:: Leônidas Deane: uma vida dedicada à ciência
:: Leônidas e Maria Deane: companheiros de vida e profissão
Para comemorar o centenário do parasitologista Leônidas de Mello Deane, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) promoveu, na última sexta-feira (21/03), a jornada comemorativa 'Centenário Leônidas Deane: um parasitologista no campo, no laboratório e na sala de aula', que aconteceu em uma sessão especial do Centro de Estudos do IOC.
A homenagem conta ainda com uma exposição sobre a vida de Leônidas, que ficará em exibição até o dia 11 de abril, das 8h à s 17h, no hall do edifÃcio que recebe o nome do expoente parasitologista, Pavilhão Leônidas Deane.
O acervo conta com objetos pessoais, fotografias, caricaturas, ilustrações cientÃficas, que pertenciam ao pesquisador. O cientista teria completado cem anos no último dia 18 de março.
Estiveram presentes na mesa de abertura o diretor do IOC, Wilson Savino, e os pesquisadores Ricardo Lourenço, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários e organizador do evento, e José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias. Familiares e profissionais que conviveram com o parasitologista também marcaram presença.
Dando inÃcio à jornada, Wilson Savino ressaltou a importância de manter viva a memória de grandes cientistas brasileiros: Hoje é um dia muito importante para o IOC, onde se festeja e resgata a memória da ciência brasileira, trazendo à luz a recordação do grande cientista que foi o Leônidas Deane, disse Savino.
Para Ricardo Lourenço, promover um evento para lembrar o emblemático cientista não foi uma tarefa fácil. "Foi uma grande responsabilidade ter que resumir uma vida inteira de dedicação à ciência. Fui um dos únicos que conviveu com o Dr. Deane em seus últimos dias. Ele soube fazer escola e conquistou muitas pessoas com seu entusiasmo e modéstia", afirmou o pesquisador.
Coube ao pesquisador José Rodrigues Coura narrar a trajetória do cientista no Instituto, onde permaneceu por dez anos como chefe do Departamento de Entomologia. Visivelmente emocionado, Coura enalteceu a falta que o cientista faz. "Quando recebi por telefone a notÃcia do falecimento de Leônidas, uma enorme sensação de perda apoderou-se da minha mente e do meu ser inteiro. Se o céu existe, Leônidas Deane certamente está lá e, se Deus o chamou, é porque precisava de um grande ministro e conselheiro. Felizes aqueles que tiveram um mestre como Leônidas Deane", finalizou.
Após anos de dedicação à ciência, o legado de Deane no estudo sobre leishmaniose visceral é inegável. Disposto a debater sobre as contribuições da nova geração de cientistas à herança cientÃfica deixada por Deane, o pesquisador da Universidade Federal do PiauÃ, Carlos Henrique Costa, destacou o desenvolvimento de diversos campos relacionados à doença, como a biologia celular, genética, fatores de virulência e epidemiologia.
No entanto, o especialista enfatizou que "mesmo com o crescente aumento da produção cientÃfica, não foi possÃvel erradicar o agravo ou desenvolver uma vacina para humanos, o que representa um desafio para os futuros pesquisadores", disse.
Como ensinar Ciência, um campo amplo e de temas muitas vezes complicados? Deane, um parasitologista no campo, no laboratório e também na sala de aula, era mestre no assunto. Por meio da integração de ciência e arte, ele conseguia transmitir anos de conhecimento para seus alunos, muitos renomados pesquisadores atualmente.
Com a palestra "Arte e cognição", Isabela Frade, arte educadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explicou que a união desses dois campos é um método crucial para facilitar o aprendizado. "As imagens ajudam na percepção dos alunos e contribuem para as estratégias de ensino. Cada assunto pode ser melhor explorado quando as utilizamos, e o Deane sabia fazer muito bem isso", enfatizou.
Durante a tarde, o evento abriu espaço para palestras com personalidades que conviveram com Leônidas Deane. Com o tema De novo a ameaça das alas amarillas: a disseminação de chikungunya nas Américas, o pesquisador Ricardo Lourenço deu inÃcio à s atividades apresentando dados de um trabalho desenvolvido acerca do arbovÃrus chikungunya.
O estudo, realizado ano passado, contém as principais caracterÃsticas do vÃrus, a sua forma de transmissão, bem como a descrição dos sintomas causados pela picada dos vetores, os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Além disso, o pesquisador destacou estatÃsticas sobre a disseminação do chikungunya pelo mundo.
"Aprendi com o Dr. Deane que, na biologia, temos que estudar a relação parasito-hospedeiro para conhecer a epidemiologia das doenças", contou Ricardo que concluiu a palestra com a mostra de uma coletânea de imagens da carreira de Leônidas, em vÃdeo, produzida pelo chefe do Setor de Produção e Tratamento de Imagens do IOC, Genilton Vieira.
