Desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis, helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilÃase abdominal.
Os resultados recentes representam o primeiro passo na busca de proteÃnas candidatas para ensaios de diagnóstico e tratamento desta infecção.
Um dos últimos artigos assinados pelo pesquisador Henrique Leonel Lenzi, que faleceu em setembro deste ano, a pesquisa foi publicada no 'Journal of Proteomics'.
Até o momento, poucas análises concentraram suas atenções sobre o A. costaricensis, causador da angiostrongilÃase abdominal. A doença, transmitida por moluscos terrestres, como o caramujo africano, tem difÃcil diagnóstico já que, por possuir uma sintomatologia pouco especÃfica, pode ser confundida com outras helmintoses.
Devido à ausência de ferramentas de diagnóstico, a angiostrongilÃase abdominal é considerada uma doença sub-diagnosticada.
O trabalho, realizado em parceria pelos Laboratórios de Patologia e de Toxinologia do IOC, descreveu as proteÃnas mais abundantes expressas por estes parasitos, identificando parcialmente suas proteÃnas antigênicas potenciais candidatas a alvos para o desenvolvimento de novas alternativas para o diagnóstico.
O estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis (foto), helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilÃase abdominal. Foto: Laboratório de Patologia IOCPrincipais desafios
De acordo com Ana Gisele C. Neves Ferreira, pesquisadora do Laboratório de Toxinologia e uma das autoras do estudo, a falta de conhecimento e, consequentemente, a dificuldade de diagnóstico da doença são alguns dos desafios encontrados.
A angiostrongilÃase abdominal é pouco conhecida pelos médicos. A sintomatologia inespecÃfica e a dificuldade de diagnóstico contribuem para que a doença seja subdiagnosticada, destaca. Para ela, outro complicador é a falta de tratamento especÃfico.
Os anti-helmÃnticos utilizados para o tratamento da angiostrongilÃase abdominal acabam sendo os mesmos normalmente empregados no tratamento de outras helmintoses, diz.
Infelizmente, ao invés de matar o parasito a medicação tem efeito irritante sobre o A. costaricensis, fazendo com que ele migre das artérias mesentéricas, onde costuma se alojar, para outros órgãos. Isto pode resultar em problemas mais sérios, como, por exemplo, tromboses.
Assim, o próprio tratamento com anti-helmÃnticos, por ser ineficaz contra o A. costarisensis, pode levar ao agravamento do quadro clÃnico do paciente.
Estudos
Este estudo é tema da tese de doutorado da bióloga Karina Mastropasqua Rebello, que será defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC em 2012.
"Como as informações sobre esse parasito são escassas, o primeiro passo foi descrever o perfil de expressão proteica global dos vermes adultos, com objetivo de compreender melhor a sua fisiologia", explicou a bióloga.
"Demos ênfase à s proteÃnas imunorreativas, ou seja, aquelas reconhecidas pelo sistema imune do animal infectado pelo parasito. Isso, obviamente, possui razões práticas, porque são essas proteÃnas que poderão ser eventualmente utilizadas em um kit de diagnóstico", disse Karina.
A doutoranda acrescenta que o estudo partiu da necropsia de roedores infectados, a fim de retirar os vermes adultos que ficam localizados no intestino desses roedores.
"Separamos os vermes machos e fêmeas, que possuem a morfologia bem distinta. A partir daÃ, os parasitas isolados foram processados para extração de proteÃnas", detalhou.
Posteriormente, foi realizada a dosagem de proteÃnas dos extratos dos dois gêneros, seguida de fracionamento das proteÃnas por eletroforese bidimensional, revelação por 'immunoblotting' e identificação por espectrometria de massas.
Resultados
De acordo com Ana Gisele, o trabalho pioneiro permitiu descrever parcialmente a composição do extrato de proteÃnas do parasito, além de compreender quais elementos desse extrato podem ser aproveitados na construção de uma ferramenta para diagnóstico.
