Questões relevantes para o futuro dos discentes e dos programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) estiveram no foco do quinto e último dia de atividades na Semana da Pós-graduação do IOC, na sexta-feira, 18 de setembro. Pela manhã, em sessão integrada ao Centro de Estudos, a psicóloga Manoela Ziebell de Oliveira, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), apresentou reflexões importantes para a inserção de mestres e doutores no mercado de trabalho durante a palestra ‘O desafio de projetar o futuro: carreira, planejamento e desenvolvimento’. À tarde, os estudantes realizaram sabatina com o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, e conduziram a plenária final do 12º Fórum Discente, em que elaboraram a carta com questionamentos e sugestões para envio à Diretoria do Instituto.
Realizada virtualmente devido à pandemia de Covid-19, Semana da Pós-graduação foi encerrada após cinco dias de atividades. Foto: ReproduçãoResponsável pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Carreira da PUC-RS e integrante do grupo de pesquisa acadêmica sobre talentos (Start, na sigla em inglês), coordenado pela Universidade de Leuven, na Bélgica, Manoela abordou a história das carreiras, as transformações do conceito e as particularidades do momento atual. Além disso, discutiu o desenvolvimento de competências para empregabilidade e trabalhabilidade e a importância do planejamento.
Segundo a pesquisadora, durante um longo período que vai da primeira até o final da segunda revolução industrial, as carreiras eram passadas de pai para filho, como uma herança de família, ou atribuídas aos indivíduos considerando, principalmente, suas competências físicas. “Foi só após a segunda guerra mundial, na década de 1950, que se passou a entender que as escolhas de carreira são dos indivíduos e afetam suas vidas integralmente. Quem entrou antes disso no mercado de trabalho ou foi educado por essas pessoas costuma pensar que o indivíduo entra em um emprego e fica a vida inteira”, apontou.
No entanto, o impacto da terceira revolução industrial para o mercado de trabalho foi profundamente diferente das anteriores. Enquanto a industrialização baseada na energia do carvão, vapor, petróleo e eletricidade expandiu a necessidade de mão de obra, a informática e a robótica levaram à substituição dos trabalhadores por máquinas, eliminando empregos. “As pessoas precisaram assumir a responsabilidade por se qualificar e se recolocar, encontrando novos empregos. Não é à toa que o termo empregabilidade ganhou visibilidade a partir dos anos 1990”, disse Manoela.
Manoela Ziebell de Oliveira enfatizou importância da autorreflexão e do planejamento para a construção da carreira. Foto: ReproduçãoEnquanto se desenrola a quarta revolução industrial, na qual convergem tecnologias digitais, físicas e biológicas, o mundo é marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade – características resumidas na sigla VUCA, a partir dos termos em inglês. De acordo com Manoela, então observa-se a tendência do trabalho por projetos e a emergência do termo trabalhabilidade. “Com a diminuição de empregos, é cada vez mais frequente a busca por trabalhos e não necessariamente por empregos formais e estáveis. A trabalhabilidade substitui a empregabilidade”, afirmou a pesquisadora.
Nesta perspectiva, em lugar de ‘subir degraus’ para progredir na carreira, o indivíduo pula entre projetos, adquirindo múltiplas competências. Para isso, Manoela enfatizou a importância do conhecimento, da prática e da intencionalidade das ações. “A competência é a soma do conhecimento teórico, que se adquire estudando, da habilidade, que se consegue ao colocar o conhecimento em prática, e da atitude, o que está ligado à nossa intencionalidade, àquilo que nos faz persistir apesar das dificuldades”, enumerou.
Citando uma lista de competências relevantes para o mercado do trabalho em 2022, elaborada pelo Fórum Econômico Mundial, a pesquisadora destacou que habilidades analíticas e comportamentais – como pensamento analítico e inovação, resolução de problemas complexos e inteligência emocional – podem ser tão ou mais importantes do que conhecimentos técnicos. “A atividade de pesquisa permite desenvolver diversas competências. Mas vocês estão prestando atenção a essas oportunidades?”, interrogou.
