Que Oswaldo Cruz e a história da ciência brasileira – e mundial – são metonimicamente ligados é fato indiscutível. E essa constatação foi patente durante as comemorações dos 150 anos de nascimento do cientista, realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) nesta sexta-feira, 05 de agosto, data em que se celebra não apenas o aniversário do patrono do Instituto e da Fiocruz, mas, também, o Dia Nacional da Saúde, instituído em sua homenagem.
A cerimônia, sessão especial do Centro de Estudos do IOC e atividade preparatória para o 7º Encontro do Instituto, foi realizada no auditório Emmanuel Dias, do Pavilhão Arthur Neiva, e transmitida ao vivo pelo canal IOC no YouTube.
“É com muita alegria e emoção que vejo, após longo período de atividades remotas por conta da pandemia de Covid-19, esse auditório lotado de amigos e colegas de profissão para celebrar o sesquicentenário de nascimento do nosso patrono. Em nome da Diretoria, agradeço a todas as equipes que ajudaram a estruturar esse importante evento, celebrado no Dia Nacional da Saúde”, declarou Tania Araujo-Jorge, diretora do IOC, durante a mesa de abertura da solenidade.
Tania Araujo-Jorge e Nisia Trindade Lima, primeiras mulheres a liderarem o IOC e a Fiocruz, durante a cerimônia de abertura. Foto: Gutemberg BritoTambém presente à mesa, Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, reforçou a importância de se reconhecer a dedicação das equipes que contribuíram para a realização do evento, e pontuou como um dos principais legados de Oswaldo Cruz, a construção da Fiocruz.
“No início da minha carreira, trouxe uma turma de estudantes para visitar o Castelo e, na ocasião, uma aluna perguntou: o que Oswaldo Cruz criou, descobriu? Respondi que ele foi responsável pela construção de tudo aquilo que ela estava vendo”, contou a presidente, reiterando que o maior legado deixado pelo patrono, na visão dela, é a Fundação.
O evento também foi marcado pela inauguração simbólica da plataforma de acessibilidade do Pavilhão Arthur Neiva. A iniciativa ressalta o compromisso do Instituto, ao longo de suas gestões, em oferecer autonomia e segurança aos profissionais, estudantes e visitantes portadores de deficiência física.
A solenidade contou com a presença do ex-diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, e do ex-vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, juntamente com Ademir Martins, atual vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, e Norma Brandão, assessora da Vice-Diretoria de Ensino e chefe da Secretaria Acadêmica do Instituto.
“Em nome da Vice-Diretoria de Ensino, agradeço a todas as gestões anteriores, à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e à Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) pela realização deste projeto que vem sendo tocado há muito tempo. Com ele, damos um passo à frente no cumprimento do Plano de Desenvolvimento Institucional da Educação da Fiocruz (PDIE), que, dentre as diretrizes, preconiza a realização de ações de promoção da acessibilidade física”, destacou Ademir Martins.
A emoção tomou conta do auditório durante a primeira exibição do curta-metragem “Cartas para Oswaldo: o compromisso renovado com a saúde e a ciência”, elaborado pelo Departamento de Jornalismo e Comunicação (DEJOR/IOC) a partir de contribuições da comunidade do Instituto. Lançado durante o aniversário de 122 anos do IOC, o projeto consistiu em um convite aos profissionais e estudantes do Instituto para enviarem mensagens ao patrono.
“Essa obra audiovisual é uma carta coletiva, que deixa evidente o fato de que Oswaldo vive. O vídeo está disponível no nosso site, assim como uma série de reportagens sobre o contexto em que Oswaldo Cruz nasceu, o pacote de figurinhas comemorativas da data e o projeto ‘Oswaldo Inspira’, que mostra aspectos humanos dessa figura magnífica que é nosso patrono”, comentou o vice-diretor de Ensino.
Na sequência, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, iniciou a palestra “Oswaldo Vive e inspira o futuro” recordando o laço histórico entre o IOC e a UFRJ, estabelecido especialmente por Carlos Chagas Filho, que atuou nas duas instituições nos anos 1930 e 1940, levando para a Universidade o modelo de integração de ensino e pesquisa do IOC.
