O estado do Rio de Janeiro já soma 4.446 casos prováveis de dengue somente nos primeiros 16 dias de 2024. O número é mais que o dobro dos 1.635 casos registrados em todo o mês de janeiro de 2023.
Os dados são do painel Arboviroses, da Secretaria estadual de Saúde (SES-RJ). A ferramenta foi desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e pela SES, com o objetivo de facilitar a visualização dos dados e o monitoramento das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
Painel disponível no site da Secretaria estadual de Saúde reforça transparência de dados sobre arboviroses. Foto: DivulgaçãoAtualmente, o painel online apresenta informações sobre dengue e chikungunya para os 92 municípios do estado. Dados sobre Zika também podem ser exibidos, porém não houve casos confirmados nesse verão.
A plataforma foi elaborada pela médica veterinária Paula Almeida, técnica da Superintendência de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Supievs/SES-RJ), como parte do projeto de doutorado desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC.
O trabalho foi orientado pelas pesquisadoras Nildimar Honório, do Laboratório das Interações Vírus-Hospedeiros do IOC, e Aline Nobre, do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz).
O painel busca reunir, de forma acessível, informações importantes para a tomada de decisões. Além de números de casos, internações e óbitos, são apresentados indicadores, gráficos e mapas, que ajudam a detectar tendências e identificar áreas prioritárias de ação. A contextualização dos dados é um dos diferenciais da ferramenta.
“Temos diversos sistemas de informação em saúde, que apresentam dados brutos sobre as arboviroses urbanas, mas é preciso transformar esses dados em informação, através da análise de indicadores, para entender o que esses números significam”, ressalta Paula.
“Por exemplo, se temos um número de casos de dengue, precisamos analisar o dado em relação à população do município, considerando a trajetória da doença ao longo do tempo, o contexto da região e do estado. Tudo isso está disponível no painel”, completa.
Notificações de casosde dengue no começo de 2024 já superam janeiro de 2023. Ferramenta oferece diversas opções para visualizar dados. Foto: Reprodução Painel ArbovirosesInformações sobre o perfil dos pacientes acometidos pelas doenças e os sorotipos do vírus dengue detectados nos municípios também estão disponíveis na plataforma, que permite visualizar dados por cidade e por região de saúde do estado.
Além dos dados dinâmicos, atualizados semanalmente, o painel apresenta estratificação de áreas de risco epidemiológico para transmissão de arboviroses no estado, realizada com base na metodologia desenvolvida pelo IOC no projeto ArboAlvo.
Documentos orientadores das políticas estaduais para os agravos podem ser acessados na plataforma.
“O painel parte do dado para gerar informação e conhecimento, que pode embasar discussões e direcionar as ações de vigilância e controle vetorial. Também é um instrumento que reforça a transparência dos dados públicos, facilitando o acesso de gestores, dos profissionais da área e da população às informações”, destaca Nildimar.
A pesquisa que deu origem ao painel analisou os casos de arboviroses registrados no Rio de Janeiro entre 2010 e 2019. O período foi crítico para as doenças transmitidas pelo Aedes, com cinco epidemias de dengue e os primeiros surtos de chikungunya e Zika no estado.
O estudo revelou padrões heterogêneos de transmissão das três arboviroses urbanas, tanto no tempo quanto no espaço.
"Alguns municípios registaram epidemias simultâneas de dengue, Zika e/ou chikungunya, mas isso não ocorreu em todo o estado”, comenta Paula.
Análise dos casos de arboviroses no RJ entre 2010 e 2019 permitiu estratificar áreas de risco para as doenças. Foto: Reprodução Painel ArbovirosesA dengue se mostrou a arbovirose mais persistente, alternando entre ciclos endêmicos, com menor circulação, e epidêmicos, com alta incidência. A Zika teve um comportamento explosivo, alastrando-se rapidamente entre 2015 e 2016. Já a chikungunya provocou surtos localizados em 2016 e 2018 e atingiu o estado de forma ampla em 2019.
A estratificação de áreas de risco mostrou a importância das cidades polo das regiões metropolitanas do estado, especialmente Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo, consideradas como áreas de alto risco para dengue.
Ao mesmo tempo, alertou para a necessidade de atenção a municípios com população pequena que registram alta incidência das doenças, como observado no Noroeste Fluminense.
Os resultados reforçaram a necessidade de monitorar a disseminação dos agravos no tempo e no espaço, utilizando ferramentas de visualização como o painel de arboviroses.