Com o estudo, foi possÃvel perceber que não há uma correspondência linear entre a abundância da proteÃna e sua capacidade antigênica. Em outras palavras: as proteÃnas mais imunorreativas se mostraram pouco abundantes.
"Em contrapartida, durante os testes grande parte das proteÃnas mais expressas não foi reconhecida pelos anticorpos dos animais infectados pelo parasita", revela.
Muitos trabalhos descritos na literatura utilizam extratos proteicos não purificados como antÃgenos, o que leva a uma frequência muito alta de reações cruzadas.
"Nós conseguimos refinar esta estratégia, trabalhando com proteÃnas de fato antigênicas presentes na mistura complexa de proteÃnas do A. costaricensis", acrescenta Karina M. Rebello.
Próximos passos
As próximas etapas do estudo incluem caracterizar o perfil (imuno)proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, utilizando-se metodologias proteômicas complementares mais sensÃveis, baseadas em nanocromatografia lÃquida e espectrometria de massas de alta resolução.
O trabalho foi realizado com verme adulto, que é a fase mais abundante, em que o parasito é maior e há mais facilidade de se conseguir massa parasitária.
"O desafio atual é caracterizar o perfil proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, com objetivo de verificar também o padrão de expressão proteica nas fases larvais", revelou Karina.
Homenagem
O pesquisador Henrique Lenzi atuou como orientador desta pesquisa, em conjunto com a pesquisadora Ana Gisele C. Neves Ferreira.
"Trabalhar com o professor Lenzi me proporcionou um imenso crescimento profissional e pessoal. Ele era uma pessoa extremamente culta; então, toda vez nós parávamos para conversar, seja sobre o trabalho ou outras questões, era sempre um momento de constante aprendizagem", finaliza a bióloga Karina Rebello.
Desenvolvido pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis, helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilÃase abdominal.
Os resultados recentes representam o primeiro passo na busca de proteÃnas candidatas para ensaios de diagnóstico e tratamento desta infecção.
Um dos últimos artigos assinados pelo pesquisador Henrique Leonel Lenzi, que faleceu em setembro deste ano, a pesquisa foi publicada no 'Journal of Proteomics'.
Até o momento, poucas análises concentraram suas atenções sobre o A. costaricensis, causador da angiostrongilÃase abdominal. A doença, transmitida por moluscos terrestres, como o caramujo africano, tem difÃcil diagnóstico já que, por possuir uma sintomatologia pouco especÃfica, pode ser confundida com outras helmintoses.
Devido à ausência de ferramentas de diagnóstico, a angiostrongilÃase abdominal é considerada uma doença sub-diagnosticada.
O trabalho, realizado em parceria pelos Laboratórios de Patologia e de Toxinologia do IOC, descreveu as proteÃnas mais abundantes expressas por estes parasitos, identificando parcialmente suas proteÃnas antigênicas potenciais candidatas a alvos para o desenvolvimento de novas alternativas para o diagnóstico.
O estudo descreveu o perfil proteômico de parasitas adultos de Angiostrongylus costaricensis (foto), helminto causador de uma inflamação intestinal aguda conhecida como angiostrongilÃase abdominal. Foto: Laboratório de Patologia IOCPrincipais desafios
De acordo com Ana Gisele C. Neves Ferreira, pesquisadora do Laboratório de Toxinologia e uma das autoras do estudo, a falta de conhecimento e, consequentemente, a dificuldade de diagnóstico da doença são alguns dos desafios encontrados.
A angiostrongilÃase abdominal é pouco conhecida pelos médicos. A sintomatologia inespecÃfica e a dificuldade de diagnóstico contribuem para que a doença seja subdiagnosticada, destaca. Para ela, outro complicador é a falta de tratamento especÃfico.
Os anti-helmÃnticos utilizados para o tratamento da angiostrongilÃase abdominal acabam sendo os mesmos normalmente empregados no tratamento de outras helmintoses, diz.
