A maioria dos casos da epidemia global de Aids é causada pelo retrovírus humano tipo 1 (HIV-1). No entanto, o HIV-2, o outro retrovírus associado à Aids, é epidêmico e endêmico em alguns países da África Ocidental, como Guiné Bissau, Gâmbia, Costa do Marfim e Senegal, entre outros. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram a presença do vírus no Brasil, em situações de coinfecção com o HIV-1. O estudo, divulgado durante o II Congresso de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, recebeu o prêmio Adrelírio Rios, como um dos melhores trabalhos apresentados durante o evento.
Contexto
O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1985, em pacientes do Senegal, e, logo após, casos foram detectados também em Cabo Verde. Hoje, sabe-se que HIV-1 e HIV-2 constituem vírus distintos, com diferenças significativas entre seus genomas e biologia. Em relação ao HIV-1, a infecção pelo tipo 2 difere por ter uma evolução mais lenta para os quadros clínicos relacionados. Também há evidências de que a transmissão vertical (mãe-filho) e sexual não seja tão eficiente quando comparada ao HIV-1. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2008, que a epidemia por HIV-1 atingia 34 milhões de pessoas no mundo, calcula-se que o HIV-2 seria responsável pela infecção de dois milhões de pessoas.
O HIV-2 ocorre sobretudo em países da África Ocidental de língua portuguesa e francesa. Nesta região, foi o tipo preponderante durante o início da pandemia de Aids, mas veio perdendo espaço para o HIV-1. Na Europa, casos de HIV-2 são descritos em países como Portugal, França e Espanha.
Na literatura científica, a presença do HIV-2 no Brasil começa a ser discutida em trabalhos de 1987 e 1989. Os estudos publicados na época, indicando a presença de casos, foram alvo de muito debate, uma vez que as metodologias então aplicadas permitiriam resultados falso positivos e falso negativos. Já um estudo de 1991, realizado por um grupo do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) em colaboração com pesquisadores do Rio de Janeiro, traz evidências sorológicas (baseadas na presença de anticorpos induzidos pela infecção) e também moleculares (baseadas na presença do material genético do vírus nas amostras) quanto à presença do HIV-2 em coinfecção com o HIV-1.
Novos dados
No estudo que acaba de ser premiado, pesquisadores do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do IOC confirmaram a presença de coinfecção por HIV-1 e HIV-2 em 15 amostras, de diversos estados brasileiros.
Este é um trabalho que vem sendo desenvolvido há alguns anos e, agora, conseguimos chegar a um resultado bastante robusto. A princípio, o projeto foi fruto de um financiamento do Programa das Nações Unidas para Aids / Unaids, via Ministério da Saúde, com foco na vigilância do HIV-2 no Brasil, detalha Ana Carolina Vicente, chefe do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do IOC e líder da pesquisa. O estudo foi desenvolvido em colaboração com pesquisadores do Laboratório Sérgio Franco, do Hospital Universitário Gafreé e Guinle e do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Foram analisadas amostras de sangue que na primeira etapa de testagem para HIV apresentaram resultados indicativos da presença dos dois vírus. Como preconizado pelo Ministério da Saúde, estes resultados devem ser confirmados por reagentes específicos tanto para o HIV-1 quanto para o HIV-2. No entanto, no momento não há disponível no mercado reagentes específicos para o HIV-2, só para o HIV-1. Foi neste ponto que a pesquisa básica participou, aplicando testes moleculares e imunológicos ainda restritos à pesquisa. Todos os testes disponíveis hoje no Brasil, sejam os laboratoriais ou do tipo rápido, são absolutamente sensíveis para detectar a presença do HIV e tipar o HIV-1. No entanto, não indicam de forma específica se o tipo 2 está presente, descreve.
Estes achados têm impacto principalmente na questão do tratamento, já que o HIV-2 é naturalmente resistente aos antirretrovirais do tipo não-nucleosídeos. Apesar de responder muito bem à classe dos inibidores de proteases, nos casos de infecção pelo HIV-2 a resposta costuma ter duração pequena e algumas mutações de multiresistência são selecionadas rapidamente.