“Vejam como o Instituto Oswaldo Cruz foi importante para que a UFRJ se tornasse a potência de produção científica que é hoje”, pontuou Denise.
Ela destacou o sucesso do modelo de pós-graduação estabelecido no Brasil, estruturado a partir dos anos 1960. Embora com origem muito mais recente do que em países da América do Norte e Europa, o sistema de ciência e tecnologia brasileiro apresenta resultados importantes, que se materializaram, por exemplo, no grande número de artigos publicados e na contribuição das universidades e centros de pesquisa do país para a resposta à Covid-19.
“Sonho com um Brasil que possa ter uma vacina nacional, desenvolvida na UFRJ e fabricada pela Fiocruz, para distribuir para países da África e da América do Sul que não têm capacidade de comprar vacinas. Acredito que esse também seria o sonho de Oswaldo Cruz”, disse a reitora, lembrando que, assim como ocorreu na Covid-19, a UFRJ está preparada para o enfrentamento ao vírus Monkeypox, em parceria com a Fiocruz.
O laço histórico entre o IOC e a UFRJ, estabelecido por Carlos Chagas Filho, foi destacado por Denise Pires de Carvalho, primeira reitora da maior Universidade do país. Foto: Gutemberg BritoA expansão do ensino universitário e da pós-graduação nas últimas décadas também foi destacada como uma conquista. “Em 1972, a graduação no nosso país acontecia basicamente entre São Paulo e Rio de Janeiro e 67% dos estudos de pós-graduação brasileiros eram produzidos nos Estados Unidos. Em 2009, as universidades brasileiras passaram a ter 59 sedes, com 171 campi, e o Brasil deixou de ter zonas cinzentas de produção de conhecimento”, citou Denise.
“Relatório da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] mostra que o Brasil tem 0,2% de doutores na população, enquanto a média nos países da região é de 1,1%. Estamos cinco vezes abaixo desse índice”, ressaltou Denise.
No encerramento de sua fala, a reitora lembrou o discurso que proferiu durante a posse na Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em junho, quando passou a ocupar a cadeira 68, cujo patrono é Oswaldo Cruz. “Vamos esperançar, porque Oswaldo vive e inspira nosso futuro”, concluiu, aplaudida de pé pela plateia no auditório.
“O futuro aos olhos de Oswaldo: como o patrono pensaria as próximas décadas do Instituto?” A partir desta interrogação, ex-diretores do IOC e a atual diretora, eleita para o terceiro mandato, discutiram perspectivas e desafios para a Unidade.
A sessão teve a participação, presencial ou virtual, de Carlos Morel, Sergio Coutinho, Claudio Ribeiro, Renato Cordeiro, Wilson Savino, José Paulo Gagliardi Leite e Tania Araujo-Jorge.
Diretor entre 1985 e 1989, Morel lembrou a batalha enfrentada por Oswaldo Cruz para impor a vacinação contra a varíola, que desencadeou a revolta da vacina, em 1904.
“O movimento anticiência e antivacinas é o perigo grande de hoje. Também estamos enfrentando 'brain drain' [fuga de cérebros], com saída de pessoas sensacionais para o exterior. Estas são questões negativas, que Oswaldo Cruz lamentaria. Mas temos também coisas boas: o SUS e o sistema de ciência e tecnologia do país, que conseguiram responder à Covid-19”, ponderou.
À esquerda, Carlos Morel (gestão 1985 e 1989) e Sergio Coutinho (gestão 1989 a 1993), durante apresentação presencial. Foto: Gutemberg BritoSergio Coutinho, que esteve à frente do IOC de 1989 a 1993, recordou a prioridade de Oswaldo Cruz: a vida e a saúde do povo brasileiro.
“Ele hoje seria a mesma pessoa. Teria em mente as mesmas coisas: a vacinação, o risco de novas endemias, a preocupação com a possibilidade de outras pandemias pela destruição do meio ambiente e uma instituição preparada para enfrentar esses problemas. Acho que ele estaria feliz de ver aqui o legado dele, com uma instituição que trabalha para o bem da vida da população”, pontuou.
A formação dos estudantes do IOC em linha com a visão de Oswaldo Cruz sobre a ciência para a saúde da população brasileira foi destaca por Claudio Ribeiro.
