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Núcleo de Estudos Avançados do IOC discute os impactos da inteligência artificial e da robótica

Iniciativa contou com a presença do pesquisador Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG
Por Lucas Rocha20/03/2018 - Atualizado em 28/06/2022

Definitivamente, a inteligência artificial e a robótica deixaram o futuro prenunciado em aventuras narradas na literatura ou no cinema para se tornar uma realidade do tempo presente – com impactos para lá de concretos sobre as relações interpessoais, o mercado de trabalho e o desempenho econômico dos países. Na pesquisa científica, contribuem para acelerar o processamento de dados e dinamizar a rotina em laboratório. Para abordar as nuances mais variadas deste assunto, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) do dia 16 de março recebeu o pesquisador Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para a próxima sessão, prevista para 27 de abril, mais um assunto que divide opiniões estará em pauta: os impasses da violência no Brasil.

Almeida é membro da Academia Brasileira de Ciências e foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico. Foto: IOC/Fiocruz

A dimensão ética da tecnologia foi um dos pontos explorados por Almeida: o uso da inteligência artificial e da robótica está associado a desafios de cunho social, incluindo a substituição da atividade humana no mercado de trabalho. Segundo dados de estudos realizados nos Estados Unidos, apresentados pelo palestrante, há uma queda na oferta de emprego em ocupações consideradas de ‘rotina’, tanto manuais, que incluem atividades de construção, transporte, produção e manutenção, como cognitivas, tais como atividades administrativas e relacionadas ao comércio. Já ocupações consideradas ‘não-rotineiras’, como recursos humanos, assistência e cuidado médico, continuam em ascensão.

No que diz respeito ao cenário brasileiro, Almeida aponta para a escassez de dados e estudos sobre o impacto da automação e da inteligência artificial em relação ao mercado de trabalho. Sua influência sobre as agendas do poder executivo, legislativo e judiciário também é pouco sentida. “Ainda é preciso investigar como a sociedade brasileira pode usar a inteligência artificial e a robótica para acelerar o desenvolvimento social e econômico. Há, ainda, uma forte necessidade de investimento em estudos de políticas públicas voltadas para a área”, pontuou Virgílio.

Além do impacto sobre o mercado de trabalho, as tecnologias de inteligência artificial também despertam o debate em torno de outras questões éticas. Segundo Almeida, o risco de cenários distópicos no uso dessas tecnologias podem envolver aspectos como o controle de informações: o armazenamento de dados e informações pessoais – utilizado como fonte para o desenvolvimento de ações comerciais como a oferta de produtos personalizados, por exemplo, a partir do histórico de navegação na internet – levanta dúvidas sobre segurança dos dados e privacidade. Num tempo em que se avolumam de forma exponencial os bits de informação sobre cada cidadão, e em que a vida cotidiana passa por numerosos dispositivos digitais, a preocupação em relação ao acesso e ao uso desses rastros digitais ganha cada vez mais espaço.

Alberto Dávila (topo) destacou os benefícios da tecnologia para o campo da bioinformática. Já Renato Cordeiro (na mesa, à esquerda) ressaltou a necessidade da promoção do debate sobre o tema. Foto: IOC/Fiocruz

Debatedor do encontro, o pesquisador do IOC Alberto Dávila contextualizou, como contraponto, o uso da inteligência artificial na análise de dados no contexto de pesquisas em saúde, especialmente no campo da bioinformática e da biologia computacional. “O avanço tecnológico tem sido muito positivo, uma vez que permite o desenvolvimento de diferentes estudos científicos e melhorias de procedimentos adotados na área da saúde, por exemplo. Nesse contexto, é de grande importância que o uso da inteligência artificial seja discutido dentro de universidades e instituições de pesquisa como a Fiocruz a partir do ponto de vista da regulamentação”, avaliou. “A inteligência artificial e a robótica afetam diretamente o ser humano e a sua existência. A mesma tecnologia que poderá trazer grandes benefícios nas áreas da saúde, transportes, educação, agricultura e comunicações, também tem potencial para ser usada em guerras cada vez mais sofisticadas e catastróficas. Por isso, é fundamental debater os aspectos sociais, políticos e éticos do avanço do conhecimento tecnológico”, complementou Renato Cordeiro, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados.

Para conferir a cobertura das edições anteriores do Núcleo de Estudos Avançados do IOC, clique aqui.

Homenagens

No início da sessão do Núcleo de Estudos Avançados, o diretor do IOC José Paulo Gagliardi Leite manifestou solidariedade à comunidade do Instituto pelo falecimento do aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária Carlos Felipe Machado de Araujo, na quarta-feira, 14 de março. O diretor lembrou os passos da carreira do estudante, precocemente abreviada, desde a iniciação científica até o doutorado. “Carlos creditou sua esperança em uma carreira extremamente competitiva porque seu ideal era mais forte: contribuir para a geração de conhecimento e defesa da missão institucional em seus compromissos com a saúde pública”, afirmou emocionado.

Homenagem ao estudante de doutorado Carlos Felipe Machado de Araujo, que faleceu na quarta-feira, 14 de março. Foto: Lucas Rocha

O diretor destacou ainda a importância da luta contra a violência no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, diante do assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, e do motorista Anderson Gomes, no dia 14/03, e da morte do jovem Matheus Melo de Castro, no dia 12/03, funcionário da empresa Nova Rio, que atuava desde 2013 na Fiocruz, como agente de coleta seletiva da Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz).