A psicóloga defendeu ainda a importância da autorreflexão e do planejamento para a carreira. “Para ter insights é preciso treinar. Devemos nos acostumar a refletir sobre nós mesmos para enxergar caminhos além do óbvio”, disse Manoela, apontando o autoconhecimento como a primeira etapa do planejamento, seguido pela exploração de opções, decisão e ação. “Para gerenciar a própria carreira é preciso saber onde quero chegar, o que fazer, como fazer e por que fazer. É importante planejar”, concluiu.
Mediadores da sessão, Diogo Gama Caetano, doutorando da Pós-Graduação em Biologia Parasitária, e Thamiris D'Almeida Balthazar, doutoranda do Programa de Medicina Tropical, apresentaram as questões enviadas por alunos e pesquisadores do IOC através do chat. A apreensão dos estudantes ao completar suas formações em um momento de crise para a ciência e tecnologia e a precarização do trabalho foram temas abordados no debate.
Manoela afirmou que precarização do trabalho é um problema importante, mas incentivou os alunos a buscarem alternativas diante de ofertas insatisfatórias. “É a raridade e a qualidade do que tenho para oferecer que determina o valor do meu salário. Procurem conhecer o que vocês têm de diferentes dos seus colegas, o que podem fazer diferente ou com foco em outro público, além da academia”, apontou.
A pesquisadora enfatizou ainda que é necessário refletir e planejar a carreira desde os anos iniciais do mestrado e do doutorado. “Desde o início, é importante se perguntar: o que eu quero com isso? Pensem sobre o que estão fazendo e o que podem aprender. Façam as coisas intencionalmente. Para quem quer ser acadêmico, é preciso conhecer os sistemas de avaliação, aprender as regras, se preparar e jogar o jogo desde cedo”, aconselhou.
A parte da tarde do último dia de atividades da Semana da Pós-graduação foi reservada para o já tradicional bate-papo entre a Vice-Diretoria de Ensino, Informação e Comunicação (VDEIC/IOC) e os estudantes e para a plenária final do 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC, momento em que os discentes discutem e estruturam a carta que será encaminhada à Diretoria do Instituto, contendo os principais questionamentos e sugestões levantados pelos alunos.
O vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Marcelo Alves Pinto, respondeu aos questionamentos dos discentes. Foto: ReproduçãoNo bate-papo, o vice-diretor Marcelo Alves Pinto respondeu dúvidas relacionadas à prorrogação de bolsas, à nova versão do Plano de Contingência do Instituto – sobretudo no que tange as atividades de Ensino –; à liberação dos estudantes para uso do transporte institucional; e ao empréstimo de tabletes e chip com rede de dados para acesso à internet a alunos dos cursos da Fundação, iniciativa do Programa de Inclusão Digital, liderado pela Coordenação-Geral de Educação da Fiocruz. “Quanto às bolsas do IOC, temos certa liberdade de atuação, mas não podemos invadir o ano fiscal seguinte. Pelo cenário, parece que a Fiocruz não sofrerá grandes restrições, portanto, acredito que vamos poder prorrogá-las”, comentou, salientando que os pedidos de adiamento devem ser solicitados pelos estudantes a sua respectiva coordenação do Programa de Pós-graduação.
Após a sabatina, foi dado início à plenária final do 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC. Na ocasião, um documento preliminar elaborado pela representação discente dos Programas de Pós Stricto sensu, com base nos apontamentos feitos pelos inscritos no evento, foi apresentado, discutido e aprovado por unanimidade pelos participantes. “A partir da aprovação de todos vocês, nós, da representação discente, nos comprometemos a enviar a carta para as instâncias de competência”, declarou Mayara Mattos, representante discente responsável por mediar a plenária.
Durante o encerramento das atividades, a comissão organizadora anunciou que a próxima edição da Semana da Pós-graduação será de 13 a 17 de setembro de 2021.