“É preciso que os jovens sejam treinados com ideia de que somos discípulos de um homem que colocou sua vida a serviço da população do Brasil, sobretudo da mais vulnerável, e com a ideia de que somos uma instituição do Ministério da Saúde. Por isso, a informação sobre o SUS deve fazer parte dos programas de pós-graduação da nossa casa e estar em nossas mentes a cada vez que produzimos ciência”, salientou pesquisador, que dirigiu o IOC entre 1993 e 1995.
Renato Cordeiro ressaltou a importância da gestão participativa, citando a perspectiva do VII Encontro do IOC, e defendeu o reforço de investimentos na pesquisa, além da cooperação científica.
“O IOC e a Fiocruz têm que fortalecer investimentos em pesquisa básica, pois só assim a ciência consegue chegar a tecnologias revolucionárias, como as vacinas da Covid-19. A pesquisa em meio ambiente também deve ser prioridade porque futuras pandemias podem surgir das florestas. Acho que nosso patrono ia sugerir ainda o aumento na cooperação internacional”, ponderou o diretor no período de 2001 a 2005.
A importância do conhecimento científico de ponta e da atenção às desigualdades do país foi o foco da fala de Wilson Savino, que esteve à frente do IOC entre 2013 e 2017.
“Precisamos estar atentos continuadamente à evolução da biologia e da medicina, às descobertas e aos avanços tecnológicos, porque isso nos fará estar preparados para emergências, como vimos na Zika e na Covid-19. Não podemos esquecer que vivemos num país de extrema desigualdade social e nosso trabalho deve visar a qualidade de vida dos nossos cidadãos. Vamos para o futuro, erguidos e dizendo: viva Oswaldo Cruz”, afirmou.
José Paulo Leite (gestão 2017 a 2021) e Tania Araujo-Jorge (gestões 2005 a 2009; 2009 a 2013; 2021 a 2025), durante apresentação presencial. Foto: Gutemberg BritoJosé Paulo Gagliardi Leite ressaltou a relevância das redes de pesquisa, os desafios na vacinação, o risco da diáspora de cientistas brasileiros e apontou caminhos no exemplo de Oswaldo Cruz.
“Ele era um visionário. Exemplo de simplicidade, de agregar pessoas, de olhar o coletivo e não o individual. Na gestão, compreendia o compromisso com a saúde, a visão holística, a saúde única e uma visão de futuro. Seguindo esse exemplo, precisamos construir um IOC, uma Fiocruz e uma Universidade cada vez melhores, com ciência, tecnologia e inovação para a nossa sociedade”, declarou o diretor que liderou o IOC de 2017 a 2021.
No seu terceiro mandato, a atual diretora do IOC corroborou as propostas dos demais ex-diretores. Tania Araujo-Jorge enfatizou a relevância de uma ciência mais criativa, solidária, cooperativa e feminina.
“Que nossa Fiocruz, nosso Instituto e todas as parcerias que temos sejam criativas e fortes, seguindo o exemplo e legado que Oswaldo Cruz deixou. Também sonho com um instituto mais feminino, pois hoje somos majoritariamente mulheres na Fiocruz e no IOC, mas ainda não é assim na gestão”, pontuou Tania, que apontou ainda a importância da integração da ciência com a sociedade. “Sonho com um Instituto sem muros, com portas abertas para nossa comunidade”, completou.
Intitulado “Oswaldo e Chagas: o legado permanente da parceria e da colaboração”, o último bloco das comemorações pelos 150 anos de nascimento de Oswaldo Cruz teve como mote o vínculo entre o patrono do IOC e Carlos Chagas.
Iniciada em 1902, quando Chagas convida Oswaldo Cruz para orientá-lo em sua tese de doutorado, a parceria entre os dois grandes ícones da ciência brasileira é estreitada ainda mais nos anos seguintes, quando Oswaldo convoca Chagas para participar de uma campanha contra a malária, que posteriormente se desdobraria na descoberta do protozoário causador da doença, o Trypanosoma cruzi – nome escolhido por Chagas em homenagem ao seu orientador.
