Artigo de Eloi S. Garcia *
Com o advento da metagenômica e análises genéticas, nossa compreensão das relações entre diferentes microorganismos transformou-se drasticamente, sendo descritos milhares de novos organismos.
Hoje, algumas perguntas estão nos desafiando: qual é exatamente a definição de uma espécie de um microorganismo e como os microbiologistas deveriam classificá-los?
Estes questionamentos foram debatidos em uma reportagem realizada pela Academia Americana de Microbiologia (AAM) intitulada Reconciliando a sistemática microbiana e a genômica .
A AAM reuniu especialistas em taxonomia, sistemática, ecologia, fisiologia e outras áreas relacionadas à taxonomia microbiana para definir o estado da arte e o futuro desta especialidade, considerando os avanços da ciência genômica nos dias de hoje.
No final do século XVIII, devido à vasta diversidade microbiana, os taxonomistas desenvolveram um sistema que colocava os microorganismos em categorias, nas quais cada organismo era designado pelo gênero e espécie.
Os microorganismos eram descritos principalmente por suas propriedades fÃsicas (fenotÃpicas), isto é, o sistema era baseado nas medidas e caracterÃsticas observadas dos organismos e não em sua genética.
Assim, os cientistas categorizavam os microorganismos quase que exclusivamente por suas caracterÃsticas morfológicas, crescimento em meios de cultura quimicamente definidos e produtos secretados.
No final do século passado, a biologia molecular começou a desvendar as relações genéticas entre os microorganismos e incorporá-las nas descrições das espécies.
No entanto, inúmeros conflitos passaram a existir entre as informações filogenéticas e as fenotÃpicas e, principalmente, a classificação dos microorganismos não-cultiváveis em laboratório ficou limitada dentro deste paradigma, ou seja, várias espécies microbianas não se encaixavam dentro das informações fenotÃpicas e genéticas esperadas.
Por esta e outras razões encontradas pela utilização da técnica de metagenôma, tornou-se claro que a classificação tradicional dos microorganismos não era capaz de enquadrar toda a diversidade microbiana existente no planeta.
A matéria publicada pela AAM analisa em profundidade os vários conflitos envolvidos na classificação dos microorganismos na era pós-genômica, incluindo a discussão sobre a definição da espécie, e faz algumas recomendações.
A primeira delas é o estabelecimento de um Comitê Internacional de Sistemática de Procariotes para considerar o novo paradigma na definição de espécie microbiana.
Uma outra recomendação foi sobre a necessidade de mais estudos sobre os mecanismos de especiação antes que uma nova teoria de espécie seja desenvolvida.
Foi também indicada à necessidade de dados mais compreensÃveis e sistemáticos para explicar como os microorganismos são organizados em grupos biológicos robustos e bem definidos, que se enquadram ao conceito de espécies.
E a recomendação final foi a aquisição de seqüências de genomas de alta qualidade para todos os tipos de cepas para ajudar o avanço da integração da informação genômica com a compreensão da diversidade microbiana, capacitando os especialistas saÃrem do mapeamento de fenótipos, rumando em direção ao mapa genômico.
* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz e membro da Academia Brasileira de Ciências
02/04/07
Artigo de Eloi S. Garcia *
Com o advento da metagenômica e análises genéticas, nossa compreensão das relações entre diferentes microorganismos transformou-se drasticamente, sendo descritos milhares de novos organismos.
Hoje, algumas perguntas estão nos desafiando: qual é exatamente a definição de uma espécie de um microorganismo e como os microbiologistas deveriam classificá-los?
Estes questionamentos foram debatidos em uma reportagem realizada pela Academia Americana de Microbiologia (AAM) intitulada Reconciliando a sistemática microbiana e a genômica .
A AAM reuniu especialistas em taxonomia, sistemática, ecologia, fisiologia e outras áreas relacionadas à taxonomia microbiana para definir o estado da arte e o futuro desta especialidade, considerando os avanços da ciência genômica nos dias de hoje.
No final do século XVIII, devido à vasta diversidade microbiana, os taxonomistas desenvolveram um sistema que colocava os microorganismos em categorias, nas quais cada organismo era designado pelo gênero e espécie.
Os microorganismos eram descritos principalmente por suas propriedades fÃsicas (fenotÃpicas), isto é, o sistema era baseado nas medidas e caracterÃsticas observadas dos organismos e não em sua genética.
Assim, os cientistas categorizavam os microorganismos quase que exclusivamente por suas caracterÃsticas morfológicas, crescimento em meios de cultura quimicamente definidos e produtos secretados.
No final do século passado, a biologia molecular começou a desvendar as relações genéticas entre os microorganismos e incorporá-las nas descrições das espécies.
No entanto, inúmeros conflitos passaram a existir entre as informações filogenéticas e as fenotÃpicas e, principalmente, a classificação dos microorganismos não-cultiváveis em laboratório ficou limitada dentro deste paradigma, ou seja, várias espécies microbianas não se encaixavam dentro das informações fenotÃpicas e genéticas esperadas.
Por esta e outras razões encontradas pela utilização da técnica de metagenôma, tornou-se claro que a classificação tradicional dos microorganismos não era capaz de enquadrar toda a diversidade microbiana existente no planeta.
A matéria publicada pela AAM analisa em profundidade os vários conflitos envolvidos na classificação dos microorganismos na era pós-genômica, incluindo a discussão sobre a definição da espécie, e faz algumas recomendações.
A primeira delas é o estabelecimento de um Comitê Internacional de Sistemática de Procariotes para considerar o novo paradigma na definição de espécie microbiana.
Uma outra recomendação foi sobre a necessidade de mais estudos sobre os mecanismos de especiação antes que uma nova teoria de espécie seja desenvolvida.
Foi também indicada à necessidade de dados mais compreensÃveis e sistemáticos para explicar como os microorganismos são organizados em grupos biológicos robustos e bem definidos, que se enquadram ao conceito de espécies.
E a recomendação final foi a aquisição de seqüências de genomas de alta qualidade para todos os tipos de cepas para ajudar o avanço da integração da informação genômica com a compreensão da diversidade microbiana, capacitando os especialistas saÃrem do mapeamento de fenótipos, rumando em direção ao mapa genômico.
* Eloi S. Garcia é pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz, ex-presidente da Fundação Oswaldo Cruz e membro da Academia Brasileira de Ciências
02/04/07
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)