Infelizmente, ao invés de matar o parasito a medicação tem efeito irritante sobre o A. costaricensis, fazendo com que ele migre das artérias mesentéricas, onde costuma se alojar, para outros órgãos. Isto pode resultar em problemas mais sérios, como, por exemplo, tromboses.
Assim, o próprio tratamento com anti-helmÃnticos, por ser ineficaz contra o A. costarisensis, pode levar ao agravamento do quadro clÃnico do paciente.
Estudos
Este estudo é tema da tese de doutorado da bióloga Karina Mastropasqua Rebello, que será defendida no Programa de Pós-graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC em 2012.
"Como as informações sobre esse parasito são escassas, o primeiro passo foi descrever o perfil de expressão proteica global dos vermes adultos, com objetivo de compreender melhor a sua fisiologia", explicou a bióloga.
"Demos ênfase à s proteÃnas imunorreativas, ou seja, aquelas reconhecidas pelo sistema imune do animal infectado pelo parasito. Isso, obviamente, possui razões práticas, porque são essas proteÃnas que poderão ser eventualmente utilizadas em um kit de diagnóstico", disse Karina.
A doutoranda acrescenta que o estudo partiu da necropsia de roedores infectados, a fim de retirar os vermes adultos que ficam localizados no intestino desses roedores.
"Separamos os vermes machos e fêmeas, que possuem a morfologia bem distinta. A partir daÃ, os parasitas isolados foram processados para extração de proteÃnas", detalhou.
Posteriormente, foi realizada a dosagem de proteÃnas dos extratos dos dois gêneros, seguida de fracionamento das proteÃnas por eletroforese bidimensional, revelação por 'immunoblotting' e identificação por espectrometria de massas.
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Resultados
De acordo com Ana Gisele, o trabalho pioneiro permitiu descrever parcialmente a composição do extrato de proteÃnas do parasito, além de compreender quais elementos desse extrato podem ser aproveitados na construção de uma ferramenta para diagnóstico.
Com o estudo, foi possÃvel perceber que não há uma correspondência linear entre a abundância da proteÃna e sua capacidade antigênica. Em outras palavras: as proteÃnas mais imunorreativas se mostraram pouco abundantes.
"Em contrapartida, durante os testes grande parte das proteÃnas mais expressas não foi reconhecida pelos anticorpos dos animais infectados pelo parasita", revela.
Muitos trabalhos descritos na literatura utilizam extratos proteicos não purificados como antÃgenos, o que leva a uma frequência muito alta de reações cruzadas.
"Nós conseguimos refinar esta estratégia, trabalhando com proteÃnas de fato antigênicas presentes na mistura complexa de proteÃnas do A. costaricensis", acrescenta Karina M. Rebello.
Próximos passos
As próximas etapas do estudo incluem caracterizar o perfil (imuno)proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, utilizando-se metodologias proteômicas complementares mais sensÃveis, baseadas em nanocromatografia lÃquida e espectrometria de massas de alta resolução.
O trabalho foi realizado com verme adulto, que é a fase mais abundante, em que o parasito é maior e há mais facilidade de se conseguir massa parasitária.
"O desafio atual é caracterizar o perfil proteômico em todo ciclo de desenvolvimento do Angiostrongylus costaricensis, com objetivo de verificar também o padrão de expressão proteica nas fases larvais", revelou Karina.
Homenagem
O pesquisador Henrique Lenzi atuou como orientador desta pesquisa, em conjunto com a pesquisadora Ana Gisele C. Neves Ferreira.
"Trabalhar com o professor Lenzi me proporcionou um imenso crescimento profissional e pessoal. Ele era uma pessoa extremamente culta; então, toda vez nós parávamos para conversar, seja sobre o trabalho ou outras questões, era sempre um momento de constante aprendizagem", finaliza a bióloga Karina Rebello.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)