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Especialização em Malacologia de Vetores celebra 25 anos

Criada em 1994, Pós-graduação Lato sensu capacita profissionais brasileiros e estrangeiros para elaboração e execução de estratégias de controle de moluscos de importância médico-veterinária
Por Lucas Rocha13/05/2019 - Atualizado em 26/03/2024

A vigilância e o controle de moluscos são medidas importantes para combater a transmissão de agravos, como a esquistossomose.

A estratégia de controle da doença, transmitida por caramujos do gênero Biomphalaria, também inclui o amplo tratamento de populações em risco, acesso a água potável, saneamento básico e educação em saúde.

Com a missão de formar especialistas capazes de elaborar e executar estratégias de controle de moluscos de importância médica, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) criou, em 1994, a Pós-graduação Lato sensu em Malacologia de Vetores.

Pioneiro, o curso já formou, ao longo dessas mais de duas décadas, profissionais de diversas áreas para atuação em pesquisa, ensino e serviço em saúde.

O time de egressos reúne médicos, biólogos e agentes de saúde, que integram instituições como a Fiocruz, e órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS), universidade públicas e particulares, secretarias municipais e estaduais de saúde e de educação pelo Brasil afora.

A Pós-graduação em Malacologia de Vetores é fruto do empenho de um grupo de trabalho que contou com a participação, em especial, de membros do antigo Departamento de Biologia do IOC.

Contribuíram para a criação do curso os pesquisadores Pedro Jurberg, Júlio Vianna Barbosa, Marli Lima, Otávio Pieiri, Tereza Favre, Virgínia Schall, Silvana Thiengo, entre outros.

Com periodicidade bianual, o curso formou 12 turmas, totalizando cerca de 80 alunos. Passaram pela especialização profissionais graduados em biologia marinha, biomedicina, ciências biológicas, medicina veterinária e zootecnia.

A iniciativa já recebeu alunos de estados das cinco regiões do país, como Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe, além de estudantes estrangeiros da Colômbia e Peru.

"A especialização foi criada com o objetivo de suprir lacunas no conhecimento acerca dos moluscos de importância médica. Buscamos alcançar, em especial, profissionais de serviços de saúde envolvidos no controle de doenças como a esquistossomose. O curso também estimula a formação de recursos humanos que visam ingressar na pesquisa e ensino em malacologia médica e aplicada", destaca Silvana Thiengo, coordenadora da iniciativa e chefe do Laboratório de Malacologia do IOC.

Construído a partir de uma perspectiva multidisciplinar, o curso aborda aspectos da taxonomia de moluscos, particularidades da interação entre parasitos e hospedeiros, além de conteúdos sobre ecologia, controle e educação em saúde.

"Única especialização em malacologia de vetores na América Latina, o curso representa uma oportunidade de capacitação de profissionais que trabalham junto aos órgãos oficiais de controle e notificação de endemias transmitidas por vetores. O curso é bastante informativo e oferece uma qualificação ímpar, da mais alta qualidade, direcionada a diferentes frentes de ação, da identificação dos moluscos no campo à aplicação de estratégias de controle", complementou Marcelo Alves Pinto, vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC.

Conteúdo aplicado na prática
Moluscos podem colonizar uma ampla variedade de habitats, de rios e pequenas valas a lagos e pequenas poças. Já os focos de transmissão têm características ecológicas semelhantes, como a localização no peridomicílio de comunidades urbanas ou ambientes rurais sem água encanada ou saneamento. Aspectos ecológicos como estes, de relevância para a ocorrência de moluscos vetores, fazem parte dos conteúdos apresentados ao longo do curso.

As disciplinas enfatizam, ainda, o estudo dos vetores da esquistossomose e de outras helmintoses de interesse médico-veterinário, como a meningite eosinofílica e a angiostrongilíase abdominal.

"Disponibilizamos informações úteis para o direcionamento das ações de controle e vigilância. Os encontros aliam conhecimentos teóricos e atividades práticas, que motivam os alunos e mostram de que forma o conteúdo ensinado pode ser aplicado na realidade", explica Silvana.

A pesquisadora ressalta que a estruturação do curso acompanha as mudanças no panorama epidemiológico dos agravos transmitidos por moluscos.

"Buscamos constantemente reinventar o curso de acordo com fatores que impactam diretamente o controle dos vetores, como as mudanças climáticas, que podem influenciar no desenvolvimento e proliferação dos moluscos, a introdução de espécies invasoras e a emergência de doenças, como a meningite eosinofílica", enfatiza Silvana, que está à frente da coordenação há mais de 20 anos.

