A Fundação Oswaldo Cruz, por meio dos Laboratórios de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios e de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), atua junto à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) e à Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina na antecipação e prevenção de novos casos de hantavirose na área da Serra Catarinense.
O sinal de alerta foi aceso após um caso fatal da doença ter ocorrido no município de Urubici, no final de setembro. A região atualmente enfrenta um fenômeno sazonal conhecido como ratada, que consiste no aumento exacerbado do número de roedores silvestres (animais que podem atuar como reservatórios de hantavírus).
“Não há sinais de surto de hantavirose em Santa Catarina, tendo em vista que a quantidade de casos ainda está dentro da média anual do estado. No entanto, o recente óbito em decorrência de infecção por hantavírus se deu em um território que atualmente vivencia uma ratada, o que é preocupante. Precisamos investigar se os vírus que infectaram humanos estão presentes também nessas populações de roedores e antever uma possível crise”, explicou Paulo Sérgio D’Andrea, chefe substituto do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios, que atua como Serviço de Referência em Taxonomia e Diagnóstico de Reservatórios de Leishmanias para o Ministério da Saúde.
Para a investigação, uma expedição de campo foi realizada em caráter de urgência em Urubici na primeira semana de outubro, coordenada pelo IOC e pela SVS/MS, e com participação do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e Secretaria de Saúde de Santa Cantarina e do Paraná. A ação teve apoio da Prefeitura Municipal de Urubici e do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina.
Ao todo, foram espalhadas centenas armadilhas em locais estratégicos em cinco pontos da região, com o objetivo de realizar uma amostragem das espécies que compunham a ratada e sua prevalência de infecção por hantavírus.
Cerca de 200 animais foram capturados, conservados e trazidos ao campus da Fiocruz no Rio de Janeiro para análises taxonômicas (na qual é feita a identificação da espécie) no Laboratórios de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC. Atualmente, análises diagnósticas para hantavirose estão sendo realizadas no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses da unidade.
“De acordo com a literatura científica, é esperado que haja um genotipo diferente de hantavírus para cada espécie de roedor capaz de transmitir o vírus. É uma situação que chamamos de especificidade. Por isso que, para obter uma análise consistente, é importante capturar uma amostragem dos animais da região, identificar suas espécies e diagnosticar se estão infectados com hantavírus e qual o tipo do vírus”, contou D’Andrea.
Posicionamento de armadilhas na região. Foto: acervo pessoalA partir dos resultados, será possível identificar qual espécie de roedor está associada aos casos de infecção por hantavírus na região e se ela é a predominante na ratada. Desta forma, os especialistas podem averiguar o risco de um surto local e planejar ações, junto ao Ministério da Saúde, para reduzir o contato de humanos com esses animais, tendo como base a ecologia dos roedores e o comportamento de risco das pessoas da localidade.
“Em uma situação como esta, precisamos ter muita agilidade na resposta. Estamos dedicados a entregar resultados ao Ministério o mais rápido possível, para pensarmos em ações de prevenção e conscientização que mitiguem o contato com os animais”, explicou.
Cuidados com cômodos onde há o armazenamento de alimentos, evitando a entrada de roedores, lavar ambientes com água e sabão ao invés de apenas varrer (pois pode haver partículas virais em aerossol), e evitar estocar e manusear objetos na parte inferior de residências de áreas desniveladas são algumas recomendações. Paulo Sérgio D’Andrea reforça ainda a importância da sensibilização do corpo médico da região.
“É preciso orientar os médicos para considerarem o diagnóstico diferencial de hantavírus nas localidades onde pode ocorrer a infecção. Os primeiros sintomas podem ser facilmente confundidos com os de um quadro viral comum, como dor de cabeça, dores musculares e febre. O comprometimento cardiopulmonar, que é um sintoma mais específico, surge com o agravamento da doença. Por isso, é importante o tratamento de suporte desde o início”, orientou.
A hipótese de que o município de Urubici estaria enfrentando uma situação de ratada foi levantada a partir da observação dos moradores locais do aumento populacional de roedores silvestres. Além disso, recentemente, a região passou pela floração de bambuzais, com a qual foi gerada uma oferta abundante de sementes – fonte de alimento para os animais.
