Uma série temática da revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ marca os 113 anos da descoberta da doença de Chagas. Com o tema ‘Doença de Chagas: reflexões do passado, desafios e oportunidades para o futuro’, a publicação reúne 16 artigos que abordam desde a história da descrição do agravo, considerada como um marco na ciência brasileira, até as metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030 com o objetivo de eliminar da doença como problema de saúde pública. Métodos de diagnóstico, tratamentos, vacinas e políticas de controle da doença estão entre os temas discutidos nos trabalhos.
Com cinco mesas de debate, o lançamento da publicação foi realizado durante o evento ‘Dia Mundial da Doença de Chagas 2022: reflexões e desafios para o futuro’, promovido pela Fiocruz, nesta segunda-feira, 18 de abril. A sessão de lançamento pode ser conferida no canal da Fiocruz no YouTube. Acesse a programação completa do evento.
Para aprofundar as questões, cada artigo da série temática conta com dois textos de comentário. De acordo com os editores, a expectativa é apoiar futuras pesquisas, sistemas de saúde e políticas públicas relacionadas a doença de Chagas, refletindo sobre o conhecimento adquirido e o que efetivamente precisa ser feito para avançar.
A série temática é editada por Angela Junqueira, pesquisadora do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Pedro Albajar-Viñas, responsável do Programa de Controle da Doença de Chagas da OMS; Wilson Savino, coordenador de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e Juliana de Meis, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC, que faleceu no ano passado, cuja contribuição é destacada in memoriam.
A doença de Chagas foi descoberta pelo médico Carlos Chagas, pesquisador do então Instituto de Manguinhos, no dia 14 de abril de 1909. De uma só vez, o pesquisador identificou o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, e os insetos transmissores do agravo, chamados de triatomíneos e popularmente conhecidos como barbeiros. Poucos meses após o anúncio da descoberta, um artigo sobre o ciclo completo da doença foi publicado no periódico ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.
Segundo a OMS, a doença de Chagas atinge aproximadamente 7 milhões de pessoas no mundo. Em 2019, após intensa mobilização de portadores da infecção, a entidade declarou o 14 de abril como Dia Mundial da Doença de Chagas, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a enfermidade, que está associada à pobreza e é considerada uma doença negligenciada.
Saiba mais sobre os textos publicados na série temática:
A descoberta da doença de Chagas e as primeiras pesquisas realizadas sobre o tema são discutidas no artigo ‘A história da doença de Chagas: reflexões sobre a ciência em ação’. Assinado por pesquisadoras da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o texto analisa os eventos na perspectiva histórica e sociológica, refletindo sobre os processos pelos quais a ciência é produzida. Entre outras conclusões, as autoras destacam que os estudos sobre o agravo, que produziram reconhecimento da ciência brasileira, tiveram, desde o início, “laços estreitos com um projeto social maior: conscientizar a população e buscar soluções para o grave problema de saúde pública”.
‘Por que ainda não temos uma vacina contra a doença de Chagas? ’ No artigo que traz essa questão como título, quatro autores apresentam suas análises sobre os desafios para a produção de imunizantes contra o agravo. Recordando o histórico de pesquisas e de políticas públicas de ciência e saúde, quatro especialistas brasileiros, incluindo dois pesquisadores da Fiocruz, abordam questões-chave para o desenvolvimento de vacinas antiparasitárias, que vão desde modelos experimentais até custos de produção e distribuição.
Pesquisadores de cinco países analisam estratégias de controle da doença de Chagas desenvolvidas na América Latina em parceria com a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) desde os anos 1990. No artigo ‘Controle-vigilância da doença de Chagas nas Américas: as iniciativas multinacionais e a impossibilidade prática de interromper a transmissão vetorial do Trypanosoma cruzi’, os cientistas avaliam ainda os desafios para alcançar a meta de eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública até 2030, estabelecida pela OMS. O texto conta com a participação de pesquisadores de Paraguai, Brasil, Guatemala, Colômbia e Argentina.