Para ilustrar essa amistosa relação, com foco no respeito e admiração compartilhados entre os pesquisadores, a chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, Joseli Lannes, compartilhou trechos de cartas escritas pelo próprio Carlos Chagas e por Henrique Aragão e Ezequiel dias, também alunos de Oswaldo.
“Ezequiel Dias definia Carlos Chagas como o mais amado dos discípulos de Oswaldo Cruz. E Carlos Chagas se referia a Oswaldo Cruz como ‘o mestre’”, destacou Joseli.
Joseli Lanes leu cartas escritas por pesquisadores do IOC. Foto: Gutemberg BritoEm seguida, foram apresentadas as atividades da temática que ficarão expostas e abertas ao público entre 8 e 12 de agosto, das 9h às 16h, no hall do Pavilhão Leônidas Deane, no campus da Fiocruz, em Manguinhos.
O primeiro destaque, inspirado na descoberta do Trypanosoma cruzi por Carlos Chagas, foi a experiência “Escape Room: O Enigma de Lassance”. Apresentado pelo chefe do Laboratório de Bioquímica de Tripanossomatídeos do IOC, Eduardo Caio Torres dos Santos, idealizador do projeto, juntamente com Marcio Mantuano Barradas, do mesmo Laboratório, o jogo interativo no formato de “sala de fuga” – em que os participantes precisam desvendar enigmas para escapar de um ambiente - utiliza elementos vividos pelo pesquisador durante sua ida a Lassance, no interior de Minas Gerais.
Outro lançamento foi a abertura da exposição "A doença de Chagas da pré-história aos dias atuais". A iniciativa, desenvolvida inicialmente na Bolívia pela Universidad Mayor de San Simon, conta com diferentes painéis sobre a doença de Chagas, incluindo a sua presença desde a pré-história, revelada através de estudos em múmias latino-americanas. A curadoria é de Anunciata Sawada, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC, juntamente com Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza, do Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
A mais antiga coleção biológica da Fiocruz também marcou presença na sessão. Iniciada pelo próprio Oswaldo Cruz, a partir da descrição da espécie Anopheles lutzii, a Coleção Entomológica do IOC (CEIOC) estará em exposição com algumas de suas gavetas de insetos, conforme apresentou o curador Marcio Félix, pesquisador do Laboratório de Biodiversidade Entomológica.
O último lançamento abordou a tecnologia social “Expresso Chagas 21”, desenvolvida pelo Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC. A atividade, que esteve em ação em 2019 no interior de Minas Gerais, faz, agora, uma parada especial no campus da Fiocruz. A iniciativa foi apresentada pela diretora Tania Araujo Jorge, idealizadora do projeto.
Entre 8 e 19 de agosto, um curso para capacitar equipes para implementarem a tecnologia social será ministrado virtualmente. Ao longo dos 10 encontros, os participantes aprenderão mais sobre os desafios da doença de Chagas (a partir de temas sobre epidemiologia, vigilância, diagnóstico, tratamento e pesquisa) e serão instruídos a mediar a exposição, conhecendo mais profundamente cada segmento da iniciativa.
Da esquerda pra direita: Eduardo Caio, Anunciata Sawada, Tania Araujo-Jorge e Marcio Felix. Foto: Gutemberg BritoO encerramento da comemoração foi marcado pelo lançamento do Memorial Covid-19. A vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC, Wania Santiago, apresentou o projeto e destacou a mobilização do Instituto, em diversas instâncias, para o enfrentamento da pandemia.
“A nossa mensagem é para que esse tempo que nós atravessamos não seja esquecido. Reconhecer e reafirmar a nossa vocação de trabalhar em prol da ciência e assim salvar vidas”, pontuou.
A vice-diretora adiantou que o IOC está em alinhamento com a Coordenação-geral de Infraestrutura dos Campi da Fiocruz para fazer a instalação da peça, em uma cerimônia de inauguração a ser marcada.
Wania Santiago durante a apresentação de memorial que reafirma o compromisso do IOC com a vida e saúde dos brasileiros. Foto: Gutemberg Brito
Que Oswaldo Cruz e a história da ciência brasileira – e mundial – são metonimicamente ligados é fato indiscutível. E essa constatação foi patente durante as comemorações dos 150 anos de nascimento do cientista, realizada pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) nesta sexta-feira, 05 de agosto, data em que se celebra não apenas o aniversário do patrono do Instituto e da Fiocruz, mas, também, o Dia Nacional da Saúde, instituído em sua homenagem.