“Durante alguns processos cíclicos de reprodução dos bambus e das taquaras [espécies de plantas similares], eles florescem e produzem sementes, o que aumenta em grande escala a oferta de alimento para os roedores, podendo gerar ratadas”, explicou Paulo Sérgio.
Ciclo de reprodução da vegetação local pode ter impulsionado população de roedores. Foto: Acervo pessoalO pesquisador destaca ainda que o período de floração dos bambus na região foi simultâneo à produção de pinha pelas araucárias, que também contribui para a elevação do número de roedores.
“Não é a primeira vez que ocorre ratada na Região Sul do país. Esse fenômeno tem sido observado esporadicamente por lá, geralmente relacionados ao período de floração da vegetação. Em situações favoráveis, com abundância de alimentos, os animais se reproduzem rapidamente, aumentando o tamanho das ninhadas e causando esse pico populacional que vemos na ratada”, relatou.
A hantavirose é uma zoonose (doença de origem animal) provocada por patógenos do gênero Hantavírus. No Brasil, eles estão presentes em espécies roedores silvestres, da família Sigmodontinae, o que delimita a doença aos ambientes rurais ou de interface periurbano. Não há comprovação da transmissão de hantavírus por ratos urbanos ou domésticos no país.
A transmissão ocorre principalmente por meio de inalação de partículas virais aerossolizadas de fezes e urina excretados por roedores infectados. A transmissão por mordedura do animal também é possível através da saliva do contaminada.
A infecção por hantavírus provoca uma doença aguda e grave, com manifestações clínicas iniciais que podem ser facilmente confundidas com as de outras infecções: febre repentina, dor de cabeça e dores musculares. Algumas pessoas também podem desenvolver dores abdominais, diarreia ou vômito.
A complicação da doença leva ao comprometimento dos pulmões e do coração.
Como ainda não há um antiviral muito eficiente para o tratamento da hantavirose, as ações de suporte hospitalar são fundamentais para evitar o agravamento da doença.
A prevenção se dá por meio de medidas específicas para cada região, com o propósito de mitigar o contato das pessoas com os roedores silvestres infectados.
A Fundação Oswaldo Cruz, por meio dos Laboratórios de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios e de Hantaviroses e Rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), atua junto à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) e à Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina na antecipação e prevenção de novos casos de hantavirose na área da Serra Catarinense.
O sinal de alerta foi aceso após um caso fatal da doença ter ocorrido no município de Urubici, no final de setembro. A região atualmente enfrenta um fenômeno sazonal conhecido como ratada, que consiste no aumento exacerbado do número de roedores silvestres (animais que podem atuar como reservatórios de hantavírus).
“Não há sinais de surto de hantavirose em Santa Catarina, tendo em vista que a quantidade de casos ainda está dentro da média anual do estado. No entanto, o recente óbito em decorrência de infecção por hantavírus se deu em um território que atualmente vivencia uma ratada, o que é preocupante. Precisamos investigar se os vírus que infectaram humanos estão presentes também nessas populações de roedores e antever uma possível crise”, explicou Paulo Sérgio D’Andrea, chefe substituto do Laboratório de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios, que atua como Serviço de Referência em Taxonomia e Diagnóstico de Reservatórios de Leishmanias para o Ministério da Saúde.
Para a investigação, uma expedição de campo foi realizada em caráter de urgência em Urubici na primeira semana de outubro, coordenada pelo IOC e pela SVS/MS, e com participação do Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e Secretaria de Saúde de Santa Cantarina e do Paraná. A ação teve apoio da Prefeitura Municipal de Urubici e do Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina.
Ao todo, foram espalhadas centenas armadilhas em locais estratégicos em cinco pontos da região, com o objetivo de realizar uma amostragem das espécies que compunham a ratada e sua prevalência de infecção por hantavírus.
Cerca de 200 animais foram capturados, conservados e trazidos ao campus da Fiocruz no Rio de Janeiro para análises taxonômicas (na qual é feita a identificação da espécie) no Laboratórios de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios do IOC. Atualmente, análises diagnósticas para hantavirose estão sendo realizadas no Laboratório de Hantaviroses e Rickettsioses da unidade.