As estratégias que contribuíram para o avanço no controle da doença de Chagas no Cone Sul das Américas são analisadas em artigo que aponta lições para o enfrentamento de outros agravos, como a Covid-19. De autoria do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), o texto ‘Significado de uma doença tropical negligenciada: lições de um caso paradigmático de sucesso na translação’ destaca o papel de países em desenvolvimento inovadores, com histórico de investimento em educação e pesquisa para a saúde, no combate às doenças negligenciadas e aponta que essa capacidade estabelecida pode ser a base para enfrentar emergências de saúde pública.
A complexidade cada vez maior dos contextos de transmissão da doença de Chagas é discutida no artigo ‘Diferentes perfis e cenários epidemiológicos: passado, presente e futuro’. Elaborado por pesquisadores de seis países, o trabalho mapeia a distribuição atual dos vetores triatomíneos, aponta mudanças nos hábitos de algumas espécies do inseto e discute as diversas rotas possíveis de transmissão da infecção. Liderada por cientistas da Argentina, a publicação conta com a colaboração de pesquisadores do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas), no Brasil, e de instituições da China, Vietnã, França e México.
Avanços e desafios no diagnóstico da doença de Chagas são debatidos no artigo ‘Diagnóstico parasitológico, sorológico e molecular da doença de Chagas aguda e crônica: do campo ao laboratório’, elaborado por pesquisadores da Argentina, Espanha e Suíça. Considerando as dificuldades de confirmação da doença nas diferentes fases da infecção e nos diversos cenários epidemiológicos, os pesquisadores discutem as limitações e potencialidades de diferentes testes e combinações de exames, apontando lacunas do conhecimento e destacando a importância da ampliação do acesso ao diagnóstico para o controle da doença de Chagas.
Exemplos de ferramentas para compreender as múltiplas dimensões da doença de Chagas, incluindo fatores sociais, ambientais, políticos e culturais, além do aspecto biomédico, são apresentados no artigo ‘A compreensão multidimensional da doença de Chagas. Contribuições, abordagens, desafios e oportunidades a partir e para além da área da Informação, Educação e Comunicação’. Escrito por pesquisadores da Argentina, Brasil, Chile, Suíça e Catalunha, o texto destaca a relevância de incluir abordagens de informação, educação e comunicação na construção de estratégias mais efetivas e sustentáveis para o controle do agravo.
Em parceria com pesquisadores da Argentina, Guatemala e Colômbia, cientistas da Fiocruz-Minas e do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz apontam oportunidades e desafios para o combate à doença de Chagas considerando os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela ONU como parte da Agenda 2030. No artigo ‘A doença de Chagas no contexto da agenda 2030: aquecimento global e vetores’, os pesquisadores apontam que as mudanças climáticas podem facilitar a dispersão dos insetos vetores da doença de Chagas. Porém, os compromissos assumidos pelos países para alcançar os ODS têm o potencial de contribuir positivamente para a prevenção e o controle da enfermidade.
A partir da revisão da literatura, pesquisadores da Suíça, Brasil e Argentina discutem as dificuldades encontradas para levar substâncias analisadas em testes pré-clínicos até os ensaios com pacientes no artigo ‘O desafio translacional no desenvolvimento de medicamentos para a doença de Chagas’. Considerando as limitações dos tratamentos disponíveis, os pesquisadores reforçam a necessidade de desenvolver novas terapias para a infecção e abordam como avanços tecnológicos recentes podem contribuir para superar obstáculos na pesquisa e desenvolvimento de fármacos.
Com o objetivo de eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública, a OMS propõe interromper, até 2030, quatro formas de transmissão do T. cruzi: através de vetores, transfusão de sangue, transplante de órgãos e congênita – quando o parasito passa de mãe para filho durante a gestação. No artigo ‘Formas emergentes e reemergentes de transmissão do Trypanosoma cruzi’, pesquisadores do Brasil e da Suíça discutem estratégias e desafios para alcançar esse alvo. Os autores abordam ainda outras vias de infecção, como a contaminação de alimentos, que representa atualmente a principal causa de doença aguda em vários países.