O controle de moluscos vetores é tema de uma das seis disciplinas oferecidas pela especialização. As aulas incluem orientações sobre a aplicação dos métodos de controle, que podem ser classificados em biológico, físico e químico. O método biológico, por exemplo, envolve a introdução no ambiente de organismos com potencial predatório, competidor, parasitário ou patogênico, com o objetivo de reduzir a presença dos moluscos.

Já o controle físico consiste na manipulação de fatores do meio capazes de impedir o desenvolvimento e a manutenção das populações de moluscos, como a drenagem do solo, por exemplo.

O controle químico, por sua vez, incide na aplicação de substâncias tóxicas (moluscicidas) nos criadouros. A escolha por determinado método de controle depende de estudos prévios acerca das condições epidemiológicas de cada localidade, como a ocorrência de surtos de uma doença ou persistência de alta prevalência apesar do tratamento periódico da população.

Frutos da especialização
Para a coordenadora-adjunta da Pós-graduação, Clélia Christina Mello-Silva, a Pós-graduação é um instrumento importante para formar multiplicadores do conhecimento.

"É fundamental que agentes de saúde e agentes de endemias, em especial, tenham uma visão geral da saúde pública nacional e que sejam preparados para lidar com agravos transmitidos por moluscos, uma vez que o conhecimento adquirido ao longo do curso pode ser replicado nos mais diversos municípios", pontuou Clélia, pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Este é o caso do biólogo José de Arimatea Brandão Lourenço, agente de combate às endemias do Núcleo do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (NERJ/MS). Formado pela especialização em 2010, Lourenço desenvolve atividades relacionadas à malacologia de importância médica e veterinária junto à Superintendência de Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

"A oportunidade de oferecer uma melhor qualidade de serviço de saúde foi a principal motivação para fazer o curso. Foi muito importante para a minha formação por agregar conhecimentos, pois, além de melhorar a capacidade profissional, me acrescentou o pensamento acadêmico", destacou. Após a especialização, Lourenço implantou o setor de Vigilância Malacológica em Nova Iguaçu, onde aplica os conhecimentos adquiridos.

"Desde a criação da Vigilância Malacológica, passamos a mapear a presença da espécie Achatina fulica, conhecida como caramujo africano, no município. Além disso, encaminhamos periodicamente amostras para análise parasitológica para o Laboratório de Malacologia do IOC, que atua como Serviço de Referência Nacional para Esquistossomose-Malacologia do Ministério da Saúde", explica.

Segundo Lourenço, a intensificação das ações de vigilância permitiu a detecção do primeiro registro, em Nova Iguaçu, de uma amostra positiva para Angiostrongylus cantonensis, verme causador da meningite eosinofílica. A descoberta mobilizou profissionais de saúde e gestores municipais para atuar na prevenção da transmissão da doença.

Atualmente, Lourenço divide a rotina entre as atividades de vigilância e a dedicação ao curso de mestrado da Pós-graduação Stricto sensu em Vigilância e Controle de Vetores do IOC. Para a bióloga Vanessa Valladares, que concluiu a especialização em 2017, o curso foi um passo importante para o ingresso na Pós-graduação Stricto sensu em Biodiversidade e Saúde do IOC.

"No desenvolvimento da pesquisa durante o mestrado recorro, a todo o momento, ao que foi aprendido na especialização. As técnicas e conceitos ensinados no curso de alguma forma me permitem tomar atitudes que, sem esse conhecimento prévio, eu não saberia lidar. O curso é uma oportunidade incrível para quem tem afinidade com a área malacológica", ressalta a estudante, que realiza atividades de pesquisa nos Laboratórios de Malacologia e de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Já o biólogo Cesar Luiz Pinto fez parte da primeira turma da Pós-graduação.

"O curso foi importante para aprofundar meus conhecimentos específicos no início da minha carreira como pesquisador. Hoje, tenho experiência nas áreas de malacologia, comportamento animal, parasitologia, epidemiologia, controle de vetores e biodiversidade e saúde", destaca Cesar, que atua como pesquisador do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Ênfase nos agravos de importância para a saúde pública
Além da vigilância e controle de moluscos vetores, a especialização enfatiza, em especial, aspectos relacionados à prevenção de agravos de importância para a saúde pública. Doença parasitária conhecida popularmente como xistose ou barriga d'água, a esquistossomose é causada pelo verme Schistosoma mansoni, que tem caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiros intermediários e seres humanos como hospedeiros definitivos.