“De acordo com a literatura científica, é esperado que haja um genotipo diferente de hantavírus para cada espécie de roedor capaz de transmitir o vírus. É uma situação que chamamos de especificidade. Por isso que, para obter uma análise consistente, é importante capturar uma amostragem dos animais da região, identificar suas espécies e diagnosticar se estão infectados com hantavírus e qual o tipo do vírus”, contou D’Andrea.
Posicionamento de armadilhas na região. Foto: acervo pessoalA partir dos resultados, será possível identificar qual espécie de roedor está associada aos casos de infecção por hantavírus na região e se ela é a predominante na ratada. Desta forma, os especialistas podem averiguar o risco de um surto local e planejar ações, junto ao Ministério da Saúde, para reduzir o contato de humanos com esses animais, tendo como base a ecologia dos roedores e o comportamento de risco das pessoas da localidade.
“Em uma situação como esta, precisamos ter muita agilidade na resposta. Estamos dedicados a entregar resultados ao Ministério o mais rápido possível, para pensarmos em ações de prevenção e conscientização que mitiguem o contato com os animais”, explicou.
Cuidados com cômodos onde há o armazenamento de alimentos, evitando a entrada de roedores, lavar ambientes com água e sabão ao invés de apenas varrer (pois pode haver partículas virais em aerossol), e evitar estocar e manusear objetos na parte inferior de residências de áreas desniveladas são algumas recomendações. Paulo Sérgio D’Andrea reforça ainda a importância da sensibilização do corpo médico da região.
“É preciso orientar os médicos para considerarem o diagnóstico diferencial de hantavírus nas localidades onde pode ocorrer a infecção. Os primeiros sintomas podem ser facilmente confundidos com os de um quadro viral comum, como dor de cabeça, dores musculares e febre. O comprometimento cardiopulmonar, que é um sintoma mais específico, surge com o agravamento da doença. Por isso, é importante o tratamento de suporte desde o início”, orientou.
A hipótese de que o município de Urubici estaria enfrentando uma situação de ratada foi levantada a partir da observação dos moradores locais do aumento populacional de roedores silvestres. Além disso, recentemente, a região passou pela floração de bambuzais, com a qual foi gerada uma oferta abundante de sementes – fonte de alimento para os animais.
“Durante alguns processos cíclicos de reprodução dos bambus e das taquaras [espécies de plantas similares], eles florescem e produzem sementes, o que aumenta em grande escala a oferta de alimento para os roedores, podendo gerar ratadas”, explicou Paulo Sérgio.
Ciclo de reprodução da vegetação local pode ter impulsionado população de roedores. Foto: Acervo pessoalO pesquisador destaca ainda que o período de floração dos bambus na região foi simultâneo à produção de pinha pelas araucárias, que também contribui para a elevação do número de roedores.
“Não é a primeira vez que ocorre ratada na Região Sul do país. Esse fenômeno tem sido observado esporadicamente por lá, geralmente relacionados ao período de floração da vegetação. Em situações favoráveis, com abundância de alimentos, os animais se reproduzem rapidamente, aumentando o tamanho das ninhadas e causando esse pico populacional que vemos na ratada”, relatou.
A hantavirose é uma zoonose (doença de origem animal) provocada por patógenos do gênero Hantavírus. No Brasil, eles estão presentes em espécies roedores silvestres, da família Sigmodontinae, o que delimita a doença aos ambientes rurais ou de interface periurbano. Não há comprovação da transmissão de hantavírus por ratos urbanos ou domésticos no país.
A transmissão ocorre principalmente por meio de inalação de partículas virais aerossolizadas de fezes e urina excretados por roedores infectados. A transmissão por mordedura do animal também é possível através da saliva do contaminada.
A infecção por hantavírus provoca uma doença aguda e grave, com manifestações clínicas iniciais que podem ser facilmente confundidas com as de outras infecções: febre repentina, dor de cabeça e dores musculares. Algumas pessoas também podem desenvolver dores abdominais, diarreia ou vômito.
A complicação da doença leva ao comprometimento dos pulmões e do coração.
Como ainda não há um antiviral muito eficiente para o tratamento da hantavirose, as ações de suporte hospitalar são fundamentais para evitar o agravamento da doença.
A prevenção se dá por meio de medidas específicas para cada região, com o propósito de mitigar o contato das pessoas com os roedores silvestres infectados.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)