A globalização, que aumentou o fluxo de migrações no planeta, tornou a doença de Chagas um problema que não se restringe à América Latina, onde tradicionalmente é registrada a transmissão pelos vetores. Considerando que o local onde a infecção é diagnosticada pode influenciar na conduta terapêutica, pesquisadores comparam os tratamentos oferecidos aos pacientes nas Américas e na Europa, apontando desafios em cada contexto. O artigo ‘Análise crítica do tratamento da doença de Chagas em diferentes países’ tem autoria do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e da Fiocruz-Minas, além de outras instituições do Brasil, Espanha, Itália, Estados Unidos e Argentina.
Desafios enfrentados por migrantes portadores do T. cruzi, que podem ou não desenvolver a doença de Chagas, são discutidos no artigo ‘Movimentos populacionais, fronteiras e doença de Chagas’, elaborado por pesquisadores do Chile, Argentina, Catalunha e Suíça. Destacando que o agravo tem aspectos psicológicos, socioeconômicos e antropológicos, que vão além das questões biomédicas, os autores partem de experiências relatadas por migrantes, marcadas por desigualdades e exclusões, para discutir limitações e pontos fortes dos sistemas de saúde, das políticas sociais e dos modelos de abordagem do tema.
Pesquisadores brasileiros discutem as possíveis origens da diversidade genética do T. cruzi e a associação de diferentes genótipos do parasito com mamíferos que atuam como reservatórios e com os insetos vetores. O artigo ‘Diversidade genética do Trypanosoma cruzi: impacto nos ciclos de transmissão e na doença de Chagas’ debate ainda as evidências disponíveis sobre a conexão entre os genótipos do T. cruzi e as manifestações clínicas da doença de Chagas, enfatizando o papel da resposta imune dos pacientes na progressão da enfermidade.
Manifestação mais grave da doença de Chagas, as alterações do coração causadas pelo T. cruzi podem levar a insuficiência cardíaca, tromboembolismo e arritmia. No artigo ‘Prognóstico da cardiopatia chagásica crônica e outros desafios clínicos pendentes’, pesquisadores de nove instituições brasileiras, incluindo o INI/Fiocruz, discutem os exames que podem ajudar a avaliar a evolução da doença e as mais recentes propostas de tratamento, incluindo o transplante de coração. Desafios na abordagem de casos agudos de cardiopatia causados pela infecção por ingestão de alimentos contaminados com T. cruzi e questões associadas ao envelhecimento dos portadores crônicos da doença de Chagas também são contemplados no texto.
O histórico de mobilização das pessoas afetadas pela doença de Chagas é narrado no artigo ‘Como as pessoas acometidas pela Doença de Chagas têm lutado com sua negligência: História, movimento associativo e Dia Mundial da Doença de Chagas’. Com depoimentos de participantes de associações de portadores criadas em diversos países, o texto aborda desde a fundação da primeira entidade, no Recife, em 1987, até a declaração do Dia Mundial da Doença de Chagas, em 2019, quando a 72ª Assembleia Mundial da Saúde endossou a proposta liderada pelo movimento de portadores. Entre os autores do texto, estão a Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas), associações sediadas em diferentes estados do Brasil, na Espanha e na Itália; instituições de ciência e saúde do Brasil, incluindo a COC/Fiocruz, da Espanha e do Equador, além da OMS, na Suíça.
Acesse a página da série temática e confira as 16 publicações.