A cerimônia, sessão especial do Centro de Estudos do IOC e atividade preparatória para o 7º Encontro do Instituto, foi realizada no auditório Emmanuel Dias, do Pavilhão Arthur Neiva, e transmitida ao vivo pelo canal IOC no YouTube.
“É com muita alegria e emoção que vejo, após longo período de atividades remotas por conta da pandemia de Covid-19, esse auditório lotado de amigos e colegas de profissão para celebrar o sesquicentenário de nascimento do nosso patrono. Em nome da Diretoria, agradeço a todas as equipes que ajudaram a estruturar esse importante evento, celebrado no Dia Nacional da Saúde”, declarou Tania Araujo-Jorge, diretora do IOC, durante a mesa de abertura da solenidade.
Tania Araujo-Jorge e Nisia Trindade Lima, primeiras mulheres a liderarem o IOC e a Fiocruz, durante a cerimônia de abertura. Foto: Gutemberg BritoTambém presente à mesa, Nísia Trindade Lima, presidente da Fiocruz, reforçou a importância de se reconhecer a dedicação das equipes que contribuíram para a realização do evento, e pontuou como um dos principais legados de Oswaldo Cruz, a construção da Fiocruz.
“No início da minha carreira, trouxe uma turma de estudantes para visitar o Castelo e, na ocasião, uma aluna perguntou: o que Oswaldo Cruz criou, descobriu? Respondi que ele foi responsável pela construção de tudo aquilo que ela estava vendo”, contou a presidente, reiterando que o maior legado deixado pelo patrono, na visão dela, é a Fundação.
O evento também foi marcado pela inauguração simbólica da plataforma de acessibilidade do Pavilhão Arthur Neiva. A iniciativa ressalta o compromisso do Instituto, ao longo de suas gestões, em oferecer autonomia e segurança aos profissionais, estudantes e visitantes portadores de deficiência física.
A solenidade contou com a presença do ex-diretor do IOC, José Paulo Gagliardi Leite, e do ex-vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, juntamente com Ademir Martins, atual vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, e Norma Brandão, assessora da Vice-Diretoria de Ensino e chefe da Secretaria Acadêmica do Instituto.
“Em nome da Vice-Diretoria de Ensino, agradeço a todas as gestões anteriores, à Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) e à Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz) pela realização deste projeto que vem sendo tocado há muito tempo. Com ele, damos um passo à frente no cumprimento do Plano de Desenvolvimento Institucional da Educação da Fiocruz (PDIE), que, dentre as diretrizes, preconiza a realização de ações de promoção da acessibilidade física”, destacou Ademir Martins.
A emoção tomou conta do auditório durante a primeira exibição do curta-metragem “Cartas para Oswaldo: o compromisso renovado com a saúde e a ciência”, elaborado pelo Departamento de Jornalismo e Comunicação (DEJOR/IOC) a partir de contribuições da comunidade do Instituto. Lançado durante o aniversário de 122 anos do IOC, o projeto consistiu em um convite aos profissionais e estudantes do Instituto para enviarem mensagens ao patrono.
“Essa obra audiovisual é uma carta coletiva, que deixa evidente o fato de que Oswaldo vive. O vídeo está disponível no nosso site, assim como uma série de reportagens sobre o contexto em que Oswaldo Cruz nasceu, o pacote de figurinhas comemorativas da data e o projeto ‘Oswaldo Inspira’, que mostra aspectos humanos dessa figura magnífica que é nosso patrono”, comentou o vice-diretor de Ensino.
Na sequência, a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, iniciou a palestra “Oswaldo Vive e inspira o futuro” recordando o laço histórico entre o IOC e a UFRJ, estabelecido especialmente por Carlos Chagas Filho, que atuou nas duas instituições nos anos 1930 e 1940, levando para a Universidade o modelo de integração de ensino e pesquisa do IOC.