A transmissão ocorre quando o indivíduo entra em contato com água - como córregos, riachos e lagoas - infectada com larvas do parasito. Esta forma de transmissão faz com que a infecção prevaleça em áreas tropicais e subtropicais, principalmente em ambientes precários, sem acesso a água potável e saneamento adequado. A prevenção consiste em evitar o contato com águas onde existam caramujos infectados. Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de patologias graves em consequência da esquistossomose, uma das doenças negligenciadas reconhecidas pela OMS.

Segundo um estudo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, a esquistossomose representa um ônus econômico anual de US$ 41,7 milhões ou o equivalente a cerca de R$ 155 milhões para o Brasil.

Agravo em expansão no Brasil nos últimos anos, a meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral é transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo africano, nome popular da espécie Achatina fulica. Causada pelo helminto Angiostrongylus cantonensis, a infecção acontece, em geral, pela ingestão do caramujo infectado ou de seu muco em alimentos consumidos crus, como hortaliças e frutas.

Quando ingeridas, as larvas do verme migram para o sistema nervoso central e se alojam nas membranas que envolvem o cérebro: as meninges. O organismo inicia então uma intensa reação inflamatória, que resulta no quadro de meningite.

A prevenção inclui a higienização adequada de verduras, frutas e legumes e a eliminação dos caramujos. A limpeza de quintais e hortas infestados deve ser realizada com luvas ou sacos plásticos, evitando o contato direto dos moluscos com as mãos.

Os animais e ovos recolhidos devem ser colocados em um recipiente e submersos em solução preparada com uma parte de água sanitária para cada três de água.

Após 24 horas de imersão, a solução pode ser dispensada e as conchas devem ser colocadas em um saco plástico e descartadas no lixo comum. A lavagem das mãos após os procedimentos é fundamental. Introduzido no Brasil na década de 1980, o caramujo africano é encontrado hoje em 25 estados além do Distrito Federal

Criada em 1994, Pós-graduação Lato sensu capacita profissionais brasileiros e estrangeiros para elaboração e execução de estratégias de controle de moluscos de importância médico-veterinária
Por: 
lucas

A vigilância e o controle de moluscos são medidas importantes para combater a transmissão de agravos, como a esquistossomose.

A estratégia de controle da doença, transmitida por caramujos do gênero Biomphalaria, também inclui o amplo tratamento de populações em risco, acesso a água potável, saneamento básico e educação em saúde.

Com a missão de formar especialistas capazes de elaborar e executar estratégias de controle de moluscos de importância médica, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) criou, em 1994, a Pós-graduação Lato sensu em Malacologia de Vetores.

Pioneiro, o curso já formou, ao longo dessas mais de duas décadas, profissionais de diversas áreas para atuação em pesquisa, ensino e serviço em saúde.

O time de egressos reúne médicos, biólogos e agentes de saúde, que integram instituições como a Fiocruz, e órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS), universidade públicas e particulares, secretarias municipais e estaduais de saúde e de educação pelo Brasil afora.

A Pós-graduação em Malacologia de Vetores é fruto do empenho de um grupo de trabalho que contou com a participação, em especial, de membros do antigo Departamento de Biologia do IOC.

Contribuíram para a criação do curso os pesquisadores Pedro Jurberg, Júlio Vianna Barbosa, Marli Lima, Otávio Pieiri, Tereza Favre, Virgínia Schall, Silvana Thiengo, entre outros.

Com periodicidade bianual, o curso formou 12 turmas, totalizando cerca de 80 alunos. Passaram pela especialização profissionais graduados em biologia marinha, biomedicina, ciências biológicas, medicina veterinária e zootecnia.

A iniciativa já recebeu alunos de estados das cinco regiões do país, como Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, São Paulo, Sergipe, além de estudantes estrangeiros da Colômbia e Peru.

"A especialização foi criada com o objetivo de suprir lacunas no conhecimento acerca dos moluscos de importância médica. Buscamos alcançar, em especial, profissionais de serviços de saúde envolvidos no controle de doenças como a esquistossomose. O curso também estimula a formação de recursos humanos que visam ingressar na pesquisa e ensino em malacologia médica e aplicada", destaca Silvana Thiengo, coordenadora da iniciativa e chefe do Laboratório de Malacologia do IOC.

