.
Na fase crônica, a doença ainda pode evoluir para formas graves, ocasionando problemas cardíacos em cerca de um terço dos pacientes. Além disso, 10% deles apresentam complicações digestivas, neurológicas ou mistas. Logo, a notificação nesse caso exige um modelo de acompanhamento contínuo, sendo necessário que os vigilantes se aproximem das pessoas afetadas e conheçam suas histórias, famílias e rotinas.
“Eu espero que eu tenha plantado uma sementinha’ sobre a humanização do processo de notificação. Porque nós somos maiores do que ‘um sangue’; temos gostos, desejo, fomes e sedes. Por isso, é necessário falar que pessoas com Chagas existem, além de conhecer e abraçar essas pessoas e caminhar com elas”, finalizou Swamy.
O segundo dia do CCCP também contou com a estreia da mostra 'Exposição Chagas’, exibida no hall do auditório do Pavilhão Arthur Neiva. O projeto utiliza abordagem artística para destacar a importância da pesquisa científica na prevenção da doença. Até o final de abril, a exposição segue aberta ao público no Pavilhão Leônidas Deane (confira aqui a localização).
A 13ª edição do Ciclo Carlos Chagas de Palestras (CCCP) chegou ao fim, na última sexta-feira (11), após dois dias de programação. Promovido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o evento reuniu pesquisadores, profissionais da saúde e associações de pessoas portadoras para refletir sobre os principais achados e desafios contemporâneos da doença de Chagas.
A programação contou com palestras, mesas-redondas, apresentações de trabalhos e exposições interativas em torno da marca de dois anos de notificação da doença de Chagas crônica no Brasil.
Nesta edição, o evento teve como mote o tema ‘100 + 16 anos da descoberta da doença de Chagas: o tempo não para’.
Pelo terceiro ano consecutivo, o Ciclo teve formato híbrido: no primeiro dia, as atividades foram transmitidas ao vivo pelo YouTube. Já no segundo, as sessões foram realizadas no auditório do Pavilhão Arthur Neiva, no campus da Fiocruz, em Manguinhos (RJ), com transmissão simultânea na web.
Organizado pelos pesquisadores do IOC, André Luiz Roque e Rubem Menna-Barreto, o evento é integrado ao Jubileu Secular de Prata dos 125 anos do Instituto, celebrado em 25 de maio, em data compartilhada com a Fiocruz.
A mesa de abertura contou com a participação da diretora do IOC, Tania Araujo-Jorge, e dos pesquisadores do Instituto, Wim Degrave, André Luiz Roque e Rubem Menna-Barreto. O coordenador do Movimento Nacional das Doenças Negligenciadas (MNDN), João Victor Pacheco de Carvalho, também marcou presença.
Na sequência, a mesa-redonda “Modelos matemáticos no estudo da doença de Chagas” discutiu a aplicação de modelagens computacionais para entender a dinâmica de transmissão do vetor da doença de Chagas, o Trypanosoma cruzi. A sessão reuniu especialistas de Brasil, Estados Unidos e Colômbia.
À tarde, a pesquisadora da University of Texas Medical Branch (EUA), Nisha Garg, apresentou a palestra ‘Congenital Chagas disease & new vaccines approaches’. A sessão fez um panorama sobre as vacinas contra a doença de Chagas em desenvolvimento na atualidade. Ao fim, houve debate mediado pela pesquisadora do IOC, Claudia Calvet Alvarez.
Para fechar a programação do primeiro dia do 13º CCCP, a mesa ‘Cardiomiopatia chagásica crônica’ destacou a complexidade da doença de Chagas crônica e seus sintomas.
A pesquisadora Milena Botelho, da Fiocruz Bahia, discorreu sobre o tema ‘O efeito da inflamação na expressão de conexina 43 na cardiomiopatia crônica’. Em seguida, a professora associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFJ), Claudia Paiva, discutiu o ‘Estresse oxidativo na cardiomiopatia crônica’.
A mesa-redonda ‘Diálogos Pesquisa-Serviços-Pessoas em doença de Chagas: O que fazer em 2025?’ abriu a programação do segundo dia (11/04) do CCCP 2025. O debate contou com a participação de pesquisadores, gestores públicos e associações de pessoas portadoras da doença. A mediação ficou por conta do pós-doutorando do IOC, Roberto Ferreira.