Ricardo Lourenço durante palestra sobre o arbovÃrus chikungunya. Foto: Gutemberg BritoEm seguida, um registro histórico de Leônidas Deane discursando no Palácio do Planalto, em frente ao ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, deu o tom dos comentários do Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, que consagrou a tarde dedicada à memória dos feitos do pesquisador.
Segundo o presidente, Deane traduziu a proximidade do sociólogo com o cientista. Deane expressou, ao longo da vida, um tipo de formação de pensamento que é quase constituinte dessa instituição.
"A ideia de que a pesquisa deve ser voltada para a resolução de problemas, alvo daquilo que é relevante para a sociedade e para a saúde. Outra caracterÃstica é o pensar nacional, refletida na trajetória de um pesquisador que sai de Belém e se envolve em um processo de exploração do que seriam grandes serviços nacionais", destacou.
O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, ressaltou a visão pioneira de Deane. Foto: Gutemberg BritoA segunda palestra da tarde, apresentada pelo pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Urbano Ferreira, trouxe o foco das discussões para a malária, uma doença negligenciada que prevalece em condições de pobreza e contribui para a manutenção do quadro de desigualdade. Segundo o pesquisador, a espécie de parasita causador da doença predominante no Brasil, Plasmodium vivax, está concentrada na região amazônica.
Em seu trabalho, Marcelo descreve a epidemiologia da malária em um assentamento agrÃcola de fronteira na Amazônia brasileira. "A base da pesquisa está na análise da transmissão da doença de acordo com caracterÃsticas do indivÃduo afetado como gênero, idade e tipo de moradia. De 1970 a 1990 os casos de malária tiveram explosão no Brasil, o grande fator foi a ocupação da Amazônia, com obras e projetos de colonização do espaço. De lá pra cá muita coisa mudou, morre-se pouco de malária no Brasil, mas ainda é preciso manter atenção sobre a doença", afirmou.
Fechando o ciclo de ideias e homenagens, o parasitologista Erney Camargo da USP resgatou uma versão mais intimista de Leônidas Deane. O pesquisador ainda era estagiário da faculdade de Medicina da USP quando se conheceram em 1954.
Entre a descrição de pesquisas com protozoários e histórias de convivência, a palestra de Erney descontraiu a plateia. "Deane sempre se preocupou com os tripanossomas, mas nunca fugimos da responsabilidade social daquilo que estudávamos. Sempre relacionávamos os nossos estudos a enfermidades com grande impacto social como a doença de Chagas e a malária", finalizou.
:: Leônidas Deane: uma vida dedicada à ciência
:: Leônidas e Maria Deane: companheiros de vida e profissão
Para comemorar o centenário do parasitologista Leônidas de Mello Deane, o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) promoveu, na última sexta-feira (21/03), a jornada comemorativa 'Centenário Leônidas Deane: um parasitologista no campo, no laboratório e na sala de aula', que aconteceu em uma sessão especial do Centro de Estudos do IOC.
A homenagem conta ainda com uma exposição sobre a vida de Leônidas, que ficará em exibição até o dia 11 de abril, das 8h à s 17h, no hall do edifÃcio que recebe o nome do expoente parasitologista, Pavilhão Leônidas Deane.
O acervo conta com objetos pessoais, fotografias, caricaturas, ilustrações cientÃficas, que pertenciam ao pesquisador. O cientista teria completado cem anos no último dia 18 de março.
Estiveram presentes na mesa de abertura o diretor do IOC, Wilson Savino, e os pesquisadores Ricardo Lourenço, do Laboratório de Transmissores de Hematozoários e organizador do evento, e José Rodrigues Coura, chefe do Laboratório de Doenças Parasitárias. Familiares e profissionais que conviveram com o parasitologista também marcaram presença.
Dando inÃcio à jornada, Wilson Savino ressaltou a importância de manter viva a memória de grandes cientistas brasileiros: Hoje é um dia muito importante para o IOC, onde se festeja e resgata a memória da ciência brasileira, trazendo à luz a recordação do grande cientista que foi o Leônidas Deane, disse Savino.
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Para Ricardo Lourenço, promover um evento para lembrar o emblemático cientista não foi uma tarefa fácil. "Foi uma grande responsabilidade ter que resumir uma vida inteira de dedicação à ciência. Fui um dos únicos que conviveu com o Dr. Deane em seus últimos dias. Ele soube fazer escola e conquistou muitas pessoas com seu entusiasmo e modéstia", afirmou o pesquisador.
Coube ao pesquisador José Rodrigues Coura narrar a trajetória do cientista no Instituto, onde permaneceu por dez anos como chefe do Departamento de Entomologia. Visivelmente emocionado, Coura enalteceu a falta que o cientista faz. "Quando recebi por telefone a notÃcia do falecimento de Leônidas, uma enorme sensação de perda apoderou-se da minha mente e do meu ser inteiro. Se o céu existe, Leônidas Deane certamente está lá e, se Deus o chamou, é porque precisava de um grande ministro e conselheiro. Felizes aqueles que tiveram um mestre como Leônidas Deane", finalizou.