Construído a partir de uma perspectiva multidisciplinar, o curso aborda aspectos da taxonomia de moluscos, particularidades da interação entre parasitos e hospedeiros, além de conteúdos sobre ecologia, controle e educação em saúde.

"Única especialização em malacologia de vetores na América Latina, o curso representa uma oportunidade de capacitação de profissionais que trabalham junto aos órgãos oficiais de controle e notificação de endemias transmitidas por vetores. O curso é bastante informativo e oferece uma qualificação ímpar, da mais alta qualidade, direcionada a diferentes frentes de ação, da identificação dos moluscos no campo à aplicação de estratégias de controle", complementou Marcelo Alves Pinto, vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC.

Conteúdo aplicado na prática
Moluscos podem colonizar uma ampla variedade de habitats, de rios e pequenas valas a lagos e pequenas poças. Já os focos de transmissão têm características ecológicas semelhantes, como a localização no peridomicílio de comunidades urbanas ou ambientes rurais sem água encanada ou saneamento. Aspectos ecológicos como estes, de relevância para a ocorrência de moluscos vetores, fazem parte dos conteúdos apresentados ao longo do curso.

As disciplinas enfatizam, ainda, o estudo dos vetores da esquistossomose e de outras helmintoses de interesse médico-veterinário, como a meningite eosinofílica e a angiostrongilíase abdominal.

"Disponibilizamos informações úteis para o direcionamento das ações de controle e vigilância. Os encontros aliam conhecimentos teóricos e atividades práticas, que motivam os alunos e mostram de que forma o conteúdo ensinado pode ser aplicado na realidade", explica Silvana.

A pesquisadora ressalta que a estruturação do curso acompanha as mudanças no panorama epidemiológico dos agravos transmitidos por moluscos.

"Buscamos constantemente reinventar o curso de acordo com fatores que impactam diretamente o controle dos vetores, como as mudanças climáticas, que podem influenciar no desenvolvimento e proliferação dos moluscos, a introdução de espécies invasoras e a emergência de doenças, como a meningite eosinofílica", enfatiza Silvana, que está à frente da coordenação há mais de 20 anos.

O controle de moluscos vetores é tema de uma das seis disciplinas oferecidas pela especialização. As aulas incluem orientações sobre a aplicação dos métodos de controle, que podem ser classificados em biológico, físico e químico. O método biológico, por exemplo, envolve a introdução no ambiente de organismos com potencial predatório, competidor, parasitário ou patogênico, com o objetivo de reduzir a presença dos moluscos.

Já o controle físico consiste na manipulação de fatores do meio capazes de impedir o desenvolvimento e a manutenção das populações de moluscos, como a drenagem do solo, por exemplo.

O controle químico, por sua vez, incide na aplicação de substâncias tóxicas (moluscicidas) nos criadouros. A escolha por determinado método de controle depende de estudos prévios acerca das condições epidemiológicas de cada localidade, como a ocorrência de surtos de uma doença ou persistência de alta prevalência apesar do tratamento periódico da população.

Frutos da especialização
Para a coordenadora-adjunta da Pós-graduação, Clélia Christina Mello-Silva, a Pós-graduação é um instrumento importante para formar multiplicadores do conhecimento.

"É fundamental que agentes de saúde e agentes de endemias, em especial, tenham uma visão geral da saúde pública nacional e que sejam preparados para lidar com agravos transmitidos por moluscos, uma vez que o conhecimento adquirido ao longo do curso pode ser replicado nos mais diversos municípios", pontuou Clélia, pesquisadora do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Este é o caso do biólogo José de Arimatea Brandão Lourenço, agente de combate às endemias do Núcleo do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro (NERJ/MS). Formado pela especialização em 2010, Lourenço desenvolve atividades relacionadas à malacologia de importância médica e veterinária junto à Superintendência de Vigilância Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

"A oportunidade de oferecer uma melhor qualidade de serviço de saúde foi a principal motivação para fazer o curso. Foi muito importante para a minha formação por agregar conhecimentos, pois, além de melhorar a capacidade profissional, me acrescentou o pensamento acadêmico", destacou. Após a especialização, Lourenço implantou o setor de Vigilância Malacológica em Nova Iguaçu, onde aplica os conhecimentos adquiridos.