“Vejam como o Instituto Oswaldo Cruz foi importante para que a UFRJ se tornasse a potência de produção científica que é hoje”, pontuou Denise.
Ela destacou o sucesso do modelo de pós-graduação estabelecido no Brasil, estruturado a partir dos anos 1960. Embora com origem muito mais recente do que em países da América do Norte e Europa, o sistema de ciência e tecnologia brasileiro apresenta resultados importantes, que se materializaram, por exemplo, no grande número de artigos publicados e na contribuição das universidades e centros de pesquisa do país para a resposta à Covid-19.
“Sonho com um Brasil que possa ter uma vacina nacional, desenvolvida na UFRJ e fabricada pela Fiocruz, para distribuir para países da África e da América do Sul que não têm capacidade de comprar vacinas. Acredito que esse também seria o sonho de Oswaldo Cruz”, disse a reitora, lembrando que, assim como ocorreu na Covid-19, a UFRJ está preparada para o enfrentamento ao vírus Monkeypox, em parceria com a Fiocruz.
O laço histórico entre o IOC e a UFRJ, estabelecido por Carlos Chagas Filho, foi destacado por Denise Pires de Carvalho, primeira reitora da maior Universidade do país. Foto: Gutemberg BritoA expansão do ensino universitário e da pós-graduação nas últimas décadas também foi destacada como uma conquista. “Em 1972, a graduação no nosso país acontecia basicamente entre São Paulo e Rio de Janeiro e 67% dos estudos de pós-graduação brasileiros eram produzidos nos Estados Unidos. Em 2009, as universidades brasileiras passaram a ter 59 sedes, com 171 campi, e o Brasil deixou de ter zonas cinzentas de produção de conhecimento”, citou Denise.
“Relatório da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] mostra que o Brasil tem 0,2% de doutores na população, enquanto a média nos países da região é de 1,1%. Estamos cinco vezes abaixo desse índice”, ressaltou Denise.
No encerramento de sua fala, a reitora lembrou o discurso que proferiu durante a posse na Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, em junho, quando passou a ocupar a cadeira 68, cujo patrono é Oswaldo Cruz. “Vamos esperançar, porque Oswaldo vive e inspira nosso futuro”, concluiu, aplaudida de pé pela plateia no auditório.
“O futuro aos olhos de Oswaldo: como o patrono pensaria as próximas décadas do Instituto?” A partir desta interrogação, ex-diretores do IOC e a atual diretora, eleita para o terceiro mandato, discutiram perspectivas e desafios para a Unidade.
A sessão teve a participação, presencial ou virtual, de Carlos Morel, Sergio Coutinho, Claudio Ribeiro, Renato Cordeiro, Wilson Savino, José Paulo Gagliardi Leite e Tania Araujo-Jorge.
Diretor entre 1985 e 1989, Morel lembrou a batalha enfrentada por Oswaldo Cruz para impor a vacinação contra a varíola, que desencadeou a revolta da vacina, em 1904.
“O movimento anticiência e antivacinas é o perigo grande de hoje. Também estamos enfrentando 'brain drain' [fuga de cérebros], com saída de pessoas sensacionais para o exterior. Estas são questões negativas, que Oswaldo Cruz lamentaria. Mas temos também coisas boas: o SUS e o sistema de ciência e tecnologia do país, que conseguiram responder à Covid-19”, ponderou.
À esquerda, Carlos Morel (gestão 1985 e 1989) e Sergio Coutinho (gestão 1989 a 1993), durante apresentação presencial. Foto: Gutemberg BritoSergio Coutinho, que esteve à frente do IOC de 1989 a 1993, recordou a prioridade de Oswaldo Cruz: a vida e a saúde do povo brasileiro.
“Ele hoje seria a mesma pessoa. Teria em mente as mesmas coisas: a vacinação, o risco de novas endemias, a preocupação com a possibilidade de outras pandemias pela destruição do meio ambiente e uma instituição preparada para enfrentar esses problemas. Acho que ele estaria feliz de ver aqui o legado dele, com uma instituição que trabalha para o bem da vida da população”, pontuou.
A formação dos estudantes do IOC em linha com a visão de Oswaldo Cruz sobre a ciência para a saúde da população brasileira foi destaca por Claudio Ribeiro.