Uma série temática da revista ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’ marca os 113 anos da descoberta da doença de Chagas. Com o tema ‘Doença de Chagas: reflexões do passado, desafios e oportunidades para o futuro’, a publicação reúne 16 artigos que abordam desde a história da descrição do agravo, considerada como um marco na ciência brasileira, até as metas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para 2030 com o objetivo de eliminar da doença como problema de saúde pública. Métodos de diagnóstico, tratamentos, vacinas e políticas de controle da doença estão entre os temas discutidos nos trabalhos.
Com cinco mesas de debate, o lançamento da publicação foi realizado durante o evento ‘Dia Mundial da Doença de Chagas 2022: reflexões e desafios para o futuro’, promovido pela Fiocruz, nesta segunda-feira, 18 de abril. A sessão de lançamento pode ser conferida no canal da Fiocruz no YouTube. Acesse a programação completa do evento.
Para aprofundar as questões, cada artigo da série temática conta com dois textos de comentário. De acordo com os editores, a expectativa é apoiar futuras pesquisas, sistemas de saúde e políticas públicas relacionadas a doença de Chagas, refletindo sobre o conhecimento adquirido e o que efetivamente precisa ser feito para avançar.
A série temática é editada por Angela Junqueira, pesquisadora do Laboratório de Doenças Parasitárias do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz); Pedro Albajar-Viñas, responsável do Programa de Controle da Doença de Chagas da OMS; Wilson Savino, coordenador de Estratégias de Integração Regional e Nacional da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); e Juliana de Meis, pesquisadora do Laboratório de Pesquisa sobre o Timo do IOC, que faleceu no ano passado, cuja contribuição é destacada in memoriam.
A doença de Chagas foi descoberta pelo médico Carlos Chagas, pesquisador do então Instituto de Manguinhos, no dia 14 de abril de 1909. De uma só vez, o pesquisador identificou o parasito Trypanosoma cruzi, causador da infecção, e os insetos transmissores do agravo, chamados de triatomíneos e popularmente conhecidos como barbeiros. Poucos meses após o anúncio da descoberta, um artigo sobre o ciclo completo da doença foi publicado no periódico ‘Memórias do Instituto Oswaldo Cruz’.
Segundo a OMS, a doença de Chagas atinge aproximadamente 7 milhões de pessoas no mundo. Em 2019, após intensa mobilização de portadores da infecção, a entidade declarou o 14 de abril como Dia Mundial da Doença de Chagas, com o objetivo de aumentar a conscientização sobre a enfermidade, que está associada à pobreza e é considerada uma doença negligenciada.
Saiba mais sobre os textos publicados na série temática:
A descoberta da doença de Chagas e as primeiras pesquisas realizadas sobre o tema são discutidas no artigo ‘A história da doença de Chagas: reflexões sobre a ciência em ação’. Assinado por pesquisadoras da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), o texto analisa os eventos na perspectiva histórica e sociológica, refletindo sobre os processos pelos quais a ciência é produzida. Entre outras conclusões, as autoras destacam que os estudos sobre o agravo, que produziram reconhecimento da ciência brasileira, tiveram, desde o início, “laços estreitos com um projeto social maior: conscientizar a população e buscar soluções para o grave problema de saúde pública”.
‘Por que ainda não temos uma vacina contra a doença de Chagas? ’ No artigo que traz essa questão como título, quatro autores apresentam suas análises sobre os desafios para a produção de imunizantes contra o agravo. Recordando o histórico de pesquisas e de políticas públicas de ciência e saúde, quatro especialistas brasileiros, incluindo dois pesquisadores da Fiocruz, abordam questões-chave para o desenvolvimento de vacinas antiparasitárias, que vão desde modelos experimentais até custos de produção e distribuição.
Pesquisadores de cinco países analisam estratégias de controle da doença de Chagas desenvolvidas na América Latina em parceria com a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) desde os anos 1990. No artigo ‘Controle-vigilância da doença de Chagas nas Américas: as iniciativas multinacionais e a impossibilidade prática de interromper a transmissão vetorial do Trypanosoma cruzi’, os cientistas avaliam ainda os desafios para alcançar a meta de eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública até 2030, estabelecida pela OMS. O texto conta com a participação de pesquisadores de Paraguai, Brasil, Guatemala, Colômbia e Argentina.