A ferramenta foi divulgada pela Secretaria estadual de Saúde em janeiro de 2023 e detalhada na tese ‘Análise da distribuição espaço-temporal das arboviroses urbanas - dengue, chikungunya e Zika - no estado do Rio de Janeiro durante os anos de 2010 a 2019’, defendida em agosto do mesmo ano.
Os achados da pesquisa também foram publicados em artigos científicos nas revistas Viruses e Tropical Medicine and Infectious Disease.
“Esse é um caso exitoso de pesquisa que, além de avançar no conhecimento, consegue se tornar uma política pública. Também demonstra a importância da cooperação entre órgãos da esfera federal, estadual e municipal para enfrentar os desafios da saúde pública”, salienta Nildimar.
O mosquito Aedes aegypti é o vetor da dengue, chikungunya e Zika. Foto: Josué DamacenaA plataforma utiliza dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Além de atualizar regularmente os dados, as equipes da Supievs e da Superintendência de Emergências em Saúde Pública (Supesp), que fazem parte do Centro de Inteligência em Saúde (CIS/SES-RJ), vêm ampliando as análises disponíveis no painel de arboviroses.
Exemplo: recentemente, a plataforma passou a apresentar a estimativa de casos das doenças considerando o atraso das notificações, chamada de ‘nowcasting’, que leva em conta o tempo entre o início dos sintomas e o registro oficial dos casos.
"Conseguimos unir o interesse da pesquisa e do serviço, que apoiou 100% o projeto. Hoje, as informações do painel servem de base paras as reuniões da sala de situação da dengue e subsidiam as nove regiões de saúde do estado", pontua Paula.
O estudo contou com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), através do projeto ‘Arboviroses urbanas e seus vetores: vigilância ativa integrando a entomologia, a epidemiologia e a virologia no estado do Rio de Janeiro’, coordenado por Nildimar.
Também recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical.
Saiba mais sobre o vetor da dengue, chikungunya e Zika e as formas de combatê-lo no vídeo 'Aedes em 2 minutos'.
Conheça a estratégia '10 minutos contra o Aedes', idealizada a partir dos conhecimentos científicos dos especialistas do IOC, para enfrentar as arboviroses.
O estado do Rio de Janeiro já soma 4.446 casos prováveis de dengue somente nos primeiros 16 dias de 2024. O número é mais que o dobro dos 1.635 casos registrados em todo o mês de janeiro de 2023.
Os dados são do painel Arboviroses, da Secretaria estadual de Saúde (SES-RJ). A ferramenta foi desenvolvida pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e pela SES, com o objetivo de facilitar a visualização dos dados e o monitoramento das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti.
Painel disponível no site da Secretaria estadual de Saúde reforça transparência de dados sobre arboviroses. Foto: DivulgaçãoAtualmente, o painel online apresenta informações sobre dengue e chikungunya para os 92 municípios do estado. Dados sobre Zika também podem ser exibidos, porém não houve casos confirmados nesse verão.
A plataforma foi elaborada pela médica veterinária Paula Almeida, técnica da Superintendência de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Supievs/SES-RJ), como parte do projeto de doutorado desenvolvido no Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical do IOC.
O trabalho foi orientado pelas pesquisadoras Nildimar Honório, do Laboratório das Interações Vírus-Hospedeiros do IOC, e Aline Nobre, do Programa de Computação Científica da Fiocruz (PROCC/Fiocruz).
O painel busca reunir, de forma acessível, informações importantes para a tomada de decisões. Além de números de casos, internações e óbitos, são apresentados indicadores, gráficos e mapas, que ajudam a detectar tendências e identificar áreas prioritárias de ação. A contextualização dos dados é um dos diferenciais da ferramenta.
“Temos diversos sistemas de informação em saúde, que apresentam dados brutos sobre as arboviroses urbanas, mas é preciso transformar esses dados em informação, através da análise de indicadores, para entender o que esses números significam”, ressalta Paula.
“Por exemplo, se temos um número de casos de dengue, precisamos analisar o dado em relação à população do município, considerando a trajetória da doença ao longo do tempo, o contexto da região e do estado. Tudo isso está disponível no painel”, completa.
Notificações de casosde dengue no começo de 2024 já superam janeiro de 2023. Ferramenta oferece diversas opções para visualizar dados. Foto: Reprodução Painel ArbovirosesInformações sobre o perfil dos pacientes acometidos pelas doenças e os sorotipos do vírus dengue detectados nos municípios também estão disponíveis na plataforma, que permite visualizar dados por cidade e por região de saúde do estado.