"Desde a criação da Vigilância Malacológica, passamos a mapear a presença da espécie Achatina fulica, conhecida como caramujo africano, no município. Além disso, encaminhamos periodicamente amostras para análise parasitológica para o Laboratório de Malacologia do IOC, que atua como Serviço de Referência Nacional para Esquistossomose-Malacologia do Ministério da Saúde", explica.

Segundo Lourenço, a intensificação das ações de vigilância permitiu a detecção do primeiro registro, em Nova Iguaçu, de uma amostra positiva para Angiostrongylus cantonensis, verme causador da meningite eosinofílica. A descoberta mobilizou profissionais de saúde e gestores municipais para atuar na prevenção da transmissão da doença.

Atualmente, Lourenço divide a rotina entre as atividades de vigilância e a dedicação ao curso de mestrado da Pós-graduação Stricto sensu em Vigilância e Controle de Vetores do IOC. Para a bióloga Vanessa Valladares, que concluiu a especialização em 2017, o curso foi um passo importante para o ingresso na Pós-graduação Stricto sensu em Biodiversidade e Saúde do IOC.

"No desenvolvimento da pesquisa durante o mestrado recorro, a todo o momento, ao que foi aprendido na especialização. As técnicas e conceitos ensinados no curso de alguma forma me permitem tomar atitudes que, sem esse conhecimento prévio, eu não saberia lidar. O curso é uma oportunidade incrível para quem tem afinidade com a área malacológica", ressalta a estudante, que realiza atividades de pesquisa nos Laboratórios de Malacologia e de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Já o biólogo Cesar Luiz Pinto fez parte da primeira turma da Pós-graduação.

"O curso foi importante para aprofundar meus conhecimentos específicos no início da minha carreira como pesquisador. Hoje, tenho experiência nas áreas de malacologia, comportamento animal, parasitologia, epidemiologia, controle de vetores e biodiversidade e saúde", destaca Cesar, que atua como pesquisador do Laboratório de Avaliação e Promoção da Saúde Ambiental do IOC.

Ênfase nos agravos de importância para a saúde pública
Além da vigilância e controle de moluscos vetores, a especialização enfatiza, em especial, aspectos relacionados à prevenção de agravos de importância para a saúde pública. Doença parasitária conhecida popularmente como xistose ou barriga d'água, a esquistossomose é causada pelo verme Schistosoma mansoni, que tem caramujos do gênero Biomphalaria como hospedeiros intermediários e seres humanos como hospedeiros definitivos.

A transmissão ocorre quando o indivíduo entra em contato com água - como córregos, riachos e lagoas - infectada com larvas do parasito. Esta forma de transmissão faz com que a infecção prevaleça em áreas tropicais e subtropicais, principalmente em ambientes precários, sem acesso a água potável e saneamento adequado. A prevenção consiste em evitar o contato com águas onde existam caramujos infectados. Milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de patologias graves em consequência da esquistossomose, uma das doenças negligenciadas reconhecidas pela OMS.

Segundo um estudo publicado na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, a esquistossomose representa um ônus econômico anual de US$ 41,7 milhões ou o equivalente a cerca de R$ 155 milhões para o Brasil.

Agravo em expansão no Brasil nos últimos anos, a meningite eosinofílica ou angiostrongilíase cerebral é transmitida principalmente por moluscos, incluindo o caramujo africano, nome popular da espécie Achatina fulica. Causada pelo helminto Angiostrongylus cantonensis, a infecção acontece, em geral, pela ingestão do caramujo infectado ou de seu muco em alimentos consumidos crus, como hortaliças e frutas.

Quando ingeridas, as larvas do verme migram para o sistema nervoso central e se alojam nas membranas que envolvem o cérebro: as meninges. O organismo inicia então uma intensa reação inflamatória, que resulta no quadro de meningite.

A prevenção inclui a higienização adequada de verduras, frutas e legumes e a eliminação dos caramujos. A limpeza de quintais e hortas infestados deve ser realizada com luvas ou sacos plásticos, evitando o contato direto dos moluscos com as mãos.

Os animais e ovos recolhidos devem ser colocados em um recipiente e submersos em solução preparada com uma parte de água sanitária para cada três de água.

Após 24 horas de imersão, a solução pode ser dispensada e as conchas devem ser colocadas em um saco plástico e descartadas no lixo comum. A lavagem das mãos após os procedimentos é fundamental. Introduzido no Brasil na década de 1980, o caramujo africano é encontrado hoje em 25 estados além do Distrito Federal

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)