“É preciso que os jovens sejam treinados com ideia de que somos discípulos de um homem que colocou sua vida a serviço da população do Brasil, sobretudo da mais vulnerável, e com a ideia de que somos uma instituição do Ministério da Saúde. Por isso, a informação sobre o SUS deve fazer parte dos programas de pós-graduação da nossa casa e estar em nossas mentes a cada vez que produzimos ciência”, salientou pesquisador, que dirigiu o IOC entre 1993 e 1995.
Renato Cordeiro ressaltou a importância da gestão participativa, citando a perspectiva do VII Encontro do IOC, e defendeu o reforço de investimentos na pesquisa, além da cooperação científica.
“O IOC e a Fiocruz têm que fortalecer investimentos em pesquisa básica, pois só assim a ciência consegue chegar a tecnologias revolucionárias, como as vacinas da Covid-19. A pesquisa em meio ambiente também deve ser prioridade porque futuras pandemias podem surgir das florestas. Acho que nosso patrono ia sugerir ainda o aumento na cooperação internacional”, ponderou o diretor no período de 2001 a 2005.
A importância do conhecimento científico de ponta e da atenção às desigualdades do país foi o foco da fala de Wilson Savino, que esteve à frente do IOC entre 2013 e 2017.
“Precisamos estar atentos continuadamente à evolução da biologia e da medicina, às descobertas e aos avanços tecnológicos, porque isso nos fará estar preparados para emergências, como vimos na Zika e na Covid-19. Não podemos esquecer que vivemos num país de extrema desigualdade social e nosso trabalho deve visar a qualidade de vida dos nossos cidadãos. Vamos para o futuro, erguidos e dizendo: viva Oswaldo Cruz”, afirmou.
José Paulo Leite (gestão 2017 a 2021) e Tania Araujo-Jorge (gestões 2005 a 2009; 2009 a 2013; 2021 a 2025), durante apresentação presencial. Foto: Gutemberg BritoJosé Paulo Gagliardi Leite ressaltou a relevância das redes de pesquisa, os desafios na vacinação, o risco da diáspora de cientistas brasileiros e apontou caminhos no exemplo de Oswaldo Cruz.
“Ele era um visionário. Exemplo de simplicidade, de agregar pessoas, de olhar o coletivo e não o individual. Na gestão, compreendia o compromisso com a saúde, a visão holística, a saúde única e uma visão de futuro. Seguindo esse exemplo, precisamos construir um IOC, uma Fiocruz e uma Universidade cada vez melhores, com ciência, tecnologia e inovação para a nossa sociedade”, declarou o diretor que liderou o IOC de 2017 a 2021.
No seu terceiro mandato, a atual diretora do IOC corroborou as propostas dos demais ex-diretores. Tania Araujo-Jorge enfatizou a relevância de uma ciência mais criativa, solidária, cooperativa e feminina.
“Que nossa Fiocruz, nosso Instituto e todas as parcerias que temos sejam criativas e fortes, seguindo o exemplo e legado que Oswaldo Cruz deixou. Também sonho com um instituto mais feminino, pois hoje somos majoritariamente mulheres na Fiocruz e no IOC, mas ainda não é assim na gestão”, pontuou Tania, que apontou ainda a importância da integração da ciência com a sociedade. “Sonho com um Instituto sem muros, com portas abertas para nossa comunidade”, completou.
Intitulado “Oswaldo e Chagas: o legado permanente da parceria e da colaboração”, o último bloco das comemorações pelos 150 anos de nascimento de Oswaldo Cruz teve como mote o vínculo entre o patrono do IOC e Carlos Chagas.
Iniciada em 1902, quando Chagas convida Oswaldo Cruz para orientá-lo em sua tese de doutorado, a parceria entre os dois grandes ícones da ciência brasileira é estreitada ainda mais nos anos seguintes, quando Oswaldo convoca Chagas para participar de uma campanha contra a malária, que posteriormente se desdobraria na descoberta do protozoário causador da doença, o Trypanosoma cruzi – nome escolhido por Chagas em homenagem ao seu orientador.
Para ilustrar essa amistosa relação, com foco no respeito e admiração compartilhados entre os pesquisadores, a chefe do Laboratório de Biologia das Interações do IOC, Joseli Lannes, compartilhou trechos de cartas escritas pelo próprio Carlos Chagas e por Henrique Aragão e Ezequiel dias, também alunos de Oswaldo.
“Ezequiel Dias definia Carlos Chagas como o mais amado dos discípulos de Oswaldo Cruz. E Carlos Chagas se referia a Oswaldo Cruz como ‘o mestre’”, destacou Joseli.
Joseli Lanes leu cartas escritas por pesquisadores do IOC. Foto: Gutemberg BritoEm seguida, foram apresentadas as atividades da temática que ficarão expostas e abertas ao público entre 8 e 12 de agosto, das 9h às 16h, no hall do Pavilhão Leônidas Deane, no campus da Fiocruz, em Manguinhos.
O primeiro destaque, inspirado na descoberta do Trypanosoma cruzi por Carlos Chagas, foi a experiência “Escape Room: O Enigma de Lassance”. Apresentado pelo chefe do Laboratório de Bioquímica de Tripanossomatídeos do IOC, Eduardo Caio Torres dos Santos, idealizador do projeto, juntamente com Marcio Mantuano Barradas, do mesmo Laboratório, o jogo interativo no formato de “sala de fuga” – em que os participantes precisam desvendar enigmas para escapar de um ambiente - utiliza elementos vividos pelo pesquisador durante sua ida a Lassance, no interior de Minas Gerais.
Outro lançamento foi a abertura da exposição "A doença de Chagas da pré-história aos dias atuais". A iniciativa, desenvolvida inicialmente na Bolívia pela Universidad Mayor de San Simon, conta com diferentes painéis sobre a doença de Chagas, incluindo a sua presença desde a pré-história, revelada através de estudos em múmias latino-americanas. A curadoria é de Anunciata Sawada, pesquisadora do Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC, juntamente com Sheila Maria Ferraz Mendonça de Souza, do Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP).
A mais antiga coleção biológica da Fiocruz também marcou presença na sessão. Iniciada pelo próprio Oswaldo Cruz, a partir da descrição da espécie Anopheles lutzii, a Coleção Entomológica do IOC (CEIOC) estará em exposição com algumas de suas gavetas de insetos, conforme apresentou o curador Marcio Félix, pesquisador do Laboratório de Biodiversidade Entomológica.
O último lançamento abordou a tecnologia social “Expresso Chagas 21”, desenvolvida pelo Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos do IOC. A atividade, que esteve em ação em 2019 no interior de Minas Gerais, faz, agora, uma parada especial no campus da Fiocruz. A iniciativa foi apresentada pela diretora Tania Araujo Jorge, idealizadora do projeto.
Entre 8 e 19 de agosto, um curso para capacitar equipes para implementarem a tecnologia social será ministrado virtualmente. Ao longo dos 10 encontros, os participantes aprenderão mais sobre os desafios da doença de Chagas (a partir de temas sobre epidemiologia, vigilância, diagnóstico, tratamento e pesquisa) e serão instruídos a mediar a exposição, conhecendo mais profundamente cada segmento da iniciativa.
Da esquerda pra direita: Eduardo Caio, Anunciata Sawada, Tania Araujo-Jorge e Marcio Felix. Foto: Gutemberg BritoO encerramento da comemoração foi marcado pelo lançamento do Memorial Covid-19. A vice-diretora de Desenvolvimento Institucional e Gestão do IOC, Wania Santiago, apresentou o projeto e destacou a mobilização do Instituto, em diversas instâncias, para o enfrentamento da pandemia.
“A nossa mensagem é para que esse tempo que nós atravessamos não seja esquecido. Reconhecer e reafirmar a nossa vocação de trabalhar em prol da ciência e assim salvar vidas”, pontuou.
A vice-diretora adiantou que o IOC está em alinhamento com a Coordenação-geral de Infraestrutura dos Campi da Fiocruz para fazer a instalação da peça, em uma cerimônia de inauguração a ser marcada.
Wania Santiago durante a apresentação de memorial que reafirma o compromisso do IOC com a vida e saúde dos brasileiros. Foto: Gutemberg BritoPermitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)