Além dos dados dinâmicos, atualizados semanalmente, o painel apresenta estratificação de áreas de risco epidemiológico para transmissão de arboviroses no estado, realizada com base na metodologia desenvolvida pelo IOC no projeto ArboAlvo.
Documentos orientadores das políticas estaduais para os agravos podem ser acessados na plataforma.
“O painel parte do dado para gerar informação e conhecimento, que pode embasar discussões e direcionar as ações de vigilância e controle vetorial. Também é um instrumento que reforça a transparência dos dados públicos, facilitando o acesso de gestores, dos profissionais da área e da população às informações”, destaca Nildimar.
A pesquisa que deu origem ao painel analisou os casos de arboviroses registrados no Rio de Janeiro entre 2010 e 2019. O período foi crítico para as doenças transmitidas pelo Aedes, com cinco epidemias de dengue e os primeiros surtos de chikungunya e Zika no estado.
O estudo revelou padrões heterogêneos de transmissão das três arboviroses urbanas, tanto no tempo quanto no espaço.
"Alguns municípios registaram epidemias simultâneas de dengue, Zika e/ou chikungunya, mas isso não ocorreu em todo o estado”, comenta Paula.
Análise dos casos de arboviroses no RJ entre 2010 e 2019 permitiu estratificar áreas de risco para as doenças. Foto: Reprodução Painel ArbovirosesA dengue se mostrou a arbovirose mais persistente, alternando entre ciclos endêmicos, com menor circulação, e epidêmicos, com alta incidência. A Zika teve um comportamento explosivo, alastrando-se rapidamente entre 2015 e 2016. Já a chikungunya provocou surtos localizados em 2016 e 2018 e atingiu o estado de forma ampla em 2019.
A estratificação de áreas de risco mostrou a importância das cidades polo das regiões metropolitanas do estado, especialmente Rio de Janeiro, Niterói e São Gonçalo, consideradas como áreas de alto risco para dengue.
Ao mesmo tempo, alertou para a necessidade de atenção a municípios com população pequena que registram alta incidência das doenças, como observado no Noroeste Fluminense.
Os resultados reforçaram a necessidade de monitorar a disseminação dos agravos no tempo e no espaço, utilizando ferramentas de visualização como o painel de arboviroses.
A ferramenta foi divulgada pela Secretaria estadual de Saúde em janeiro de 2023 e detalhada na tese ‘Análise da distribuição espaço-temporal das arboviroses urbanas - dengue, chikungunya e Zika - no estado do Rio de Janeiro durante os anos de 2010 a 2019’, defendida em agosto do mesmo ano.
Os achados da pesquisa também foram publicados em artigos científicos nas revistas Viruses e Tropical Medicine and Infectious Disease.
“Esse é um caso exitoso de pesquisa que, além de avançar no conhecimento, consegue se tornar uma política pública. Também demonstra a importância da cooperação entre órgãos da esfera federal, estadual e municipal para enfrentar os desafios da saúde pública”, salienta Nildimar.
O mosquito Aedes aegypti é o vetor da dengue, chikungunya e Zika. Foto: Josué DamacenaA plataforma utiliza dados do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Além de atualizar regularmente os dados, as equipes da Supievs e da Superintendência de Emergências em Saúde Pública (Supesp), que fazem parte do Centro de Inteligência em Saúde (CIS/SES-RJ), vêm ampliando as análises disponíveis no painel de arboviroses.
Exemplo: recentemente, a plataforma passou a apresentar a estimativa de casos das doenças considerando o atraso das notificações, chamada de ‘nowcasting’, que leva em conta o tempo entre o início dos sintomas e o registro oficial dos casos.
"Conseguimos unir o interesse da pesquisa e do serviço, que apoiou 100% o projeto. Hoje, as informações do painel servem de base paras as reuniões da sala de situação da dengue e subsidiam as nove regiões de saúde do estado", pontua Paula.
O estudo contou com apoio da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), através do projeto ‘Arboviroses urbanas e seus vetores: vigilância ativa integrando a entomologia, a epidemiologia e a virologia no estado do Rio de Janeiro’, coordenado por Nildimar.
Também recebeu apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), por meio do Programa de Pós-graduação em Medicina Tropical.
Saiba mais sobre o vetor da dengue, chikungunya e Zika e as formas de combatê-lo no vídeo 'Aedes em 2 minutos'.
Conheça a estratégia '10 minutos contra o Aedes', idealizada a partir dos conhecimentos científicos dos especialistas do IOC, para enfrentar as arboviroses.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)