As estratégias que contribuíram para o avanço no controle da doença de Chagas no Cone Sul das Américas são analisadas em artigo que aponta lições para o enfrentamento de outros agravos, como a Covid-19. De autoria do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS/Fiocruz), o texto ‘Significado de uma doença tropical negligenciada: lições de um caso paradigmático de sucesso na translação’ destaca o papel de países em desenvolvimento inovadores, com histórico de investimento em educação e pesquisa para a saúde, no combate às doenças negligenciadas e aponta que essa capacidade estabelecida pode ser a base para enfrentar emergências de saúde pública.
A complexidade cada vez maior dos contextos de transmissão da doença de Chagas é discutida no artigo ‘Diferentes perfis e cenários epidemiológicos: passado, presente e futuro’. Elaborado por pesquisadores de seis países, o trabalho mapeia a distribuição atual dos vetores triatomíneos, aponta mudanças nos hábitos de algumas espécies do inseto e discute as diversas rotas possíveis de transmissão da infecção. Liderada por cientistas da Argentina, a publicação conta com a colaboração de pesquisadores do Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas), no Brasil, e de instituições da China, Vietnã, França e México.
Avanços e desafios no diagnóstico da doença de Chagas são debatidos no artigo ‘Diagnóstico parasitológico, sorológico e molecular da doença de Chagas aguda e crônica: do campo ao laboratório’, elaborado por pesquisadores da Argentina, Espanha e Suíça. Considerando as dificuldades de confirmação da doença nas diferentes fases da infecção e nos diversos cenários epidemiológicos, os pesquisadores discutem as limitações e potencialidades de diferentes testes e combinações de exames, apontando lacunas do conhecimento e destacando a importância da ampliação do acesso ao diagnóstico para o controle da doença de Chagas.
Exemplos de ferramentas para compreender as múltiplas dimensões da doença de Chagas, incluindo fatores sociais, ambientais, políticos e culturais, além do aspecto biomédico, são apresentados no artigo ‘A compreensão multidimensional da doença de Chagas. Contribuições, abordagens, desafios e oportunidades a partir e para além da área da Informação, Educação e Comunicação’. Escrito por pesquisadores da Argentina, Brasil, Chile, Suíça e Catalunha, o texto destaca a relevância de incluir abordagens de informação, educação e comunicação na construção de estratégias mais efetivas e sustentáveis para o controle do agravo.
Em parceria com pesquisadores da Argentina, Guatemala e Colômbia, cientistas da Fiocruz-Minas e do Centro de Informação em Saúde Silvestre da Fiocruz apontam oportunidades e desafios para o combate à doença de Chagas considerando os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela ONU como parte da Agenda 2030. No artigo ‘A doença de Chagas no contexto da agenda 2030: aquecimento global e vetores’, os pesquisadores apontam que as mudanças climáticas podem facilitar a dispersão dos insetos vetores da doença de Chagas. Porém, os compromissos assumidos pelos países para alcançar os ODS têm o potencial de contribuir positivamente para a prevenção e o controle da enfermidade.
A partir da revisão da literatura, pesquisadores da Suíça, Brasil e Argentina discutem as dificuldades encontradas para levar substâncias analisadas em testes pré-clínicos até os ensaios com pacientes no artigo ‘O desafio translacional no desenvolvimento de medicamentos para a doença de Chagas’. Considerando as limitações dos tratamentos disponíveis, os pesquisadores reforçam a necessidade de desenvolver novas terapias para a infecção e abordam como avanços tecnológicos recentes podem contribuir para superar obstáculos na pesquisa e desenvolvimento de fármacos.