Após anos de dedicação à ciência, o legado de Deane no estudo sobre leishmaniose visceral é inegável. Disposto a debater sobre as contribuições da nova geração de cientistas à herança cientÃfica deixada por Deane, o pesquisador da Universidade Federal do PiauÃ, Carlos Henrique Costa, destacou o desenvolvimento de diversos campos relacionados à doença, como a biologia celular, genética, fatores de virulência e epidemiologia.
No entanto, o especialista enfatizou que "mesmo com o crescente aumento da produção cientÃfica, não foi possÃvel erradicar o agravo ou desenvolver uma vacina para humanos, o que representa um desafio para os futuros pesquisadores", disse.
Como ensinar Ciência, um campo amplo e de temas muitas vezes complicados? Deane, um parasitologista no campo, no laboratório e também na sala de aula, era mestre no assunto. Por meio da integração de ciência e arte, ele conseguia transmitir anos de conhecimento para seus alunos, muitos renomados pesquisadores atualmente.
Com a palestra "Arte e cognição", Isabela Frade, arte educadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explicou que a união desses dois campos é um método crucial para facilitar o aprendizado. "As imagens ajudam na percepção dos alunos e contribuem para as estratégias de ensino. Cada assunto pode ser melhor explorado quando as utilizamos, e o Deane sabia fazer muito bem isso", enfatizou.
Durante a tarde, o evento abriu espaço para palestras com personalidades que conviveram com Leônidas Deane. Com o tema De novo a ameaça das alas amarillas: a disseminação de chikungunya nas Américas, o pesquisador Ricardo Lourenço deu inÃcio à s atividades apresentando dados de um trabalho desenvolvido acerca do arbovÃrus chikungunya.
O estudo, realizado ano passado, contém as principais caracterÃsticas do vÃrus, a sua forma de transmissão, bem como a descrição dos sintomas causados pela picada dos vetores, os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Além disso, o pesquisador destacou estatÃsticas sobre a disseminação do chikungunya pelo mundo.
"Aprendi com o Dr. Deane que, na biologia, temos que estudar a relação parasito-hospedeiro para conhecer a epidemiologia das doenças", contou Ricardo que concluiu a palestra com a mostra de uma coletânea de imagens da carreira de Leônidas, em vÃdeo, produzida pelo chefe do Setor de Produção e Tratamento de Imagens do IOC, Genilton Vieira.
 Ricardo Lourenço durante palestra sobre o arbovÃrus chikungunya. Foto: Gutemberg BritoEm seguida, um registro histórico de Leônidas Deane discursando no Palácio do Planalto, em frente ao ex-presidente da República, Fernando Collor de Mello, deu o tom dos comentários do Presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, que consagrou a tarde dedicada à memória dos feitos do pesquisador.
Segundo o presidente, Deane traduziu a proximidade do sociólogo com o cientista. Deane expressou, ao longo da vida, um tipo de formação de pensamento que é quase constituinte dessa instituição.
"A ideia de que a pesquisa deve ser voltada para a resolução de problemas, alvo daquilo que é relevante para a sociedade e para a saúde. Outra caracterÃstica é o pensar nacional, refletida na trajetória de um pesquisador que sai de Belém e se envolve em um processo de exploração do que seriam grandes serviços nacionais", destacou.
 O presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, ressaltou a visão pioneira de Deane. Foto: Gutemberg Brito ÂA segunda palestra da tarde, apresentada pelo pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Marcelo Urbano Ferreira, trouxe o foco das discussões para a malária, uma doença negligenciada que prevalece em condições de pobreza e contribui para a manutenção do quadro de desigualdade. Segundo o pesquisador, a espécie de parasita causador da doença predominante no Brasil, Plasmodium vivax, está concentrada na região amazônica.
Em seu trabalho, Marcelo descreve a epidemiologia da malária em um assentamento agrÃcola de fronteira na Amazônia brasileira. "A base da pesquisa está na análise da transmissão da doença de acordo com caracterÃsticas do indivÃduo afetado como gênero, idade e tipo de moradia. De 1970 a 1990 os casos de malária tiveram explosão no Brasil, o grande fator foi a ocupação da Amazônia, com obras e projetos de colonização do espaço. De lá pra cá muita coisa mudou, morre-se pouco de malária no Brasil, mas ainda é preciso manter atenção sobre a doença", afirmou.
Fechando o ciclo de ideias e homenagens, o parasitologista Erney Camargo da USP resgatou uma versão mais intimista de Leônidas Deane. O pesquisador ainda era estagiário da faculdade de Medicina da USP quando se conheceram em 1954.
Entre a descrição de pesquisas com protozoários e histórias de convivência, a palestra de Erney descontraiu a plateia. "Deane sempre se preocupou com os tripanossomas, mas nunca fugimos da responsabilidade social daquilo que estudávamos. Sempre relacionávamos os nossos estudos a enfermidades com grande impacto social como a doença de Chagas e a malária", finalizou.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)