Iniciativa contou com a presença do pesquisador Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG
Por: 
lucas

Definitivamente, a inteligência artificial e a robótica deixaram o futuro prenunciado em aventuras narradas na literatura ou no cinema para se tornar uma realidade do tempo presente – com impactos para lá de concretos sobre as relações interpessoais, o mercado de trabalho e o desempenho econômico dos países. Na pesquisa científica, contribuem para acelerar o processamento de dados e dinamizar a rotina em laboratório. Para abordar as nuances mais variadas deste assunto, o Núcleo de Estudos Avançados do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) do dia 16 de março recebeu o pesquisador Virgílio Almeida, do Departamento de Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Para a próxima sessão, prevista para 27 de abril, mais um assunto que divide opiniões estará em pauta: os impasses da violência no Brasil.

Almeida é membro da Academia Brasileira de Ciências e foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito Científico. Foto: IOC/Fiocruz

A dimensão ética da tecnologia foi um dos pontos explorados por Almeida: o uso da inteligência artificial e da robótica está associado a desafios de cunho social, incluindo a substituição da atividade humana no mercado de trabalho. Segundo dados de estudos realizados nos Estados Unidos, apresentados pelo palestrante, há uma queda na oferta de emprego em ocupações consideradas de ‘rotina’, tanto manuais, que incluem atividades de construção, transporte, produção e manutenção, como cognitivas, tais como atividades administrativas e relacionadas ao comércio. Já ocupações consideradas ‘não-rotineiras’, como recursos humanos, assistência e cuidado médico, continuam em ascensão.

No que diz respeito ao cenário brasileiro, Almeida aponta para a escassez de dados e estudos sobre o impacto da automação e da inteligência artificial em relação ao mercado de trabalho. Sua influência sobre as agendas do poder executivo, legislativo e judiciário também é pouco sentida. “Ainda é preciso investigar como a sociedade brasileira pode usar a inteligência artificial e a robótica para acelerar o desenvolvimento social e econômico. Há, ainda, uma forte necessidade de investimento em estudos de políticas públicas voltadas para a área”, pontuou Virgílio.

Além do impacto sobre o mercado de trabalho, as tecnologias de inteligência artificial também despertam o debate em torno de outras questões éticas. Segundo Almeida, o risco de cenários distópicos no uso dessas tecnologias podem envolver aspectos como o controle de informações: o armazenamento de dados e informações pessoais – utilizado como fonte para o desenvolvimento de ações comerciais como a oferta de produtos personalizados, por exemplo, a partir do histórico de navegação na internet – levanta dúvidas sobre segurança dos dados e privacidade. Num tempo em que se avolumam de forma exponencial os bits de informação sobre cada cidadão, e em que a vida cotidiana passa por numerosos dispositivos digitais, a preocupação em relação ao acesso e ao uso desses rastros digitais ganha cada vez mais espaço.

Alberto Dávila (topo) destacou os benefícios da tecnologia para o campo da bioinformática. Já Renato Cordeiro (na mesa, à esquerda) ressaltou a necessidade da promoção do debate sobre o tema. Foto: IOC/Fiocruz

Debatedor do encontro, o pesquisador do IOC Alberto Dávila contextualizou, como contraponto, o uso da inteligência artificial na análise de dados no contexto de pesquisas em saúde, especialmente no campo da bioinformática e da biologia computacional. “O avanço tecnológico tem sido muito positivo, uma vez que permite o desenvolvimento de diferentes estudos científicos e melhorias de procedimentos adotados na área da saúde, por exemplo. Nesse contexto, é de grande importância que o uso da inteligência artificial seja discutido dentro de universidades e instituições de pesquisa como a Fiocruz a partir do ponto de vista da regulamentação”, avaliou. “A inteligência artificial e a robótica afetam diretamente o ser humano e a sua existência. A mesma tecnologia que poderá trazer grandes benefícios nas áreas da saúde, transportes, educação, agricultura e comunicações, também tem potencial para ser usada em guerras cada vez mais sofisticadas e catastróficas. Por isso, é fundamental debater os aspectos sociais, políticos e éticos do avanço do conhecimento tecnológico”, complementou Renato Cordeiro, coordenador do Núcleo de Estudos Avançados.

Para conferir a cobertura das edições anteriores do Núcleo de Estudos Avançados do IOC, clique aqui.

Homenagens

No início da sessão do Núcleo de Estudos Avançados, o diretor do IOC José Paulo Gagliardi Leite manifestou solidariedade à comunidade do Instituto pelo falecimento do aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Biologia Parasitária Carlos Felipe Machado de Araujo, na quarta-feira, 14 de março. O diretor lembrou os passos da carreira do estudante, precocemente abreviada, desde a iniciação científica até o doutorado. “Carlos creditou sua esperança em uma carreira extremamente competitiva porque seu ideal era mais forte: contribuir para a geração de conhecimento e defesa da missão institucional em seus compromissos com a saúde pública”, afirmou emocionado.

Homenagem ao estudante de doutorado Carlos Felipe Machado de Araujo, que faleceu na quarta-feira, 14 de março. Foto: Lucas Rocha

O diretor destacou ainda a importância da luta contra a violência no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, diante do assassinato da vereadora Marielle Franco, do PSOL, e do motorista Anderson Gomes, no dia 14/03, e da morte do jovem Matheus Melo de Castro, no dia 12/03, funcionário da empresa Nova Rio, que atuava desde 2013 na Fiocruz, como agente de coleta seletiva da Coordenação-Geral de Infraestrutura dos Campi (Cogic/Fiocruz).

Edição: 
Raquel Aguiar

Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)