Raquel Aguiar
31/08/2010
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A maioria dos casos da epidemia global de Aids é causada pelo retrovírus humano tipo 1 (HIV-1). No entanto, o HIV-2, o outro retrovírus associado à Aids, é epidêmico e endêmico em alguns países da África Ocidental, como Guiné Bissau, Gâmbia, Costa do Marfim e Senegal, entre outros. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram a presença do vírus no Brasil, em situações de coinfecção com o HIV-1. O estudo, divulgado durante o II Congresso de Infectologia do Estado do Rio de Janeiro, recebeu o prêmio Adrelírio Rios, como um dos melhores trabalhos apresentados durante o evento.
Contexto
O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1985, em pacientes do Senegal, e, logo após, casos foram detectados também em Cabo Verde. Hoje, sabe-se que HIV-1 e HIV-2 constituem vírus distintos, com diferenças significativas entre seus genomas e biologia. Em relação ao HIV-1, a infecção pelo tipo 2 difere por ter uma evolução mais lenta para os quadros clínicos relacionados. Também há evidências de que a transmissão vertical (mãe-filho) e sexual não seja tão eficiente quando comparada ao HIV-1. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2008, que a epidemia por HIV-1 atingia 34 milhões de pessoas no mundo, calcula-se que o HIV-2 seria responsável pela infecção de dois milhões de pessoas.
O HIV-2 ocorre sobretudo em países da África Ocidental de língua portuguesa e francesa. Nesta região, foi o tipo preponderante durante o início da pandemia de Aids, mas veio perdendo espaço para o HIV-1. Na Europa, casos de HIV-2 são descritos em países como Portugal, França e Espanha.
Na literatura científica, a presença do HIV-2 no Brasil começa a ser discutida em trabalhos de 1987 e 1989. Os estudos publicados na época, indicando a presença de casos, foram alvo de muito debate, uma vez que as metodologias então aplicadas permitiriam resultados falso positivos e falso negativos. Já um estudo de 1991, realizado por um grupo do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) em colaboração com pesquisadores do Rio de Janeiro, traz evidências sorológicas (baseadas na presença de anticorpos induzidos pela infecção) e também moleculares (baseadas na presença do material genético do vírus nas amostras) quanto à presença do HIV-2 em coinfecção com o HIV-1.
Novos dados
No estudo que acaba de ser premiado, pesquisadores do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do IOC confirmaram a presença de coinfecção por HIV-1 e HIV-2 em 15 amostras, de diversos estados brasileiros.
Este é um trabalho que vem sendo desenvolvido há alguns anos e, agora, conseguimos chegar a um resultado bastante robusto. A princípio, o projeto foi fruto de um financiamento do Programa das Nações Unidas para Aids / Unaids, via Ministério da Saúde, com foco na vigilância do HIV-2 no Brasil, detalha Ana Carolina Vicente, chefe do Laboratório de Genética Molecular de Microorganismos do IOC e líder da pesquisa. O estudo foi desenvolvido em colaboração com pesquisadores do Laboratório Sérgio Franco, do Hospital Universitário Gafreé e Guinle e do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Foram analisadas amostras de sangue que na primeira etapa de testagem para HIV apresentaram resultados indicativos da presença dos dois vírus. Como preconizado pelo Ministério da Saúde, estes resultados devem ser confirmados por reagentes específicos tanto para o HIV-1 quanto para o HIV-2. No entanto, no momento não há disponível no mercado reagentes específicos para o HIV-2, só para o HIV-1. Foi neste ponto que a pesquisa básica participou, aplicando testes moleculares e imunológicos ainda restritos à pesquisa. Todos os testes disponíveis hoje no Brasil, sejam os laboratoriais ou do tipo rápido, são absolutamente sensíveis para detectar a presença do HIV e tipar o HIV-1. No entanto, não indicam de forma específica se o tipo 2 está presente, descreve.
Estes achados têm impacto principalmente na questão do tratamento, já que o HIV-2 é naturalmente resistente aos antirretrovirais do tipo não-nucleosídeos. Apesar de responder muito bem à classe dos inibidores de proteases, nos casos de infecção pelo HIV-2 a resposta costuma ter duração pequena e algumas mutações de multiresistência são selecionadas rapidamente.
Raquel Aguiar
31/08/2010
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)