Questões relevantes para o futuro dos discentes e dos programas de pós-graduação do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) estiveram no foco do quinto e último dia de atividades na Semana da Pós-graduação do IOC, na sexta-feira, 18 de setembro. Pela manhã, em sessão integrada ao Centro de Estudos, a psicóloga Manoela Ziebell de Oliveira, professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), apresentou reflexões importantes para a inserção de mestres e doutores no mercado de trabalho durante a palestra ‘O desafio de projetar o futuro: carreira, planejamento e desenvolvimento’. À tarde, os estudantes realizaram sabatina com o vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação do IOC, Marcelo Alves Pinto, e conduziram a plenária final do 12º Fórum Discente, em que elaboraram a carta com questionamentos e sugestões para envio à Diretoria do Instituto.
Realizada virtualmente devido à pandemia de Covid-19, Semana da Pós-graduação foi encerrada após cinco dias de atividades. Foto: ReproduçãoResponsável pelo Grupo de Estudos em Desenvolvimento de Carreira da PUC-RS e integrante do grupo de pesquisa acadêmica sobre talentos (Start, na sigla em inglês), coordenado pela Universidade de Leuven, na Bélgica, Manoela abordou a história das carreiras, as transformações do conceito e as particularidades do momento atual. Além disso, discutiu o desenvolvimento de competências para empregabilidade e trabalhabilidade e a importância do planejamento.
Segundo a pesquisadora, durante um longo período que vai da primeira até o final da segunda revolução industrial, as carreiras eram passadas de pai para filho, como uma herança de família, ou atribuídas aos indivíduos considerando, principalmente, suas competências físicas. “Foi só após a segunda guerra mundial, na década de 1950, que se passou a entender que as escolhas de carreira são dos indivíduos e afetam suas vidas integralmente. Quem entrou antes disso no mercado de trabalho ou foi educado por essas pessoas costuma pensar que o indivíduo entra em um emprego e fica a vida inteira”, apontou.
No entanto, o impacto da terceira revolução industrial para o mercado de trabalho foi profundamente diferente das anteriores. Enquanto a industrialização baseada na energia do carvão, vapor, petróleo e eletricidade expandiu a necessidade de mão de obra, a informática e a robótica levaram à substituição dos trabalhadores por máquinas, eliminando empregos. “As pessoas precisaram assumir a responsabilidade por se qualificar e se recolocar, encontrando novos empregos. Não é à toa que o termo empregabilidade ganhou visibilidade a partir dos anos 1990”, disse Manoela.
Manoela Ziebell de Oliveira enfatizou importância da autorreflexão e do planejamento para a construção da carreira. Foto: ReproduçãoEnquanto se desenrola a quarta revolução industrial, na qual convergem tecnologias digitais, físicas e biológicas, o mundo é marcado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade – características resumidas na sigla VUCA, a partir dos termos em inglês. De acordo com Manoela, então observa-se a tendência do trabalho por projetos e a emergência do termo trabalhabilidade. “Com a diminuição de empregos, é cada vez mais frequente a busca por trabalhos e não necessariamente por empregos formais e estáveis. A trabalhabilidade substitui a empregabilidade”, afirmou a pesquisadora.
Nesta perspectiva, em lugar de ‘subir degraus’ para progredir na carreira, o indivíduo pula entre projetos, adquirindo múltiplas competências. Para isso, Manoela enfatizou a importância do conhecimento, da prática e da intencionalidade das ações. “A competência é a soma do conhecimento teórico, que se adquire estudando, da habilidade, que se consegue ao colocar o conhecimento em prática, e da atitude, o que está ligado à nossa intencionalidade, àquilo que nos faz persistir apesar das dificuldades”, enumerou.
Citando uma lista de competências relevantes para o mercado do trabalho em 2022, elaborada pelo Fórum Econômico Mundial, a pesquisadora destacou que habilidades analíticas e comportamentais – como pensamento analítico e inovação, resolução de problemas complexos e inteligência emocional – podem ser tão ou mais importantes do que conhecimentos técnicos. “A atividade de pesquisa permite desenvolver diversas competências. Mas vocês estão prestando atenção a essas oportunidades?”, interrogou.