Com o objetivo de eliminar a doença de Chagas como problema de saúde pública, a OMS propõe interromper, até 2030, quatro formas de transmissão do T. cruzi: através de vetores, transfusão de sangue, transplante de órgãos e congênita – quando o parasito passa de mãe para filho durante a gestação. No artigo ‘Formas emergentes e reemergentes de transmissão do Trypanosoma cruzi’, pesquisadores do Brasil e da Suíça discutem estratégias e desafios para alcançar esse alvo. Os autores abordam ainda outras vias de infecção, como a contaminação de alimentos, que representa atualmente a principal causa de doença aguda em vários países.
A globalização, que aumentou o fluxo de migrações no planeta, tornou a doença de Chagas um problema que não se restringe à América Latina, onde tradicionalmente é registrada a transmissão pelos vetores. Considerando que o local onde a infecção é diagnosticada pode influenciar na conduta terapêutica, pesquisadores comparam os tratamentos oferecidos aos pacientes nas Américas e na Europa, apontando desafios em cada contexto. O artigo ‘Análise crítica do tratamento da doença de Chagas em diferentes países’ tem autoria do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e da Fiocruz-Minas, além de outras instituições do Brasil, Espanha, Itália, Estados Unidos e Argentina.
Desafios enfrentados por migrantes portadores do T. cruzi, que podem ou não desenvolver a doença de Chagas, são discutidos no artigo ‘Movimentos populacionais, fronteiras e doença de Chagas’, elaborado por pesquisadores do Chile, Argentina, Catalunha e Suíça. Destacando que o agravo tem aspectos psicológicos, socioeconômicos e antropológicos, que vão além das questões biomédicas, os autores partem de experiências relatadas por migrantes, marcadas por desigualdades e exclusões, para discutir limitações e pontos fortes dos sistemas de saúde, das políticas sociais e dos modelos de abordagem do tema.
Pesquisadores brasileiros discutem as possíveis origens da diversidade genética do T. cruzi e a associação de diferentes genótipos do parasito com mamíferos que atuam como reservatórios e com os insetos vetores. O artigo ‘Diversidade genética do Trypanosoma cruzi: impacto nos ciclos de transmissão e na doença de Chagas’ debate ainda as evidências disponíveis sobre a conexão entre os genótipos do T. cruzi e as manifestações clínicas da doença de Chagas, enfatizando o papel da resposta imune dos pacientes na progressão da enfermidade.
Manifestação mais grave da doença de Chagas, as alterações do coração causadas pelo T. cruzi podem levar a insuficiência cardíaca, tromboembolismo e arritmia. No artigo ‘Prognóstico da cardiopatia chagásica crônica e outros desafios clínicos pendentes’, pesquisadores de nove instituições brasileiras, incluindo o INI/Fiocruz, discutem os exames que podem ajudar a avaliar a evolução da doença e as mais recentes propostas de tratamento, incluindo o transplante de coração. Desafios na abordagem de casos agudos de cardiopatia causados pela infecção por ingestão de alimentos contaminados com T. cruzi e questões associadas ao envelhecimento dos portadores crônicos da doença de Chagas também são contemplados no texto.
O histórico de mobilização das pessoas afetadas pela doença de Chagas é narrado no artigo ‘Como as pessoas acometidas pela Doença de Chagas têm lutado com sua negligência: História, movimento associativo e Dia Mundial da Doença de Chagas’. Com depoimentos de participantes de associações de portadores criadas em diversos países, o texto aborda desde a fundação da primeira entidade, no Recife, em 1987, até a declaração do Dia Mundial da Doença de Chagas, em 2019, quando a 72ª Assembleia Mundial da Saúde endossou a proposta liderada pelo movimento de portadores. Entre os autores do texto, estão a Federação Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas (Findechagas), associações sediadas em diferentes estados do Brasil, na Espanha e na Itália; instituições de ciência e saúde do Brasil, incluindo a COC/Fiocruz, da Espanha e do Equador, além da OMS, na Suíça.
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Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)