Pessoas portadoras da doença de Chagas compartilharam vivências e dificuldades de acesso ao diagnóstico. Elas ainda destacaram a ação de projetos de ciência cidadã, como o Expresso Chagas, e de associações de apoio.
A representante da Associação de Afetados Rio Chagas, Luzia Lopes dos Santos, contou que procurou muitos médicos e recebeu inúmeros diagnósticos antes de descobrir, aos 60 anos, que a causa de suas dores no intestino era a doença de Chagas. Tia Lu, como é conhecida, foi a primeira vice-presidente da associação.
“Em uma das expedições, no norte de Minas Gerais, descobrimos que as crianças brincavam com o barbeiro no quintal ainda — uma realidade que pensávamos que já não existia”, ponderou.
Confira a mesa completa:
Tania Araujo-Jorge – Diretora do Instituto Oswaldo Cruz;
Emanuelle Crisóstomo – Secretária de Saúde de Limoeiro do Norte (Ceará);
Thalita Rimes – Vigilância em Saúde de Limoeiro do Norte (Ceará);
Elisabete Manieri Carazzai – Vigilância em Saúde de Posse (Goiás);
Eduardo Sérgio da Silva – Universidade Federal de São João del Rey;
Roberto Sena - Diretor do Instituto René Rachou (Fiocruz Minas);
Nilva Belo – Associação Goiana de Portadores de Doença de Chagas;
Aristildo Araujo - Associação de Afetados pela Doença de Chagas de Limoeiro do Norte;
Luzia Lopes dos Santos - Associação de Afetados Rio Chagas.
Mediação: Roberto Ferreira
Na sequência, trabalhos submetidos ao CCCP 2025 foram apresentados em formato de pôster científico. Quatro dos resumos inscritos foram selecionados para apresentação oral. Foram eles:
Evaluation of the impact of the COVID-19 pandemic on adverse drug events in patients with chronic Chagas disease, apresentado por Alexandro Marcel Hasslocher-Moreno;
Trypanosoma cruzi mitochondrion and its role in resistance to benznidazole: an in vitro study, apresentado por Ana Luiza Barbosa;
The impact of Expresso Chagas XXI in the Jaguaribe Valley – CE, apresentado por Thalita Soares;
Quality of YouTube videos on Chagas disease: compliance with clinical guidelines, apresentado por Whesley Tanor Silva.
O destaque do encerramento foi a palestra ‘Dois anos de notificação da doença de Chagas crônica no Brasil’, realizada pela consultora técnica do Ministério da Saúde, Swamy Lima Palmeira — que faz parte do Grupo Técnico de Doença de Chagas (GT-Chagas).
A sessão apresentou um panorama da implementação da notificação compulsória da fase crônica da doença no Brasil, iniciada em 2023.
“A notificação do caso crônico exige um modelo de acompanhamento. É diferente do caso agudo, em que a dinâmica é ‘suspeitou, notificou, encerrou’”, comentou.
Swamy explicou as diferenças de diagnóstico e tratamento entre o caso agudo e o caso crônico da doença de Chagas. O primeiro se refere ao momento logo após a infecção pelo Trypanosoma cruzi e apresenta sintomas mais evidentes — como febre, mal-estar, inchaço no rosto ou nas pernas, entre outros —; o segundo, por outro lado, tende a permanecer silencioso por décadas, até mesmo sem sintomas aparentes.
Na fase crônica, a doença ainda pode evoluir para formas graves, ocasionando problemas cardíacos em cerca de um terço dos pacientes. Além disso, 10% deles apresentam complicações digestivas, neurológicas ou mistas. Logo, a notificação nesse caso exige um modelo de acompanhamento contínuo, sendo necessário que os vigilantes se aproximem das pessoas afetadas e conheçam suas histórias, famílias e rotinas.
“Eu espero que eu tenha plantado uma sementinha’ sobre a humanização do processo de notificação. Porque nós somos maiores do que ‘um sangue’; temos gostos, desejo, fomes e sedes. Por isso, é necessário falar que pessoas com Chagas existem, além de conhecer e abraçar essas pessoas e caminhar com elas”, finalizou Swamy.
O segundo dia do CCCP também contou com a estreia da mostra 'Exposição Chagas’, exibida no hall do auditório do Pavilhão Arthur Neiva. O projeto utiliza abordagem artística para destacar a importância da pesquisa científica na prevenção da doença. Até o final de abril, a exposição segue aberta ao público no Pavilhão Leônidas Deane (confira aqui a localização).
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)