A psicóloga defendeu ainda a importância da autorreflexão e do planejamento para a carreira. “Para ter insights é preciso treinar. Devemos nos acostumar a refletir sobre nós mesmos para enxergar caminhos além do óbvio”, disse Manoela, apontando o autoconhecimento como a primeira etapa do planejamento, seguido pela exploração de opções, decisão e ação. “Para gerenciar a própria carreira é preciso saber onde quero chegar, o que fazer, como fazer e por que fazer. É importante planejar”, concluiu.
Mediadores da sessão, Diogo Gama Caetano, doutorando da Pós-Graduação em Biologia Parasitária, e Thamiris D'Almeida Balthazar, doutoranda do Programa de Medicina Tropical, apresentaram as questões enviadas por alunos e pesquisadores do IOC através do chat. A apreensão dos estudantes ao completar suas formações em um momento de crise para a ciência e tecnologia e a precarização do trabalho foram temas abordados no debate.
Manoela afirmou que precarização do trabalho é um problema importante, mas incentivou os alunos a buscarem alternativas diante de ofertas insatisfatórias. “É a raridade e a qualidade do que tenho para oferecer que determina o valor do meu salário. Procurem conhecer o que vocês têm de diferentes dos seus colegas, o que podem fazer diferente ou com foco em outro público, além da academia”, apontou.
A pesquisadora enfatizou ainda que é necessário refletir e planejar a carreira desde os anos iniciais do mestrado e do doutorado. “Desde o início, é importante se perguntar: o que eu quero com isso? Pensem sobre o que estão fazendo e o que podem aprender. Façam as coisas intencionalmente. Para quem quer ser acadêmico, é preciso conhecer os sistemas de avaliação, aprender as regras, se preparar e jogar o jogo desde cedo”, aconselhou.
A parte da tarde do último dia de atividades da Semana da Pós-graduação foi reservada para o já tradicional bate-papo entre a Vice-Diretoria de Ensino, Informação e Comunicação (VDEIC/IOC) e os estudantes e para a plenária final do 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC, momento em que os discentes discutem e estruturam a carta que será encaminhada à Diretoria do Instituto, contendo os principais questionamentos e sugestões levantados pelos alunos.
O vice-diretor de Ensino, Informação e Comunicação, Marcelo Alves Pinto, respondeu aos questionamentos dos discentes. Foto: ReproduçãoNo bate-papo, o vice-diretor Marcelo Alves Pinto respondeu dúvidas relacionadas à prorrogação de bolsas, à nova versão do Plano de Contingência do Instituto – sobretudo no que tange as atividades de Ensino –; à liberação dos estudantes para uso do transporte institucional; e ao empréstimo de tabletes e chip com rede de dados para acesso à internet a alunos dos cursos da Fundação, iniciativa do Programa de Inclusão Digital, liderado pela Coordenação-Geral de Educação da Fiocruz. “Quanto às bolsas do IOC, temos certa liberdade de atuação, mas não podemos invadir o ano fiscal seguinte. Pelo cenário, parece que a Fiocruz não sofrerá grandes restrições, portanto, acredito que vamos poder prorrogá-las”, comentou, salientando que os pedidos de adiamento devem ser solicitados pelos estudantes a sua respectiva coordenação do Programa de Pós-graduação.
Após a sabatina, foi dado início à plenária final do 12º Fórum de Alunos de Pós-graduação do IOC. Na ocasião, um documento preliminar elaborado pela representação discente dos Programas de Pós Stricto sensu, com base nos apontamentos feitos pelos inscritos no evento, foi apresentado, discutido e aprovado por unanimidade pelos participantes. “A partir da aprovação de todos vocês, nós, da representação discente, nos comprometemos a enviar a carta para as instâncias de competência”, declarou Mayara Mattos, representante discente responsável por mediar a plenária.
Durante o encerramento das atividades, a comissão organizadora anunciou que a próxima edição da Semana da Pós-graduação será de 13 a 17 de setembro de 2021.
Permitida a reprodução sem fins lucrativos do texto desde que citada a fonte (Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz)