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Empreendedorismo no fazer científico

Alternativas para driblar o quadro de restrição orçamentária que atinge a ciência foram tema de debate na ‘Semana da Pós-graduação’
Por Lucas Rocha28/09/2017 - Atualizado em 18/04/2024

O cenário de restrição orçamentária tem impactado diretamente no desenvolvimento de projetos de pesquisa no Brasil. A busca por fomento tem estimulado a criatividade de pesquisadores na busca de garantir a continuidade dos estudos.

Para falar sobre o assunto, a edição 2017 da Semana de Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) recebeu, no dia 27/09, o professor Mauro Rebelo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Ricardo Remer, sócio de uma startup da Incubadora de Empresas do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), e no dia 28/09, o pesquisador Hugo Aguilaniu, diretor do Instituto Serrapilheira. Abrir um jornal na página de economia e encontrar termos como ‘crowdfunding’ ou ‘startup’ é muito comum.

Cada vez mais, essas expressões aparecem em textos que abordam projetos científicos. Em busca de novas oportunidades para o desenvolvimento de estudos, pesquisadores apostam em abordagens originadas no mundo corporativo.

Um exemplo é o crowdfunding, plataforma de financiamento que funciona a partir de doações coletivas – uma espécie de ‘vaquinha’ virtual. Mauro Rebelo viu nessa estratégia a oportunidade para impulsionar uma pesquisa sobre o genoma do mexilhão-dourado, Limnoperna fortunei, desenvolvida no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.

“O projeto superou a meta proposta de 40 mil reais estabelecida para o crowdfunding, a partir da colaboração de mais de 300 pessoas. O fomento permitiu avanços para a pesquisa, com a realização de diversos sequenciamentos do genoma do mexilhão-dourado”, destacou.

A fácil reprodução e a ausência de um predador natural fazem da espécie uma praga que coloca em risco a biodiversidade de rios e traz prejuízos para usinas hidrelétricas.

O grupo de pesquisa concluiu o sequenciamento completo do genoma do molusco, alvo de publicação submetida ao periódico científico ‘GigaScience’.

Os próximos passos do projeto incluem a parceria com uma empresa de geração de energia elétrica para o combate da espécie a partir de estratégias de modificação genética.

 

Ricardo Remer (à esq.) e Mauro Rebelo (à dir.) apresentaram estratégias do mundo corporativo que podem ser aplicadas no desenvolvimento de projetos científicos. Foto: Gutemberg Brito


Já Ricardo Remer destacou o potencial das startups como métodos de empreendedorismo para a ciência. Ex-aluno do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, ele salientou o contexto de incerteza enfrentado por este tipo de iniciativa.

“Para cientistas, investir em uma startup é topar correr o risco de entrar no segmento de mercado, uma área um pouco diferente da pesquisa. É preciso revestir o conhecimento científico de características que tornem o projeto interessante para o mercado, seja na forma de serviço, produto ou algo que atenda às necessidades do mercado”, explicou o sócio da Biotecam, startup que desenvolve tecnologias para o aumento da eficiência de sistemas de tratamento de efluentes para estações de esgoto.

Orçamento em xeque

O quadro de restrição orçamentária no Brasil, que afeta institutos de pesquisa e universidades, também inclui as agências de fomento mais tradicionais. Em meio a este cenário, uma nova expectativa surgiu em março de 2017, com a criação, no Rio de Janeiro, do Instituto Serrapilheira, uma entidade privada de apoio à ciência nacional.

A iniciativa do documentarista João Moreira Salles e de sua esposa, Branca Moreira Salles, visa o financiamento de projetos de pesquisa e divulgação científica em diversas áreas, como ciências da computação, da terra, da vida, além das engenharias, física, matemática e química.

Convidado da Semana da Pós-graduação do IOC, o diretor do Serrapilheira, o geneticista francês Hugo Aguilaniu, abordou os primeiros passos do instituto e perspectivas para a ciência brasileira.

Diretor do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu ressaltou a importância do investimento em projetos que respondam a grandes perguntas em diferentes campos. Foto: Gutemberg Brito


“O Serrapilheira não pode compensar a queda brutal dos recursos dedicados à ciência. O que nós podemos fazer é mostrar um jeito novo de fomentar a ciência, que possa ter um impacto sobre outras agências”, explicou.

Lançado em julho, o primeiro edital recebeu mais de duas mil propostas, das quais serão selecionadas até 70, com apoio máximo de R$ 100 mil pelo prazo de um ano. Segundo Hugo, a iniciativa tem como objetivo formar uma comunidade de especialistas de excelência com base em relações que valorizem aspectos como confiança, transparência e uma pitada de ousadia.

“Procuramos identificar e apoiar pesquisadores que estejam fazendo as grandes perguntas das suas áreas de atuação. Queremos dar liberdade e autonomia para que pesquisadores audaciosos possam desenvolver seus estudos”, completou.

Em relação ao desenvolvimento científico nacional, Hugo destacou o empenho de pesquisadores brasileiros e apontou entraves como infraestrutura e burocracia.

“O atraso sistemático no repasse de verbas, por exemplo, dificulta o planejamento e o andamento dos trabalhos. É como se você entrasse numa competição de natação em que todos começam a prova e você tem que esperar dez segundos: não tem como ganhar. Para competir mundialmente é preciso ter condições semelhantes”, concluiu.

Alternativas para driblar o quadro de restrição orçamentária que atinge a ciência foram tema de debate na ‘Semana da Pós-graduação’
Por: 
lucas

O cenário de restrição orçamentária tem impactado diretamente no desenvolvimento de projetos de pesquisa no Brasil. A busca por fomento tem estimulado a criatividade de pesquisadores na busca de garantir a continuidade dos estudos.

Para falar sobre o assunto, a edição 2017 da Semana de Pós-graduação Stricto sensu do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) recebeu, no dia 27/09, o professor Mauro Rebelo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Ricardo Remer, sócio de uma startup da Incubadora de Empresas do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), e no dia 28/09, o pesquisador Hugo Aguilaniu, diretor do Instituto Serrapilheira. Abrir um jornal na página de economia e encontrar termos como ‘crowdfunding’ ou ‘startup’ é muito comum.

Cada vez mais, essas expressões aparecem em textos que abordam projetos científicos. Em busca de novas oportunidades para o desenvolvimento de estudos, pesquisadores apostam em abordagens originadas no mundo corporativo.

Um exemplo é o crowdfunding, plataforma de financiamento que funciona a partir de doações coletivas – uma espécie de ‘vaquinha’ virtual. Mauro Rebelo viu nessa estratégia a oportunidade para impulsionar uma pesquisa sobre o genoma do mexilhão-dourado, Limnoperna fortunei, desenvolvida no Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.

“O projeto superou a meta proposta de 40 mil reais estabelecida para o crowdfunding, a partir da colaboração de mais de 300 pessoas. O fomento permitiu avanços para a pesquisa, com a realização de diversos sequenciamentos do genoma do mexilhão-dourado”, destacou.

A fácil reprodução e a ausência de um predador natural fazem da espécie uma praga que coloca em risco a biodiversidade de rios e traz prejuízos para usinas hidrelétricas.

O grupo de pesquisa concluiu o sequenciamento completo do genoma do molusco, alvo de publicação submetida ao periódico científico ‘GigaScience’.

Os próximos passos do projeto incluem a parceria com uma empresa de geração de energia elétrica para o combate da espécie a partir de estratégias de modificação genética.

 

Ricardo Remer (à esq.) e Mauro Rebelo (à dir.) apresentaram estratégias do mundo corporativo que podem ser aplicadas no desenvolvimento de projetos científicos. Foto: Gutemberg Brito

Já Ricardo Remer destacou o potencial das startups como métodos de empreendedorismo para a ciência. Ex-aluno do Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC, ele salientou o contexto de incerteza enfrentado por este tipo de iniciativa.

“Para cientistas, investir em uma startup é topar correr o risco de entrar no segmento de mercado, uma área um pouco diferente da pesquisa. É preciso revestir o conhecimento científico de características que tornem o projeto interessante para o mercado, seja na forma de serviço, produto ou algo que atenda às necessidades do mercado”, explicou o sócio da Biotecam, startup que desenvolve tecnologias para o aumento da eficiência de sistemas de tratamento de efluentes para estações de esgoto.

Orçamento em xeque

O quadro de restrição orçamentária no Brasil, que afeta institutos de pesquisa e universidades, também inclui as agências de fomento mais tradicionais. Em meio a este cenário, uma nova expectativa surgiu em março de 2017, com a criação, no Rio de Janeiro, do Instituto Serrapilheira, uma entidade privada de apoio à ciência nacional.

A iniciativa do documentarista João Moreira Salles e de sua esposa, Branca Moreira Salles, visa o financiamento de projetos de pesquisa e divulgação científica em diversas áreas, como ciências da computação, da terra, da vida, além das engenharias, física, matemática e química.

Convidado da Semana da Pós-graduação do IOC, o diretor do Serrapilheira, o geneticista francês Hugo Aguilaniu, abordou os primeiros passos do instituto e perspectivas para a ciência brasileira.

Diretor do Instituto Serrapilheira, Hugo Aguilaniu ressaltou a importância do investimento em projetos que respondam a grandes perguntas em diferentes campos. Foto: Gutemberg Brito

“O Serrapilheira não pode compensar a queda brutal dos recursos dedicados à ciência. O que nós podemos fazer é mostrar um jeito novo de fomentar a ciência, que possa ter um impacto sobre outras agências”, explicou.

Lançado em julho, o primeiro edital recebeu mais de duas mil propostas, das quais serão selecionadas até 70, com apoio máximo de R$ 100 mil pelo prazo de um ano. Segundo Hugo, a iniciativa tem como objetivo formar uma comunidade de especialistas de excelência com base em relações que valorizem aspectos como confiança, transparência e uma pitada de ousadia.

“Procuramos identificar e apoiar pesquisadores que estejam fazendo as grandes perguntas das suas áreas de atuação. Queremos dar liberdade e autonomia para que pesquisadores audaciosos possam desenvolver seus estudos”, completou.

Em relação ao desenvolvimento científico nacional, Hugo destacou o empenho de pesquisadores brasileiros e apontou entraves como infraestrutura e burocracia.

“O atraso sistemático no repasse de verbas, por exemplo, dificulta o planejamento e o andamento dos trabalhos. É como se você entrasse numa competição de natação em que todos começam a prova e você tem que esperar dez segundos: não tem como ganhar. Para competir mundialmente é preciso ter condições semelhantes”, concluiu.

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)